sábado, 31 de janeiro de 2015
Anos Dourados (1986)
Escrita por Gilberto Braga, "Anos Dourados" foi exibida pela primeira vez em 1986 como uma minissérie, no entanto, somente assisti esta história de amor e conflito, em sua edição como filme, feita para a comemoração de 50 anos da Rede Globo.
Ambientada no Rio de Janeiro, no bairro da Tijuca, "Anos Dourados" conta a história de amor de dois jovens: Lurdinha (Malu Mader) e Marcos (Felipe Camargo). Ambos os personagens decidem enfrentar os obstáculos da sociedade da época para viver esse amor.
(Anos Dourados - 1986)
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X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (2014)
"X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido" tem todas as qualidades que se esperavam dele. Além do numeroso e excelente elenco e concepção visual aliada a um competente trabalho de efeitos especiais, a adaptação corajosa dos quadrinhos e o humor permanente na produção são tão imperativos que fazem esquecer até mesmo os buracos encontrados no roteiro.
Este novo filme é uma continuação direta de "X-Men: Primeira Classe" e da trilogia iniciada 2000, que terminou com o desastroso "X-Men 3 - O Confronto Final". A reunião dos elencos e tramas faz muito sentido aqui. Como a história se desenrola no futuro e no passado, paralelamente, recuperar os antigos atores (e seus personagens) foi fundamental para identificar quem é quem na trama e, claro, ampliar o impacto no público.
Na trama, o futuro é apocalíptico. As sentinelas robóticas projetadas pelo Dr. Bolivar Trask (Peter Dinklage) para enfrentar superpoderosos mutantes dominaram a Terra, exterminando seus alvos e, por fim, os próprios humanos (cuja genética poderia levar a novos mutantes).
Com o fim iminente, na última linha de defesa estão os já conhecidos Professor Charles Xavier (Patrick Stewart), Magneto (Ian McKellen), Wolverine (Hugh Jackman), Tempestade (Halle Berry), Lince Negra (Ellen Page), Homem de Gelo (Shawn Ashmore) e Colossus (Daniel Cudmore), ao lado de novos personagens, como Bishop (Omar Sy) e Blink (Bingbing Fan).
O plano deles é utilizar um dos poderes de Lince Negra, uma espécie de viagem no tempo mental, que irá enviar a consciência atual de Wolverine para o corpo do personagem na década de 1970. Nos quadrinhos, é a própria mutante que faz a viagem, mas entende-se o maior apelo do personagem de Hugh Jackman, que além de aparecer em todos os filmes da franquia, ainda ganhou dois spin-offs solo, e é considerado o maior sucesso deste universo.
Assim, enquanto os companheiros defendem o corpo inerte de Wolverine dos sentinelas no futuro, o herói acorda em seu corpo no passado. Sua missão é reunir Charles Xavier (James McAvoy) e Magneto (Michael Fassbender) para impedir Mística (Jennifer Lawrence) de assassinar o Dr. Trask (nos quadrinhos era um senador) e, depois de presa, seu DNA ser usado para tornar os sentinelas invencíveis.
O problema, como se viu no final de "X-Men: Primeira Classe", é que Magneto e Xavier se tornaram opositores ferrenhos. O professor amarga suas desventuras recluso e amargurado em sua mansão e, para piorar, sem poderes, pois toma um soro criado por Fera (Nicholas Hoult), que os inibe, mas o faz caminhar.
Enquanto isso, Magneto está preso em uma cela desenvolvida pela CIA especialmente para ele, pois se envolveu na morte de presidente americano John Fitzgerald Kennedy, em 1963. Este é um dos muitos detalhes que dão humor ao filme.
Quando Wolverine finalmente consegue que Xavier deixe de lado os ressentimentos, bolam um plano para libertar Magneto com a ajuda de Mercúrio (Evan Peters), um dos alívios cômicos da trama.
Essa é a base de "X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido", que trouxe de volta o diretor Bryan Singer para o universo X-Men, depois assinar os dois primeiros filmes da trilogia. Uma trama ágil, que usa muito bem os recursos disponíveis e que, por sua qualidade, pode fazer o espectador não se importar com alguns buracos nesta história.
Indicado ao Oscar de Efeitos Especiais.
(X-Men: Days of Future Past - 2014)
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Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) (2014)
Quando se fala em Daniel Radcliffe, pensa-se logo em quem? Em Harry Potter. Não importa qual filme o ator faça, sua imagem estará sempre vinculada ao pequeno bruxo. É exatamente esta vinculação ator/personagem que é retratada em "Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)".
Michael Keaton é Riggan, ator que fez sucesso no passado como o super-herói Birdman e que recusou a participação no quarto filme da série para tentar uma carreira no teatro. Aliás, o filme se passa quase todo dentro de um teatro, entre os bastidores, ensaios e apresentações da peça, que infelizmente não emplacou.
E a vida de Riggan, suas relações com a filha e a ex-mulher, a amante, os atores do teatro e a imprensa corrosiva, são nos contadas neste filme que aparenta não ter edição.
Nomeado a 9 Oscar: Melhor Filme, Direção (Alejandro González Iñárritu), Ator (Michael Keaton), Ator Coadjuvante (Edward Norton), Atriz Coadjuvante (Emma Stone), Roteiro Original, Fotografia, Edição de Som e Mixagem de Som. Venceu em 4 Categorias: Melhor Filme, Direção (Alejandro González Iñárritu), Roteiro Original e Fotografia.
(Birdman - 2014)
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Vencedor do Oscar
terça-feira, 27 de janeiro de 2015
O Conto da Princesa Kaguya (2013)
Esta animação é um belíssimo filme japonês, poético e encantador. "O Conto da Princesa Kaguya" é a história de uma jovem que é encontrada por um camponês, ainda bebê, em um broto de bambu. Depois dela o camponês também encontra muito ouro e tecidos finos, o que o leva a crer que sua missão é transformá-la em uma garota nobre, uma verdadeira princesa.
