terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
Inverno da Alma (2010)
Na pele de Ree Dolly, garota de 17 anos responsável por uma família, Jennifer Lawrence se torna imediatamente objeto de simpatia. Esconde sua beleza atrás de um rosto triste e duro, pelo qual passam poucos sorrisos, o corpo magro envolto em roupas largas e puídas, transformando-se num elemento natural da paisagem desolada da região montanhosa de Ozark, sudoeste do Missouri.
Um sentido ético move esta adolescente – o cuidado dos dois irmãos menores e da mãe, que perdeu a razão há muito tempo. O pai, Jessup, é um ausente e um problema. Envolvido na fabricação caseira de drogas, foi preso e deu a casa da família como garantia no financiamento de sua fiança. Depois disso, mais uma vez desapareceu. Agora, o relógio corre e o xerife Baskin (Garret Dillahunt) avisa Ree que, se ele não se apresentar no dia marcado, a casa será tomada.
Sobrevivendo de um parco seguro social que não garante nem a comida aos seus, forçando-a a aceitar caridade de vizinhos, Ree se desespera. Não tem outra alternativa, no entanto, que assumir o encargo de caçar o pai, seguindo pistas de sua rotina, na casa de ex-amantes e parentes. Como o irmão dele, Teardrop (John Hawkes), que a trata com uma violência que sinaliza o que vem por aí. Os outros parentes são muito piores.
Ao assinalar para sua heroína um calvário calcado de mistérios, subentendidos e o enfrentamento da lei do silêncio que vigora num clã criminoso, o filme de Debra Granik cria um suspense sinistro com perigos bem realistas. A atmosfera escura e sufocante da região, em que uma das poucas alternativas profissionais para jovens está no alistamento militar, evidencia a crise econômica que, naquele lugar, é crônica.
Pressionada pela urgência de sua procura, Ree não encontra alívio nem nas instituições, nem em seu clã disfuncional, em que parece ter se esgotado toda a reserva de decência e fraternidade. Que espécie de lei do cão governa esta família de chacais? Diante de seus golpes, alguns bem literais, Ree parece renovar sua coragem, nutrindo-se da própria falta de escolhas. Por conta da inegociável legitimidade de sua luta, torcemos por essa heroína incorruptível e frágil que tem que lidar com um arsenal quase infinito de desvantagens. Por trás dos quais, ironicamente, vislumbra-se que ela tem uma chance.
Inverno da Alma foi indicado ao Oscar de Melhor Filme, além das indicações a Melhor Atriz (Jennifer Lawrence), Ator Coadjuvante (John Hawkes) e Roteiro Adaptado.
(Winter's Bone - 2010)
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