domingo, 26 de outubro de 2014
Garota Exemplar (2014)
Na superfície, "Garota Exemplar", novo filme de David Fincher, baseado no romance homônimo, é sobre as dificuldades da vida a dois, sobre as concessões e sacrifícios necessários para manter um casamento. A mulher de Nick Dunne (Ben Affleck), Amy (Rosamund Pike), desaparece exatamente no dia em que completam cinco anos de casamento – “bodas de madeira”, explica ele, que em todos os anos foi capaz de dar um presente relacionado à simbologia da data. Nesse ano, no entanto, não conseguiu pensar em nada. Sua mulher, ao contrário, parece ter armado toda a comemoração – eles faziam uma caça ao tesouro – antes de sumir.
O romance escrito por Gillian Flynn, também autora do roteiro, combina uma narrativa intercalada com os pontos de vista do marido e da mulher, que, mais tarde, convergem numa das várias reviravoltas do romance. No filme, as idas e vindas não são tão bem resolvidas, mas Fincher é um diretor técnico o suficiente para criar a tensão na construção das cenas e personagens. Eles vivem numa pequena cidade do Missouri, onde Nick é sócio da irmã gêmea, Margo (Carrie Coon), num bar, depois de perder o emprego numa revista em Nova York. São tempos de crise financeira, shoppings fechados que se tornaram abrigos para viciados e mendigos, lojas e casas abandonadas. A crise financeira também atingiu os Dunne, cujas brigas já eram constantes – e não só por conta da falta de dinheiro.
Quando a investigação começa, não demora muito para a responsável, detetive Rhonda (Kim Dickens), começar a desconfiar da participação de Nick no desparecimento da mulher. Aqui, “Garota Exemplar” começa mostrar, então, qual é o seu tema: a boa e velha sociedade do espetáculo. Logo uma horda de jornalistas, cinegrafistas e fotógrafos estão dando plantão em todos os lugares por onde Nick passa.
A narrativa de Amy parte direto de seus diários. Por meio de flashbacks, descobre-se que ela é a inspiração para uma famosa série de livros infantis escritos por seus pais e protagonizados pela Amy Exemplar, calcada nela mesma – o que leva o marido Nick a dizer: “Eles roubaram sua infância”. Também dos diários, surge uma versão do desenrolar da história de amor do casal. Mas, a toda hora nos lembra Fincher, essa é uma sociedade da aparência, e a verdadeira Amy é uma tremenda de uma atriz – ela sabe o mundo em que vive (atua?) e dá exatamente aquilo que o seu público quer. Se eles querem sangue, é sangue que eles vão ter.
Fincher também sabe proporcionar exatamente aquilo que seu público quer. Se em Seven, ele entregou a cabeça da mocinha dentro de uma caixa de papelão, aqui a mocinha não é mais a ingênua – nem o mocinho tão heroico. Ainda assim, "Garota Exemplar" parece tomar mais partido de Nick do que de Amy. Vê-se boa parte da história pelo seu ponto de vista – mas ele também, com ajuda de um advogado (um surpreendente Tyler Perry), sabe fazer o jogo dos abutres da mídia sedentos por sangue. O casamento, a relação humana, são apenas a ponta do iceberg nesse filme, em que Fincher faz um retrato cândido de nossa sociedade governada pelas imagens – aquela que criamos para nós, aquela que criam de nós – e pelos jogos de poder – do qual sempre sai vitorioso quem tem mais dinheiro. Aqui não é diferente.
Nomeado ao Oscar de Melhor Atriz (Rosamund Pike).
(Gone Girl - 2014)
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À Procura do Amor (2013)
Na comédia romântica "À Procura do Amor", um dos últimos filmes de James Gandolfini, uma novidade está mesmo na presença do ator, que morreu em junho passado, aos 51 anos, num papel muito diferente dos durões que encarnou no cinema e na TV.
Distanciando-se especialmente do celebrado Tony Soprano, da série "Família Soprano", ele revela talento e sensibilidade para interpretar Albert, um arquivista de uma biblioteca audiovisual de televisão, divorciado e solitário. Numa festa, ele encontra Eva (Julia-Louis Dreyfuss), massagista, também divorciada, como ele, mãe de uma filha que está saindo de casa para cursar a universidade.
