segunda-feira, 18 de junho de 2012
Saló ou 120 Dias de Sodoma (1975)
Certa vez eu assisti ao filme "Contos Proibidos do Marquês de Sade" e foi desta forma que fui apresentado ao Marquês de Sade. Não o conhecia antes, nunca tinha ouvido falar dele nem de sua obra. Gostei do filme, achei ele um tanto quanto doentio, e não me esqueço da cena em que o marquês escreve um de seus contos nas paredes utilizando suas próprias fezes para isto.
A obra literária "120 Dias de Sodoma" foi escrita pelo Marquês de Sade e aqui, neste filme, ela é adaptada por Pasolini como uma releitura do fascismo italiano. Sinceramente, se pensei que "Contos Proibidos do Marquês de Sade" era um filme doentio, era porque eu ainda não tinha assistido a "Saló ou 120 Dias de Sodoma".
Este filme é absurdamente perturbador.
Quatro homens poderosos e com boa posição social, intitulados bispo, presidente, magistrado e duque, contratam três prostitutas e encarceram 9 garotos e 9 garotas virgens em um palacete num local afastado. Lá, as prostitutas contam histórias sobre suas vivências sexuais, as quais são divididas em três atos (Círculo das Manias, Círculo da Merda e Círculo do Sangue), o que excita esses homens a cometerem atrocidades sexuais, abusos e todo o tipo de violência, as quais eu não consigo substantivar. As cenas finais, do terceiro ato Círculo do Sangue, são de violência tamanha, que mal consegui vê-las.
Segue a crítica do 1001 filmes para ver antes de morrer:
O argumento de "Os 120 Dias de Sodoma" é baseado na obra de mesmo título do Marquês de Sade, que deu o seu nome à forma de perversão sexual específica que o filme explora. Embora a narrativa seja em muitos aspectos diferentes do livro de Sade, ainda assim conserva a sua essência. O projeto do Marquês de Sade era em parte político, visando satirizar as instituições dominantes em sua época, sobretudo a Igreja Católica. Pasolini também era fervorosamente anticlerical, mas relaciona Sodoma diretamente à história italiana.
O filme é passado em Salò, uma república que durou pouquíssimo tempo e onde Mussolini estabeleceu sua última base de resistência no final da Segunda Guerra Mundial. Pasolini se viu envolvido nesses eventos e seu irmão foi morto em Salò. Na fantasia de Pasolini sobre esse episódio da guerra, quatro libertinos fascistas têm o poder total sobre um grupo de prisioneiros jovens e atraentes de ambos os sexos e submetem-nos a uma série de torturas sexuais e humilhações. Estas são apresentadas pelo diretor em uma série de cenas friamente formais que são curiosamente destituídas de qualquer tensão erótica. Não há tampouco a intenção de caracterizar os personagens: até os libertinos são pouco definidos, em termos de personalidade, e parecem não obter nenhum prazer verdadeiro de sua devassidão, enquanto suas vítimas são basicamente anônimas, simplesmente corpos a serem abusados e penetrados.
A intenção de Pasolini foi transformar o uso ilimitado do poder, levado à mais radical degradação sexual, em uma metáfora do próprio fascismo, visto como uma filosofia que adora o poder como fim em si mesmo. Há outras mensagens, contudo. Um libertino é identificado como um bispo e, a certa altura, duas das vítimas são submetidas a uma espécie de cerimônia de matrimônio, embora a consumação seja interrompida pelos libertinos, que interpõem os seus próprios corpos na união dos recém-casados. E, em uma cena especialmente notória, uma jovem nua é obrigada a comer excremento - Pasolini sempre argumentou que se trata de uma metáfora sobre o capitalismo de consumo de massa e sua produção de junk food.
O filme termina em uma orgia da crueldade: as vítimas são estranguladas e escalpadas, línguas são cortadas e mamilos são queimados. Tudo transcorre ao som de Carmina Burana, a famosa obra de Carl Orff que Pasolini também considerava música fascista, além de uma leitura dos Cantos de Ezra Pound, o poeta americano que apoiou Mussolini.
As obscenidades que o filme apresenta têm um poder inegável de chocar, e possivelmente o mais perturbador é que, nesse ponto de sua carreira, Pasolini tinha, quando muito, uma atitude ambígua em relação ao corpo e à sexualidade. Se o objetivo da pornografia é estimular o desejo sexual, Sodoma não caberia na definição, porque o seu efeito e, presumivelmente, o seu fim são gerar repugnância.
Um pouco depois de esse filme radical e perturbador ter sido concluído, e antes mesmo que fosse lançado, Pasolini foi assassinado. O seu filme foi perseguido ou proibido em muitos países e só recentemente tornou-se disponível para o público em geral na Inglaterra e nos Estados Unidos.
(Salò o le 120 giornate di Sodoma - 1975)
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