quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A Origem (2010)


Christopher Nolan teria passado dez anos escrevendo o roteiro de A Origem – o estranho título brasileiro para seu novo trabalho, Inception. Ao assistir a esta audaciosa ficção científica, é possível entender porque ele levou todo esse tempo.

A matéria-prima da história são os sonhos, não em si mesmos, mas como território para uma nova modalidade de crime – o roubo de ideias de pessoas enquanto estão dormindo, quando ladrões invadem seus sonhos. O maior especialista nesta audaciosa espionagem industrial do subconsciente é Dom Cobb (Leonardo Di Caprio), que trabalha armado de um arsenal que inclui drogas poderosas, equipamentos de última geração e um time de auxiliares de primeira. Entre eles, o primeiro-assistente, Arthur (Joseph Gordon-Levitt), o designer de ambientes Nash (Lukas Haas), o químico Yusuf (Dileep Rao) e o faz-tudo Eames (Tom Hardy).

Até agora, o trabalho básico de Dom foi extrair ideias, ganhando muito com isso no competitivo mundo corporativo. Até que aparece Saito (Ken Watanabe), um bilionário que o procura para fazer justamente o contrário: implantar uma ideia na cabeça de outro ricaço seu concorrente, Robert Fischer (Cillian Murphy), levando-o a dividir o império que está para herdar do pai moribundo (Pete Postlethwaite).

A missão é arriscada, mas não impossível. E Dom tem uma razão especialíssima para aceitar – Saito lhe oferece a possibilidade de eliminar o problema que o está impedindo de voltar aos EUA, para junto de seus filhos. Uma situação que tem a ver com o inquietante fantasma (ou é apenas memória?) de sua mulher, Mal (Marion Cotillard), que atormenta todos os sonhos de Dom. Aliás, por conta de seu trabalho, ele só consegue sonhar com auxílio de seus aditivos químicos.

Na primeira metade do filme, Nolan empenha-se em definir os limites deste fascinante mundo imaginário, que funciona movido por leis próprias. Não é fácil seguir a narrativa, especialmente depois que se instalam os sonhos dentro dos sonhos necessários à missão na mente de Fischer. Atuando como uma espécie de guia do espectador, que fará algumas das perguntas que este poderia fazer, entra em cena Ariadne (Ellen Page, de Juno), a nova arquiteta que substitui Nash na idealização dos cenários dos sonhos – ferramenta essencial para produzir ilusões que ajudem a enganar o sonhador que teve sua mente invadida. De Ariadne, como o nome sugere (lembrando a lenda grega de Teseu e do Minotauro), Dom espera que crie um labirinto muito especial, do qual só sua equipe consiga sair.

A Origem tem muita ação, perseguições, lutas, tiros, mas com direito a muitas situações surreais – a cidade de Paris dobrando-se sobre si mesma, como se fosse de papelão, voos de carros e pessoas, desabamento de prédios em série, engolidos por água, e muito mais. A turma de efeitos especiais trabalhou bem, mas os dublês foram mais requisitados ainda, porque Nolan procura uma espécie de realismo dentro do sonho que lhe dê uma certa verossimilhança.

Ainda assim, dentro dos sonhos, vale tudo – os colegas de Dom assumem disfarces e é possível escapar deles ‘morrendo’. Mas também há o risco de cair num limbo e não voltar mais. Pode-se dizer que a imaginação de Nolan foi longe e que criou um novo território na mitologia do cinema. Certamente, ele não inventou tudo isto do nada – deve algo a Matrix, dos irmãos Wachowski, e, de certo modo, a Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, de Michel Gondry, e também a si mesmo, como autor do roteiro de seu próprio filme, Amnésia (2000, inspirado num conto escrito por seu irmão, Jonathan Nolan). Tudo isto é natural: ninguém vai esperar que, com o cinema atingindo 115 anos de idade, uma ideia surja pura de qualquer influência. O que não tira o mérito de Nolan de ter desenvolvido um universo movido por suas próprias leis e que poderá gerar novas sequências. O sucesso deste primeiro filme parece indicar neste caminho.

Indicado ao Oscar de Melhor Filme, Direção de Arte, Fotografia, Trilha Sonora, Som, Edição de Som, Efeitos Visuais e Roteiro Original. Ganhador de 4 estatuetas: Fotografia, Edição de Som, Mixagem de Som e Efeitos Visuais.

(Inception - 2010)

Nenhum comentário:

Postar um comentário