domingo, 26 de fevereiro de 2017

Palpites para o Oscar 2017


Depois de assistir aos filmes indicados ao Oscar este ano, aqui segue meus palpites:

Melhor Filme:

La La Land: Cantando Estações

Melhor Diretor
Damien Chazelle - La La Land: Cantando Estações

Melhor Atriz
Emma Stone - La La Land: Cantando Estações

Melhor Ator
Casey Affleck - Manchester à Beira-Mar

Melhor Ator Coadjuvante
Mahershala Ali - Moonlight: Sob a Luz do Luar

Melhor Atriz Coadjuvante
Viola Davis - Um Limite Entre Nós

Melhor Roteiro Original
Kenneth Lonergan - Manchester à Beira-Mar

Melhor Roteiro Adaptado
Eric Heisserer - A Chegada

Melhor Animação
Zootopia: Essa Cidade é o Bicho

Melhor Longa Estrangeiro
O Apartamento (Irã)

Melhor Canção Original
"City of Stars" | Música de Justin Hurwitz, canção de Benj Pasek e Justin Paul - La La Land: Cantando Estações

Melhor Fotografia
Bradford Young - A Chegada

Melhor Figurino
Consolata Boyle - Florence: Quem é Essa Mulher?

Melhor Maquiagem e Cabelo
Alessandro Bertolazzi, Giorgio Gregorini e Christopher Nelson - Esquadrão Suicida

Melhor Mixagem de Som
Kevin O'Connell, Andy Wright, Robert Mckenzie e Peter Grace - Até o Último Homem

Melhor Edição de Som
Robert Mackenzie e Andy Wright - Até o Último Homem

Melhores Efeitos Visuais
Robert Legato, Adam Valdez, Andrew R. Jones e Dan Lemmon - Mogli: O Menino Lobo

Melhor Design de Produção
Patrice Vermette (design de produção) e Paul Hotte (decoração de set) - A Chegada

Melhor Edição
Joe Walker - A Chegada

Melhor Trilha Sonora
Justin Hurwitz - La La Land: Cantando Estações

Minha Vida de Abobrinha (2016)


Com esta animação termino de assistir aos 41 longa-metragens que receberam alguma indicação ao Oscar 2017. Não cheguei a ver nenhum dos indicados que são documentários nem curta-metragens.

Minha Vida de Abobrinha é um filme de animação em stop-motion de apenas 1 hora de duração e que conta a história do pequeno Abobrinha, que depois de perder sua mãe alcoólatra, é acolhido em um orfanato onde encontra outras crianças que passam por problemas semelhantes aos seus ou até piores.

É um filme sutil e belo, vale a pena assistí-lo.

Nomeado ao Oscar de Melhor Filme em Animação.

(Ma vie de Courgette - 2016)

domingo, 19 de fevereiro de 2017

O Apartamento (2016)


Neste ano, 41 filmes receberam alguma indicação ao Oscar. Destes, até o momento, consegui assistir a 40.

¨O Apartamento¨ foi indicado ao Oscar na categoria de Melhor Filme Estrangeiro e representa o Irã e tem grandes chances de levar o prêmio.

A história gira em torno de um casal, sem filhos, que se muda para um novo apartamento sem saber a história dos antigos moradores do local. Não que esta seja uma história de fantasmas e assombrações, mas as questões que envolviam a antiga moradora do local atinge os novos inquilinos.

O interessante neste filme é observar as discrepâncias e semelhanças da cultura iraniana com a cultura ocidental, principalmente a questão da mulher e de suas vulnerabilidades na vida em sociedade.

A forma com que o diretor desenrola os acontecimentos logo após o atentado sofrido pela protagonista é o ponto forte do filme, onde a justiça feita com as próprias mãos passa a ser a maneira viável para resolver determinados assuntos.

Vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (Irã).

(Forushande - 2016)

Mulheres do Século 20 (2016)


Dorothea (Annette Bening) é uma mulher com os seus 55 anos e mãe de Jamie (Lucas Jade Zumann) um adolescente de 15 anos. Sentindo-se um pouco velha e incapaz de acompanhar as mudanças do mundo em plena década de 1970, ela enfrenta certas dificuldades para lidar com seu filho adolescente, que na verdade é um bom garoto.

O interessante aqui é a forma em que o filme é narrado. Pois são estes dois personagens que nos apresentam a história e os personagens que a envolvem. Até certo momento, não sabemos ao certo quem são as pessoas que fazem parte da vida desses dois, mesmo que elas estejam lá o tempo todo. Necessitamos então que os personagens principais nos introduza estes personagens secundários para que faça sentido a presença deles na trama, pois antes que esta apresentação aconteça, não sabemos ao certo quem estas pessoas representam. Este é o caso de William (Billy Crudup), Abbie (Greta Gerwig) e Julie (Elle Fanning).

Talvez seja por este tipo de narrativa que o filme tenha recebido sua indicação ao Oscar de Roteiro Original.

Nomeado ao Oscar de Roteiro Original.

(20th Century Women - 2016)

Star Trek: Sem Fronteiras (2016)


O capitão Kirk (Chris Pine), que até então seguia os passos de seu pai herói George Kirk (Chris Hemsworth), busca entender o que quer para si, enquanto a Spock (Zachary Quinto) recai o peso de reviver a cultura vulcana.

Os longos períodos a bordo da Enterprise tornam-nos praticamente guardiões dos valores da Federação, levando-os à beira do tédio. Mas o marasmo muda quando uma nave pede socorro em uma área desconhecida do espaço. Um embuste que os atrairá até o novo vilão Krall (Idris Elba), um humanoide de aparência réptil, que literalmente suga a força vital de humanos para se fortalecer.