Algumas diferenças deste filme, escrito e dirigido por Nicole Holofcener ("Sentimento de Culpa"), em relação à média das produções do gênero, é apostar em protagonistas mais maduros e não criar um caminho previsível nem adocicado demais na aproximação romântica dos protagonistas. Ambos trazem na bagagem compreensíveis traumas do casamento anterior e demonstram suas hesitações nos estágios iniciais do romance, que contribuem para criar simpatia para os dois.
A encrenca está em que, na mesma festa, Eva conheceu uma futura nova cliente, Marianne (Catherine Keener). Poeta, sofisticada, ela encanta Eva por ser uma espécie de mulher que ela, mais simples e relaxada por natureza, nunca foi. Tornam-se amigas e confidentes antes que Eva perceba que ela é a ex-mulher de Albert. E que fala horrores dele.
Lembrando muito sua inesquecível Elaine Benes, a personagem do seriado "Seinfeld", Eva sente-se numa armadilha: conta a Marianne que está namorando seu ex e perde a cliente e amiga? Revela a Albert a situação? Ela não consegue fazer nenhum dos dois. Insegura, leva a sério demais os comentários ácidos de outra amiga, Sarah (Toni Collette), uma terapeuta que vive um casamento acomodado com Will (Ben Falcone).
Engasgando nesse dilema mais do que devia, "À Procura do Amor" perde um pouco de fôlego. Nada que transforme o filme num desastre, bem ao contrário. Trata-se de uma comédia com adultos, para adultos, que não dispensa a interferência de algumas simpáticas personagens jovens – caso da filha de Eva, Ellen (Tracey Fairaway), e sua amiga carente, Chloe (Tavi Gevinson). A relatividade das visões de mundo das duas fases da vida entra em foco, a favor de um maior equilíbrio e ternura.
(Enough Said - 2013)
Eating Out: The Open Weekend (2011)
Durante o acampamento de atores, Zack acabou largando Casey e ficando com Benji. Como prêmio do acampamento, os meninos e suas melhores amigas, Lily e Penny, ganharam uma viagem para um final de semana em um resort gay em Palm Spring.
Uma verdadeira miscelânea de homens bonitos acaba balançando o relacionamento de Benji e Zack que acabam resolvendo passar esse final de semana livres para que pudessem aproveitar. Zack não parece estar tão empolgado com a ideia, mas resolve seguir com o plano para manter Benji feliz, até porque ele também adora uma azaração.
Ao mesmo tempo Casey sabendo que Zack estará com seu novo namorado, recruta Peter, seu novo amigo e pede que ele finja ser seu novo namorado durante esse final de semana para provar a Zack que superou a perda.
(Eating Out: The Open Weekend - 2011)
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Eating Out: Drama Camp (2011)
A relação de Zack e Casey está em queda, mas as coisas estão prestes a mudar em Dick Dickey´s Drama Camp. Zack encontra Benji, e se tornam amantes em uma versão muito sexual de The Taming of the Shrew e sua felicidade é colocado à prova.
(Eating Out: Drama Camp - 2011)
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sexta-feira, 24 de outubro de 2014
Ninfomaníaca: Volume 1 (2013)
A primeira polêmica envolvendo "Ninfomaníaca: Volume 1", antes mesmo que o filme seja exibido, envolve a notícia, divulgada pelos distribuidores brasileiros, de que a versão que está sendo lançada aqui é a que foi cortada pelos produtores, com autorização de Lars Von Trier, mas sem sua participação. A versão sem cortes vai ser divulgada em primeira mão pelo Festival de Berlim, em fevereiro. Como de costume, o marketing precede a obra, no mais puro estilo do premiado diretor dinamarquês.
