quinta-feira, 19 de junho de 2014

Cabra Marcado Para Morrer (1985)


Eduardo Coutinho faz um cinema complexo que lida com diferentes camadas da realidade e onde a trilha da verdade pode muito bem ser a encenação. "Cabra Marcado Para Morrer", seu filme mais celebrado, é tanto sobre si próprio quanto sobre seu tema 'oficial': o assassinato do líder camponês João Pedro Teixeira, de Sapé, na Paraíba, em 1962.

A ideia inicial já fugia ao lugar-comum do documentário-reportagem: patrocinado pelo Centro Popular de Cultura (CPC), da União Nacional dos Estudantes, Coutinho fora à Galiléia, em Pernambuco, dois anos após o crime com o intuito de rodar um filme inspirado na tragédia de João Pedro. Uma ficção, portanto, só que usando personagens reais interpretando a si mesmos. Até Elisabeth Teixeira, viúva do ativista, participou das gravações. Mas as filmagens foram subitamente interrompidas pela intervenção do governo na região em 1º de abril de 1964, nas primeiras horas do golpe militar.

O filme foi retomado em 1981 (e lançado, por fim, em 1984) e se viu transformado em algo ainda mais intricado: ao buscar o paradeiro dos personagens de 17 anos antes, Coutinho resgatava a própria trajetória do filme e, em certa medida, dele próprio e da evolução de sua estética.

Guiado pelos preceitos éticos do cinema direto, onde o suporte básico é a entrevista cara a cara, com o diretor aparecendo na tela, "Cabra Marcado Para Morrer" tornou Coutinho uma grife, que alcançaria grau inédito de popularidade nos anos 2000, principalmente com "Edifício Master".

(Cabra Marcado Para Morrer - 1985)

Nenhum comentário:

Postar um comentário