Maniqueísta como todo vilão da narrativa de Star Trek, Krall é uma figura perversa cuja missão é destruir não apenas os valores pregados pela Federação, como qualquer um que esteja sob sua guarda. A começar pela própria Enterprise, feita em pedaços por naves coordenadas como um enxame de abelhas.

Quando caem no planeta habitado por Krall, a tripulação precisa se virar e evitar que o vilão construa sua arma da morte. Será quando Bones (Karl Urban) dividirá hilariantes cenas com Spock, no confronto de suas antipatias mútuas e Scotty (Simon Pegg) conhecerá a felina Jaylah (Sofia Boutella), peça fundamental para os planos do capitão Kirk.

Um filme inferior quando comparado aos outros.

Nomeado ao Oscar de Maquiagem.

(Star Trek Beyond - 2016)

Além da Escuridão: Star Trek (2013)


Neste segundo filme da franquia Star Trek temos o ator Benedict Cumberbatch como o vilão da história, e que deseja libertar os sobreviventes de seus planeta que estão escondidos no meio de dezenas de mísseis.

Um filme da saga muito bem produzido e que irá agradar os fãs de Star Trek.

Nomeado ao Oscar de Efeitos Visuais.

(Star Trek Into Darkness - 2013)

Star Trek (2009)


Esta não foi a primeira vez que assisti a este filme, mas foi a primeira vez que gostei do que vi. Apenas me interessei em revê-lo porque o terceiro filme da saga recebeu uma indicação ao Oscar este ano, e para não me sentir perdido ao assistí-lo, decidi rever os dois primeiros filmes.

Acompanhamos então o capitão Kirk desde a sua infância, a perda de seu pai, sua adolescência rebelde, até o momento em que se torna o capitão da nave Enterprise e com isto o nascimento da inusitada amizade entre ele e Spok.

O filme é um ótimo passatempo e foi muito bem produzido. Certamente deve ter agradado muito os fãs da série televisiva da década de 1970.

As origens de Spok, sua mãe humana e seu pai Volcano também são detalhadas no filme.

Vencedor do Oscar em Maquiagem. Nomeado em Edição de Som, Mixagem de Som e Efeitos Visuais.

(Star Trek - 2009)

Esquadrão Suicida (2016)


Num mundo em que Superman morreu – como visto no filme ¨Batman vs Superman¨, vale tudo. Inclusive os piores criminosos se tornarem um time de justiceiros a serviço do governo. Apostando no encanto ambíguo dos vilões da popular série de quadrinhos homônima, a aventura Esquadrão Suicida, não brincou em serviço. Convocou um elenco de peso, não economizou nos efeitos especiais nem na destruição e ainda tirou uma onda com uma trilha sonora com sucessos retrô.

Numa palavra, todos os integrantes deste time do mal são inimigos de Batman (Ben Affleck) – que aparece em algumas cenas, inclusive prendendo um deles, o Pistoleiro (Will Smith), o cara que nunca erra um tiro mas vacila na hora de atirar no Morcego, por causa do pedido de sua filha (Shailyn Pierre-Dixon).

O Pistoleiro, assim, vai parar no presídio de segurança máxima na Louisiana que aparece no começo da história, e onde estão detidos outros malfeitores de alta periculosidade: Arlequina (Margot Robbie), El Diablo (Jay Fernandez), capitão Bumerangue (Jai Courteney) e o Crocodilo (Adewale Akinnuaye-Agbaje). Mas não está entre os prisioneiros o Coringa (Jared Leto), que funciona na história como elemento perturbador em paralelo, já que não poupa esforços para recuperar sua namorada, Arlequina (que era sua psiquiatra no hospício de onde fugiu). Leto, aliás, deixa para trás seu passado de galã encarnando uma versão do personagem ainda mais alucinada do que a vivida pelo falecido Heath Ledger em Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008).

Apesar da ficha corrida imensa de todos, justamente por isso são cogitados para integrar um programa ultrassecreto do governo, tocado por Amanda Waller (Viola Davis) – que está enfrentando uma ameaça tremenda com as intervenções da feiticeira Magia, que ocupou como hospedeira o corpo da arqueóloga June Moone (Cara Delevingne). Nem mesmo a posse do coração da feiticeira por parte de Amanda – que o guarda numa caixa sempre ao seu alcance – está conseguindo dominá-la, já que a bruxa consegue aliados para produzir exércitos de seres controlados por ela para instalar o caos e a destruição em Midway City.

Refletindo a ironia amarga deste mundo sombrio, os vilões são convencidos a cooperar com o governo nem tanto pela promessa de redução de suas penas mas muito mais pela introdução de um mecanismo capaz de explodi-los em seus pescoços – e que pode ser acionado a qualquer momento tanto por Amanda quanto pelo capitão Rick Flag (Joel Kinnaman), que comanda o time marginal. Flag tem outro interesse pessoal: é apaixonado por June e quer arrancá-la das garras da feiticeira.

Misturando esse clima de faroeste delirante e futurista, com um bando de renegados, a um apelo mágico – afinal, alguns dos malvados têm poderes especiais, como o Diablo e suas mãos incendiárias -, o filme de Ayer produz a anarquia barulhenta que se espera de uma aventura inspirada no universo dos quadrinhos. Alguns atores, como era de se esperar, se destacam e sacodem a aura de malvados – caso de Will Smith, cujo Pistoleiro infalível, afinal, mostra um coração mole aqui e ali e capacidade de empatia.

