segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Kubo e as Cordas Mágicas (2016)


Apropriação cultural é uma questão que parece estar bem resolvida na animação Kubo e as Cordas Mágicas, novo filme dos estúdios Laika, o mesmo de Coraline e Boxtrolls. Isso porque, mesmo situado no Japão e envolvendo elementos da cultura nipônica, o filme o faz com tanto respeito e qualidade que não deve ferir nenhuma sensibilidade. O protagonista é o pequeno Kubo, samurai involuntário, vivendo uma história na qual as forças do mal - representadas por seu avô e tias – o ameaçam.

Ao centro, uma questão: entregar seu único olho (ele já perdeu o outro) ao avô, o maligno Rei Lua, e se tornar imortal ou lutar contra ele e todo o mal que representa. É claro que a escolha é pelo segundo caminho, o mais difícil mas também mais honroso. Há, aqui, a clássica trajetória do herói, combinada com elementos da cultura asiática. Kubo, capaz de criar origamis que ganham vida a partir das fábulas que inventa, é um contador de histórias com talento para inventar personagens e aventuras memoráveis. Porém, ele tem uma limitação: é incapaz de criar finais.

Filho de um Samurai lendário, chamado Hanzo e cujos traços são inspirados na figura do ator japonês Toshiro Mifune, o garoto foi criado por sua mãe numa caverna, escondido de todos por boa parte do tempo – exceto durante alguns momentos do dia quando foge para um vilarejo para contar suas histórias. Mas um ataque de suas tias, que usam máscaras do teatro Nô (assustadoramente sorridentes), acaba com essa rotina um tanto pacífica e coloca Kubo numa aventura, na companhia de uma macaca e um besouro-samurai, para tentar acabar com o reinado de terror do avô.

A jornada do garoto é a “desculpa” ideal para construir incidentes, cenários e ações visualmente impressionantes, como um navio criado apenas por folhas secas de árvores, ou o fundo do mar com olhos gigantes que capturam pessoas. Mas nada disso teria muito efeito se, ao centro, a trama, criada por Marc Haimes e Chris Butler, não fosse bem armada.

Há algo de Harry Potter na origem de Kubo, mas as personagens e cenários tão detalhadamente repletos de referências à iconografia japonesa fazem com que isso seja esquecido. Filmado pela técnica stop-motion o filme tem um apelo visual imenso, mas encontra também uma história à altura. A trama, longe da correria que se tornou regra para as animações infantis, tem seu tempo de desenvolvimento sem pressa e próprio para se aprofundar nas personagens e criar tensão.

Nomeado aos Oscar de Melhor Filme em Animação e Efeitos Especiais.

(Kubo and the Two Strings - 2016)

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Capitão Fantástico (2016)


Ben (Viggo Mortensen) e Leslie (Trin Miller) Cash resolveram viver uma utopia até o fim. Fugindo do mundo corporativo, do capitalismo e do consumismo, formaram uma família com seis filhos, vivendo numa cabana no meio da natureza, nas montanhas do estado de Washington. Seu cotidiano constitui-se de preparo físico intenso, treino de sobrevivência, trabalhos manuais, muitas leituras, músicas e conversas em conjunto, longe da internet, da televisão, dos celulares e videogames.

A crise da família acontece quando se manifesta a bipolaridade da mãe, forçando-a a viver longe deles. Um episódio dramático, que deflagra a ruptura neste mundo idealizado, retratada em Capitão Fantástico. O filme detalha a atmosfera desta família anticonvencional justamente a partir da ausência da mãe. E os detalhes são saborosos, com adolescentes lendo Dostoiévski, e todos, mesmo as crianças pequenas, discutindo desembaraçadamente as diferenças entre socialismo e capitalismo e declarando suas preferências entre trotskismo e maoísmo. Ainda que educados fora da escola, todos dominam ao menos cinco línguas. Ao invés do Natal, celebram anualmente o aniversário de Noam Chomsky, notório intelectual ativista norte-americano. E tarefas como caçar, preparar comida e lavar louça são divididas em comum. A ênfase desta educação libertária é a total independência.

O mundo lá fora, no entanto, não ficará indefinidamente à distância, especialmente quando acontece uma tragédia familiar. No velho ônibus que serve de transporte para idas ocasionais à cidade mais próxima – chamado “Steve” -, o pai embarca os seis filhos, rumo ao Novo México, onde moram seus sogros, Abigail (Ann Dowd) e Jack (Frank Langella).

A viagem transforma o filme num road movie, em que se tornam mais reais, sem deixar de ser engraçados, os primeiros contatos da trupe juvenil com a junk food – duramente combatidos pelo pai – e o primeiro amor, como no episódio vivido pelo irmão mais velho, Bodevan (George Mackay) num acampamento onde pernoitam.

O contraste de mentalidade torna-se mais nítido na visita da família pela casa da tia paterna, Harper (Kathryn Hahn), que é casada e tem dois filhos adolescentes educados de maneira diametralmente oposta aos primos da montanha. Aí é a chance de Ben mostrar, afinal, o que anda ensinando aos filhos. Mais dura é a passagem pela casa do sogro, um empresário rico, fã de armas e que simboliza o extremo oposto dos valores da família Cash, estando disposto a desafiar sua união a todo custo.

Um dos aspectos mais interessantes do roteiro, também escrito por Matt Ross, é não banalizar o confronto entre Ben e Jack. Escapando de uma discussão maniqueísta, permite ao personagem de Viggo Mortensen experienciar uma crise e auto-análise que fazem bem ao filme como um todo, além de humanizar a perspectiva do avô. Discutindo ideologias e símbolos da contracultura, Capitão Fantástico não se torna refém deles. É um saudável respiro de liberdade num universo excessivamente padronizado, ainda mais em tempos moralistas.

Nomeado ao Oscar de Melhor Ator (Viggo Mortensen).

(Captain Fantastic - 2016)

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Sing Street (2016)


Dublin, Irlanda, 1985. Conor (Ferdia Walsh-Peelo) é um jovem obrigado a mudar de colégio, devido à difícil condição financeira de seus pais, que ainda por cima brigam sem parar. Logo ele tem problemas com um valentão local, que passa a persegui-lo, e também com o padre que coordena a escola, devido à sua disciplina rigorosa. Desiludido, Conor tem um sopro de esperança ao conhecer Raphina (Lucy Boynton), uma garota que está sempre à espera na porta da escola. Disposto a conquistá-la, ele diz que está montando uma banda de rock e a convida para estrelar um videoclipe. Com o convite aceito, agora ele precisa fazer com que a banda exista de verdade.

(Sing Street - 2016)

Sully: O Herói do Rio Hudson (2016)


Chesley “Sully” Sullenberger era um piloto experiente, com mais de 20.000 horas de voo, às vésperas de completar 58 anos quando, em 15 de janeiro de 2009, viveu a mais eletrizante experiência de sua vida. Pouco depois da decolagem do aeroporto LaGuardia, em Nova York, com 150 passageiros e 5 tripulantes a bordo de um Airbus A320, os dois motores entraram em pane, após uma colisão com um bando de pássaros. Acreditando que não haveria tempo para retornar e aterrissar em um dos aeroportos próximos, Sully, ousadamente, decidiu pousar o avião sobre as águas do rio Hudson. Como se sabe, todos se salvaram.

Embora uma reconstituição muito realista do sensacional episódio constitua parte substancial do filme, o centro nervoso do enredo é a investigação conduzida pela agência estatal de segurança dos transportes dos EUA, a National Transportation Safety Board (NTSB), sobre o arriscado procedimento levado a cabo por Sully, com assistência do co-piloto Jeff Skiles (Aaron Eckhardt).

Aí localiza-se o centro da controvérsia que inclusive extrapola o filme. Na tela, a apuração, conduzida por Charles Porter (Mike O’Malley) e Elizabeth Davis (Anna Gunn) – nomes fictícios, ao contrário dos pilotos -, é francamente hostil aos investigados, colocando em dúvida se o pouso no rio não teria sido uma temeridade e especulando que uma aterrissagem em LaGuardia ou Teterboro (aeroporto em Nova Jérsei) teria sido não só possível como recomendável.

A investigação, que poderia ter cassado a licença dos pilotos e acarretado outras punições, funciona, portanto, como um drama de tribunal, em que Sully e Jeff lutam para atestar a correção de suas atitudes, que são minuciosamente repassadas, uma por uma. Com aparência envelhecida para assemelhar-se ao personagem real, Tom Hanks assume por inteiro o papel de um homem investido da paixão pela defesa de sua honra mas que é igualmente atravessado pela dúvida – ele também se questiona sobre o que fez. Afinal, não é todos os dias que um piloto pousa na água e vive para contar a história, assim como todos os passageiros.