Até certa idade, Kaguya cresce no campo, cercada pela natureza e por seus amigos, mas ao tornar-se adulta, seu pai a leva à capital para que assim receba a educação de uma verdadeira garota pertencente à nobreza. Toda esta pompa e rigidez entristece a garota, que se sente sufocada, presa e longe dos amigos que ela tanto amou conhecer e conviver.
Nomeado ao Oscar de Melhor Filme em Animação.
(Kaguyahime no Monogatari - 2013)
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segunda-feira, 26 de janeiro de 2015
Malévola (2014)
"Malévola" pega carona na narrativa de "Espelho, Espelho Meu" e muda a perspectiva de um conto de fadas. Aqui é a história da Bela Adormecida que é contada pelo viés de sua antagonista, em "Espelho, Espelho Meu" era a história de Branca de Neve que foi contada desta maneira.
O filme me agradou. A maldade de Malévola ganhou razões que justificavam sua natureza. É sempre bom ver o mundo, ou os contos de fadas, sob um outro olhar, o que não é nada fácil de se fazer.
Nomeado ao Oscar de Figurino.
(Maleficent - 2014)
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domingo, 25 de janeiro de 2015
Caminhos da Floresta (2014)
As pessoas que trabalham comigo estão atualmente contagiadas pelo seriado exibido pelo canal Sony chamado "Once Upon a Time", o qual eu não tive nenhum interesse em assistir. Assim mesmo, "Caminhos da Floresta" me fez recordar este seriado, pois mistura diversos contos de fadas em uma única narrativa.
Neste filme as histórias de Chapeuzinho Vermelho, João e o Pé de Feijão, Cinderela e Rapunzel estão conectadas através da bruxa interpretada por Meryl Streep que deseja reverter um feitiço que impede um padeiro de ter filhos. A história é cantada à sombra de uma fotografia escura, a qual acredito que irá afugentar muitas crianças do cinema.
Resumindo, é um conto de fadas ruim que não agradará ninguém e será em breve esquecido. Como ele me fez lembrar de "Once..." é mais um motivo para não assistir ao seriado!
Nomeado aos Oscar de Atriz Coadjuvante (Meryl Streep), Direção de Arte e Figurino.
(Into the Woods - 2014)
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O Jogo da Imitação (2014)
Todo ano ao menos um filme que recebeu alguma indicação ao Oscar me comove. Neste ano foi a vez de "O Jogo da Imitação". Benedict Cumberbatch interpreta Alan Turing, um matemático inglês ao qual eu desconhecia totalmente, mas que teve um papel fundamental para a vitória dos aliados na Segunda Guerra Mundial. Isto porque ele conseguiu decodificar as mensagens secretas enviadas pelos alemães e assim evitar que desastres maiores ocorressem.
Mas o que fez com que esta história me comovesse? Bem, na verdade, Alan Turing era homossexual e mesmo após seu prestígio durante a guerra, foi duramente punido por sua opção sexual, e toda a sua história foi mantida em segredo pelo governo britânico por mais de 50 anos!
"O Jogo da Imitação" é narrado em três planos que se intercalam: Turing ainda criança e sua relação com seu amigo Christopher; seus esforços durante a Segunda Guerra, quando conhece sua companheira Joan Clarke (Keira Knightley); e no pós-guerra, quando é condenado por sua condição sexual.
Um belo filme.
Nomeado a 8 Oscar: Melhor Filme, Direção (Morten Tyldum), Ator (Benedict Cumberbatch), Atriz Coadjuvante (Keira Knightley), Roteiro Adaptado, Edição, Direção de Arte e Trilha Sonora Original. Venceu na categoria Roteiro Adaptado.
(The Imitation Game - 2014)
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Temática GLS,
Vencedor do Oscar
sábado, 24 de janeiro de 2015
Tangerinas (2013)
A história de Ivo (Lembit Ulfsak), que com a ajuda do produtor de tangerinas Margus (Elmo Nüganen) e o médico Juhan (Raivo Trass), salva a vida do checheno Ahmed (Giorgi Nakashidze) e do georgiano Niko (Misha Meskhi), em um povoado estoniano da Abecásia no meio da guerra de 1992.
Nomeado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (Estônia)
(Mandariinid - 2013)
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sexta-feira, 23 de janeiro de 2015
Guardiões da Galáxia (2014)
"Guardiões da Galáxia" é bem diferente de tudo que se viu nos últimos anos em termos de filmes de heróis baseados em quadrinhos. Ao mesmo tempo, ainda assim, não deixa de ser familiar. É aí que está a maior graça dessa comédia de ação e viagem espacial: não se levar a sério.
Ao centro, está o único humano da trupe, Peter Quill, que se autodenomina Senhor das Estrelas. Interpretado por Chris Pratt, ele é uma espécie de aventureiro mercenário galáctico, que vagueia pelo espaço em busca de relíquias que possa roubar e vender. O ponto de partida é o roubo de uma esfera poderosa, disputada por Ronan (Lee Pace).
A cena acontece ao som de “Come and Get Your Love”, da banda Redbone, que junto com outros clássicos dos anos 70 (Elvis Bishop, David Bowie, 10cc, The Jackson 5, Rupert Holmes) está numa fita cassete chamada Awesome Mix Tape 1, que a mãe de Quill lhe deixou antes de morrer, no prólogo do filme. Não por acaso, um obsoleto walkman é o bem mais precioso do rapaz – mais até do que a rentável esfera, cujos poderes, ainda desconhecidos, são cobiçados pelos poderosos do universo.
