quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
Manhattan (1979)
"Capítulo Um. Ele adorava Nova York. Ele a idolatrava". Satírico e encantador, "Manhattan" é o ápice arrebatador do caso de amor cinematográfico de Woody Allen com Nova York. Ele até mesmo começa na forma de uma declaração de amor, com uma montagem afetuosa de imagens da cidade. "Annie Hall", seu filme de 1977, ganhou os prêmios mais importantes, mas este filme agridoce que veio em seguida (também escrito por Allen e Marshall Brickman) é o ato de equilíbrio perfeito entre ironia, amargura, boas tiradas sarcásticas ("No que diz respeito às relações com mulheres, eu deveria ganhar o prêmio August Strindberg") e espetadelas em feridas. O romântico intelectual Isaac Davis, um escritor de comédias interpretado por Allen, é magoado pela personagem pretensiosa, tipicamente WASP ("branca, protestante, anglo-americana"), de Diane Keaton, Mary Wilkie, e volta correndo para a encantadora e assustadoramente jovem Tracy (Mariel Hemingway), que ele havia magoado anteriormente.
"Manhattan" possui alguns dos elementos de "Annie Hall" que, mais tarde, passariam a ser vistos como marca registrada de Woody Allen. Há protagonistas viciados em psicanálise ("Ele fez um bom trabalho com você.. sua auto-estima está só um pouco abaixo de Kafka agora") e um bom amigo (Michael Murphy, neste filme) com quem é possível compartilhar intimidades e piadas. Entre os pequenos prazeres a serem encontrados em "Manhattan" estão um dos primeiros papéis de Meryl Streep (como Jill, a ex-esposa antagônica de Ike), planos abertos como a cena de alvorada em que vemos Allen e Keaton sentados em um banco sob a ponte da Rua 52 (a famosa imagem do cartaz), ou as composições em seu encontro no planetário, um preto-e-branco luminoso, fotografia em widescreen por Gordon Willis e um uso fabuloso da música de George Gershwin como trilha sonora (em gravação da Filarmônica de Nova York, regida por Zubin Mehta).
Há um momento especialmente grandioso e revelador, no final do filme, quando Woody/Ike reflete, em um monólogo, que os habitantes de Manhattan criam neuroses para sí mesmos a fim de evitar "problemas mais difíceis de resolver e mais angustiantes em relação ao Universo" e alegra-se (alegrando também o espectador) enumerando diversas pessoas e coisas encantadoras - começando por Groucho Marx, esportes, música, literatura, arte, comida e, naturalmente, filmes - que dão valor à vida.
Indicado ao Oscar de Atriz Coadjuvante (Mariel Hemingway) e Roteiro Original.
(Manhattan - 1979)
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