A polêmica transbordou para a vida real, já que os investigadores sentiram-se atingidos ao serem pintados como os vilões da história, o que eles negam. O próprio Sully, no entanto, em entrevista por e-mail ao jornal The New York Times, garantiu que o filme reflete “perfeitamente a tensão vivida naquele momento” e que o processo foi “adverso, com nossas reputações postas em jogo”. Além do mais, o piloto, hoje aposentado, teve acesso prévio ao roteiro, fez várias observações e foi presença constante no set, o que serve de aval à visão apresentada no filme de Eastwood – que, a bem da verdade, vai bem mais longe do que o livro escrito pelo piloto.

Em termos cinematográficos, Eastwood, 86 anos, mostra que continua afiado. Mesmo um espectador familiarizado com a história de final feliz terá tudo para temer pela sorte dos passageiros, dependendo do socorro de balsas e helicópteros que teriam que ser rápidos, devido à baixa temperatura dos ventos e da água do Hudson em pleno inverno.

Nomeado ao Oscar de Edição de Som.

(Sully - 2016)

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Fallen (2016)


Há algum tempo não via algo tão ruim no cinema.

Filme péssimo, interpretações péssimas, má direção, efeitos especiais esdrúxulos, trilha sonora horrível! Só não digo que é uma má adaptação do livro, pois não cheguei a lê-lo. Enfim, economize e não vá assistí-lo.

Esta é a história da problemática e chata Lucinda, que vai para um colégio interno e conhece dois belos rapazes, os jovens Daniel e Cam. O que ela não sabe é que eles são anjos caídos e que durante toda a eternidade e reencarnação ela viveu um romance com Daniel. Romance este que sempre acaba em tragédia, porque Lúcifer tira a vida de Lucinda para assim se vingar de Daniel, que na batalha dos anjos não escolheu nem o lado do bem e nem o do mal para representar.

Até o momento não sei a quem esta história pode agradar para ter vendido tanto livro.

(Fallen - 2016)

domingo, 4 de dezembro de 2016

Anthropoid (2016)


Baseado em um dos grandes eventos da Segunda Guerra Mundial, a Operação Antropoid, que visava matar o general Heydrich, que era protetor do reich. Terceiro homem mais poderoso do período nazista, ele foi o principal arquiteto da solução final das questões judáicas e da ocupação nazista na Tchecoslováquia. Suas ações fizeram com que soldados aliados se unissem para mudar o futuro da Europa.

(Anthropoid - 2016)

Elle (2016)


A protagonista é uma executiva de sucesso, que comanda uma bem-sucedida empresa de videogames, ao lado de uma amiga, Anna (Anne Consigny) – uma chance para que o filme explore com ironia o choque de gerações, já que as duas senhoras chefiam uma turma de garotos. Cabe a Michèle exercer esse controle com mão de ferro, observações duras e nenhuma concessão.

O filme começa em tom alto, justamente pelo som da agressão sexual a Michèle em sua ampla casa - a princípio, nada se vê, exceto o final. Verhoeven voltará a essa cena outras vezes, para definir o caráter contraditório dessa mulher fria, calculista e que esconde um passado complicado, mantém relações ambíguas com seu casal de vizinhos, Patrick (Laurent Lafitte) e Rebecca (Virginie Efira), além de um duelo permanente com seu filho (Jonas Bloquet) e nora (Alice Isaaz).

Esse passado de Michèle, que envolve seu pai, justifica a reação surpreendente dela em relação à denúncia à polícia (mais uma vez, evite-se os detalhes). O que cabe dizer é que Elle é um filme de gênero que escapa de muitas armadilhas habituais justamente por pescar em águas sombrias e ser eficaz em seu suspense, humor negro e drama de gênero. A personagem foi feita à imagem e semelhança dos recursos de Isabelle, sempre crível quando é feroz. Essa consistência na composição da personagem é que impede que a história se torne misógina (embora sempre possa haver quem tenha essa interpretação). Provocativa ela é, e muito.

Nomeado ao Oscar de Melhor Atriz (Isabelle Huppert).

(Elle - 2016)

Gigante Adormecido (2015)


Neste trabalho de estreia do diretor e roteirista canadense Andrew Cividino, o espectador acompanha um trio de adolescentes em um verão no Lake Superior, em Ontario. Adam é um garoto reservado que está na cidade para passar o verão com seus pais. Ele acaba de conhecer Nate e Riley, primos que fazem parte de uma classe menos privilegiada que a dele e donos de um espírito de aventura (e crueldade) que assusta e ao mesmo tempo fascina Adam. Juntos, eles conversam sobre garotas, usam drogas, exploram a natureza local e dividem intimidades, sempre com certa agressividade típica de quem está definitivamente disposto a abandonar qualquer resquício de um espírito infantil.

Ao optar pelo retrato completo de seus protagonistas, Cividino faz do seu filme uma corajosa representação da adolescência através de três garotos de personalidades distintas, mas com a mesma dosagem de dubiedade moral. Mesclando atitudes que provocam, por vezes nostalgia, por vezes repulsa, o roteiro não se permite romantizar por inteiro a trajetória dos três protagonistas. Se em determinado momento o espectador se pega sorrindo ao contemplar o trio andando de skate pela rua à noite, em outro ele está balançando a cabeça enquanto escuta diálogos imaturos que revelam clara misoginia.

Como os hormônios pulsantes dos garotos, a câmera na mão traz ao longa a inquietude e a hiperatividade que os protagonistas tanto parecem buscar. O olhar de Cividino sobre suas figuras traz à tona a ambiguidade que casa com a narrativa: momentos guiados por um slow motion cujo resultado estético é certeiro dividem espaço com uma câmera documental preparada para registrar cada passo daqueles garotos com muita crueza – e muitas vezes, basta que algum deles abra a boca para que certa violência domine a cena.

Em paisagens que casam beleza e truculência, o diretor de fotografia James Klopko já de início presenteia o espectador com imagens do lago e os rochedos e florestas ao seu redor, como que adiantando a complexidade das figuras que o longa passa a apresentar logo em seguida. O trabalho tem destaque também em registros de internas, a exemplo de um momento decisivo dentro de uma atração de fliperama, que também serve para ilustrar a montagem rápida que não permite o descanso do espectador.

Ainda conduzido pelas performances bastante realistas dos seus atores centrais, Gigante Adormecido abdica que quase completamente de qualquer doçura para versar sobre a perda da inocência nesta fase de transição para a vida adulta. E por precisamente escolher representá-la a partir de três protagonistas masculinos, Cividino paraleliza ambos o fascínio e a crueldade do gênero.

(Sleeping Giant - 2015)

domingo, 20 de novembro de 2016

Animais Fantásticos e Onde Habitam (2016)


Do grande baú que gerou os livros e filmes sobre o bruxinho Harry Potter, ou seja, a imaginação da escritora britânica J.K. Rowling, vem o que pretende ser uma nova franquia, tão bem-sucedida quanto a primeira. Pontapé inicial desse projeto, a aventura Animais fantásticos e onde habitam saiu como livro em 2001 e agora inspira o primeiro filme – que já tem quatro sequências em desenvolvimento. Contando com um roteiro da própria autora – o primeiro de sua autoria –, o diretor David Yates (dos últimos quatro filmes de Harry Potter), o produtor David Heyman (de todos os oito filmes daquela franquia) e Stuart Craig (desenhista de produção de todos os oito também), trata-se de uma empreitada que navega nas conhecidas águas da magia, ainda que todos os personagens sejam novos, aprofundando o tema da zoologia bizarra que já frequentava a saga original.

O parentesco com o universo Harry Potter é garantido, pois o protagonista aqui é Newt Scamander (Eddie Redmayne), que os leitores mais atentos lembrarão como autor de um dos manuais usados pelo bruxinho em Hogwarts, cerca de 80 anos depois desta história – o que transforma este filme numa espécie de prequel. Magizoologista, o britânico Scamander chega à Nova York de 1926 com uma discreta maletinha – de onde podem sair, no entanto, os mais incríveis animais que a imaginação puder conceber.

Newt chega com uma missão secreta, envolvendo um de seus animais. São tempos pós-I Guerra, de muita intolerância, desigualdade, xenofobia, autoritarismo e traços de fundamentalismo religioso. Por isso, os bruxos vivem clandestinamente, tentando escapar à atenção dos humanos e severamente vigiados por agentes de seus próprios órgãos de segurança, como a MACUSA, sigla para Congresso Mágico dos EUA.

Evidentemente, a missão de Newt não está autorizada e ele é rapidamente detectado pela agente Tina Goldstein (Katherine Waterston), após um tremendo tumulto causado num banco, por uma das criaturas de Newt, um bichinho obcecado por coisas brilhantes que escapou da maleta.

O incidente une os caminhos não só de Newt e Tina como de um humano não-bruxo – “não-maj”, no jargão local. Trata-se de Jacob Kowalski (Dan Fogler), um modesto operário que apenas buscava um financiamento bancário para seu sonho de abrir uma padaria e se viu envolvido na confusão.