As personagens femininas têm uma força inusitada em cena, tanto a durona Amanda, que nunca deixa escapar a chance de comprovar que está no comando, quanto a maluquete Arlequina, que exerce a função de quebrar a seriedade toda vez que parece que o tempo vai fechar com tantos malfeitores juntos. Num duplo papel, Cara Delevingne tem mais chance como a feiticeira, já que sua June Moone mostra-se pouco mais do que uma donzela em perigo. Também interessante é a matadora Katana (Karen Fukuhara), sempre eficientíssima com sua espada de samurai.

Sai o idealismo, entra o pragmatismo sombrio de uma Amanda Waller convencida de que os fins justificam os meios. Batman, no entanto, parece menos disposto a aceitar estas más companhias. Entenda porquê ficando até o final dos créditos do filme, que sugere o caminho de uma possível sequência.

Vencedor do Oscar de Maquiagem.

(Suicide Squad - 2016)

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Silêncio (2016)


No século XVII, dois padres jesuítas viajam ao Japão para encontrar seu mentor, num tempo em que a prática da religião católica naquele país era proibida, acarretando perseguição e torturas a quem desobedecesse à restrição.

Filme longo e cansativo que deve agradar a poucos.

Nomeado ao Oscar de Fotografia.

(Silence - 2016)

Ave, César! (2016)


Um filme cheio de estrelas para contar uma história que se passa na era de ouro da Hollywood dos anos 1950. Resumindo: um filme ruim dirigido pelos irmãos Coen.

A história gira em torno de Eddie Mannix (Josh Brolin), diretor de um estúdio cinematográfico que tem que lidar com o sequestro de uma de suas estrelas, a gravidez de outra, a busca constante de grandes furos jornalísticos de duas jornalistas gêmeas e a ameaça comunista que ronda os EUA no período da Guerra Fria.

Filme sem graça e desnecessário.

Nomeado ao Oscar de Direção de Arte.

(Hail, Caesar! - 2016)

Horizonte Profundo: Desastre no Golfo (2016)


Filme que conta a história real da explosão ocorrida na plataforma petrolífera de Deepwater Horizon em 2010.

Filme repleto de ação e efeitos especiais, mas vazio de conteúdo. Agradará aqueles que gostam de muita ação e pouco conteúdo.

Nomeado ao Oscar de Efeitos Especiais e Edição de Som.

(Deepwater Horizon - 2016)

sábado, 11 de fevereiro de 2017

Terra de Minas (2015)


A todo momento películas são lançadas retratando os horrores cometidos pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. ¨Terra de Minas¨ foge a essa regra.

Aqui encontramos adolescentes alemães, no pós-guerra, que são designados a retirar milhares de minas terrestres que foram colocadas no litoral dinamarquês pelo exército alemão.

Os injustiçados aqui são estes jovens que sofrem todas as consequências dos erros cometidos pelo governo derrotado de sua terra natal. Já o exército dinamarquês não demonstra nenhuma piedade ao exigir que esta missão seja cumprida mesmo que a vida desses garotos não seja poupada.

O telespectador vive a todo tempo a tensão destes jovens ao assistir a este filme que exibe os horrores do pós-guerra.

Nomeado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (Dinamarca).

(Under Sandet - 2015)

Um Homem Chamado Ove (2015)


A produção sueca ¨Um Homem Chamado Ove¨, flerta diretamente com o coração do público, buscando fazê-lo descobrir o que há por trás da carranca de um empedernido viúvo (Rolf Lassgard).

Obcecado tanto pelo próprio suicídio, para juntar-se à mulher, Sonja (Ida Engvoll), quanto pela ordem impecável de tudo no condomínio onde vive, Ove transformou-se num homem de emoções reprimidas. Vive como que escondido por dentro de uma implacável armadura, o próprio mau humor. Seus momentos de fragilidade são, inevitavelmente, quando visita a mulher no cemitério, desabafando suas pequenas contrariedades do dia a dia com o preço das flores, os vizinhos que deixam portões abertos ou bicicletas largadas nas ruas do conjunto onde mora. Ou seja, Ove, que recentemente foi forçado à aposentadoria, não tem mais nada emocionante para fazer.

Seguindo o manual de filmes deste tipo, apresenta-se no condomínio uma nova vizinha, que se encarrega de quebrar o gelo deste coração. A imigrante iraniana Parveneh (Bahar Pars) chega com marido e filhos a tiracolo e ainda espera mais um. O barrigão não a impede de resolver tomar aulas de direção com o rabugento Ove, que aos poucos começa a fazer parte da intimidade da família recém-chegada.

Baseado em romance de Fredrik Backman, com roteiro do próprio diretor, o filme abusa dos flashbacks, mostrando o jovem Ove (Filip Berg) e seu passado como ferroviário, seguindo os passos do pai (Stefan Godicke). Há um esforço excessivo, nestes momentos, em tudo explicar, não deixando de fora nenhum detalhe que justifique porque Ove se tornou este ser espinhoso.

De todo modo, a narrativa se nutre da inusitada amizade entre Ove e Parveneh, que de quebra dá um toque sutil sobre as possibilidades de trocas entre culturas diferentes, normalizando na tela as relações entre cristãos e muçulmanos de uma forma delicada. Há bons momentos de humor, mas emoção para o público não irá faltar, entre nascimentos, mortes, chegadas e partidas.

Nomeado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (Suécia) e Maquiagem.

(En man som heter Ove - 2015)

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

A Tartaruga Vermelha (2016)


Há uma simplicidade tocante em ¨A Tartaruga Vermelha¨ desde a forma até a trama.

Sem qualquer diálogo, o filme começa com um náufrago à la Robinson Crusoé que chega a uma ilha desabitada. Explorando o cenário tropical, ele tenta sobreviver, tenta fugir de lá, tenta não morrer. A natureza é sua única companheira, como pequenos caranguejos que andam de um lado para outro.

