quinta-feira, 4 de junho de 2015

Leviatã (2014)


O diretor russo Andrei Zvyagintsev constrói em "Leviatã" um drama, com muitos toques de sátira e os dois pés na realidade contemporânea russa. Seu foco é uma família, moradora de uma cidadezinha perto do mar de Barents, no glacial norte russo, cuja vida é destruída por um prefeito criminoso, em torno do qual se movem as engrenagens do poder russo, a justiça, a polícia e até mesmo a Igreja Ortodoxa.

Há um sentido de ameaça iminente, a sensação de que, a qualquer momento, alguém vai ser morto, enquanto se desenrola o enfrentamento entre Kolia (Alexei Serebriakov), mecânico e dono de uma casa perto da praia, e o prefeito Vadim Cheleviat (Roman Madianov). Obcecado em obter a propriedade de Kolia a qualquer preço, o mafioso prefeito torna-se cada vez mais impiedoso.

Kolia comporta-se como outro obcecado, mas por não perder a casa de sua família, que inclui seu filho Roma (Sergei Pokhodaev) e a segunda mulher, a jovem Lilya (Elena Liadovna). Por isso, convoca um amigo de sua juventude, o advogado Dmitri (Vladimir Vdovitchenkov). Ele vem de Moscou com um dossiê sujo sobre o prefeito debaixo do braço, disposto a chantageá-lo para manter a casa nas mãos do amigo.

A partir daí, o jogo se torna cada vez mais bruto, embora não faltem toques de humor. Uma das sequências mais impagáveis reúne um grupo de personagens numa bizarra comemoração de aniversário, que combina um churrasco na beira de um rio com um torneio de tiro, cujos alvos serão retratos de antigos líderes da URSS, como Brezhnev e Gorbachev. O retrato de Yeltsin está de cabeça para baixo, mas ele é explicitamente mencionado. Quando alguém sente falta dos “mais recentes”, alguém explica: “Ainda não temos perspectiva histórica”.

Se foi poupado deste tiroteio, o retrato do líder russo Vladimir Putin foi visto bem à mostra no gabinete do prefeito bandido – o que é, no mínimo, um sinal de que Zvyagintsev não pretende excluir o atual governo do comentário demolidor que faz sobre a ética em seu país, ainda que um dos financiadores do filme seja o ministério da cultura russo. Numa outra cena, vê-se brevemente uma pichação de muro onde se lê “Pussy Riot”, lembrando as roqueiras russas que foram mandadas à prisão por Putin.

Zvyagintsev fez um filme forte, cheio de camadas, com muitas qualidades que o levaram a merecer atenção e prêmios, como o de roteiro em Cannes 2014 e o Globo de Ouro de filme estrangeiro em 2015.

Nomeado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (Rússia).

(Leviafan - 2014)

Nenhum comentário:

Postar um comentário