quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Che: A Guerrilha (2008)
Che é baseado em dois livros escritos por Guevara: Reminiscences of the Cuban Revolutionary War (“Reminiscências da Guerra Revolucionária Cubana”) – que deu base ao roteiro da primeira parte, assinado por Peter Buchman – e O Diário do Che na Bolívia . Este último livro possui anotações de onze meses - de novembro de 1966 a outubro de 1967 -, desde que Che chegou à Bolívia até a sua morte, em 9 de outubro de 1967, e deu base ao roteiro de A Guerrilha , assinado por Buchman e Benjamin A. Van der Veen.
A narrativa tem início em 1954, no México, quando Guevara (brilhantemente interpretado por Benicio Del Toro) conhece Raúl Castro (o brasileiro Rodrigo Santoro, brilhando cada vez mais em sua diversificada carreira internacional), que logo o apresenta a seu irmão mais velho, Fidel Castro (Demián Bichir, assustadoramente parecido com o líder cubano). Juntos, partem para Cuba, onde lutaram contra o presidente cubano Fulgencio Batista até 1959, quando Batista exilou-se em São Domingos e Castro instaurou um regime socialista em Cuba. A história é notória e não interessa muito em Che ; o que interessa é investigar os meandros dos acontecimentos. Ou seja, como e por que Guevara – apelidado de Che por conta de um vocativo utilizado também na Argentina – resolveu ser mais revolucionário do que médico. O início desse direcionamento de interesse pode ser visto em “Diários de Motocicleta”, filme dirigido em 2004 pelo brasileiro Walter Salles; seu desenvolvimento, conclusões e conseqüências são explorados em Che .
O Argentino e A Guerrilha são dois capítulos da história de Guevara que se complementam. A primeira parte é mais focada nos sucessos e nos motivos do revolucionário ter experimentado a fama mundial – refletida em seus discursos na ONU e na recepção que teve em sua viagem a Nova York em 1964. Mesmo tendo um posicionamento bastante claro, no qual acusava o imperialismo norte-americano de causar a miséria em povos da América Latina, Guevara foi recebido como um herói no país e até hoje é símbolo da revolução cubana.
Já A Guerrilha deixa clara a posição humanista do revolucionário, como ele mesmo diz em dado momento do filme: “Não acredito em Deus, acredito na humanidade”. Ao renunciar ao seu cargo no governo cubano e à sua cidadania no país em 1965, Guevara viaja à Bolívia a fim de ajudar milícias revolucionárias no interior do país. Ou seja, sua luta não é por nações, mas pela melhor condição dos seres humanos. Assumindo outra personalidade em sua viagem, tido como desaparecido, Guevara sente o gosto da derrota em A Guerrilha por não conseguir o apoio que conseguiu em Cuba a fim de derrubar o governo vigente na Bolívia, completamente antenado aos interesses norte-americanos.
Grande parte da ação de ambos os episódios se passam nas florestas, onde Guevara e suas equipes tramaram as conquistas e derrotas revolucionárias. É interessante observar como o protagonista está sempre preocupado em articulações que levassem a uma independência maior de países da América Latina, independente de fronteiras, contra a dominação sócio-econômica dos EUA. Política mantida firmemente pelo governo de Fidel Castro que acabou sendo derrubada recentemente com a abertura de Cuba. Ou seja, é um conceito já morto e enterrado, mas bastante pertinente de ser retomado num trabalho como Che que, mesmo morto há 40 anos, ainda é bastante vivo na memória contemporânea por meio não somente de camisetas e bandeiras, mas pelos seus ideais. Pelo menos é isso que a produção tenta retomar.
Impossível não citar a belíssima e já citada atuação de Benicio Del Toro como o revolucionário. Experiente e notoriamente talentoso, ele sabe segurar a onda muito bem de encarnar esse verdadeiro símbolo da História Moderna, além de ser bastante parecido com Che Guevara, o que ajuda. Não à toa, recebeu o prêmio de Melhor Ator no último Festival de Cannes.
(Che: Part Two - 2008)
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