Ele tenta escapar do local diversas vezes, sempre sem sucesso, até a chegada da tartaruga vermelha do título, que se torna uma espécie de inimiga, apenas observando seus fracassos. Até que ele resolve vingar-se do animal. Aí o filme deixa de lado qualquer traço de realismo e mergulha de vez na fantasia, quando o homem volta ao local onde abandonou o réptil e a encontra com o casco rachado. De lá, sai uma mulher, que se tornará sua companheira.

O roteiro acompanha a jornada emocional desse casal, que logo terá também um filho. Os três enfrentam as adversidades físicas do ambiente e, ao mesmo tempo, talvez exatamente por isso, criam fortes laços.

Com traços minimalistas e um distanciamento às vezes quase clínico dos personagens, ¨A Tartaruga Vermelha¨ é um triunfo da animação por conta de sua beleza visual e força narrativa. Talvez um filme menos indicado para crianças.

Nomeado ao Oscar de Melhor Filme em Animação.

(La Tortue Rouge - 2016)

Loving (2016)


Richard Loving e Mildred formam um casal inter-racial na virada dos anos 1950 para os 1960, no sul dos Estados Unidos, e enfrentam muitos problemas com a população racista da cidade. Baseado em fatos reais o filme nos conta todo o sofrimento do casal que foi proibido de permanecer casado por sua diferença racial, os obrigando assim a mudarem do estado em que viviam para assim permanecerem juntos.

A história do filme é boa e ao mesmo tempo cruel, porém, sua narrativa lenta torna o filme um tanto enfadonho.

Nomeado ao Oscar de Melhor Atriz (Ruth Negga).

(Loving - 2016)

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Tanna (2015)


Em uma remota sociedade tribal, a jovem Wawa se apaixona por Dain, mas é oferecida em noivado em uma oferta de paz a outra tribo. Desesperados, os jovens precisam decidir entre fugir e ser felizes juntos ou zelar pelo futuro de sua tribo.

Nomeado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (Austrália).

(Tanna - 2015)

domingo, 5 de fevereiro de 2017

Até o Último Homem (2016)


¨Até o Último Homem¨ gira em torno de um herói atípico, Desmond Doss (Andrew Garfield) é um sujeito pacífico, religioso, que se alista para lutar na II Guerra Mundial para tornar-se médico mas se recusa a pegar numa arma e dar um único tiro. Sua missão, sustenta ele, é salvar vidas, não tirá-las.

Curiosamente, Doss existiu mesmo, tornou-se herói e recebeu a Medalha de Honra por ter salvado 75 colegas na encarniçada batalha de Okinawa, no Japão. Mas, antes desse reconhecimento, não foi nada fácil a sua vida na tropa. Nenhum de seus companheiros de farda aceitava um soldado que realizava todos os treinamentos com vontade mas se recusava a pegar num fuzil. Todos o consideravam covarde e não raro tornaram sua vida um inferno. Muito menos seus superiores, como o sargento Howell (Vince Vaughn), o capitão Glover (Sam Worthington) e o coronel Sangston (Robert Morgan), que tudo fizeram para forçá-lo a desistir e até levá-lo a corte marcial.

Todo esse perfil moral de Doss tem a ver com uma vida familiar em que é presença central o pai militar e alcoólatra (Hugo Weaving), a mãe que ele sempre defendeu (Rachel Griffits) e a noiva por quem é apaixonado, a enfermeira Dorothy (Teresa Palmer).

A sequência que mostra a batalha definidora da vida de Doss, ponto alto do filme, é marcada por um impressionante realismo, dando a medida da crueldade da luta, que durou dias, e do esforço de salvamento realizado pelo soldado. Ficando escondido depois que seus companheiros recuaram, ele foi capaz de resgatar, sozinho e desarmado, os feridos, um a um, descendo-os amarrados a uma corda, de uma altíssima parede de pedra.

No final do filme, imagens documentais mostram o verdadeiro Doss, que o filme transforma num herói que nunca deixou de ser um homem comum.

Nomeado a 6 Oscar: Melhor Filme, Direção (Mel Gibson), Ator (Andrew Garfield), Edição, Edição de Som e Mixagem de Som. Levou as estatuetas de Edição e Mixagem de Som.

(Hacksaw Ridge - 2016)

13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi (2016)


Não faltam perseguições de carro, tiros, muitas explosões e testosterona no novo filme de Michael Bay. Todas as marcas da pirotecnia visual do cineasta de grande sucesso comercial e gosto duvidoso não só para críticos, mas também para uma parcela significativa do público, estão presentes em 13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi, além de seus fetiches de exaltação por tudo que seja militar e/ou relacionado a machos alfa. No entanto, há uma certa contenção no uso desses elementos que torna o novo esforço do diretor e produtor em um trabalho bem mais centrado e amadurecido.

O retrato aqui é do ataque à instalação diplomática dos Estados Unidos e ao complexo da CIA em Benghazi, ocorrido entre a noite de 11 de setembro de 2012 e o amanhecer do dia seguinte, que levou à morte do embaixador norte-americano Christopher Stevens e de mais três pessoas. Baseado no livro escrito por Mitchell Zuckoff através de entrevistas com os membros da equipe de segurança do Anexo, como era chamado o prédio da agência ianque na cidade líbia, o roteiro do novelista Chuck Hogan acompanha, durante aqueles momentos decisivos, os seis ex-militares contratados para proteger os agentes da inteligência.

