terça-feira, 31 de dezembro de 2013
Carrie, a Estranha (1976)
Em meados dos anos 1970, Brian De Palma já tinha passado mais de uma década aperfeiçoando suas influências díspares, reunindo Alfred Hitchcock, rock'n'roll e sátira política. Mas Carrie foi seu primeiro grande sucesso. É um melodrama de horror operístico que reúne o gótico, o sobrenatural e filmes para adolescentes. Continua sendo a melhor adaptação já feita para o cinema de um livro de Stephen King.
O filme inaugurou a tendência de Brian De Palma de ir sem aviso da fantasia à realidade, como na abertura, que passa de uma fantasia levemente pornográfica com meninas tomando banho para a real menstruação de Carrie, o primeiro sinal de "estranheza" que a colocará à margem, como um monstro, da comunidade de mentalidade fechada onde vive.
Toda a opressão que Carrie sofre tanto em casa (sua mãe fanaticamente religiosa é interpretada por Piper Laurie) quanto na escola cria uma tensão abrasiva que toma a forma de poderes telecinéticos. Observamos com ambivalência como as fantasias de vingança de Carrie se transformam em assassinatos em massa descontrolados na cena do baile de formatura (um tour de force de Brian De Palma).
Sissy Spacek está fantástica no papel-título. Seu rosto e seu corpo se contorcem como um efeito especial vivo para exprimir as contradições insuportáveis da experiência de Carrie, bem como a transição da personagem de uma garotinha tímida e Rainha da Morte.
Nomeado a 2 Oscar: Melhor Atriz (Sissy Spacek) e Melhor Atriz Coadjuvante (Piper Laurie).
(Carrie - 1976)
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Indicado ao Oscar
Feitiço do Tempo (1993)
O ator de comédias Bill Murray tem o que talvez seja o melhor e mais terno desempenho de sua carreira nesta comédia genial - possivelmente a melhor dos anos 90 - dos roteiristas Harold Ramis (que também a dirige) e Danny Rubin.
Murray é Phil Connors, um mal-humorado apresentador de previsão do tempo na TV que é enviado com a produtora Rita (Andie MacDowell) e o câmera Larry (Chris Elliot) à simpática pequena cidade de Punxsutawney, na Pensilvânia, para testemunhar a cerimônia anual do Dia da Marmota. Uma marmota chamada Phil de Punxsutawney emerge e, dependendo de ver ou não ver a sua sombra, prediz se a cidade terá mais algumas semanas de inverno. Esnobe e egocêntrico, Phil quer dar o fora de lá - então, quando acorda no dia seguinte e descobre que está revivendo o Dia da Marmota, ele não fica nenhum pouco feliz. Sobretudo quando continua revivendo aquele mesmo dia no dia seguinte e no outro, sendo aparentemente a única pessoa que está vivendo os mesmos eventos repetidamente e lembrando-se deles.
É um conceito excelente (que nunca é explicado, o que torna a história ainda melhor) que a princípio leva o esperto Phil a tirar vantagem da situação. Ele pergunta a uma mulher em um dia o que ela procura em um homem, e no dia seguinte encarna todos esses atributos para a moça inocente. Em seguida, no entanto, desesperado com sua situação, ele tenta o suicídio de várias formas (até descobrir que invariavelmente acorda vivo na manhã seguinte, sempre a mesma). Aos poucos, começa a melhorar seu comportamento e sua maneira de lidar com as pessoas, em um esforço para se redimir aos olhos de Rita, que o vê somente como o chato que sempre foi. Enquanto isso, há deliciosas gags repetidas, como acordar todos os dias com o mesmo toque do despertador e a canção de Sonny e Cher (I've got you babe) e encontrar Stephen Tobolowky em uma rápida porém divertida atuação como o irritante vendedor de seguros Ned Ryerson, já sabendo o que acontecerá logo em seguida.
"Feitiço do Tempo" é ao mesmo tempo inteligente e engraçado; há poucas comédias tão perfeitas assim.
(Groundhog Day - 1993)
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Até que a Sorte nos Separe (2012)
Partindo de um livro de autoajuda, "Casais Inteligentes Enriquecem Juntos", de Gustavo Cerbasi, a comédia "Até que a Sorte nos Separe" tem como protagonistas Tino (Leonardo Hassum) e Jane (Daniele Winits), casal pobre que ganha na loteria e enriquece, mas 15 anos depois gastou todo o dinheiro sem guardar ou investir nada.
