segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Maria Cheia de Graça (2004)


Mais do que o sensacionalismo globalizado que persiste em filmes sobre tráfico de drogas, “Maria Cheia de Graça”, de Joshua Marston, centra-se no lado humano daqueles que são conhecidos como “mulas”, pessoas que aceitam transportar drogas para um outro país. Desde “Traffic” (2000), de Steven Soderbergh, não se via um filme abordar o tráfico de drogas de forma tão honesta. Além disso, foi uma das produções independentes mais premiadas no ano passado.


No caso deste longa, a mula é Maria (Catalina Sandino Moreno), uma jovem colombiana de 17 anos que vive na periferia de Bogotá e trabalha cortando galhos e espinhos de rosas. Cansada de ser humilhada em seu emprego, decide abandoná-lo, para desespero de sua mãe, que suplica que ela volte ao trabalho, pois é com este dinheiro que sustenta a família. Para piorar, a moça descobre que está grávida de seu namorado. Ironicamente, essa gravidez vai lhe ser muito útil mais tarde. É nesse momento que ela conhece Franklin, um rapaz que sabe persuadir as pessoas. Usando o argumento de que ela receberá um bom dinheiro pelo trabalho, ele acaba convencendo a Maria a entrar nos EUA com mais de 60 papelotes de heroína em seu estômago.

Mas engolir os papelotes não é tão simples quanto se possa imaginar – afinal eles são bem maiores do que pílulas de remédio. São especialmente assustadoras as cenas em que Maria treina utilizando uvas, e posteriormente ingere os papelotes de heroína. Além dos problemas, desconforto e riscos físicos – se um dos papelotes se abrir, ela morre de overdose-, há a pressão psicológica de conseguir entrar nos EUA sem ser pega. Dessa forma, o roteiro, também de Marston, cresce numa tensão angustiante, que consome não só Maria, mas também a plateia. Uma das escolhas mais acertadas do diretor foi evitar julgamentos morais sobre as decisões da personagem. Dessa forma, o longa assume um ar quase documental.

Além disso, o diretor consegue driblar o baixo orçamento, extraindo excelentes performances de todo o seu elenco. Especialmente de Catalina, que, embora não convença como uma moça de 17 anos, consegue passar todas as aflições e angústias de seu personagem.

Nomeado ao Oscar de Melhor Atriz (Catalina Sandino Moreno)

(Maria Full of Grace - 2004)

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