Ao trio se soma a irmã de Tina, Queenie (Alison Sadol), capaz de ler pensamentos e que se toma de amores por Kowalski – por mais que romances mistos entre bruxos e humanos não sejam permitidos naquele tempo e lugar. Além destas inúmeras referências evidentes a outros períodos históricos, inclusive o atual, a história joga com contrastes instigantes entre o apego do magizoologista por suas inusitadas criaturas, o que o transforma num precursor dos ecologistas, diante do rigor burocrata de Tina e dos integrantes da MACUSA e também do fanatismo antibruxo dos novos salemianos, liderados pela beata Mary Lou (Samantha Morton).

Como boa parte das aventuras de Harry Potter, Animais fantásticos e onde habitam explora personagens ambíguos, como o diretor de segurança mágica da MACUSA, P. Graves (Colin Farrell) e o garoto Creedence (Ezra Miller), um dos órfãos oprimidos pela beata. Não falta, igualmente, um toque contemporâneo sobre magnatas da imprensa, no caso, Henry Shaw (Jon Voight), e sua íntima relação com a política, através da figura de um filho senador (Josh Cowdery).

Curiosamente, a Nova York dos anos 1920 foi recriada inteiramente nos estúdios britânicos de Leavseden, nos arredores de Londres, com algumas locações extras em Liverpool. A rivalidade entre britânicos e norte-americanos é também um dos temperos de humor na história, como a disputa do título de melhor escola de bruxaria do mundo entre a yankee Ilvermorny e a britânica Hogwarts.

Mesmo ancorado no universo Harry Potter, o desafio de Animais fantásticos e onde habitam tem sua particularidade, já que não se trata mais de uma história infanto-juvenil com personagens idem, que cresciam com seus fãs a cada novo livro e filme. Aqui a identificação do público – também preferencialmente infanto-juvenil – tem que ocorrer pelas paixões destes personagens adultos, como o desprendido Newt e o divertido Kowalski, que se engajam na aventura com entusiasmo de criança grande. Johnny Depp, desta vez, é vilão e aparece só numa ponta de luxo – pelo menos, neste capítulo inaugural da franquia.

Nomeado ao Oscar de Direção de Arte. Vencedor do Oscar de Figurino.

(Fantastic Beasts and Where to Find Them - 2016)

A Garota no Trem (2016)


“Cuidado com o vão entre a janela e a realidade que acontece por de trás dela” deveria ser o aviso para todos os voyeurs de plantão, tal como Rachel Watson de A Garota no Trem. Fragmentos do cotidiano da vida alheia são suficientes para alimentar a imaginação. O público sabe disto por experiência própria, é claro, mas também conhece os seus perigos pelo que o cinema ensinou, especialmente com o mestre Alfred Hitchcock, para saber que a constante observação da personagem de Emily Blunt renderá problemas no filme de Tate Taylor.

Às referências ao cineasta inglês que redefiniu o gênero de suspense vão além de Janela Indiscreta (1954), a exemplo da associação direta aos trens de A Dama Oculta (1938) e Pacto Sinistro (1951), assim como à Testemunha Ocular do Crime, da escritora Agatha Christie. No entanto, as origens do longa estão no best-seller homônimo de Paula Hawkins, uma jornalista britânica que, em seu primeiro livro, teve os seus direitos para o cinema adquiridos antes da publicação, talvez pela interessante sinopse, aparentemente cinematográfica.

Rachel pega o mesmo trem, sempre no mesmo horário e, já há algum tempo, criou um interesse especial pelos moradores de uma casa que vê no caminho, Megan (Haley Bennett) e Scott (Luke Evans), que ela enxerga da sua janela como sendo um casal perfeito. Justamente o que não conseguiu manter com Tom (Justin Theroux), seu ex-marido, por quem ainda procura, quando está bêbada (ou seja, quase sempre, pois ela é alcóolatra), apesar de ele já estar casado com Anna (Rebecca Ferguson) e ter uma filha. Mas quando um intruso atrapalha a sua fantasia e um desaparecimento aparece nos noticiários, a protagonista se envolve no caso, buscando solucioná-lo incessantemente, enquanto tenta recuperar a memória de uma noite em que voltou para casa cheia de sangue.

A armadilha do livro, porém, está em sua narrativa, muito difícil de ser adaptada para as telas, pois se divide na voz de três narradoras, Rachel, Megan e Anna, em tempos diferentes. No entanto, o trabalho de Erin Cressida Wilson, roteirista do cult Secretária (2002) e de O Preço da Traição (2009), na adaptação saiu-se melhor do que as expectativas, por conseguir condensar algumas passagens do livro em uma mesma cena coesa.

Em sua essência, o roteiro é muito fiel ao livro. As mudanças que os fãs mais sentirão, além da já conhecida alteração de cenário – sai Londres, entra Nova York –, é a figura do Kamal, um pouco diferente da original em que é um refugiado dos Balcãs, não só pelo casting do venezuelano Edgar Ramírez, mas por ser mais plano em seu desenvolvimento. As mulheres, pelo menos, continuam sendo marcantes e complexas.

Isso porque, desde sua origem, em uma comparação com o livro de Gillian Flynn e o filme de David Fincher, Garota Exemplar – feita pelos próprios editores para alavancar as vendas –, A Garota no Trem não apresentava um suspense tão surpreendente quanto, mas que tinha na construção das personagens a sua melhor qualidade. Isso fica mais claro no longa, que torna a resolução do mistério mais previsível, mesmo investindo de maneira instigante na protagonista não confiável, nem para ela própria.

Sorte que Tate Taylor, que já demostrou seu talento para direção de atrizes em Histórias Cruzadas (2011), tem outro bom elenco à disposição para garantir a força das três personas. Blunt está ótima na vulnerabilidade perigosa de Rachel em seu alcoolismo e há de se destacar o trabalho de Ferguson, com uma Anna bem mais interessante do que a do romance. Isso é essencial para uma obra que fala de machismo e questões de gênero, pois, assim como a trama já citada da exemplar Amy, traz uma história policial em que a violência extrema exterioriza aquela violência diária que se esconde e mina um casamento, ou qualquer relação.

Em sua parte técnica, distinguem-se o “efeito Bourne” da montagem nos flashes da protagonista, que não funciona sempre tão bem, e o “efeito Vertigo” na fotografia – olha Hitchcock aqui, mais uma vez – que dialoga com o fato de ela ser alcóolatra e também, de modo mais sutil nas cenas cotidianas, de A Garota no Trem se basear em pontos de vista, que sempre podem ser disformes e traiçoeiros em sua subjetividade.

(The Girl on the Train - 2016)

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

The Crown - Primeira Temporada (2016)


(The Crown - The Complete First Season - 2016)

Aquarius (2016)


Aquarius explora com perícia as contradições da classe média brasileira e também mecanismos atávicos de dominação e convivência social, a partir do microcosmo do Recife. Conta, para isso, com uma extraordinária heroína, Clara, uma ex-crítica musical e escritora madura, interpretada com brio por Sonia Braga.

Uma crônica demolidora desenha-se na tela a partir de um conflito básico: o pequeno e antigo prédio em que Clara (Sonia Braga) mora há décadas, onde viveu parte fundamental de sua história, na praia da Boa Viagem, foi inteiramente comprado por uma construtora, que se prepara para demoli-lo. O plano é substituí-lo por mais um daqueles imensos e horrorosos espigões que infestam, como pragas, toda a faixa à beira-mar da capital pernambucana, a ponto de impor suas enormes sombras na praia, a partir do começo da tarde.

Clara, no entanto, não vende seu apartamento. Resiste a todas as investidas: aumento da oferta monetária, tentativa de cooptação de seus filhos e, finalmente, à estratégia do incômodo, do assédio de violência crescente. No apartamento vazio acima do seu, fazem “festas”, com muito barulho, mulheres, bebida, impedindo a única moradora de dormir. Num outro dia, o prédio é invadido por evangélicos, que ali realizam um culto e ocupam as escadas e o estacionamento.

A ideia é pressionar Clara para sentir-se uma intrusa, ter medo e partir, satisfazendo a expectativa geral. Mas essa notável personagem feminina foi elaborada com tanta sofisticação, tantas nuances, que o filme, afinal, fala de muitas outras coisas além da batalha central. Entre elas, inclusive, o papel das mulheres como Clara, ou uma parente, a tia Lúcia (Thaia Perez), na expansão das liberdades na vida e no mundo. São mulheres que não se conformam aos papeis socialmente estabelecidos, sexuais inclusive (o filme toca no sensível ponto da vida amorosa das mulheres maduras), que estão sempre empurrando fronteiras. Quem não gostar, que as enfrente.

