segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Ghost World - Aprendendo a Viver (2001)

Depois de terminarem o segundo grau, as adolescentes Enid (Thora Birch) e Rebecca (Scarlett Johansson) debruçam-se sobre o que vão fazer da vida, considerando arranjar empregos e alugar um apartamento, mas a realidade da vida adulta parece querer afastá-las. “Ghost World – Aprendendo a Viver” é a adaptação do “comic book” underground de Daniel Clowes. Já o filme mostra um olhar incomum sobre os nerds e os perdedores que, apesar do seu potencial, acabam por serem sempre ignorados ou desprezados e, por isso, são quase invisíveis, como fantasmas. Com uma vida social praticamente nula, tornam-se gradualmente incapazes de estabelecer laços e relações com as pessoas "normais" que as rodeiam, passando a habitar áridas esferas de solidão.

A visão do mundo que nos apresenta, tem lá os seus momentos de humor, mas é extremamente irônica, pessimista e consistentemente sombria. Entre trabalhar, entrar na universidade ou tentar arrumar um namorado, Enid opta por… nenhum dos três! Aliás, não só ela, mas também Rebecca. O cotidiano das duas se resume a fazer planos para sair das casas dos respectivos pais e soltar, uma atrás da outra, tiradas e trotes ácidos sobre quem estiver por perto, conhecido ou não. Enid é uma pessoa solitária e irascível demais para manter relacionamentos de qualquer natureza.

O comportamento de Enid, ao longo do tempo, transforma a garota em alguém que o pai (Bob Balaban) e os amigos não compreendem. Ela não é preguiçosa e nem tem medo de trabalhar, como Rebecca imagina. Tampouco é chata, como a maioria das pessoas que convivem com ela pensa, apesar do senso de humor volátil. Lésbica, como alguns acreditam? De jeito nenhum. Enid é apaixonada por Josh (Brad Renfro), rapaz que trabalha numa loja de conveniência, mas sua maneira de demonstrar amor é passar pelo posto onde ele trabalha, todo dia, e deixá-lo enfezado com brincadeiras irritantes. Seu jeito bruto, birrento e desleixado engana todo mundo. Ninguém a entende.

Com a exceção de Rebecca, a única alma no mundo com quem Enid simpatiza é Seymour (Steve Buscemi), um colecionador de discos raros de blues que passa os dias num emprego burocrático e gasta as horas livres imaginando o que fazer para conquistar uma mulher, qualquer mulher. Como ela, Seymour é um paria que sofre de completa inadaptação social, com o agravante de que é menos inteligente, e portanto possui menos facilidade para lidar com o problema – e é exatamente essa característica dele que mais atrai a garota. Em um filme normal de Hollywood, dois personagens assim estariam fadados a se apaixonar, apesar da diferença de idade. Não em “Ghost World”, cujo enredo segue por um caminho impossível de antecipar.

Usando de humor adulto, o diretor aborda a dura realidade das pessoas com dificuldade de adaptação social, de uma maneira que jamais soa arrogante, professoral ou amarga. Sim, há um clima evidente de melancolia que perpassa todo o longa-metragem, mas esse é exatamente o estado de espírito de Enid – alguém que sabe rir dos percalços que enfrenta, mesmo quando algo inesperado piora um instante que parecia não poder piorar. Como se não fosse suficiente, o diretor criou ainda um dos figurantes mais interessantes dos últimos tempos, na figura do velhinho que espera diariamente um ônibus vermelho cuja linha foi alterada – o que significa que o ônibus jamais passa. E o final do filme é imprevisível, alegórico e maravilhoso.

Indicado ao Oscar de Roteiro Adaptado.

(Ghost World - 2001)

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