O foco recai em Jake Silva (John Krasinski), ex-fuzileiro naval e novato no grupamento. Pelas descrições do amigo dele, Tyrone 'Rone' Woods (James Badge Dale), o público conhece junto com o protagonista a dinâmica do serviço e daquele lugar. Contudo, o tempo gasto nesta apresentação acaba estendendo demasiadamente o filme, já que o segundo e o terceiro ato são dedicados exclusivamente à descrição do fogo cruzado, com detalhismo e tensão, este prolongado pela constante e tremulante câmera na mão e cortes expressos na edição – aliás, montagem que se demonstra um tanto confusa quanto à distribuição espacial de cada um em alguns instantes.

Dentro da equipe, os estereótipos escancaram a função restrita e unilateral dos outros componentes da segurança, como a de alívio cômico de Kris 'Tanto' Paronto (Pablo Schreiber). Fora deste círculo, os personagens são ainda mais reduzidos, como a agente da CIA que, narrativamente, serve de escada para exaltação desses heróis. O roteiro ainda recai em soluções fáceis e incoerentes, a exemplo da desculpa do drone na barreira de rebeldes, e no sentimentalismo acentuado por uma trilha sonora exagerada, como na cena totalmente fora de tom no drive-thru do McDonalds.

Novamente abordando uma temática que lhe é cara, Bay traz à tona os conflitos na Líbia causados por grupos rebeldes após a queda do ditador Muamar Kadafi, cuja morte parecia prenunciar um período de paz naquele país. Só que não foi isso que o futuro trouxe: ao contrário, a falência do Estado líbio fomentou, e ainda alimenta, braços do Estado Islâmico na região. Entretanto, todo o contexto histórico e as consequências da Primavera Árabe ali são apenas assunto para os créditos iniciais e finais, já que o longa prefere a ação pela ação e, claro, unicamente o ponto de vista norte-americano.

A cena final do choro das mães árabes não compensa a falta de voz do “outro lado” durante toda a exibição, enquanto todo patriotismo ao extremo – “entrei andando neste país e vou sair andando” reafirma o bravo combatente Oz (Max Martini) em certo momento – não encontra base no desenvolvimento dos personagens, em comparação ao muito superior Sniper Americano.

Por outro lado, há um questionamento às instituições norte-americanas, inédito para o cineasta, e seu tributo a esses heróis solitários, abandonados à própria sorte, realimenta nos EUA a controvérsia sobre o ocorrido, especialmente em época de corrida presidencial – a pré-candidata democrata Hillary Clinton era secretária de Estado na época. Por isso, a interessante tensão construída entre os caras dos músculos da equipe especial e os cérebros da inteligência da CIA, que estão longe de serem Jason Bourne, se fosse bem desenvolvida, teria potencial de elevar o conteúdo e a discussão em 13 Horas, pois o quesito entretenimento já está garantido.

Nomeado ao Oscar de Mixagem de Som.

(13 Hours - 2016)

sábado, 4 de fevereiro de 2017

Toni Erdmann (2016)


A produção alemã ¨Toni Erdmann¨, da diretora Maren Ade, estrutura-se em torno de uma personagem feminina forte (Sandra Hüller) e uma discussão bastante séria sobre o desenraizado modelo capitalista de nossos dias.

Neste que é o terceiro longa da diretora, o núcleo apóia-se igualmente numa difícil relação entre pai, Winfried (Peter Simonischek), e filha, Ines. Os dois vivem distantes, até fisicamente. Ela mudou-se para Bucareste, onde se tornou uma executiva durona, especializada em operações de outsourcing e seus decorrentes cortes drásticos de custos e pessoal.

Ines mora sozinha, não tem realmente amigos, somente relações profissionais. Suas companhias mais frequentes são duas outras mulheres, estrangeiras como ela. A moça é o próprio símbolo do capitalismo sem raízes, que viaja de país a país, seguindo conveniências alheias aos moradores de cada local, que devem, assim como seus governos, lidar com a terra arrasada e o desemprego que sobram após a passagem dessas multinacionais, como aquela em que trabalha Ines.

Só que seu pai está decidido a encarnar tudo o que ela suprimiu em sua vida, ou seja, o afeto, a diversão, a contradição. Ele a visita de surpresa em Bucareste e torna-se um fator de irritação a cada passo que ela dá, intrometendo-se em seus encontros profissionais e mesmo pessoais.

No habilidoso roteiro, também de autoria da diretora, criam-se situações surpreendentes a cada passo desta dupla em conflito – especialmente a partir de um certo ponto em que o pai decide assumir um alter ego meio palhaço, autointitulado “Toni Erdmann”, fazendo um contraponto ao comportamento frio da filha com uma peruca ridícula, dentes falsos e observações inesperadas.

Há situações absolutamente impagáveis – a festa de aniversário nudista é o melhor exemplo -, que permitem à diretora explorar alguns caminhos do absurdo mundo contemporâneo com uma ironia ferina, à qual não falta algum calor por baixo do rigor germânico.

Nomeado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (Alemanha).

(Toni Erdmann = 2016)

Aliados (2016)


Contando com um roteiro sofisticado e cheio de reviravoltas, a história começa no Marrocos, em 1942, o que traz à memória ecos do clássico Casablanca, lançado exatamente naquele ano, com Humphrey Bogart e Ingrid Bergman no centro do romance em tempos de guerra. A discreta homenagem, no entanto, pára por aí, embora neste novo filme o tema seja parecido. Max Vatan (Pitt) é um oficial da Força Aérea Canadense, cumprindo missão secreta naquele país. Sua chegada, desembarcando de paraquedas e esperando um carro no meio do nada, na verdade, remete a outro filme – Intriga Internacional (1959), este de Alfred Hitchcock.