Num filme tão rico em camadas, Aquarius pode ser lido também como uma crônica familiar e social do País. Quer se conheça ou não bem o Brasil, é possível enxergar as nuances das relações sociais entre patroas e empregadas (numa chave diferente da de Que Horas Ela Volta?, mas igualmente complexa); as enormes diferenças sociais e especialmente a arrogância e truculência de um certo tipo de elite, representada pelos donos da construtora. Há uma conversa, em particular, entre Clara e o neto do dono da construtora, Diego (Humberto Carrão), em que isso é mostrado à perfeição, quando ele fala da “pele morena” dela e do quanto ele imagina que a família dela “deve ter batalhado para chegar onde chegou”. Um retrato dessa polarização que o Brasil enfrenta há muito, ainda sem solução à vista. Por isso, um filme como Aquarius é tão importante.

(Aquarius - 2016)

domingo, 6 de novembro de 2016

Indignação (2016)


Indignação parece situar-se num outro planeta tamanhas as transformações por que o mundo passou – em termos morais, sociais, culturais – desde os anos de 1950 até hoje. É um momento antes de todas as rebeliões da década de 1960, que estabeleceram os padrões que persistem até o presente.

O protagonista é Marcus Messner (Logan Lerman), jovem judeu de Newark, que trabalha no açougue do pai amoroso e controlador (Danny Burstein), e tem uma mãe compreensiva (Linda Emond). O ano é 1951. Para evitar ser convocado para a Guerra da Coréia, o rapaz entra para uma universidade em Winnesburg, Ohio, o que parte o coração do pai, que jamais teve o filho longe dele, mas também o deixa aliviado – afinal, seu filho, não morrerá na guerra, como o do vizinho.

O mundo se abre para Marcus longe da casa dos pais – é, finalmente, dono de sua vida. Uma de suas primeiras atitudes é não aceitar o convite para participar de uma fraternidade composta apenas por rapazes judeus. O protagonista é um rebelde que se declara ateísta e fala de forma complexa, beirando o esnobismo. Mas há algo de vulnerável nisso tudo – uma máscara que esconde suas fragilidades e medos diante de um mundo que ele pouco conhece.

Entra em cena outra aluna da universidade, Olivia Hutton (Sarah Gadon): jovem, loura e pura. No primeiro encontro, eles saem para jantar num restaurante francês caro. Logo depois, dentro do carro, ao lado de um cemitério, a inocência dele é enterrada junto com os mortos. A personagem feminina é complexa – uma cicatriz num pulso dá conta de seu passado –, mas o retrato dela no filme não é tanto, pois ela parece existir apenas para ser objeto do desejo do protagonista e satisfazer às necessidades sexuais dele. O que é a mesma posição de muitas personagens femininas ao longo da obra de Roth.

Lançado em 2008, Indignação é um romance de Roth que deve muito a um de seus grandes sucessos, O Complexo de Portnoy, de 1969. Marcus é, porém, um retrato pálido de Portnoy – e isso certamente tem a ver com o momento de escrita de cada um dos dois livros. O primeiro foi produzido na era das contestações, dos questionamentos e da possibilidade de revoluções. O mais recente encontra um cenário no qual o conservadorismo ganha força e, curiosamente, deveria ser o mais forte, contestador, ultrajante, mas não é o caso, pois deixa-se contaminar pela época de sua produção.

Schamus – roteirista de filmes com O Segredo de Brokeback Mountain e O Tigre e o Dragão – é excessivamente reverente a Roth. Ao seu filme devem ser associadas palavras como “bom gosto” e “comprometimento”, mas isso nem sempre corresponde a elogios. Há algo de frio aqui, muito calculado, que torna o resultado um tanto anódino, e a jornada do protagonista, às vezes, vazia. Ainda assim, há uma cena central e longa entre Marcus e o reitor da universidade (interpretado pelo dramaturgo Tracy Letts) que sinaliza toda a força do material. Aqui, o diretor – que também assina o roteiro – não faz concessões. Em um diálogo que transita entre o patético e o cômico, abarcando todas as variações entre as duas pontas, ele cria um embate entre gerações, entre visões de mundo, e mostra tudo aquilo que seu filme poderia ter sido.

(Indignation - 2016)

Bee Movie: A História de uma Abelha (2007)


(Bee Movie - 2007)

Nina (2016)


(Nina - 2016)

Goat (2016)


(Goat - 2016)

Florence: Quem é Essa Mulher? (2016)


Florence Foster Jenkins (1868-1944) foi uma figura peculiar. Dona de uma grande fortuna e nenhum talento para o canto lírico, passou boa parte da vida se enganando, sentindo-se como uma soprano. A culpa, no entanto, não era apenas dela: amigos, músicos e artistas não tinham coragem de contar-lhe a verdade – especialmente porque podiam aproveitar-se de seu dinheiro e contatos.

A vida da norte-americana serviu de inspiração para o longa francês Marguerite, e agora também para Florence: Quem é essa mulher?, de Stephen Frears (A Rainha), que traz Meryl Streep no papel principal, pelo qual conquistou sua vigésima indicação ao Oscar. A grande diferença entre os dois filmes está especialmente no tom. O primeiro tende para o lado trágico, enquanto este, mais para o cômico – embora existam doses de tragédia e comédia em ambos.

Florence, de certa forma, também se aproveitava das pessoas influentes – especialmente relacionados à música – que circulavam à barra de sua saia, para, por meio de seus nomes, conseguir marcar recitais e reservar teatros prestigiosos para suas apresentações desastrosas, embora ela não visse as coisas por esse prisma.

O roteiro de Nicholas Martin tem como um dos fios condutores a improvável relação da protagonista com seu marido, St Clair Bayfield (Hugh Grant), um ator sem talento que faz pequenos monólogos antes dos recitais da mulher, mas que mantém uma relação amorosa com uma jovem atriz boêmia, Katheleen (Rebecca Ferguson), passando as noites em seu apartamento. Tudo funciona numa espécie de acordo tácito entre ele e Florence, que aliás, contraiu sífilis em seu primeiro casamento e, pelo resto da vida, padeceu com dores e males diversos.

Esse mundo de ricos com arranjos sociais peculiares é visto pelo prisma de Cosmé McMoon (Simon Helberg, da série The Big Bang Theory), um jovem pianista que consegue emprego para acompanhar Florence em suas desastrosas aulas de canto, e, mais tarde, em sua grande apresentação em público.

Há um humor – especialmente pela falta de noção da protagonista – mas também uma melancolia muito grande em Florence. O filme tem um grande carinho pela personagem, que, facilmente, cai no ridículo sozinha. Mas Frears nunca a ridiculariza – ele não a poupa de si mesma (até porque nem haveria como), mas também não exagera em seu retrato para algum efeito de humor. Pelo contrário, o que fica, ao final, é a profunda tristeza de uma sociedade que vive de aparências, especialmente quando se tem dinheiro para as comprar e manter.

Florence é também um filme sobre o sonho americano, sobre a capacidade de se reinventar, desde que se possa pagar o preço. A protagonista e o marido convidam o pianista para o seu universo. Se no começo ele estranha, com o tempo percebe o quão vantajoso pode ser para ele fazer o jogo de aparências do casal. Mas, mais do que isso, ao seu modo, aquela redoma de vidro em que vivem é um pequeno mundo feliz.

Nomeado aos Oscar de Melhor Atriz (Meryl Streep) e Figurino.

(Florence Foster Jenkins - 2016)

Those People (2015)


No Upper East Side de Manhattan, um jovem pintor alegre está dividido entre uma obsessão com seu infame amigo socialista e um novo romance promissor com um pianista de concerto estrangeiro mais velho.

(Those People - 2015)

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2 (2011)


Indicado aos Oscar de Maquiagem, Efeitos Visuais e Direção de Arte.

(Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 2 - 2011)

Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 1 (2010)


Nomeado aos Oscar de Efeitos Especiais e Direção de Arte.

(Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 1 - 2010)

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Julieta (2016)


(Julieta - 2016)

King Cobra (2016)


O filme King Cobra irá mostrar a história real do executivo do mundo pornô gay Bryan Kocis, que foi brutalmente assassinado em sua casa na Pensilvânia, nos Estados Unidos, em 2007. Brent Corrigan, pseudônimo de Sean Paul Lockhart, foi uma das testemunhas chave do caso, já que Kocis foi morto pelos concorrentes Harlow Cuadra e Joseph Kerekes, que tentaram impedir a realização de um filme milionário estrelado por Corrigan. Kocis foi o fundador do estúdio pornô gay Cobra Video, que tinha como principal nome Brent Corrigan, que começou a atuar quando ainda era menor de idade.

(King Cobra - 2016)

Mais Forte Que Bombas (2015)


(Louder Than Bombs - 2015)

Truque de Mestre: O 2º Ato (2016)


(Now You See Me 2 - 2016)

domingo, 30 de outubro de 2016

Imperium (2016)


(Imperium - 2016)

sábado, 29 de outubro de 2016

Swiss Army Man (2016)


(Swiss Army Man - 2016)

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Café Society (2016)


(Café Society - 2016)

A Senhora da Van (2015)


(The Lady in the Van - 2015)

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Alice Através do Espelho (2016)


(Alice Through the Looking Glass - 2016)

Tammy: Fora de Controle (2014)


(Tammy - 2014)

Harry Potter e o Enigma do Príncipe (2009)


Gente! Eu estou velho e sem memória! Ainda bem que tenho o blog como arquivo de tudo aquilo que vejo. Revi este Harry Potter hoje, depois de ler o livro pela primeira vez e parecia que eu nunca tinha visto este filme. Isto porque não me lembrei de uma cena sequer! Nada! Até mesmo comecei a duvidar de tê-lo visto alguma vez.