Então, do que Von Trier quer falar aqui? De erotismo, sexualidade extrema e culpada, em primeiro lugar. Porque Joe (Charlotte Gainsbourg), a protagonista, socorrida por um homem que a encontrou ferida na rua, Seligman (Stellan Skarsgaard), conta-lhe exaustivamente suas aventuras sexuais, sob o peso de uma grande culpa. É o olhar de uma mulher entrando na maturidade, de uma masoquista ou de uma depressiva egocêntrica?
A sexualidade em "Ninfomaníaca: Volume 1" raramente parece realmente livre, exuberante. É geralmente marcada por um traço sórdido – como a sequência em que a jovem Joe (Stacy Martin) procura perder a virgindade com um rapaz que tem uma moto, Jerôme (Shia La Beouf), numa oficina suja, numa situação em que ela parece ter procurado ser objeto e vítima, não uma curiosa parceira de prazer. Aliás, por mais que procure o sexo, Joe parece fazê-lo mecanicamente, não demonstrando qualquer euforia. Mais do que tudo, essa atitude é que dá a pista de sua compulsão.
Não é a primeira vez que Von Trier coloca suas personagens femininas em situações degradantes, sexuais ou não, como aconteceu por exemplo, em "Ondas do Destino", "Dogville" (2003) e "Anticristo" (2009). Naqueles filmes, como em Ninfomaníaca, explode também o lado perverso e provocador do diretor, além de um senso de humor cada vez mais feroz – e que se manifesta com todo seu brilho e causticidade numa sequência que envolve a sra H (Uma Thurman), seus filhos pequenos, seu marido que fugiu para viver com a jovem Joe e um jovem amante desta que chegou no meio do imbróglio.
Ao recontar as aventuras de Joe adolescente e a amiga B (Sophie Kennedy Clark), numa louca competição entre as duas para saber qual delas transaria mais homens em banheiros de um trem - em troca da prosaica recompensa de um saco de bombons - ,Trier mostra, novamente, seu cinismo – que, por excessivo, retira um pouco da humanidade de suas personagens. O que não acontecia em "Ondas do Destino" e "Dogville", filmes de escrita mais elaborada.
Alguns dos raros momentos em que Joe mostra sentimentos é ao lado do pai (Christian Slater). Ela deixa clara uma relação tóxica com a mãe (Connie Nielsen), um indício de um psicologismo um tanto óbvio na composição da personalidade da protagonista.
Por outro lado, Seligman oferece um contraponto, como um intelectual solitário, vivendo num apartamento despojado, de aparência monástica, fazendo referências a Edgar Alan Poe, Thomas Mann, à bíblia, à matemática, à música clássica, diante do relato picante e melancólico de Joe. Esta primeira parte de Ninfomaníaca é bem mais falada do que se poderia imaginar. É pela palavra que Joe reconstitui a própria vida, procurando castigo ou absolvição. Ou talvez, compreensão.
(Nymphomaniac: Vol. I - 2013)
domingo, 12 de outubro de 2014
Annabelle (2014)
Não nego que "Invocação do Mal" tenha me surpreendido, foi um filme de terror que me fascinou e amedrontou, o que me levou a assistir "Annabelle". Infelizmente o resultado não foi o esperado.
Este seria o 'prequel' de "Invocação do Mal", afinal a boneca Annabelle é mostrada no início do filme, mas não é bem assim.
Os distúrbios começam com o casal Mia (Annabelle Wallis) e John (Ward Horton). Prestes a terem um filho, os recém-casados têm sua casa invadida por uma dupla de adoradores do demônio, entre eles Annabelle Higgins que pouco antes havia assassinado os próprios pais. Entre a luta e a chegada da polícia, a criminosa tem tempo de preparar um ritual macabro antes de cometer suicídio no quarto do bebê. Ao lado do corpo, vê-se a boneca ensanguentada.
Nos dias após os acontecimentos traumáticos, Mia e John passam a ser vítimas de fenômenos assustadores inexplicáveis. Mesmo depois de uma providencial mudança de endereço, o casal continua refém de ataques paranormais. Não demorará muito para Mia ter de enfrentar um demônio por trás da boneca e sua sede por almas.
O filme se arrasta, o enredo é fraco e a história não se sustenta.
