Um filme revolucionário originário do movimento comercial/independente dos anos 80 em Hollywood, a história de David Cronenberg sobre as horríveis transformações geradas pela exposição à violência televisionada aborda habilmente os problemas que o próprio diretor havia tido com censores, distribuidores de Hollywood e grupos feministas por conta da exploração de imagens de violência sexual em suas produções anteriores. Max Renn (James Woods) é um operador de estação de TV a cabo cujo marketing cínico de sexo e violência se volta contra ele quando seu abdome subitamente desenvolve uma abertura em forma de vagina na qual, entre outros objetos, videocassetes podem ser inseridos. O filme, no qual tais fantasias sadomasoquistas e de troca de gêneros desempenham papéis centrais, termina de forma trágica, com a autodestruição de Max.
Sendo, em vários sentidos, a manifestação formal mais audaciosa dos temas característicos de Cronenberg, “Videodrome” começa como um thriller comercial bastante comum para se transformar em uma fantasia subjetiva do tipo mais chocante e pouco usual. Visualmente elaborado, o filme é também provocante em sua ponderação surpreendente tanto sobre a perversidade polimorfa quanto sobre a enterpenetração entre os domínios público e subjetivo da experiência. Cronenberg foi ao mesmo tempo elogiado e condenado por seu tratamento fluido dos sexos (uma sequência final, que mostrava dois personagens femininos desenvolvendo pênis em uma espécie de contraponto à “vaginação” de Max, foi cortada por ser muito perturbadora). Mesmo em sua forma editada, “Videodrome” continua sendo um dos filmes menos comuns de Hollywood, chocante e idiossincrático demais para ser algo além de um fracasso comercial.
(Videodrome - 1983)
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