sexta-feira, 12 de março de 2010
Casa de Areia e Névoa (2003)
O conceito do sonho americano surgiu no pós-Segunda Guerra Mundial, quando os EUA começaram a se firmar como grande potência mundial. Desde então, o sonho de uma vida melhor, nutrido não somente pelos cidadãos americanos, mas também pelos estrangeiros que se mudam para lá a fim de encontrar uma sobrevivência mais digna, tem sido tema de inúmeros filmes, como acontece no drama “A Casa de Areia e Névoa”, primeiro trabalho no cinema de Vadim Perelman.
Baseado em romance best seller homônimo de Andre Dubus III, esse russo, radicado desde pequeno no Canadá, fala sobre como duas pessoas, especificamente, perseguem o sonho americano. Primeiro temos Kathy (Jennifer Connelly), uma jovem que luta contra o vício das drogas. Recém-abandonada pelo marido, ela vive sozinha em uma casa que herdou do pai. Imersa na depressão e longe de sua família, ela é despejada de casa quando, erroneamente, a prefeitura lhe cobra um imposto que ela não devia. Sem rumo algum, Kathy se apega a poucas coisas para tentar se sentir menos perdida do que já está. Uma delas é o policial Lester (Ron Eldard). Ironicamente, foi ele que ajudou a expulsar a jovem de sua casa confiscada pela prefeitura. No entanto, ao perceber que ela realmente precisa de ajuda, seu instinto policial faz com que, primeiro, ele tente ajudá-la. Mais tarde, as coisas fogem do controle e ele se apaixona por ela.
Por outro lado, temos Massoud Amir Behrani (Ben Kingsley), um ex-coronel da Força Aérea Iraniana. Expulso de seu país, resolveu imigrar para os EUA em busca do mesmo padrão de vida que conseguia dar para sua família, a mulher Nadi (Shohreh Aghdashloo) e o filho Esmail (Jonathan Ahdout), o que Behrani não vem conseguindo. Dividindo seu tempo entre dois empregos ruins – um como pavimentador de estradas e, à noite, como caixa de uma loja de conveniências -, o ex-militar sente na pele como são escassas as oportunidades para se conseguir realizar o sonho americano. Ainda mais quando se trata de um imigrante. Quando ele tem nas mãos a oportunidade de comprar a casa de Kathy por um valor quatro vezes menor do que o mercado ofereceria, ele usa todas as suas economias. A casa é, finalmente, a concretização disso que ele foi buscar nos EUA.
Kathy quer sua casa de volta. Behrani recusa-se a entregá-la. É aí que começa o conflito entre esses dois personagens, que levam até as últimas conseqüências a perseguição de seus desejos, que são tão firmes e concretos como areia, ou névoa. Um personagem é a antítese do outro: ela está com sua alma completamente desestruturada, sem a família ou auto-estima suficiente para acordar de manhã; ele tem uma vida caminhando para o caos, mas não deixa de lutar para manter a cabeça erguida e a família unida.
“Casa de Areia e Névoa” é um filme forte, extremamente tocante. Seus personagens procuram seus sonhos de tal forma que se colocam em situações limites. Além disso, não se trata de uma história maniqueísta. Não há mocinhos nem bandidos, o que aproxima ainda mais o filme da vida real. Ben Kingsley e Jennifer Connelly apresentam performances realmente inspiradas. O desespero de seus personagens parece ter sido incorporado pelos atores até o último fio de cabelo e é também nos atores que a força do filme tem base. “Casa de Areia e Névoa” mostra o quanto pode ser difícil se perseguir um sonho. E não se trata somente do tal do sonho americano, mas sim de qualquer desejo que tenhamos. O filme mostra a crueza da vida de uma forma que é impossível sentir compaixão por seus personagens. O espectador acaba sentindo pena não somente de um lado da história, mas dos dois. Eles não querem prejudicar um ao outro, muito pelo contrário. Eles só estão correndo atrás de seus sonhos, como dizem que devemos fazer.
Indicado aos Oscar de Melhor Ator (Ben Kingsley), Atriz Coadjuvante (Shohreh Aghdashloo) e Trilha Sonora.
(House of Sand and Fog - 2003)
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