segunda-feira, 6 de junho de 2011

Rio (2011)


Era preciso um brasileiro para fazer um filme sobre o Rio de Janeiro. Esqueça os olhares estrangeiros, a falta de sensibilidade gringa para compreender a cor, o ritmo e o gingado. Na animação Rio, do carioca Carlos Saldanha, a Cidade Maravilhosa está lá, toda captada na tela, em suas qualidades e problemas, embora esses venham um pouco amenizados.

Ao retratar o Rio de Janeiro, a animação de Saldanha faz não só uma homenagem à cidade, mas a todo o País. No centro da história está a ararinha azul Blu (Jesse Eisenberg), uma ave que foi capturada e mandada para os Estados Unidos. Vai parar na fria Minnesota, onde mora com sua dona Linda (Leslei Mann), dona de uma livraria, que tem a ave como única companhia.

Blu, que está totalmente adaptado, tem a chance de reencontrar suas raízes quando ele e sua dona são procurados por Túlio (Rodrigo Santoro), um biólogo brasileiro que pretende levar a ave de volta para o Rio de Janeiro para que ela cruze com Jade (Anne Hathaway), a única fêmea viva da espécie em extinção.

A chegada de Linda e Blu ao Rio de Janeiro é retratada como um choque cultural. Em pleno carnaval, encontram ruas fechadas, gente em poucos trajes sambando para todo lado e muita música. Esse é o Brasil que os estrangeiros querem ver, mas também é o Brasil verdadeiro, aquele que pára uma semana para o carnaval.

Esse olhar de dentro para fora é difícil, e muita gente vai reclamar – dizendo que o filme mostra apenas carnaval, favela e paisagem. Mas será que não é exatamente isso – os contrastes, os paradoxos – que fazem do Brasil um país tão culturalmente rico e atrativo? Os problemas aparecem quase como metáforas. Pequenos saguis são batedores de carteiras; a favela onde moram alguns personagens do filme é mais pacífica do que uma de verdade, mas, ainda assim há tráfico – não de drogas, mas de animais silvestres.

Blu e Jade serão capturados por um pequeno órfão (Jake T. Austin) e entregues para um chefão da venda ilegal de animais, Marcel (Carlos Ponce). Quando a dupla consegue fugir, suas pequenas pernas estão acorrentadas. Como Blu, sempre vivendo em cativeiro, não aprendeu a voar, eles são obrigados a correr, na companhia de outras três aves, o tucano Rafael (George Lopez), Nico (Jamie Foxx) e Pedro (Will.i.am), enquanto são perseguidos por uma malvada cacatua (Jemaine Clement).

Há no mínimo meia dúzia de momentos memoráveis em “Rio”, especialmente pelo colorido e brilho que, aliados ao ritmo, tornam-se irresistíveis, como na cena de abertura em que aves tropicais sambam e cantam; no desfile no sambódromo; ou num passeio romântico de bondinho em Santa Teresa. Saldanha e sua equipe acertaram em cheio, principalmente porque atentaram para os detalhes – de cores e formas – que trazem veracidade para o filme. Estão na tela as ladeiras estreitas do Rio de Janeiro, as pequenas vielas da favela e também as praias lotadas.

A animação Rio tem tudo para se tornar um clássico – para agradar adultos e crianças, com seu roteiro bem sacado e seus personagens naturalmente cativantes. Mas não é só isso que torna o filme memorável. Há um toque mágico, algo inexplicável, porque na tela, os traços pulsam com vida, ritmo e brilho – algo bem parecido com o carnaval brasileiro.

Indicado ao Oscar de Canção Original.

(Rio - 2011)

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