Foi então que fui procurar nos meus arquivos aqui do blog se realmente tinha visto o filme, já que ele data de 2009 e foi a partir deste ano que comecei a escrever aqui. Foi então que me deparei com esta postagem sucinta...

¨Um adeus à Dumbledore.

Essa é a sexta saga de Harry Potter em Hogwarts e dessa vez ele se sente mais ameaçado por Voldemort, procurando assim ajuda de um novo professor de bruxaria, o Professor Horácio Slughorn (Jim Broadbent de Moulin Rouge!), que o ajuda a desvendar alguns episódios da infância de Voldemort. Cheio de efeitos especiais e romance, o que nos mostra que os personagens estão amadurecendo e procurando novas aventuras.¨

Eu simplesmente nem me lembrava que Jim Broadbent tinha participado de Harry Potter! É, preciso escrever mais aqui, pois este blog está funcionando mesmo como um diário!

Nomeado ao Oscar de Fotografia.

(Harry Potter and the Half-Blood Prince - 2009)

sábado, 15 de outubro de 2016

Harry Potter e a Ordem da Fênix (2007)


(Harry Potter and the Order of the Phoenix - 2007)

Inferno (2016)


¨Inferno¨ é um bom filme, mas ele não deixa de ser o mais do mesmo das outras obras de Dan Brown, a diferença é que aqui o autor explorou a Divina Comédia de Dante Alighieri e principalmente a parte que se refere ao inferno em seu livro, diferentemente dos outros filmes, em que as obras de Leonardo da Vince e a irmandade dos Illuminati serviam de pano de fundo para a história.

Não posso negar que o filme envolve o expectador e que é uma boa diversão, mesmo não apresentando novidade alguma.

(Inferno - 2016)

Severus Snape and the Marauders (2016)


Depois que comecei a ler os livros da saga Harry Potter e a rever os filmes, acho que me tornei um potterhead. Estou meio que aficcionado por este mundo bruxo e acabo que procurando novidades a respeito disto. Ter assistido a este curta-metragem é o resultado desta curiosidade que, aliás, foi feito por fãs da saga para contar uma breve passagem entre Severo Snape, o professor de Harry Potter, e seu pai, James Potter.

Vale a pena ver para descobrir que James não era tão bonzinho quanto Harry imaginava!

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Brinquedo Assassino (1988)


Deitado na cama, sem sono e sem nada pra fazer, fui passando alguns canais e me rendi ao Chuck. Devo ter assistido a este filme aos 8 anos de idade e me recordo que morri de medo, não podia ver uma boneca da minha irmã que logo imaginava que ela ganharia vida, ainda mais depois de ouvir toda aquela lenda urbana a respeito da boneca da Xuxa que matava crianças!

Não posso negar que me envolvi ao rever este filme, seria nostalgia, ou esse filme se tornou um clássico do terror?! Bem, isso eu não sei responder...

(Child's Play - 1988)

Sete Homens e um Destino (2016)


Como estou de férias tenho ido bastante ao cinema. Desta vez foi para assistir a este bang-bang, remake de ¨Sete Homens e um Destino¨ de 1960 e que fora inspirado nos ¨Sete Samurais¨ do Akira Kurosawa de 1954.

Bem, a premissa dos filmes é a mesma, reunir homens que estão dispostos a defender os moradores de um vilarejo. Todos os 7 homens devem algo para a lei e não tem nada a perder. Assim, reúnem-se na vila, persuadem seus moradores e planejam uma tocaia para os invasores.

Muitos tiros, muita ação e muito barulho. Vale a pena conferir.

(The Magnificent Seven - 2016)

O Lar das Crianças Peculiares (2016)


Mais um filme fantástico de Tim Burton. Sou fã incondicional de seus trabalhos e me senti satisfeito com o resultado deste filme. Pena que no cinema da minha cidade ele estava em cartaz apenas em 3D e dublado, duas coisas que detesto. No mais, a direção de arte é mágica, a história envolvente e os figurinos inspiradores.

O garoto Jake, interpretado por Asa Butterfield, decide ir até uma ilha, acompanhado de seu pai, para visitar o orfanato em que seu avô viveu durante sua infância. Infelizmente, ao chegar lá, o garoto descobre que o orfanato foi destruído durante a Segunda Guerra Mundial.

O que Jake não esperava era que ali havia um portal que o transportava para o dia em que o orfanato foi destruído, dia este que se repete eternamente com o intuito de proteger as crianças que ali habitam. A partir disto, Jake se encontra em uma fantástica história sobre o passado de seu avô que também era dono de uma peculiaridade assim como estas outras crianças.

(Miss Peregrine's Home for Peculiar Children - 2016)

As Branquelas (2004)


Mudando de canal e ao acaso me deparei com ¨As Branquelas¨ na televisão. Não resisti e acabei revendo esta comédia pastelão que eu vi há 11 anos! Como o tempo está passando rápido! Até que lembrava de bastante coisa deste filme e novamente ele me distraiu e me fez rir.

As vezes é bom dar umas gargalhadas despretensiosas...

(White Chicks - 2004)

Will & Grace - Episódio Especial (2016)

Não poderia deixar de postar este episódio especial de ¨Will & Grace¨, produzido 10 anos após o término do seriado e que exibido algumas semanas atrás, com o intuito de incentivar o povo norte-americano a votar.

Explicitamente e de uma forma lúdica os personagens mostram as razões para não votar em Trump. Afinal eles são gays e no seriado havia uma personagem latina que era a empregada da Karen, aliás, a única personagem que defende a eleição de Trump.

Uma pena não ter encontrado este episódio legendado em português, mesmo assim vale a pena assistir. Deu saudades desta sitcom, ainda mais a vendo intacta e com piadas atuais!

Adorei!

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Victor Frankenstein (2015)


A primeira frase dita em Victor Frankenstein, a mais recente e desnecessária adaptação do clássico gótico de Mary Shelley, é: “Vocês já conhecem a história”. E sim, realmente a conhecemos, mas o diretor Paul McGuigan e o roteirista Max Landis tentam subvertê-la, o que talvez seja o menor dos problemas. Eles partem da ideia inicial, do cientista brilhante e doido, e adicionam uma dezena de clichês antigos (já perpetuados nas diversas versões cinematográficas) e outros novos, como uma subtrama romântica e uma dose de psicologismo barato.

O revisionismo introduz uma leitura século XXI ao original do século XIX, pautando-o por um “bromance” entre o dr. Victor Frankenstein (James McAvoy) e Igor (Daniel Radcliffe), seu assistente brilhante, que é um corcunda de circo quando se conhecem, ao salvar a vida de uma trapezista (Jessica Brown Findlay), por quem o rapaz é apaixonado, mas ignorado por causa de sua aparência.

Percebendo o potencial do jovem para a ciência, Frankenstein salva sua vida, levando-o para morar e trabalhar com ele, curando sua corcunda – era apenas um abcesso gigante! – e melhorando sua aparência com banho, uma navalha e tiras de couro que o ajudam em sua postura. Acolhendo-o em sua casa, um galpão onde realiza suas experiências, espera contar com Igor para sua grande criação – ressuscitar os mortos.

Obviamente, há todas as implicações éticas e religiosas comuns à trama, mas elas são meras desculpas para a participação de um detetive da Scotland Yard (Andrew Scott), cuja função é alongar o filme, chegando a inexplicáveis 109 minutos. A direção de arte recria uma Londres visivelmente artificial, tanto quanto a insistente trilha sonora de Craig Armstrong, que não dá um respiro para o filme, cuja leitura século XXI mostra-se demais para o clássico – algo parecido com o que Guy Ritchie fez com Sherlock Holmes.

Radcliffe, a cada filme, se esforça para deixar Harry Potter, seu personagem mais famoso, para trás, mas sua limitada habilidade dramática, aqui, esbarra em McAvoy – que tem um personagem mais interessante, além de mais talento. Já o clímax, envolvendo a famosa criatura, é uma festa de efeitos especiais que em nada contribuem, fazendo de Victor Frankenstein um filme B, com orçamento e sem humor, e com um final que clama por continuações – dependendo do sucesso na bilheteria.