Para proteger a sua vida e o universo, Quill se une à alienígena Gamora (Zoe Saldana), o fortão Drax (Dave Bautista), Rocky Racum, um guaxinim geneticamente modificado e ciberneticamente aprimorado (dublado por Bradley Cooper) e Groot, uma espécie de árvore ambulante, capaz de se regenerar (dublado por Vin Diesel).
O excesso de personagens – quem é extraterrestre? quem é mutante? e vilão? – às vezes atrapalha, mas Gunn sabe como lidar ao manter a ação sempre girando em torno da relíquia misteriosa. Algumas participações parecem apenas uma introdução para as próximas sequências: como Glenn Close, uma conselheira da paz, ou coisa parecida, e Benicio Del Toro, chamado aqui de Colecionador, que mais parece um Liberace do espaço.
Nenhum dos coadjuvantes, no entanto, é uma ameaça concreta ao quinteto de protagonistas. Pratt se estabelece como herói, mas, num contexto bastante diferente do herói clássico, seu humor é genuíno. O ar de bad boy (um garoto humano raptado por uma nave após a morte da mãe) cabe ao personagem. Enquanto a dupla Rocky e Groot forma uma parceria inseparável, e Cooper está muito bem como dublador do roedor. Ajuda muito também o fato das duas figuras computadorizadas beirarem a perfeição e estarem bem inseridas na trama, assim como o dilema do guaxinim, que, em certos momentos, parece esquecer que não é humano.
"Guardiões da Galáxia" pode, ser no fundo, apenas uma fantasia de Quill, que tenta superar a perda da mãe. Mas, aos poucos, transforma-se numa ópera cômica espacial que nunca se leva a sério e até faz um comentário pertinente sobre a convivência harmônica entre seres de diversas origens.
Nomeado ao Oscar de Maquiagem e Efeitos Visuais.
(Guardians of the Galaxy - 2014)
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Oscar 2015
quarta-feira, 21 de janeiro de 2015
Ida (2013)
O drama polonês "Ida", do diretor Pawel Pawlikowski, afirma sua vocação para a sobriedade a partir da fotografia sutil em preto-e-branco, garantindo ao filme prêmios como da Associação Americana dos Diretores de Fotografia e também duas indicações ao Oscar, uma em fotografia, outra como melhor filme estrangeiro.
Em que o pese que o filme revisita um tema exaustivamente retratado no cinema, as marcas do Holocausto, o roteiro, assinado por Pawlikowski e Rebecca Lenkiewicz, o faz de maneira singular, a partir dos olhos de uma jovem noviça, Anna (a estreante Agata Trzebuchowska).
A madre superiora do convento (Halina Skoczynka) revela a Anna que ela tem uma tia e insiste que deve conhecê-la antes de assumir seus votos de freira. Este encontro com Wanda Gruz (Agata Kuleska) sustenta o eixo da história, já que as duas representam sempre polos opostos de uma realidade cuja complexa dramaticidade cresce a cada cena, sem que para isso o diretor recorra a qualquer excesso melodramático.
Aos 18 anos, Anna não conhece nada além do convento, lugar protegido das contradições do mundo lá fora. O ano é 1962. A II Guerra há muito ficou para trás, a Polônia é um país socialista, sob influência da URSS. Wanda foi parte ativa do movimento de resistência antinazista e, depois, do sistema judicial que puniu os carrascos dos judeus. O que Anna não sabia até ali é que ela mesma é parte das vítimas do Holocausto.
Seu verdadeiro nome é Ida Lebenstein e foi entregue ao convento ainda bebê. Seus pais desapareceram. Mas Wanda tem uma ideia de onde podem estar enterrados e leva a sobrinha a uma viagem de dolorosa descoberta de suas raízes.
A espinha dorsal da história é este confronto permanente entre Anna/Ida, jovem inocente que resiste ao próprio mundo externo, e a tia madura, vivida, cínica, conhecedora de vícios e prazeres que a sobrinha abomina mas desconhece.
A direção de Pawlikowski evita qualquer maniqueísmo e permite que essas duas excepcionais intérpretes desdobrem as camadas de personagens muito ricos, que procuram lidar com o peso do passado e da história de um país muito particular. A experiente Agata Kuleska, em especial, é um primor na composição de uma personagem cuja amargura nunca se afasta de uma singular dignidade.
Claramente, são maiores as possibilidades de escolha de Anna/Ida, a partir de seus próprios novos sentimentos e de contatos como o saxofonista Lis (David Ogrodnik), que se apresentava num hotel em que as duas se hospedaram.
Melhor ainda que o diretor acredite mais na força das belas e contundentes imagens do que num palavrório excessivo, deixando a história encontrar o próprio ritmo suavemente, abrindo as portas à participação da imaginação e dos sentimentos do espectador.
Vencedor do Oscar de Filme Estrangeiro (Polônia). Nomeado ao Oscar de Fotografia.
(Ida - 2013)
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Oscar 2015,
Vencedor do Oscar
terça-feira, 20 de janeiro de 2015
Dois Dias, Uma Noite (2014)
A classe operária pode até ir ao paraíso – mas antes disso passa por um calvário de exploração do trabalho na Terra mesmo. Marion Cotillard interpretando a protagonista de "Dois Dias, Uma Noite", dos irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne, é a heroína da vez, uma figura frágil, às vezes determinada, outras, vítima de sua própria delicadeza.
Marion é Sandra, operária de uma fábrica, que acaba de ser demitida. Mas seu chefe lhe propõe um acordo: se os 16 colegas dela abrirem mão do bônus de 1000 euros que devem receber, ela poderá manter seu emprego. A questão é que a demissão dela já passou por uma votação por essas mesmas pessoas, e Sandra tem um final de semana (daí o título) para convencer a maioria de seus colegas a mudarem seus votos, numa nova rodada que acontecerá na segunda-feira pela manhã.