Seus vizinhos, pelo contrário, formam um casal certinho que sabe muito bem o que fazer com o dinheiro, uma vez que o marido, Amauri (Kiko Mascarenhas), é consultor financeiro. Sua mulher, Laura (Rita Elmôr), quer ter mais um filho, mas ele faz de tudo para evitar a gravidez e novos gastos.
Jane, por sua vez, está grávida e, como é uma gestação de risco, o marido é informado pelo médico de que ela não pode receber nenhuma notícia ruim ou ter problemas financeiros. Então, Tino fará de tudo para que mulher não saiba que estão pobres novamente. Esse poderia ser um bom pretexto para criar momentos cômicos na trama – mas isso não acontece.
Na falta de boas piadas no roteiro, o ator e comediante Leandro Hassum se esforça, se vira como pode e, quando seu repertório se esgota, apela para o histrionismo. O resultado é uma infinidade de caras, bocas e berros.
Quase dolorosamente, o longa percorre todos os caminhos previsíveis. É uma exaltação ao consumismo desenfreado do mundo contemporâneo, que Santucci dirige sem qualquer inspiração. Não fossem alguns raros momentos de Hassum, seria praticamente insuportável.
(Até que a Sorte nos Separe - 2012)
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O Diário de Tati (2012)
No filme "O Diário de Tati" há uma cena que não tem tanta importância para a narrativa, mas, em si, é chave para a credibilidade da história. A protagonista está atrasada para a aula, o carro da mãe não funciona e ela acaba embarcando na perua das crianças do primário. Quando a atriz Heloísa Périssé, que vive uma adolescente, sai do veículo no meio dos pimpolhos, pode soar estranho, mas ela mais parece um deles do que a adulta que atualmente vive Monalisa, na novela Avenida Brasil.
Pode ser uma prova da competência da atriz, de 46 anos, ou mais um truque do cinema. A questão é que ela funciona como a personagem. Heloísa, evidentemente mais velha do que os demais atores que interpretam os colegas de Tati, está confortável e segura, especialmente porque não se coloca num pedestal nem olha os adolescentes de cima para baixo. Não existe também nenhuma caricatura da adolescência, só um olhar sobre a geração do presente.
Ainda assim, o filme se ressente um pouco do fato de ter sido feito há mais de cinco anos. Não que isso o invalide, mas deixa de contemplar alguns elementos da adolescência do nosso tempo – especialmente a comunicação ininterrupta com celulares e internet. O computador de Tati, por exemplo, parece jurássico. Se detalhes como esse forem deixados de lado, “O Diário de Tati” tem algo a dizer e pode divertir.
Não se deve esperar muito mais do que uma extensão do quadro do dominical “Fantástico”, no qual a personagem ganhou mais destaque – apesar de criada no teatro e ter participado da Escolinha do Professor Raimundo. Ainda assim, Heloísa (que coescreve o roteiro com Tiza Lobo e Paulo Cursino) e o diretor Mauro Farias estão cientes do tamanho do filme, e não ambicionam mais do que a personagem pode dar conta. Por isso, funciona.
Há um elemento cômico, mas também de ternura e respeito, quando Heloísa interpreta uma adolescente. É impossível nunca ter conhecido uma “Tati” (ou mesmo ter sido uma) ao longo da vida. Aquela ansiedade em que cada dia parece ser o último e os seus desejos, medos e sofrimentos os maiores do mundo. O jeito de falar, o uso de gírias e trejeitos dão o tom e a veracidade à personagem.
A trama se abre como uma crônica da juventude – descompromissada e praieira, como a personagem, afinal o filme não tem (e nem deve ter mesmo) qualquer ambição antropológica. Tati e toda a sua classe ficam em recuperação de matemática. Para tentar não perder o ano, ela assiste a aulas particulares com o amigo de seu irmão (Pedro Neschling), Maurinho (Marcelo Adnet).
