quarta-feira, 4 de agosto de 2010
Chico Xavier (2010)
Santo ou demônio? Médium ou falsário? Essas foram algumas dúvidas que o médium brasileiro Chico Xavier levantou ao longo de sua vida. O longa “Chico Xavier”, no entanto, não está muito preocupado com esse tipo de conflito. Dirigido por Daniel Filho (Se eu fosse você), a partir de um roteiro de Marcos Bernstein (Central do Brasil), baseado por sua vez na biografia As vidas de Chico Xavier, de Marcel Souto Maior, o filme faz um retrato chapa-branca de seu protagonista – que morreu em 2002.
O Chico Xavier do filme, interpretado pelo garoto estreante Matheus Costa, Ângelo Antonio (2 Filhos de Francisco) e Nelson Xavier (Narradores de Javé) nas diversas fases de sua vida, é um personagem sem muitos dilemas interiores – há umas poucas vaidades, mas conflito mesmo, daqueles de consumir, não existe. Desde pequeno, ele parece aceitar tranquilamente seu dom e sua missão.
Morando com a madrinha (Giulia Gam, de A Guerra dos Rocha), o pequeno Chico é visto com um ser estranho por ela, que tem medo e fascinação na mesma medida pela mediunidade do menino. A única a o compreender é a mãe morta (Letícia Sabatella, de Não por acaso), com quem ele trava longos diálogos.
Mais tarde, morando novamente com o pai (Luis Melo, Encarnação do Demônio), ele ganha outra cúmplice – a madrasta (Giovana Antonelli, de Budapeste). Com alguns saltos de roteiro, Chico chega à vida adulta, quando sua mediunidade se manifesta com mais força e ele começa a estudar a doutrina espírita. Ainda morando em sua cidade natal, Pedro Leopoldo (MG), recebe pessoas que pedem sua ajuda para se comunicar com parentes e amigos que já morreram. Nessa mesma época, Chico começa a receber as visitas de uma entidade que recebe o nome de Emmanuel (André Dias), que o acompanhará ao longo de sua vida.
A narrativa ficcional sobre o médium em “Chico Xavier” é entrecortada por trechos de uma participação verídica no programa de entrevistas Pinga-Fogo, na TV Tupi, na década de 1970. Nele, uma espécie de Roda Viva de sua época, Chico é sabatinado pelas mais diversas pessoas, que colocam em xeque seus poderes e crenças. Essa entrevista, que interliga os episódios da vida do médium no filme, também serve como pretexto para amarrar outra linha narrativa do longa. Trata-se da história do casal Orlando (Tony Ramos, de Tempos de Paz) e Gloria (Christiane Torloni, de Onde andará Dulce Veiga?), cujo filho morreu há pouco em um acidente.
Ela está desesperada, enquanto o marido, que é o diretor do Pinga-Fogo, é cético. Essa parte do roteiro não se baseia numa história específica – embora sua conclusão venha de um fato real, envolvendo uma carta psicografada pelo médium. O casal, claramente, serve como identificação do público na tela. E, para não deixar ninguém de fora, um deles acredita em Chico Xavier e suas cartas, e o outro é o cético que zomba disso.
Enquanto personagem, Chico Xavier carece de conflitos e nuances. Ele aceita a sua missão muito facilmente, dizendo: “Eu sou como um carteiro, recebo cartas, e aí entrego”. Seu único porém é um pouco de vaidade – que causa alguns desentendimentos com Emmanuel, mas nada muito sério. Quando se muda para Uberaba, onde abre seu centro, Chico já é bastante conhecido e recebe visitas de pessoas de vários cantos do país em busca de comunicação com mortos.
Daniel Filho dirige com o profissionalismo que lhe é habitual, mas sem qualquer ambição mais cinematográfica. É um filme feito para as massas, que devem se emocionar em cada momento calculado para fazer chorar – especialmente as cenas que mostram a comunicação entre pais e filhos, em que um dos envolvidos já morreu.
Por outro lado, como bem mostram as imagens finais do longa, tiradas do programa Pinga-Fogo real, Chico Xavier era uma figura bem maior do que aquela mostrada pelo filme. Sem dúvida, não seria fácil captar num longa de ficção uma figura tão complexa como o médium.
(Chico Xavier - 2010)
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