Sandra e o marido, Manu (Fabrizio Rongione), moram numa casa confortável – bem diferente da habitação social em que viviam antes de alcançar essa condição que agora está ameaçada. Ele é chefe de cozinha, e o casal tem duas filhas. Se ela perdesse o emprego, o padrão de vida da família – que está longe de ser muito alto – estaria ameaçado, além da frágil saúde emocional da protagonista.
Também assinado pelos diretores, o roteiro revela aos poucos questões subjacentes que acrescentam novas camadas às personagens e à narrativa. Sandra está doente – tanto que já cumpriu licença médica -, sofrendo de uma depressão. Isso influencia suas atitudes, porque além de tomar comprimidos um atrás do outro, como se fossem balas de hortelã, a protagonista, cujos olhos sempre parecem marejados, preferia estar deitada em sua cama, coberta até a cabeça, ao invés de pedir a piedade de seus colegas de trabalho.
Ainda assim, ela vai dolorosamente à casa de cada um e faz a pergunta da qual seu futuro depende. Os Dardenne não nos poupam de nenhum desses encontros. Tal qual Sandra, precisamos enfrentar cada um deles, com um nó na garganta. Todos começam mais ou menos com o mesmo protocolo: apertos de mãos educados, conversas amenas, até chegar ao que interessa. As respostas variam, desde a compaixão à violência, passando por todos os subtons que a disputa pela sobrevivência pode proporcionar. Afinal, "Dois Dias, Uma Noite" é sobre isso: a solidariedade da classe operária num mundo cada vez mais consumido pela ganância empresarial.
A questão que emerge, então, é: essa solidariedade pode existir ou é apenas uma utopia? No cinema da dupla belga, o humanismo é o que pode salvar as pessoas – a crença de que a humanidade pode ser boa. As visitas de Sandra às casas dos colegas compõem um painel da situação da classe operária na Europa dominada pela austeridade econômica e pela direita – uma conjuntura que parece apontar para uma mudança a longo prazo, aliás.
Há mais do que dinheiro em disputa aqui – valores morais também são uma questão. Mas os diretores não são ingênuos ou idealistas para pensar que o salário de cada um não teria um papel fundamental em suas decisões. A intersecção entre esses dois elementos ilustra, ao longo do filme, que no passado a solidariedade poderia prevalecer, mas, nos nossos tempos de capitalismo tardio e crise, a competitividade pauta as relações de trabalho, mesmo entre os iguais.
Portanto, é sintomático que Sandra, ou qualquer outro personagem, não seja uma Norma Rae – famosa personagem de Sally Field, operária-heroína que propõe uma ação em conjunto, uma greve. Ninguém aqui sequer cogita esse tipo de atitude – e não que os irmãos Dardenne não acreditem nisso (pela sua filmografia, depreende-se o contrário), mas "Dois Dias, Uma Noite" é um filme sintonizado com o nosso tempo: o do individualismo e da competição exacerbada. Ainda assim, o lado humanista dos diretores encontra fissuras por onde passar e dar um pingo de esperança.
Nomeado ao Oscar de Melhor Atriz (Marion Cotillard)
(Deux Jours, Une Nuit - 2014)
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segunda-feira, 19 de janeiro de 2015
Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo (2014)
Mark Schultz (Channing Tatum) é praticante de luta greco-romana e ganhador de medalha de ouro nos jogos de 1984. Nada disso, no entanto, torna sua vida e carreira mais fácil. Os louros da vitória não garantem patrocínio, nem um salário para sustentar sua família. Sua fonte de renda consiste de palestras motivacionais para adolescentes em escolas, e o cheque não é muito gordo. Por isso, quando o multimilionário John du Pont (Steve Carell) se aproxima dele, a sorte parece ter mudado.
Essa mudança é, entretanto, dúbia. Um clima sombrio paira o tempo todo sobre "Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo" – drama que retrata a relação tumultuada e trágica entre du Pont (herdeiro da famosa família) e os irmãos Mark e David Schultz (Mark Ruffalo).
O personagem de Carell, aliás, é uma figura peculiar. Herdeiro de uma das famílias mais ricas dos EUA, vivendo sob o domínio da mãe (Vanessa Redgrave) com um complexo de Édipo mal resolvido, ele quer ser o melhor em tudo. Taciturno, mas rico, com seu dinheiro e conversa acaba ganhando a confiança do lutador, que abandona os treinos ao lado do irmão, e se muda para a propriedade da família du Pont.
John começa a canalizar suas aspirações e anseios no jovem lutador, que, claramente, sente o peso da pressão. Aos poucos, as relações vão se degringolando. O roteiro de E. Max Frye e Dan Futterman é um estudo de personagem sombrio, centrado na ideia de que o propalado sonho americano é uma grande mentira. Não por acaso, a bandeira do país aparece tantas vezes em cena – em algumas delas, pendurada no escritório de John.
Tanto Tatum quanto Carell estão bem distantes dos registros que os tornaram famosos. O lutador não tem nada de heroico, pelo contrário, é um sujeito decadente que se esforça para sobreviver num mundo que o engolirá. Mark é o retrato do jovem americano comum, de bom coração, cheio de sonhos, e, em sua ingenuidade, acredita que será ajudado sem dar quase nada em troca. Já Carell, bem distante da comédia e com o rosto coberto por uma maquiagem e uma prótese nasal, cria uma figura trágica e assustadora. É o outro lado da relação: aquele que empresta e cobra com juros altos. É também o lado obscuro do sonho americano, que se apoia na total submissão de quem o abraça.