No ambiente escolar surgem as disputas com sua rival, Camila (Thais Fersoza), pela atenção do menino mais popular, Zeca (Thiago Rodrigues) e os laços de amizade. Em casa, são as interações de Tati com a mãe (Louise Cardoso, sempre excelente) que conduzem as relações familiares. É claro que O Diário de Tati tem mais a dizer ao público adolescente e potencial e, com ele, travar um diálogo saudável.
(O Diário de Tati - 2012)
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quarta-feira, 25 de dezembro de 2013
Celeste e Jesse Para Sempre (2012)
Celeste e Jesse se conhecem desde o ensino médio. Namoraram, casaram, fizeram tudo juntos. Mas o encanto passou. Eles resolvem se divorciar, mas firmemente decididos a manter-se amigos. Isso funciona até o dia em que Jesse começa a namorar de novo...
(Celeste & Jesse Forever - 2012)
sexta-feira, 20 de dezembro de 2013
sábado, 14 de dezembro de 2013
Paris-Manhattan (2012)
Woody Allen, que nunca escondeu ter pedido a benção a seus mestres cinematográficos, como Ingmar Bergman, para construir sua obra, é, por sua vez, o homenageado da comédia romântica francesa "Paris-Manhattan" – em que a diretora estreante Sophie Lellouche mostra-se uma humilde aprendiz do diretor norte-americano.
Sophie elege como heroína de sua história uma musa que Woody aprovaria: a bela e confusa Alice (Alice Taglioni). Loura, esbelta, pinta de modelo, ela é uma farmacêutica entrando nos 30 anos, inacreditavelmente sem sorte no amor. Depois de cada desilusão, ela desabafa as mágoas para a enorme fotografia de Woody Allen que há anos emoldura sua parede: “ouvindo” dele conselhos, na verdade, uma habilidosa montagem de falas do ator e diretor retiradas de diversos de seus filmes.
A própria ideia de falar com seu ídolo, aliás, vem da obra de Woody, mais especificamente de uma peça dele, que ele mesmo roteirizou no filme "Sonhos de um Sedutor" (1972), de Herbert Ross, em que Woody recebia conselhos do fantasma de Humphrey Bogart.
A ligação de Alice com o cineasta é tamanha que ela chega a receitar a visão de seus filmes a alguns de seus clientes. Até em casos extremos, como no dia em que um rapaz tenta assaltar sua farmácia, é dissuadido por ela e ainda leva para casa "Crimes e Pecados" e "Um Misterioso Assassinato em Manhattan".
Este último filme, aliás, merece uma homenagem à parte dentro do enredo, quando Alice, seus pais (Michel Aumont e Marie-Christine Adam) e um fã seu, Victor (Patrick Bruel), fuçam o apartamento de sua irmã (Marine Delterme) à procura de provas da suposta infidelidade de seu marido, Pierre (Louis-Do de Lancquesaing). Naquele filme de Woody, ele mesmo e a mulher (Diane Keaton) invadiam o apartamento de um vizinho, à procura de evidências de um crime.
O ponto alto de "Paris-Manhattan" certamente é o segmento em que o próprio Woody entra em cena, realizando aquele tipo de fantasia poética que eleva a história alguns patamares. É muito bem-filmada a sequência em que Alice, dentro de um vestido vermelho, pilota um patinete pelas ruas de Paris, tentando chegar a tempo de ver Woody. Ela foi chamada por Victor, que trabalha com alarmes e segurança e casualmente salvou o diretor de uma situação.
Certamente, trata-se de um trabalho de estreante, com não poucas hesitações e quebras de ritmo. Mas Sophie parece estar no caminho certo. Pelo menos, em termos de mestres e inspirações.
(Paris-Manhattan - 2012)
segunda-feira, 9 de dezembro de 2013
Nota de Rodapé (2011)
O drama israelense “Nota de Rodapé” arma sua trama no insolúvel conflito entre pai e filho, ambos estudiosos do Talmud, livro sagrado dos judeus. O pai é Eliezer Shkolnik (Shlom Bar-Aba), que passou sua vida investigando as mínimas divergências nas diversas versões do Talmud, esforçando-se num trabalho árduo, minucioso e, até sua maturidade, com escasso reconhecimento. O máximo que ele conseguiu foi ser mencionado numa nota de rodapé da obra magistral de um grande especialista.