(Victor Frankenstein - 2015)

domingo, 18 de setembro de 2016

Hotel Transilvânia 2 (2015)


Pensando apenas no conceito de Hotel Transilvânia (2012), não em sua temática gótica, cujas figuras vampirescas e monstruosas servem como fachada e, igualmente, metáfora do comportamento humano quanto ao que lhe é estranho, pode-se observar a evolução que ocorre neste sentido na sequência daquela animação, Hotel Transilvânia 2. Se o primeiro apontava para a necessidade de aproximação em um cenário de total segregação e intolerância, esta continuação vai um passo à frente ao apresentar um ambiente no qual o preconceito incrustado na sociedade, velado nas ações e pensamentos dos indivíduos, ainda atrapalha a tarefa de aceitação, muitas vezes superficial.

Um olhar para os outros aspectos deste novo filme, no entanto, revelam seus tropeços, mesmo que graciosos e irrelevantes para um entretenimento familiar, que o colocam no mesmo patamar técnico de seu antecessor. Dirigido novamente pelo russo Genndy Tartakovsky, o enredo mais uma vez não desenvolve seus personagens dentro de seus potenciais e segue um caminho já conhecido em sua trama - felizmente, diferente do que a franquia já explorou no primeiro.

Três anos atrás, o público foi apresentado ao empreendimento hoteleiro na famosa região romena, que foi criado por Conde Drácula para proteger sua filha Mavis e todos os monstros da maldade humana, que vitimara sua esposa – algo que afeta suas ações nas duas histórias. No entanto, a chegada de um desavisado mochileiro, Jonathan pôs o zeloso pai em pânico e alterou a vida da família de vampiros e de seus hóspedes. O segundo longa dá sequência aos acontecimentos, dedicando sua introdução para mostrar o casamento de Mavis e Jonathan e o nascimento do filho do casal.

A questão é que, apesar de ter aceitado os antigos inimigos, seja como parentes ou clientes, Drácula teme que seu amado neto Dennis, que tem em suas veias tanto o sangue humano quanto o de vampiro, não puxe a sua descendência, já que nenhuma presa apareceu em sua boca em seus primeiros anos de vida. Por isso, enquanto o genro está com sua filha na Califórnia, conhecendo novidades do “mundo exterior”, o avô tenta despertar o lado monstruoso no menino, com a ajuda de seus amigos Frankenstein, o lobisomem Wayne, o homem invisível Griffin e a múmia Murray, antes que seja tarde demais.

(Hotel Transylvania 2 - 2015)

sábado, 17 de setembro de 2016

O Ato de Matar (2012)


"Eu acho que o documentário deveria se afastar dos fatos, porque fatos não são a verdade". Assim o produtor Werner Herzog explica porque decidiu apoiar o projeto de ¨O Ato de Matar¨, filme perturbador e inusitado no qual não se vê uma morte sequer, mas fala-se e pensa-se em morte o tempo inteiro. No caso, homens que mataram mais de mil pessoas no genocídio da Indonésia são convidados a reencenar os seus crimes. Vaidosos, eles aceitam a possibilidade de fazer um filme sobre suas memórias de guerra.

Para o diretor Joshua Oppenheimer, esta é a chance de mostrar o distanciamento surrealista que os homens têm em relação aos seus atos. Com evidente senso crítico e muito sangue frio, o diretor flagra estes homens dirigindo as cenas de seus assassinatos, dizendo ao diretor de arte "Eu quero calças jeans nesta cena. Eu sempre preferi jeans para os massacres", ou então pedindo aos habitantes do vilarejo, cujos pais foram dizimados, para interpretarem suas tragédias familiares. O ambiente é marcado por sorrisos, danças, música, álcool.

Para os gângsteres, como são chamados, essa é a oportunidade de mostrar que a matança de comunistas, encorajada pela ditadura militar, ocorreu não apenas porque "os comunistas mereceram", mas também porque o assassino Anwar Congo e seus colegas eram capazes de matar a todos. Ou seja, o genocídio ocorreu não apenas por necessidade de dizimar um grupo de pessoas, mas por mérito e iniciativa dos assassinos - uma importante mudança de perspectiva. Por isso, o filme-dentro-do-filme desperta questões éticas complexas: Como filmar a crueldade de que eles se orgulham tanto ("Nós fizemos muito pior do que nos filmes de ação", diz Anwar Congo), sem parecerem homens maus? Como desvincular da violência da moral?

¨O Ato de Matar¨ acaba sendo um filme abusado e surpreendente. Talvez seja mais chocante ver estes homens detalhando suas técnicas de tortura ("Enforcar com arame é mais higiênico, deixa menos sangue para limpar", lembra Congo) do que de fato ver imagens reais, como fotografias ou vídeos dos atos dessas pessoas. Como lembra Herzog, este filme não pretende informar, mas convidar à reflexão a partir da representação alegre do genocídio e da autoimagem heroica que os gângsteres têm de si mesmos. Estes homens lembram várias vezes que gângster significa "homem livre", tanto de amarras quanto de qualquer moral. Assim, "basta dirigi-los", afirma um político local, pró-ditadura, usando o termo "dirigir", que funciona tão bem para a política quanto para o cinema.

Precisamente, o documentário vai além da História para se infiltrar na política e na sociedade atuais, herdeiras do golpe militar. Os gângsteres são aliados da mídia e dos políticos, e a maioria deles já concorreu a cargos públicos. Com a mesma franqueza que demonstram sobre as mortes, Anwar Congo e seus colegas admitem subornos, fraudes eleitorais e outros crimes políticos, e chegam inclusive a fazê-los diante das câmeras, para provar que não estão mentindo. A verdade, pelo menos do ponto de vista dos líderes do genocídio, nasce desta encenação. Ver o mundo pelos olhos destes homens é assustador.

¨O Ato de Matar¨ transforma-se em uma coletânea de frases de efeito e de cenas umas mais ofensivas do que as outras. Existe o momento em que meninas bonitas são chamadas a dançar no teatrinho de guerra, e os criminosos pedem que elas "pensem na paz" para melhorarem suas atuações; existe o homem rico cuja filosofia de vida é "Relax e Rolex"; em um momento, Anwar Congo cuida um patinho cuja pata está machucada; em outra cena, seu colega, também assassino, lembra que George W. Bush e os Estados Unidos já dizimaram milhões de pessoas e nunca foram responsabilizados por isso, então eles também não deveriam ser punidos. "A História é escrita pelos vencedores, e eu venci", afirma tranquilamente um deles.

Assim, partindo do genocídio na Indonésia, o filme reflete sobre a política internacional, a responsabilidade dos líderes e a própria moral de guerra - algo muito apropriado no momento em que potências ocidentais orquestram bombardeios para garantir a paz. A ambiguidade das imagens é tamanha que rumo ao final, Anwar demonstra às câmeras um eventual mea-culpa, um possível arrependimento sobre seus atos. Seria fingimento, pura atuação, como nos outros momentos? Onde se encontra a verdade, onde se interrompe a representação? Até que ponto o diretor controla seus entrevistados, ou é controlado por eles? Mais do que um documentário sobre política e cinema, ¨O Ato de Matar¨ é uma fascinante investigação sobre a política do cinema.

Nomeado ao Oscar de Melhor Documentário.

(The Act of Killing - 2012)

Neve Sobre os Cedros (1999)


Mais que um mero suspense e um bonito romance, o filme “Neve sobre os cedros” aborda a questão racial. O foco é o preconceito norte-americano em relação à comunidade nipônica, que estourou no país na II Guerra Mundial e permaneceu durante muito tempo na sociedade norte-americana.

A história do jornalista Ishmael Chambers parece não querer desvencilhar-se da sua antiga paixão pela descendente de japonês Hatsue. O romance escondido, que começou com os dois ainda criança, teve que ser interrompido com a II Guerra Mundial quando Hatsue (Youki Kudoh) e sua família foram mandados para um campo de concentração para nipoamericanos. A japonesa volta à vida de Ishmael quando seu marido é acusado por um crime. A vítima foi o pescador Carl Henie, que teve seu corpo encontrado no mar enrolado na própria rede de pesca. O xerife da cidade dá início às investigações e os poucos indícios encontrados levam a acreditar que o assassino foi o marido de Hatsue, Kazuo Miyamoto (Rick Yune), levado então a julgamento.

O repórter Ishmael Chambers resolve investigar o que realmente aconteceu na noite do crime. Ele herdou de seu pai, também jornalista, não só o jornal Island Review como a apuração correta dos fatos, o senso de justiça e a imparcialidade. Mas não é apenas o aspecto profissional que interessa ao jornalista, já que a mulher do acusado é Hatsue.

A narrativa do filme se dá no julgamento. Durante o depoimento das testemunhas, cenas do passado são mostradas no vídeo. São nesses flashbacks que o romance entre Ishmael e Hatsue vai se desenvolvendo. O namoro dos dois chega ao fim, quando a japonesa é mandada junto com sua família e demais japoneses da cidade para o campo de concentração. A separação implica não só no fim da relação entre a jovem e o jornalista, como no casamento dela com Miyamoto e no alistamento de Chambers para lutar na Guerra, o que acaba gerando nele certa mágoa por Hatsue.