Em seu terceiro longa, Miller (que também dirigiu o irregular O homem que mudou o jogo) mostra total segurança na condução da narrativa, na criação da atmosfera que se resume a uma descida ao inferno. Desde a entrada de du Pont em cena, percebe-se para onde caminha a disputa entre aquelas pessoas. Ainda assim, o diretor é capaz de manter a tensão.
Apesar de situar a ação em algumas décadas no passado "Foxcatcher" é o retrato das relações de classe nos EUA do presente, em suas ingenuidades – como Mark – e contradições – como du Pont. É um filme que ressoa na era do individualismo e da competitividade, na dominação da elite, que espera que todos estejam ao seu dispor – e cobra muito caro quando isso não acontece.
Nomeado aos Oscar de Direção (Bennett Miller), Ator (Steve Carell), Ator Coadjuvante (Mark Ruffalo), Roteiro Original e Maquiagem.
(Foxcatcher - 2014)
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domingo, 18 de janeiro de 2015
Mesmo Se Nada Der Certo (2013)
Há quase uma década, o roteirista e diretor irlandês John Carney entrou no radar com um romance de orçamento mínimo, chamado "Apenas uma Vez". Sem qualquer astro, ou outro chamativo, o filme fez uma carreira considerável no circuito de arte, e ganhou o Oscar de canção original. O raio não costuma cair duas vezes no mesmo lugar, diz a sabedoria popular, e Mesmo se nada der certo, que estreia no Brasil nessa quinta-feira, é prova disso.
Aqui, novamente Carney tem o cenário musical como tema, deslocado de uma gélida e pacata Dublin para uma Nova York feita para turista, com elenco famoso, encabeçado por Mark Rufallo e Keira Knightley. Ele é Dan, um executivo da indústria musical cuja carreira afundou na bebida, que perdeu o amor da mulher, Mirian (Catherine Keener), crítica de música, e o respeito da filha adolescente, Violet (Hailee Steinfeld).
Keira é Gretta, uma aspirante a cantora inglesa que se muda para Nova York com o namorado músico, Dave (Adam Levine). Quando ele fica realmente famoso, ela é jogada para escanteio. Deprimida, compõe uma canção pegajosa que Dan ouve por acaso, entre um copo e outro, e percebe potencial nessa moça sem graça, sem voz ou presença de palco.
Depois de romper com a gravadora que ele mesmo ajudou a fundar e se estabelecer, Dan decide lançar a carreira de Gretta, de forma quase caseira. Eles vão gravar um disco demo nas ruas de Nova York, com uma banda e tudo mais, e com os sons da cidade invadindo a gravação.
Entre idas e vindas, "Mesmo Se Nada Der Certo" conta a decadência e ascensão da dupla, que se unem pelo objetivo de relançar a carreira de um e dar o estrelato para a outra. Carney trazia uma percepção delicada e profunda do casal de protagonistas de "Apenas uma Vez", mas aqui deixa tudo isso de lado para narrar uma história óbvia de superação e sucesso, que se torna entediante na medida em que a conclusão começa a ficar clara.
Rufallo é sempre uma presença grata – mesmo quando parece fazer o mesmo personagem pela centésima vez – enquanto Keira não convence como cantora, aspirante a estrela ou quando canta sua musiquinha chata de dor de cotovelo. Mas é em Hailee Steinfeld – que já havia mostrado a que veio no remake de “Bravura Indômita” – que o filme realmente encontra algo pertinente. Pena sua personagem ser uma mera coadjuvante do casal central.
Nomeado ao Oscar de Canção Original ("Lost Stars").
(Begin Again - 2013)
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Os Boxtrolls (2014)
"Os Boxtrolls" mistura stop motion com desenho à mão e computação gráfica. O espectador logo é apresentado ao trágico sumiço do bebê Trubshaw, que muda a história da cidade com ares vitorianos de Pontequeijo. Isso porque os Boxtrolls, pequenas criaturas envoltas por caixas que habitam o subterrâneo do lugarejo, são incriminados pelo sequestro da criança e perseguidos pelo terrível exterminador Arquibaldo Surrupião.
Ele impõe um toque de recolher à população durante a noite, momento em que os estranhos seres saem pelas ruas de paralelepípedos do local, remexendo lixos em busca de algo de interessante para suas inventivas criações. Assim, não tarda para que o público conheça melhor os Boxtrolls, que mais levam sustos do que os provocam nos outros, além de terem um quê de Minions, com direito à língua própria e fofura quase similar. Basta acompanhar o carinho com o qual eles, especialmente Peixe, cuidam do garoto chamado Ovo.
No entanto, quando a filha do Lorde Roquefort, a jovem Winnie, descobre que um menino humano vive com os Boxtrolls, tão logo se revela os desejos por trás da investida de Surrupião: tudo o que ele quer é trocar o seu chapéu vermelho por um branco, igual ao do Lorde e, assim, sentar-se à mesa com os nobres para degustar queijo, mesmo que isso lhe faça mal.
É evidente que a trama não é um dos pontos fortes do filme, mas a história incita várias discussões sérias que, junto ao bom entretenimento, a tornam interessante para o público adulto também. Uma delas surge da própria criação do Ovo pelos Boxtrolls, na qual é implícita a mensagem de que uma família nem sempre obedece àquela formação clássica “mamãe + papai”, mas nem por isso será pior do que a tradicional.
A questão do preconceito é igualmente marcante, onde o pensamento predominante é de que “se não conheço, repudio, e assim transformo meu medo em repulsa”. Por isso, não é descabida uma possível interpretação de que Os Boxtrolls, com seu impecável design de produção, faria da fictícia cidade europeia de Pontequeijo uma representação de todo o continente no início do século XX, ao mostrar o genocídio das pequenas criaturas do título, executado por Surrupião e seus capangas.