Com seu filho, Uriel (Lior Ashkenazi), acontece justamente o contrário. Sua vida é passada sob os holofotes, recebendo um prêmio atrás do outro por seus livros, muitas vezes bestsellers.
O contraste entre a carreira dos dois termina por envenenar o relacionamento entre pai e filho, cujas personalidades não escondem uma ponta de crueldade, que vem à tona na primeira oportunidade, apesar dos esforços de suas mulheres para aliviar a tensão.
Um dia, chega pelo correio uma carta, anunciando para Eliezer que ele, finalmente, venceu o cobiçado Prêmio Israel. A amargura de toda uma vida de humilhação é repentinamente substituída por um inédito sentimento de euforia, que contamina também o filho. Afinal, vai ficar para trás o ressentimento de toda uma vida.
Mas a alegria dura pouco. O comitê de premiação cometeu um terrível engano e Eliezer, agora, terá que participar da solução de um dilema bem complicado. O drama de Uriel, que parecia resolvido, ganha um novo e decisivo capítulo.
Indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (Israel).
(Hearat Shulayim - 2011)
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sexta-feira, 6 de dezembro de 2013
domingo, 1 de dezembro de 2013
Thor (2011)
Conhecido por seus trabalhos shakespearianos, como Henrique V (1989) e Hamlet (1996), o ator e diretor irlandês Kenneth Branagh fez sua primeira investida no universo pop, dirigindo a aventura Thor. Baseado na graphic novel lançada pela Marvel em 1962 – de autoria de Stan Lee, Jack Kirby e Larry Lieber -, o filme reinventa a lenda do famoso heroi da mitologia nórdica.
Interpretado pelo ator australiano Chris Hemsworth (Star Trek), Thor é o impulsivo herdeiro do mítico reino de Asgard, que há muito ganhou a sangrenta guerra contra o mundo gelado de Jotunheim, sob o comando do rei Odin (Anthony Hopkins). O gênio aguerrido de Thor tem um contraponto no irmão, Loki (Tom Hiddleston), mais calmo e discreto, que vive à sua sombra.
Tanta paz no reino entedia Thor. Por isso, uma repentina invasão de Asgard por três habitantes de Jotunheim, rapidamente dominados, dá-lhe o pretexto para ir tomar satisfação do rei local, Laufey (Colm Feore). Sempre escudado por uma fiel trupe de guerreiros e pelo irmão, sem nunca abandonar seu poderoso martelo mágico, Thor faz um estrago no reino vizinho e dá pretexto para o reinício da guerra.
Como castigo, Odin expulsa Thor de casa. Envia-o à Terra, privando-o também de seus títulos, poderes e do martelo mágico. O poderoso martelo também é jogado na Terra, ficando encravado no meio do deserto mexicano, onde atrai a atenção tanto de aventureiros como de uma unidade do serviço secreto americano, a Shield. Thor só recuperará o domínio do artefato quando tomar juízo.
A chegada de Thor à Terra é testemunhada também por uma equipe de cientistas, a dra. Jane Foster (Natalie Portman), o professor Erik Selvig (Stelan Skarsgard) e a estagiária Darcy (Kat Dennings). Como todo mundo fala inglês, não há qualquer dificuldade de compreensão entre eles. A dificuldade de relacionamento geral fica por conta da fúria de Thor, que leva um tempo para se acalmar e entender o processo de amadurecimento pretendido por seu pai.
Em Asgard, por sua vez, há problemas. Logo depois da expulsão de Thor, seu pai caiu numa espécie de coma e o reino fica sob o comando de Loki – que revela uma ambiguidade cada vez maior, a seguir à descoberta da verdade sobre o seu nascimento.
Esse tipo de rivalidade entre irmãos, as sucessivas intrigas envolvendo os dois reinos, além do princípio de romance entre Jane e Thor, devem ter tido o seu papel para instigar Branagh a aceitar a direção de uma história, em princípio, tão diferente de suas tramas shakespearianas e onde ele não encontra oportunidade de imprimir uma marca pessoal.
Ainda assim, não há, a rigor, uma real semelhança entre o mundo de Shakespeare e o mundo de Stan Lee e associados. Thor evolui bem mais de acordo com as regras do universo pop dos quadrinhos, enfileirando confrontos, guerras, lutas e destruições, algumas impressionantes.
(Thor - 2011)
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