No Marrocos, Vatan assume falsa identidade como homem de negócios francês e junta-se à francesa Marianne Beauséjour (Marion), espiã que se faz passar por sua esposa diante da comunidade alemã local. Através desses contatos dela, os dois vão infiltrar-se entre os nazistas para praticar um atentado arriscadíssimo – e que rende uma das sequências mais eletrizantes do filme.

Os dois espiões reencontram-se na Inglaterra, onde finalmente assumem a paixão que teve um primeiro capítulo marroquino. Eles se casam, têm uma filha – que nasce sob um dos muitos bombardeios nazistas sobre Londres – e levam uma vida bem caseira, para quem tem o currículo dos dois.

Na segunda parte, a história entra gradativamente num tom sombrio, pois começa-se a ter dúvidas sobre a real identidade de Marianne. Um acerto do diretor é na manutenção da ambiguidade da situação, nunca revelando demais sobre o que está realmente acontecendo. O público pode, legitimamente, acompanhar o desfecho com o coração aos pulos, já que Pitt e Marion entregam à tela seu carisma de casal dos sonhos, com cenas de sexo bastante ousadas e impecavelmente filmadas.

Ainda assim, soa uma nota falsa em alguns momentos, como na resolução do dilema, que derrapa demais no dramalhão, destoando da sobriedade geral da produção, inclusive em termos de realismo político do contexto.

Alguns detalhes promissores, como a presença da irmã lésbica de Max, Bridget (Lizzy Caplan), não dizem bem ao que vieram, exceto adicionar um certo tempero de modernidade. Em todo caso, o elenco de apoio está afinado, destacando-se o alemão August Diehl e o inglês Jared Harris.

Nomeado ao Oscar de Figurino.

(Allied - 2016)

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Lion: Uma Jornada Para Casa (2016)


Uma boa dose de fofura pós-colonial combinada com outra da pós-modernidade espacial do Google Earth dá o tom ao oscarizável ¨Lion: Uma jornada para casa¨, drama do australiano Garth Davis, baseado (como não?) numa história real de superação e vitória pessoal do indiano Saroo Brierley, interpretado por Sunny Pawar, quando criança, e Dev Patel quando adulto.

Numa terra de miséria, cor e exotismo, o pequeno Saroo e seu irmão Guddu (Abhishek Bharate) vivem numa região rural do país, onde tentam de todas as formas ajudar a mãe (Priyanka Bose) com pequenos expedientes. Até o dia em que os dois estão numa cidade grande em busca de dinheiro, e o protagonista pega no sono num trem que é recolhido até Calcutá.

Quilômetros e quilômetros longe de casa, o menino de 5 anos é incapaz de falar corretamente o nome de sua cidade quando, finalmente, é levado às autoridades. Colocado num orfanato, só sairá de lá quando adotado por um casal de australianos que o levarão para Tasmânia. Eles são John e Sue Brierley (David Wenham e Nicole Kidman). E Saroo, com todos seus traumas e medos, parece ser a escolha ideal.

O filme dá um salto e encontramos Saroo adulto e feliz com a nova família, em Melbourne, mas sem nunca se livrar da culpa do sofrimento que sua mãe biológica deve ter passado. Além disso, sofre pela indefinição de sua identidade deslocada. Isso fica ainda mais claro no curso de hotelaria, onde encontra pessoas do mundo todo e se apaixona por uma americana (Rooney Mara).

A partir desse momento, o filme roteirizado por Luke Davis, baseado num livro do próprio Saroo, torna-se uma propaganda escancarada do Google com suas ferramentas de localização e visualização espacial. É por meio delas que o protagonista calcula distâncias, mas nem é preciso recorrer ao Google para saber onde o filme irá chegar: ou seja, imagens das pessoas reais antes dos créditos finais.

Seguindo a jornada apenas do ponto de vista de Saroo, o longa abre mão de uma construção com mais nuances. Como a mãe do garoto, mesmo sem qualquer tecnologia, passou anos procurando pelo filho? O próprio protagonista, com o salto do roteiro, parece que nunca havia pensado em sua mãe até o momento em que a internet permitiu que a procurasse.

A tal “incrível história” de Saroo, que potencializa as lágrimas até dizer chega, renderia, quando muito, uma reportagem de menos de cinco minutos num telejornal. Por isso, esticá-la à marca de infindáveis duas horas é um exagero que nunca se justifica. Há pontas mal resolvidas, como a passagem da infância para a vida adulta, de órfão dickensiano na Índia a rico e atormentado, e o irmão adotivo (Divian Ladwa) viciado em drogas, cujos acessos de raiva nunca se justificam direito.

Indicado a 6 Oscar: Melhor Filme, Ator Coadjuvante (Dev Patel), Atriz Coadjuvante (Nicole Kidman), Roteiro Adaptado, Fotografia e Trilha Sonora.

(Lion - 2016)

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Jackie (2016)


Quando me perguntaram o que achei de ¨Jackie¨ respondi que o filme não passava de um funeral com 1 hora e quarenta minutos de duração.

Isto porque o filme todo é pautado nas decisões tomadas por Jaqueline Kennedy logo após o assassinato de seu marido. Decisões que pareceriam comuns a qualquer pessoa, mas que se tornam turbulentas quando trata-se da esposa de um presidente norte-americano assassinado.

Tudo isto é aqui exposto, principalmente o lado humano de uma mulher que foi imortalizada pela história e pelo seu charme e elegância.

Nomeado aos Oscar de Melhor Atriz (Natalie Portman), Figurino e Trilha Sonora.