Falando na equipe do vilão, fora o malvado Sr.Rude, a dupla formada pelo Sr. Picles e o Sr. Truta faz uma série de indagações existenciais e filosóficas durante a animação, especialmente sobre o bem e o mal a partir de suas próprias ações e, consequentemente, acerca da estrutura da trama em si. A metalinguagem vai além na cena exibida durante os créditos, que não apenas permite avaliar a dimensão do trabalho que é fazer um stop motion e faz homenagem aos profissionais da produção, mas menciona outro debate, até religioso, sobre o livre arbítrio.
No mais, o filme deixa clara à plateia a ideia de que é possível se superar, transformando sua própria natureza, mas que há condições de fazer algo mais: mudar o mundo à sua volta para fazê-lo se adaptar à sua realidade.
Nomeado ao Oscar de Melhor Filme em Animação.
(The Boxtrolls - 2014)
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Oscar 2015
quarta-feira, 14 de janeiro de 2015
Como Treinar o Seu Dragão 2 (2014)
Com o estrondoso sucesso de "Como Treinar ser Dragão", em 2010, o diretor Dean DeBlois não apenas conseguiu garantir uma sequência, mas transformar seu projeto em uma trilogia. Baseado nos livros juvenis de Cressida Cowell, ele poderia então contar a história do herói de forma mais completa, linha em que esta continuação se estrutura.
Cinco anos após as aventuras narradas no primeiro filme, o franzino Soluço e seu dragão de estimação, Banguela, trouxeram harmonia para seu vilarejo, na ilha de Berk. Suas populações de humanos e dragões se dão tão bem que o líder local, Stoico – O Imenso (Gerard Butler), decide colocar o rapaz como seu sucessor.
O problema é que Soluço não se dá bem com a ideia de autoridade, pensando em si próprio como um espírito livre, e prefere passar seus dias pesquisando a geografia regional. Em suas incursões pela costa, acompanhado por Banguela, o herói se depara com dois conflitos importantes.
O primeiro é a zelosa protetora de dragões, Walka (Cate Blanchett), sua mãe até então dada como morta. Como uma guerreira, protege milhares de bichanos em uma espécie de reserva natural do grande inimigo Dragon (Djimon Hounsou), o segundo problema de Soluço.
Encantador de dragões, o vilão os captura para formar um exército invencível. Ele já fez parte até mesmo do passado de Stoico, quando ameaçou e matou com seus poderes quase todos líderes vikings que passaram por seu caminho.
Como no primeiro filme, o herói deverá encontrar dentro de si a força para ser líder e transformar seu entorno, caótico com a chegada de Dragon. Para isso contará com a ajuda não apenas dos pais, mas também de sua namorada Astrid (America Ferrera) e os gêmeos engraçados Cabeçaquente (Kristen Wiig) e Cabeçadura (T.J. Miller).
Agora com 20 anos, Soluço segue em sua jornada para ser um grande viking. Não deixa de ser importante que os problemas do herói tornam-se mais complexos com a idade. Chefiar seu povo, casar, armar um exército são alguns dos desafios desta nova fase. Dean DeBlois amadurece seus personagens, mas consegue, ainda assim, fazer um dinâmico filme juvenil.
Nomeado ao Oscar de Melhor Filme em Animação.
(How to Train Your Dragon 2 - 2014)
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domingo, 11 de janeiro de 2015
Festa no Céu (2014)
A animação "Festa no Céu" parte de um dos festejos mais populares no México: o Dia dos Mortos. Isso pode levar alguns a pensar em algo mórbido, mas é um engano. "Festa no Céu" começa numa cidade americana qualquer onde um grupo de crianças bagunceiras são obrigadas a visitar um museu. Logo a guia que as recepciona mostra que o passeio pode ser bem mais animado do que imaginam. Ela contará para eles a história de três jovens mexicanos e um triângulo amoroso que envolve a vida e a morte.
Maria , é rica, e feliz e livre, não segue muito as convenções da sociedade mexicana, para desespero de seu pai viúvo. Seus melhores amigos são Manolo jovem de uma dinastia de toureiros que sonha em ser músico, e Joaquin, cuja aspiração é ter respeito e admiração. Dois deuses - A Morte e Xibabla fazem uma aposta sobre qual dos dois garotos conquistará o coração da menina.
Ela é mandada para um colégio interno e, quando volta, reencontra seus amigos: Manolo, a contragosto, tenta uma carreira como toureiro, enquanto Joaquin se torna herói de guerra graças a um amuleto que recebeu de Xibabla.
A Morte está sempre rondando os personagens. Quando Manolo pensa que Maria morreu, ele vai para o Mundo dos Eternizados, para onde vão as almas das pessoas que são amadas. Chegando lá, encontra sua mãe e todos seus ancestrais toureiros. Esse é um lugar de colorido e festas, onde, curiosamente, os mortos celebram a vida. Ao descobrir que Maria não está ali, resta-lhe, então, procurar no Mundo dos Esquecidos – um lugar sombrio. Já no Mundo dos Vivos, a cidade onde moram está ameaçada por um monstro conhecido como Chacal e a sua gangue de bandidos.
O visual de cada um dos mundos é bastante distinto – variando nas formas e colorido - enquanto os personagens, embora sejam um desenho, imitam bonecos de madeira no formato e textura. A riqueza de detalhes em ambos os casos é impressionante.
(The Book of Life - 2014)
Whiplash: Em Busca da Perfeição (2014)
“Não há duas palavras mais nocivas do que ‘bom trabalho’”, diz o implacável regente Fletcher ao seu baterista prodígio Andrew. Com seus métodos cruéis e coercitivos de ensino, acredita que a complacência gera mediocridade. Será essa relação de abuso verbal e terror psicológico em busca da genialidade o ponto central do drama "Whiplash – Em busca da Perfeição."