O preconceito racial em relação à comunidade japonesa é demonstrado de diversas formas no filme. O tratamento dado aos japoneses como “japas”, a população que não aceita a relação entre um japonês e um “homem branco” e que se volta contra o jornal que mantém uma posição imparcial em relação aos japoneses durante a guerra. Além disso, nos depoimentos o preconceito também transparece, já que não se trata de julgar um homem, mas sim um nipônico.

É o caso do depoimento do médico legista, responsável pela autópsia. Ele afirma com absoluta certeza que o ferimento encontrado na cabeça do pescador foi causado por um objeto longo, chato e estreito. “Só pode ter sido o Kundo” ele conclui, se referindo a uma luta japonesa, na qual são usadas espadas, que possuem as mesmas características citadas por ele.

Contudo, as investigações do jornalista dão uma reviravolta no caso. As provas que ele encontrou inocentam Miyamoto. A ética profissional falou mais alto que seu lado pessoal, como sempre deveria ser. Mas nem sempre é assim que a profissão de jornalista aparece nos filmes.

Nomeado ao Oscar de Fotografia.

(Snow Falling on Cedars - 1999)

A Luz é Para Todos (1947)


Mesmo com o impacto social causado à época de seu lançamento – apenas dois anos após o término da II Guerra Mundial –, ¨A Luz é Para Todos¨ foi recebido com bastante entusiasmo pela comunidade cinematográfica e pelo público. O filme adicionou lenha à fogueira da discussão sobre o antissemitismo e sobre o preconceito em geral, abrindo as portas para uma série de longas que abordariam o mesmo assunto nos anos seguintes.

Gregory Peck – que havia sido advertido por seu agente para não aceitar o papel – vive um jornalista que se muda para Nova York e começa a trabalhar em uma artigo sobre antissemitismo para uma revista de circulação nacional. Sua abordagem deveria ser “diferenciada”, mas ele não encontra um caminho para fazer isso de modo que diga algo diferente de tudo o que já havia sido dito. É então que tem a ideia de assumir-se como judeu por 2 meses e então escrever o artigo sob um outro ponto de vista.

Diante dessa interessante premissa, baseada na obra de Laura Z. Hobso, o roteiro adota uma curiosa apresentação (que hoje pode nos parecer batida) para trabalhar o impacto do preconceito na vida de uma pessoa e como esse preconceito é exercido e disseminado, não apenas no caso dos judeus, mas este é o principal foco discutido na obra e o texto perpassa as várias interpretações e identidades que se podem assumir no caso de um segregador antissemita ou vítima que, acostumada às várias agressões, piadas, recusas e exclusões, acaba por adotar o palco do algoz como se fosse seu, utilizando sua própria condição como piada agressiva, algo que podemos não só aplicar ao “judeuzinho” mas também aos “inocentes” termos tão bem conhecidos por todos.

O curioso é que com o passar dos anos a proposta discutida em ¨A Luz é Para Todos¨ se tornou mais viva e necessária, porém, ganhou um outro contorno em sociedade. Hoje, ela passa pela acusação do politicamente correto, da ideia de que “não é preconceito, é apenas a minha opinião. Desde quando ter opinião é uma forma de preconceito?” e assim por diante. Parece-nos que a intolerância e necessidade de diminuir, massacrar e condenar um grupo de pessoas às chamas do inferno, ao ostracismo social, ao extermínio ou à periferia da lei é palavra de ordem para um outro grupo de pessoas, aqueles que se acham superiores por estarem na maioria ou simplesmente por acreditarem estar no caminho dos santos rumo à salvação – e agindo como se fosse perfeitamente caridoso pisotear e condenar os que não seguem o mesmo caminho.

O problema em ¨A Luz é Para Todos¨ é que essa discussão se perde nos meandros do exagero temático (posto no texto como medida de destacar uma situação mas que nos aprece descaradamente estranho) e na linha dupla do romance que se fixa em dado momento da fita, além da direção pouco dinâmica de Kazan, um trabalho um tanto inferior em relação ao seu excelente trabalho no leme de ¨Laços Humanos¨.

Algumas preferências e ambientações do diretor voltam a aparecer aqui, seguindo um pouco o modelo de contexto geográfico visto em seu filme de estreia e em O Justiceiro. A cidade é apresentada como palco para uma crônica qualquer, partindo-se de um campo macro e diminuindo o espaço até chegar ao lar, aos cômodos da casa onde os segredos familiares nos são compartilhados. Um outro ponto curioso e a presença de crianças no elenco desses seus três primeiros filmes, todas elas bem dirigidas e com um importante papel na história.

¨A Luz é Para Todos¨ aborda um tema árduo até para os dias de hoje, com todas as nuances vindas dos dois lados da moeda. O espectador adota o papel de juiz, júri e até vítima, incomodando-se aqui e ali no modo como o texto guia determinado ponto da história, mas encontrando elementos positivos na visão geral do problema. O filme consegue então vencer os pontos mais fracos de seu desenvolvimento e sobressair-se pela interessante soma de seu todo.

Vencedor de 3 Oscar: Melhor Filme, Atriz Coadjuvante (Celeste Holm) e Direção (Elia Kazan). Nomeado aos Oscar de Melhor Ator (Gregory Peck), Atriz (Dorothy McGuire), Atriz Coadjuvante (Anne Revere), Roteiro e Edição.

(Gentleman's Agreement - 1947)

domingo, 11 de setembro de 2016

Longe Deste Insensato Mundo (2015)


Baseado na obra homônima de Thomas Hardy, o longa-metragem acompanha a saga de Bethsheba Everdene. Ela é uma jovem além do seu tempo que se recusa a casar e, ainda por cima, decide gerenciar a fazenda que herda do tio, algo impensável na Inglaterra do século XIX. Como reza a cartilha de todo bom filme de época, o diretor oferece ao espectador um punhado de belas paisagens e uma trilha sonora grandiosa, de forma a amplificar o poder e a importância da história. Com uma narrativa bem conservadora e linear, típica do gênero, a aposta inicial é no trinômio amores reprimidos, afirmação da mulher em uma sociedade machista e a inversão entre ricos e pobres envolvendo os personagens principais. Funciona, até a metade. É quando Bethsheba enfim decide se casar que tudo desanda de vez.

Há em Longe Deste Insensato Mundo algumas situações risíveis, como o fato de que, nos dois pedidos de casamento recebidos, a oferta do anel de noivado ser vinculada à promessa de um piano novinho em folha. Bethsheba apenas ouve os sinos do matrimônio ao presenciar uma demonstração da habilidade do terceiro pretendente com a espada (sem duplo sentido). É a deixa para a transformação da até então mulher forte e decidida em uma garotinha deslumbrada, que se deixa levar pelos beijos e carícias para, agora, seguir as ordens do marido. Ele, completamente estereotipado, passa a cada vez mais torrar a fortuna da esposa em jogos e bebidas.

Repleto de problemas na narrativa, Longe Deste Insensato Mundo desperdiça o potencial de seu bom elenco. O único que consegue se sobressair (um pouco) é Matthias Schoenaerts, graças ao olhar sempre afável de seu apaixonado Gabriel. Carey Mulligan e Michael Sheen surgem burocráticos em cena, enquanto que Tom Sturridge está perdido em meio às inconsistências de seu personagem, o maridão Troy.

No fim das contas, o maior problema desta versão é o fato da história criada por Thomas Hardy ter sido decepada para que coubesse em um filme de menos de duas horas. Vale lembrar que o filme anterior baseado no livro, também chamado Longe Deste Insensato Mundo, tem 168 minutos de duração. Estes quase 50 minutos a mais fazem muita diferença na difícil tarefa de entregar ao público uma história convincente e consistente, algo que este novo trabalho de Thomas Vinterberg está longe de fazer.

(Far from the Madding Crowd - 2015)

Assassinos por Natureza (1994)


(Natural Born Killers - 1994)

Angry Birds: O Filme (2016)


Quando uma produtora finlandesa lançou Angry Birds em 2009, o aplicativo do viciante jogo virou uma febre. Quase todos os smartphones tinham os tais pássaros raivosos que, inexplicavelmente, não voam, mas são lançados por estilingue para abater seus inimigos, os porcos verdes, com o impacto e suas habilidades únicas. Ao ser anunciada a produção de um longa-metragem sobre o game, a possibilidade de sair algo interessante de uma plataforma com uma história tão mínima e exótica parecia remota. Contudo, Angry Birds: O Filme supera as baixas expectativas ao apostar na personalidade e não no poder de cada animal.

Como um típico filme de origem, o público é apresentado à ilha dos pássaros, uma comunidade que vive em alegre harmonia, onde Red (Jason Sudeikis) destoa. Após um incidente em um chocaversário – o texto está sempre trabalhando com trocadilhos –, o passarinho vermelho é condenado a fazer terapia em grupo para controlar sua raiva.

As sessões conduzidas pela quase zen Matilda (Maya Rudolph) são divididas com seus colegas esquentadinhos: o hiperativo e veloz Chuck; o amigável, mas às vezes estourado, Bomba; e o lacônico Terêncio.