(Jackie - 2016)

Estrelas Além do Tempo (2016)


Baseado em livro de Margot Lee Shatterly, ¨Estrelas além do Tempo¨, de Theodore Melfi, resgata a história de três desconhecidas mulheres negras que contribuíram para o progresso do programa espacial norte-americano nos anos 1960.

Numa época em que ainda vigorava uma legislação segregacionista nos estados do sul, em 1961, um grupo de matemáticas e cientistas negras constituía um departamento à parte dentro da NASA, em sua sede em Hampton, Virginia, fazendo cálculos complicados para as missões espaciais, antes que ali houvesse computadores. Entre elas, está a matemática Katherine Johnson (Taraji P. Henson), um gênio nos cálculos; a supervisora do departamento, Dorothy Vaughn (Octavia Spencer); e Mary Johnson (Janelle Monae), que sonha formar-se engenheira, um cargo que ela já exerce na prática.

O talento de Katherine não passa despercebido, no entanto, e ela é requisitada para integrar a equipe de elite – toda constituída de homens brancos – que prepara a missão que mandará o primeiro astronauta norte-americano ao espaço. O chefe da equipe, Al Harrison (Kevin Costner), não se importa com distinções de sexo e cor, apenas quer os profissionais mais capacitados para essa missão, já que os norte-americanos perderam para os soviéticos a primazia de mandar o primeiro homem ao espaço, Iuri Gagárin, em março de 1961.

Fora Harrison, no entanto, todo o ambiente é hostil à recém-chegada, incluindo seu supervisor, Paul Stafford (Jim Parsons), que não mede esforços para diminuí-la. Não é o único. No dia seguinte ao que ela ousou tomar café da mesma garrafa térmica usada por todos em seu departamento, Katherine encontra uma garrafa separada, identificada para “pessoas de cor”. Além disso, no prédio em que agora ela trabalha não há banheiro para mulheres negras. Todo dia, ela tem que correr até o toilete de seu antigo local de trabalho, sendo repreendida pelo tempo que gasta.

Enquanto isso, a supervisora Dorothy reclama, sem sucesso, junto à própria chefe, Vivian Mitchell (Kirsten Dunst), para ter aumento salarial. Não raro, Dorothy é tratada como se fosse um dos contínuos, sendo mandada carregar inúmeras pastas de trabalho. Mary, por sua vez, trabalha no projeto de um foguete e quer um diploma de engenheira. Mas, para isso, terá que recorrer ao tribunal para poder frequentar uma escola noturna de brancos, já que na região não existe uma escola superior negra da especialidade.

A narrativa funciona de forma eficiente nesse retrato de época, expondo a convivência de tensões de classe, gênero e raça no ambiente polarizado da Guerra Fria e da corrida espacial entre norte-americanos e soviéticos. Mas também extrai humor de situações domésticas de suas protagonistas, como quando a viúva Katherine se envolve com o coronel Jim Johnson (Mahershala Ali).

Se o racismo envenena as relações no dia a dia, inclusive no ambiente de elite da NASA, não faltam figuras progressistas como Al Harrison e também o astronauta John Glenn (Glen Powell) – que viria a ser o primeiro norte-americano a entrar em órbita da Terra e fazer três voltas ao planeta, em fevereiro de 1962.

Conduzido de forma sóbria, sem grandes ousadias, ¨Estrelas Além do Tempo¨ dá conta do seu visível empenho politicamente correto carregado pela empatia de suas ótimas protagonistas. Com uma causa progressista como a delas, não há como não simpatizar. As verdadeiras protagonistas da história, das quais apenas Katherine está viva (com 98 anos), aparecem em fotos no final do filme, valorizando o componente de resgate de sua injusta invisibilidade até aqui.

Nomeado aos Oscar de Melhor Filme, Atriz Coadjuvante (Octavia Spencer) e Roteiro Adaptado.

(Hidden Figures - 2016)

Mogli: O Menino Lobo (2016)


“Eu uso o necessário, somente o necessário”. O lema cantado pelo preguiçoso e simpático urso Balu na animação de 1967 pode ter servido de inspiração para Jon Favreau decidir como conduzir a história de seu Mogli – O Menino Lobo, o remake em live action produzido pela Disney de seu próprio clássico. O diretor utiliza elementos memoráveis do filme anterior, aproximando-se mais do conteúdo original que inspirou ambos os longas, O Livro da Selva (1894), do inglês Rudyard Kipling, numa trama que, em si, é a mais convencional possível.

Favreau não deixa de lado as músicas mais famosas da versão animada – embora algumas fiquem para os créditos – nem o tom jocoso e inocente de certos animais para agradar às crianças. Por outro lado, ele e o roteirista Justin Marks retomam as discussões morais do livro em um tom mais sério no texto e até na fotografia, que podem não satisfazer aquele espectador mais apegado à imagem pueril do menino selvagem em sua memória afetiva.

Contudo, o estelar elenco de vozes (tanto as originais como as da versão nacional) e, principalmente, o visual realista da natureza, com cenários e bichos criados artificialmente em computação gráfica avançada, são os atrativos para os adultos: o extraordinário que não é demais.

O novo longa, então, busca na história da obra literária sobre a Trégua da Água uma razão para a aproximação do temido Shere Khan de Mogli (Neel Sethi), um filhote de humano, como os animais da mata costumam dizer. Resgatado quando criança pela pantera Bagherah (Ben Kingsley/Dan Stulbach) e criado pela loba Raksha (Lupita Nyong'o/Julia Lemmertz) e sua alcateia, o menino desperta a ira do tigre, que tem seus motivos para odiar os homens e, por isso, decreta que os lobos entreguem o garoto a ele. Bagherah, no entanto, o tira de lá para levá-lo à aldeia dos humanos.