J.K. Simmons encarna Fletcher com tal vigor, como o professor do respeitado conservatório de música, que seus insultos, numa verborragia atroz, fariam tremer até mesmo o jazzista Buddy Rich, uma lenda da bateria. Uma atuação seguida de perto pelo jovem ator Miles Teller.
Teller é, aqui, Andrew, que tem a sorte de ser selecionado para a banda de Fletcher, mesmo sendo calouro no conservatório. Assim que entra no grupo, no entanto, é alvejado por gritos, tapas na cara e até uma cadeira voadora, pois não entra no compasso correto imaginado pelo tutor e regente. É só o início das provações do rapaz, que aceita os abusos visualizando um futuro glorioso.
Entende-se a perseverança de Andrew também pela sua personalidade. Sem amigos, vê na própria família inúmeras limitações, não condizentes com o futuro “entre os grandes do jazz” que almeja. Em uma cena, termina com a namorada Nicole (Melissa Benoist), em um cortante monólogo no qual explica porque o fato de continuarem juntos só irá atrapalhar seu caminho para o sucesso.
Quanto mais Fletcher desfere humilhações, mais o rapaz se esmera na prática, que deixa quase sempre suas mãos em carne viva. Como não há trégua, resta saber até quando o Andrew resistirá a esse aprendizado.
Chazelle, que também é o diretor de fotografia, é inventivo em seu apurado jogo de câmera que, junto à trilha sonora e à intensidade psicológica do que se vê na tela, transforma os ensaios da banda em batalha campal. Conceito muito adequado ao conflito que impinge ao espectador.
Nomeado ao Oscar de Melhor Filme, Roteiro Adaptado. Vencedor nas Categorias: Edição, Mixagem de Som e Ator Coadjuvante (J.K. Simmons)
(Whiplash - 2014)
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Vencedor do Oscar
sábado, 10 de janeiro de 2015
Uma Aventura Lego (2014)
Emmet é um sujeito comum. Acorda cedo, pega o seu guia para uma vida feliz e alegre e segue à risca as regras para ser feliz – que envolvem vestir roupas e cumprimentar aos vizinhos, entre outras coisas. Ele é um peão de obra ingênuo e feliz na sua ignorância. Pouco importa que o mundo onde vive é dominado por um ditador que atende pelo nome de Senhor dos Negócios. E o fato de ser um pequeno brinquedo de plástico parece não ser um problema.
Ele é o protagonista da animação "Uma aventura Lego", e é também a última esperança para sua raça. Emmet e seus semelhantes vivem subjugados por um ditador que, agora com uma arma poderosa, pretende acabar com os movimentos de quem o desafiar.
Uma profecia, no entanto, diz que o homem que encontrar a Peça de Resistência será o herói capaz de acabar com os poderes do Senhor dos Negócios. Em sua ingenuidade e boa vontade, Emmet poderá ser esse salvador. A última esperança para um grupo de dissidentes que inclui Batman, Super-Homem, Mulher Maravilha, Gandalf, Dumbledore e outros, ele é levado ao grupo por Lucy, garota rebelde que parece uma versão Lego da heroína da trilogia Millenium: Lisbeth Salander.
Uma aventura Lego segue mais ou menos a cartilha da jornada de um herói, e, nesse sentido, é óbvio. Ao mesmo tempo, as cores vibrantes, os personagens carismáticos e o ritmo que beira a histeria tornam-no um filme muito especial. É bizarro ver esses bonequinhos num mundo de bloquinhos coloridos vivendo e agindo como humanos – e nessa bizarrice reside a graça do filme.
"Uma Aventura Lego" prega, em sua essência, uma exaltação dos laços de afeto em detrimento dos valores deturpados da sociedade de consumo. O que não deixa de encerrar um certo paradoxo já que, em seus 100 minutos, o longa não deixa de parecer uma propaganda estendida da Lego.
Nomeado ao Oscar de Canção Original ("Everything is Awesome").
(The Lego Movie - 2014)
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domingo, 4 de janeiro de 2015
Branca de Neve (2012)
O drama espanhol "Branca de Neve" parte do famoso conto dos irmãos Grimm, e até segue a maior parte dos elementos do original. Mas esta adaptação sombria está longe de ser um filme infantil. Sem diálogos e em preto e branco, o longa de Pablo Berger ganhou o prêmio Goya – uma espécie de Oscar espanhol – nas principais categorias, entre elas filme e atriz, para Maribel Verdú, que faz uma madrasta má adepta do sadomasoquismo.
Embora possa lembrar o oscarizado O Artista, também feito nos mesmos moldes, "Branca de Neve" começou a ser planejado há quase uma década, até que finalmente o diretor conseguisse produtores interessados em financiá-lo. O longa é situado na Sevilha do começo do século passado, e a estética vai ao encontro daquilo que se narra, remetendo à dos filmes daquela época.
Antonio Villalta (Daniel Giménez Cacho) é um toureiro, o mais famoso e adorado da Espanha. Porém cegado por sua vaidade, não percebe que está correndo risco, e quando é ferido fica à beira da morte. Enquanto isso, sua esposa (Inma Cuesta) dá à luz a uma menina e morre. A garota, Carmencita (Sofía Oria), cresce aos cuidados da avó (Ángela Molina). Já o toureiro, que ficou paraplégico, casa-se com a enfermeira interesseira que tratou dele no hospital, Encarna (Maribel Verdú).
Encarna segue uma trajetória de mera enfermeira a rainha malvada, dominando o casarão dos Villalta – trancando o marido no andar superior e tomando o motorista (Pere Ponce) como seu amante. Com seus olhos grandes e rosto expressivo, a atriz domina o filme, transformando-se no centro da história. Mas encontra rivais à sua altura, primeiro na pequena Sofía Oria e, mais tarde, em Macarena García, que interpreta Carmen quando adolescente.
