segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
Melinda e Melinda (2004)
A tragicomédia “Melinda e Melinda”, de Woody Allen, vem na mesma linha dos últimos filmes do cineasta nova-iorquino. Se ele não chega ao nível de genialidade de filmes como “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” ou “A Rosa Púrpura do Cairo”, ou mesmo “Descontruindo Harry”, Allen nunca chega a fazer um filme realmente ruim. Gostar ou não deste trabalho depende do nível de expectativa que cada um tem ao vê-lo.
Em “Melinda e Melinda”, Allen tenta mostrar o lado trágico da vida e o lado cômico das tragédias, contando duas histórias com a mesma protagonista, Melinda. Tudo começa com um grupo de quatro nova-iorquinos conversando num restaurante após uma piada sobre uma tal Melinda. Dois deles são dramaturgos. Sy (Wallace Shawn) defende que a história da moça é mesmo uma comédia. Já Max (Larry Pine) vê elementos da tragédia humana. Surge a dúvida: o que é mais nobre, a tragédia ou a comédia?
O que fazem a partir de então é contar duas histórias distintas com o mesmo ponto de partida: Melinda (Radha Mitchell) chegando a um jantar sem ter sido convidada. A Melinda-trágica chega à casa de sua amiga Laurel (Chloë Sevigny), que oferece um jantar a um diretor teatral que pode escalar para uma peça o seu marido que é ator (Jonny Lee Miller). Melinda chega e com sua triste história acaba roubando as atenções. E ela veio para ficar por uns tempos, após passar por dificuldades.
Já a Melinda-cômica invade o apartamento de seus vizinhos durante um jantar em que uma cineasta (Amanda Peet) tenta convencer um empresário a investir no seu filme. A vizinha conta que tomou mais de 20 pílulas para dormir e se sente mal. Claro que ela também rouba as atenções.
As duas narrativas seguem mais ou menos a mesma linha. Mas isso não quer dizer que tenham os mesmos acontecimentos com elencos diferentes. Elas são independentes, tendo em comum apenas Melinda tentando reconstruir sua vida após uma tragédia. Nos dois momentos, ela está fisicamente diferente também. Na história cômica, ela sempre está bem arrumada, com o penteado no lugar; nos momentos trágicos os cabelos são desgrenhados e ela fuma como uma chaminé.
No entanto, não é de se esperar as palavras "tragédia" e "comédia" em sua definição shakespeariana. A Melinda-trágica não mata os filhos ou o marido, aliás, nem há sangue na história. Já o segmento cômico não traz uma gargalhada a cada fotograma. São as sutilezas de uma quase-tragédia com um humor irônico, e a ironia da semi-comédia que permeiam o filme.
O que há de mais novo no cinema de Allen em “Melinda e Melinda” é o pianista e compositor Ellis Moonsong (Chiwetel Ejiofor), que é um dos raros personagens afro-americanos a aparecer nos filmes de Allen. E, o que é melhor, longe de qualquer estereótipo. Ele se torna o interesse amoroso de uma das Melindas.
Mantendo a tradição do cineasta, há um personagem que encarna uma espécie de persona Woody Allen. Desta vez, é o comediante Will Ferrell, como um homem casado que se apaixona por uma das Melindas. Além da típica comédia verbal dos filmes de Allen, o cineasta criou um dos melhores momentos do filme para Ferrell quando seu roupão fica preso a uma porta.
Como na maioria dos filmes do diretor, os personagens moram numa Manhattan ultra-sofisticada, na verdade, cool. São intelectuais, atores, músicos, cineastas, sempre muito cultos mas sempre em dificuldades financeiras, quando perdem o emprego ou o financiamento para seus filmes. E, mesmo assim, não perdem a pose – o que seria até cômico, não fosse trágico.
(Melinda and Melinda - 2004)
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