(Annabelle - 2014)
quarta-feira, 8 de outubro de 2014
Tatuagem (2013)
"Tatuagem" não é um filme brasileiro, é sim um filme pernambucano! Um filme com a alma de Pernambuco, com a sonoridade e o sotaque da região. Dá até para ouvir o filme ao invés de assisti-lo. É um filme mágico.
Conhecemos aqui o "Chão de Estrelas", um teatro mambembe dirigido por Clécio (Irandhir Santos) e protagonizado por Paulete (Rodrigo García). Ambos homossexuais vivendo um amor livre em plena ditadura militar.
A historia se desenrola com a chegada de Fininho (Jesuíta Barbosa), jovem soldado do exército que não se encanta apenas com o "Chão de Estrelas", como também por seu diretor Clécio, o que os leva a viver um romance proibido.
(Tatuagem - 2013)
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sábado, 4 de outubro de 2014
Burning Blue (2013)
Um agente do governo americano é encarregado de descobrir a causa de dois acidentes fatais envolvendo a aeronáutica nacional. Enquanto investiga os problemas técnicos e de gestão, ele descobre que um dos militares foi visto em um bar gay. Começa uma perseguição e investigação sobre a sexualidade deste e de outros homens que servem ao país.
(Burning Blue - 2013)
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quarta-feira, 1 de outubro de 2014
Dentro da Casa (2012)
Não é mera coincidência que o lugar onde se passa boa parte da ação do drama "Dentro de Casa", do francês François Ozon, seja uma escola chamada Gustave Flaubert. Uma das personagens centrais, Esther (Emmanuelle Seigner), é uma espécie de Madame Bovary contemporânea, burguesa e entediada em sua casa e que acaba despertando a paixão de um adolescente, Claude (Ernst Umhauer), amigo de seu filho. Uma situação, no entanto, que resulta em consequências bastante diferentes daquelas do romance clássico, publicado em 1857.
Sem saber, Esther é o objeto do desejo e protagonista de uma narrativa criada por Claude, na qual realidade e imaginação se misturam. Tudo começa com uma redação para a aula de francês, quando o professor Germain (Fabrice Luchini) nota que Claude tem um talento acima da média.
Na redação, o garoto descreve uma ida à cada do amigo Rapha (Bastien Ughetto), onde conhece o pai (Denis Ménochet) e a mãe, Esther. É um ambiente pequeno-burguês bastante diferente daquele no qual o garoto vive com o pai, preso a uma cadeira de rodas e abandonado pela mãe. O que seduz Claude não é apenas a atmosfera de uma vida financeiramente melhor do que a sua, mas a também ideia da família perfeita.
Aos poucos, cria-se uma estranha relação de interdependência entre o garoto e professor, que toda semana espera uma nova redação, uma nova aventura de Claude na casa dos Raphas, como ele os chama. Claude, por sua vez, aproxima-se cada vez mais de Esther, como se estivesse projetando um complexo de Édipo mal resolvido na mãe do amigo.
O professor também é um personagem interessante. Homem de meia-idade, é casado com Jeanne (Kristin Scott Thomas), gerente de uma galeria de arte à beira da falência, que expõe arte contemporânea. Entre as bizarras obras, estão bonecas eróticas infláveis com a imagem dos rostos de ditadores – como Hitler e Stalin - sobre suas faces.
Ao contrapor a narrativa romanceada das aventuras do garoto na casa do amigo e as estranhas obras da galeria, Ozon, que assina o roteiro, baseado numa peça do espanhol Juan Mayorga, parece questionar os diversos níveis da representação. As histórias do garoto, com o passar do tempo, viram um jogo de espelhos, refletindo também os anseios do professor de manipular as ações do garoto.
Em seu último ato, "Dentro de Casa" perde um pouco de fôlego para o reencontrar apenas na reta final. O que funciona muito bem é o trabalho dos atores – especialmente do novato Ernst Umhauer, cujo risinho cínico no canto da boca tem um quê de Terence Stamp em "Teorema", de Pier Paolo Pasolini, um filme que, não por acaso, estabelece um diálogo com este.
(Dans la Maison - 2012)
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