Com a morte da avó, a menina é mandada para a casa do pai, com quem nunca teve contato. A madrasta a proíbe de subir para o segundo andar. Porém, a menina tanto faz que reencontra o toureiro, solitário numa cadeira de rodas preso a um quarto. Se, num primeiro momento, há estranhamento entre eles, com o tempo se tornam amigos, e ele lhe ensina técnicas de tourada. Percebendo a situação, Encarna obriga o motorista a matar a menina, mas ele não consegue. Por uma fatalidade, ela fica com amnésia e acaba adotada por seis (e não sete) anões toureiros, que a chamam de Branca de Neve.
A subversão do cinema de Berger aqui se faz tanto na forma quanto no conteúdo, ao agregar novos valores a uma história tão conhecida. Não chega ao radicalismo do português João Cesar Monteiro, em cujo Branca de Neve (2000) a tela ficava preta, sem qualquer imagem, boa parte do tempo. O que o cineasta espanhol buscou aqui foi o que há de obscuro nessa história que, no fundo, é o embate entre duas mulheres ou entre a pureza e a decadência. O preto e branco da fotografia parece evidenciar os aspectos mais grotescos da história.
(Blancanieves - 2012)
Rio 2 (2014)
Sequência da animação de sucesso de 2011, "Rio 2" repete os mesmos elementos e formas de seu original, e ainda assim, não tem o mesmo charme que o primeiro filme. Talvez seja exatamente por isso – não há muita novidade na animação dirigida pelo brasileiro Carlos Saldanha.
Talvez o filme, não devesse nem se chamar Rio, já que a ação se passa quase na totalidade no Amazonas. Agora, Blu e Jade levam uma vida tranquila com seus três filhos pequenos num santuário, onde as ararinhas azuis são protegidas – pois são os únicos exemplares da espécie. Mas, quando os cientistas Tulio e Linda veem outra ave igual a eles na Amazônia, o quarteto parte para lá para encontrá-la.
Trocam-se os clichês do Rio carnavalesco, com praia, favela e gente bronzeada, pelas cores e animais da floresta. Blu, Jade e companhia (o que inclui outras aves de quem são amigos) reencontram a família dela e descobrem que o pai da ararinha é o líder do grupo. Além disso, a região está ameaçada pelo desmatamento.
Também volta à cena a invejosa cacatua Nigel, que agora tem uma fã: uma rã venenosa, que, apesar de apaixonada por ele, só o admira de longe, pois tem medo de matá-lo. Além disso, há um tamanduá mudo que se veste de Charlie Chaplin, e é uma espécie de faz-tudo da ave. Sem dúvida, essas duas personagens novas são a melhor parte do filme.
Nem toda a boa vontade de Saldanha, o colorido das imagens e a fofura dos personagens são capazes de disfarçar a falta de novidades. Sem muita história para contar, Rio 2 apela aos números musicais.
(Rio 2 - 2014)
sábado, 3 de janeiro de 2015
Operação Big Hero (2014)
"Operação Big Hero" leva o Japão ao Ocidente, apresentando a híbrida metrópole de San Franstokyo, fusão da capital nipônica com a cidade californiana que abriga um grande número de imigrantes orientais e descendentes. Além da mistura da Golden Gate e das típicas ladeiras e casas de São Francisco com os arranha-céus e arcos de Tóquio, une-se a paixão japonesa pela robótica ao espírito tecnológico do estado norte-americano de onde surgiram as maiores empresas da área de tecnologia, no Vale do Silício.
Neste cenário, o público conhece o protagonista Hiro Hamada, um adolescente-prodígio que usa sua inteligência para construir minirrobôs que disputam lutas clandestinas, atividade em que ele ganha seus trocados. Seu irmão Tadashi, modelo para o garoto desde que ficara órfão na tenra idade, consegue convencer o jovem a utilizar melhor seus conhecimentos, levando-o para a universidade onde realiza pesquisas avançadas. Mas aí uma tragédia muda os rumos da vida de Hiro.
Ao conhecer o robô “agente de saúde” chamado Baymax, resultado do projeto ao qual seu irmão se dedicava, ele decide iniciar seu plano de vingança. Nele, estão incluídos o grande autômato de vinil e, posteriormente, os amigos de Tadashi no centro de pesquisa: a alternativa GoGo, o metódico Wasabi, a delicada Honey Lemon e o tranquilão Fred. O grupo de nerds forma uma aliança de super-heróis que, em vez de superpoderes, utiliza aparatos que são frutos de seus estudos. Uma grande sacada do filme, pois torna a ciência algo interessante para o público infantil.
Embora haja certa surpresa na revelação da identidade do vilão, ainda assim a dinâmica da luta entre os jovens e o malvado Yokai não foge do comum. Ainda assim, pelo menos a relação de Hiro com seu robô foi primorosamente construída. Com um corpo inflável e estrutura que remetem ao homem-marshmallow do Caça-Fantasmas e ao mascote da Michelin, mais a fofura do Totoro e de outras criaturas de Hayao Miyazaki – uma excelente influência japonesa para esta animação hollywoodiana –, Baymax é puro carisma, não só por cenas impagáveis dele tentando lidar com seu porte avantajado ou acidentes de percurso. Muito mais porque, por ter sido construído com a finalidade de fazer seus pacientes não sentirem mais dores, ele faz de tudo para aplacar o sofrimento do garoto, proporcionando momentos tocantes.
Constituindo uma abordagem totalmente positivista da tecnologia, quando não se dispõe a destruir e sim a “consertar” as pessoas, o gigante de vinil serve de bússola moral ao protagonista, como aquele ser diferente que mostra a humanidade aos próprios seres humanos.
Vencedor do Oscar de Melhor Filme em Animação.
(Big Hero 6 - 2014)
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