A tranquilidade do local, porém, é alterada com a chegada de um navio, que traz Leonard e seu bando de porcos verdes. Aparentemente pacíficos, eles encantam os habitantes da ilha com suas parafernálias tecnológicas e apresentações country ao som de Blake Shelton. A exceção é Red, o único que vê segundas intenções na vinda dos forasteiros e busca ajuda do soberano mítico, mas desaparecido há anos, Mega Águia (Peter Dinklage).

(Angry Birds - 2016)

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Mr. Robot: Sociedade Hacker - Primeira Temporada (2015)


(Mr. Robot - The Complete First Season - 2015)

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Harry Potter e o Cálice de Fogo (2005)


Eu continuo lendo os livros desta saga e cada vez mais estou envolvido com esta história. Cada leitura concluída é uma corrida na TV para rever um filme, parece até que nunca havia assistido a nenhum deles, e o que eu posso dizer é que até o momento este quarto livro e filme, foram os que mais me agradaram!

Apesar de terem sido dirigidos por grandes diretores, os filmes anteriores não apresentaram a magia contida neste quarto filme que simplesmente me cativou!

Já estou lendo o quinto livro e mal posso esperar para rever o quinto filme!



Nomeado ao Oscar de Direção de Arte.

(Harry Potter and the Goblet of Fire - 2005)

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Peter Pan (2015)


Se depois da sessão de Peter Pan (2015), longa de Joe Wright que se debruça sobre as origens do menino que não queria crescer, personagem criado pelo dramaturgo e escritor britânico J. M. Barrie em 1902, as pessoas começarem a se questionar se a produção é realmente para crianças ou muito adulta, tenha uma certeza: por mais que se trate de uma superprodução planejada comercialmente para atingir toda a família, o filme é essencialmente infantil, sem que isso acarrete nenhum aspecto pejorativo.

Em sua superfície, não é tão sombrio quanto outras recentes prequels ou versões live-action de contos de fadas. O caráter lúdico dos efeitos especiais no amplo uso de CG vai ao encontro da narrativa vista a partir do olhar de uma criança; agora Peter, em vez da menina Wendy, como se está habituado pelo texto de Barrie. Além disso, no entanto, há uma série de questões espinhosas colocadas em maior ou menor grau na trama que, à primeira vista, seriam chamadas de adultas, mas que, na verdade, são problemáticas também comuns aos primeiros anos de vida. Abusos, tráfico de crianças, ditadura, sustentabilidade, genocídio e exploração infantil são conteúdos implícitos na obra, mostrando como a infância pode ser dolorosa para algumas pessoas.

Com a proposta de levar o público a entender como Peter Pan (primeiro grande papel do australiano Levi Miller, de 13 anos) e Capitão Gancho (Garrett Hedlund) se tornaram inimigos eternos, criando um passado em que eles eram verdadeiramente amigos, o roteiro de Jason Fuchs – A Era do Gelo 4 (2012) – realoca a história três décadas depois da criação do personagem. Ainda bebê, o garoto é deixado na porta de um orfanato em Londres por sua aflita mãe (Amanda Seyfried) e, mesmo com o passar dos anos, vivendo em plena Segunda Guerra Mundial em um abrigo onde é constantemente maltratado, ele espera reencontrá-la.

Contudo, a vida dele muda quando percebe que outros meninos do orfanato estão sumindo durante a noite. Isso porque a madre e diretora do local, a Mãe Barnabas (Kathy Burke), está vendendo as crianças para piratas, como ocorre com ele em uma madrugada, quando um navio voador sobrevoa o lugar e bucaneiros o raptam. Eles o levam para a Terra do Nunca, que está dominada por um déspota: o famoso e temido Barba Negra (Hugh Jackman), que transforma o local em uma espécie de grande Serra Pelada ao explorar diversos órfãos que trabalham no garimpo de Pixum, o conhecido pó de fada em forma mineral que o ditador busca para rejuvenescer.

Na mina, Peter conhece James Gancho (Hook, no original), um tipo aventureiro malandro que acaba se tornando, meio a contragosto, seu companheiro em sua jornada na Terra do Nunca, em que também se depara com os nativos, uma mistura das culturas indígenas, aborígenes e indiana, liderados pela caucasiana Princesa Tigrinha (Rooney Mara). Releitura multiétnica da tribo Pickaninny, escrita por Barrie com todos os estereótipos dos nativos norte-americanos com um termo que se referia tanto a crianças negras quanto aos aborígenes, sua líder, ao menos, ganha o destaque que não tem no original ou em adaptações passadas. Do livro, também constam os famosos crocodilos e as sereias (todas com o rosto da modelo e atriz Cara Delevingne), mas em aparição breve.

Após um início dickensiano, o longa traz a mitologia grega de Pan, deus da floresta, nas lendas e costumes nativos da Terra do Nunca e no pingente do garoto, com ecos messiânicos. Além das referências no orfanato cristão, uma representação do julgamento popular comandado por Pilatos na figura do Barba Negra e a própria origem mista do garoto metade humano, há o mito do Escolhido imbuído através da profecia local. A ideia da predestinação aparece aqui mais como muleta do roteiro, que achou no artifício o caminho mais fácil para o interesse e adesão de Peter na revolução e o apoio alheio, mas, de qualquer modo, se torna benéfica quando o próprio menino rejeita este título, reforçando a mensagem de autoconfiança que o filme passa às crianças.

Com uma filmografia calcada em adaptações literárias, é possível notar duas direções muito claras na carreira de Wright: o quanto a fidelidade ao texto original foi dando lugar às suas aspirações criativas e, igualmente, seu virtuosismo técnico foi ganhando mais espaço nas obras – os planos-sequências dos bailes de Orgulho e Preconceito (2005) foram a semente do magnífico take único de quase cinco minutos de Desejo e Reparação (2007), na praia de Dunquerque durante a Segunda Guerra, e frutificaram na encenação teatral de Anna Karenina (2012). Tratando-se, então, de uma prequel, Peter Pan dá vazão à expressão do cineasta inglês, que mostra uma mão irregular aqui.

Ele acerta, por exemplo, na criação das animações da árvore da memória e das águas para servir de ferramenta aos flashbacks, assim como no uso de clássicos do rock nos momentos de “pão e circo” do Barba Negra, com Smells Like Teen Spirit do Nirvana e Blitzkrieg Bop do Ramones cantados pela multidão de jovens, que dão ao garimpo da Terra do Nunca um ar misto de musical e do clima apocalíptico de Mad Max: Estrada da Fúria. Uma escolha ousada, mas justificada, dentro da lógica daquele universo, quando o pirata diz que estão ali órfãos de todos os lugares do mundo, de todas as épocas.

Outro motivo de elogio é o trabalho da fotografia de John Mathieson – Gladiador (2000) – e seu recorrente parceiro Seamus McGarvey, em conjunto com a direção de arte de Aline Bonetto – O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001) –, para criar uma paleta que vai dos tons extremamente escuros da Londres em guerra, passando pela variação marrom da mina, até chegar à explosão de cores da tribo nativa, que se torna literal na batalha do segundo ato, que mais parece o indiano Festival Holi.

Em contrapartida, a trama corre apressada mais próximo do final, assim como a ação da história se torna exagerada e há certa overdose aos sentidos, apesar da qualidade dos efeitos especiais. Wright aumenta a frequência de planos entrecortados no decorrer das cenas de luta, resultando em uma cacofonia que dificulta a percepção de alguns movimentos e identificação dos personagens, e prejudica até na profundidade do 3D, que é bem mais eficiente na ambientação pela dimensão durante o resto da produção.

Pesa também o fato de que, fora certa curiosidade em como criar um passado para esses personagens, o espectador não espera algo muito surpreendente, por pisar em terreno já conhecido, além da falta de diversão que acomete os personagens. Mesmo assim, a equipe consegue fazer um filme em nada tedioso, mesmo que não seja tão marcante. O novato Miller carrega bem a história, ainda que sem toda a altivez e rebeldia esperadas de Pan, enquanto Mara empresta certo encanto à sua princesa guerreira, mas falta-lhe material para aprofundar a personagem. Barba Negra e Gancho são cartunescos, mas o tom acima cabe mais ao vilão de Jackman do que ao aventureiro de Hedlund, que pende mais para um Indiana Jones caricato.

Contudo, a verdadeira vilã da trama é a Mãe Barnabás e a leitura de que a Terra do Nunca não passa de uma abstração de Peter confere à obra uma riqueza maior. Ao garoto órfão, disléxico, vítima de maus-tratos e humilhações, a fuga da realidade se mostra a única maneira de autodescoberta e aceitação. Assim, Wright não retorna ao seu filme anterior sobre a vida encenada, e sim a Desejo e Reparação, pois aos que não têm a chance de fazer isso no dia-a-dia, só lhes resta recorrer à imaginação para criar um novo eu.

(Pan - 2015)