Contratempos acabam deixando Mogli sozinho na selva, onde ele conhece outros animais, também antropomorfizados: a hipnotizante cobra Kaa (Scarlett Johansson), cujo espaço na trama é muito reduzido, o imponente orangotango rei Louie (Christopher Walken) e o indolente urso Baloo (Bill Murray), cuja relação cativante com o menino é retomada com o mesmo vigor da animação. É curioso, no entanto, que só estes e mais alguns personagens principais falem, enquanto outros só emitam seus sons característicos, a exemplo dos elefantes. O roteiro enfatiza a perda da inocência e os perigos da ação humana dando peso narrativo maior ao fogo, poeticamente chamado de flor vermelha pelos animais, escancarando tais temas, sem trabalhar tanto no subtexto.

Vencedor do Oscar de Efeitos Especiais.

(The Jungle Book - 2016)

Moana: Um Mar de Aventuras (2016)


Mesmo sem título oficial de nobreza, Moana é uma típica princesa Disney – ou seja, um típico símbolo do empoderamento feminino procurado pelo estúdio em animações como Mulan (98), em que uma garota chinesa se vestia de homem para tornar-se soldado, acompanhada de um dragão de estimação.

Na nova animação Moana – um mar de aventuras, a heroína-título não precisa de disfarces. Ela é a filha do chefe de uma ilha da Oceania e dela será seu posto quando o dia certo chegar. Tem animais de animação, como o porquinho Pua e o galo Heihei. E também a aguarda uma jornada de superação.

Atrevida e talentosa, a Moana não falta coragem para encarar o mar, seu sonho. Mas, há centenas de anos, seu povo evita arriscar-se além de um cordão de recifes que protege sua ilha. Moana gosta de navegar mas seu pai (Temuera Morrison), nervosamente, a proíbe. E sua avó (Rachel House), amante das tradições ancestrais, é quem a estimula a desafiar o tabu, lançando-se ao mar numa missão ao mesmo tempo mágica e ecológica, que poderia resolver uma inesperada crise alimentar afetando tanto os cocos quanto a pesca na região.

Mesmo não tendo um parceiro romântico – outro sinal dos tempos na mitologia Disney -, Moana encontra um aliado importante em sua saga: o semideus Maui (Dwayne Johnson), um espirituoso fortão, todo tatuado e ostentando um saiote de folhas e colar de dentes e pedras no pescoço. A figura robusta de Maui, aliás, rendeu algumas reclamações à Disney, já que, originalmente, o semideus é representado como um homem mais esguio. Além disso, houve quem enxergasse nessa forma roliça do personagem uma velada menção ao clássico estereótipo de obesidade que preconceituosos relacionam a povos nativos do Pacífico.

Encarnando um tipo bonachão, irônico, vaidoso e ambíguo, Maui a princípio resiste a formar uma dupla com a mocinha – embora, no momento, ele bem que esteja necessitado de ajuda para recuperar seu perdido cajado mágico, que lhe permitia assumir diversas formas animais.

Como foi Maui, de qualquer modo, quem rompeu o equilíbrio de forças na natureza quando, muito tempo atrás, apoderou-se do coração de pedra pertencente à deusa da fertilidade, Moana não desiste de obrigá-lo à jornada – até porque é essencial devolver este coração.

Suas aventuras transcorrem num barco em que o outro tripulante é o galinho Heihei, mais tonto impossível, o que funciona como alívio cômico sempre que a situação oferece perigo.

Dois pontos fortes na produção são a riqueza visual dos cenários naturais e marinhos e também as músicas, numa trilha assinada por Mark Mancina, Lin-Manuel Miranda, o cantor e compositor polinésio Opetaia Foa’li e sua banda, Ta Vaka.



Nomeado ao Oscar de Melhor Filme em Animação e Melhor Canção (How Far I'll Go).

(Moana - 2016)

Doutor Estranho (2016)


Desde as primeiras cenas, fica evidente que o maior mérito de ¨Doutor Estranho¨ é se estabelecer como um filme próprio dentro do universo cinematográfico Marvel. Embora existam referências para os fãs aqui e ali, até na cena durante os créditos – existe outra no final, então é melhor continuar na poltrona –, são bem pontuais e não descaracterizam o visual, a narrativa e o protagonista únicos do filme de Scott Derrickson.

Logo após o prólogo, no qual o público é apresentado à engenhosidade e aos truques do multiverso, este, até então, hipotético conjunto de universos paralelos que a ficção científica adora explorar, o longa ganha ares de série médica com a exposição do Dr. Stephan Strange (Benedict Cumberbatch) como um renomado neurocirurgião, cuja arrogância equivale à sua competência, de um hospital onde trabalha também a Dra. Christine Palmer (Rachel McAdams), sua antiga namorada. Quando sofre um acidente e perde qualquer precisão de movimento em suas mãos, ele faz de tudo para tentar recuperá-las, assim como sua carreira e sua vida. Por isso, parte para um tratamento milagroso no Nepal.

Chegando lá, o médico se depara com a Anciã (Tilda Swinton) e seu método de recuperação do corpo físico através do fortalecimento mental e espiritual, com a expansão dos conhecimentos sobre o universo. Mas não demora muito para o iniciante nessas artes se deparar com uma guerra mística, para além do embate físico de Os Vingadores, promovida pelo, antes aprendiz prodígio da Anciã, e agora maléfico Kaecilius (Mads Mikkelsen). O filme dedica-se à jornada de redenção do personagem, que passa de um médico supereficiente e arrogante a um homem que precisa utilizar a sua inteligência e novos dons a favor de um bem maior do que ele.

Nomeado ao Oscar de Efeitos Especiais.

(Doctor Strange - 2016)