quinta-feira, 8 de setembro de 2011
Se Meu Apartamento Falasse (1960)
Billy Wilder costumava coçar a sociedade americana justamente onde ela sentia mais cócegas. Inspirado por "Desencanto" (1945), de David Lean, precisou esperar 10 anos para que a censura relaxasse antes de poder contar a história do "terceiro" homem, o sujeito que empresta o apartamento para o casal adúltero. Surpreendentemente, apesar do tema delicado, "Se Meu Apartamento Falasse" ganhou nada menos que cinco prêmios da Academia e agora é considerado por muitos como o último filme verdadeiramente "realista" do diretor.
Alguns criticaram a amoralidade do personagem de Jack Lemmon, C. C. Baxter, que ganha promoções rapidamente apenas por ajudar alguns dos executivos da grande empresa de seguros onde trabalha a enganarem suas mulheres. Mas Lemmon, que costumava interpretar o homem comum em obras de Wilder, dá ao papel um sólido toque de humanidade e Baxter acaba parecendo nada além de um funcionário escravizado contra a vontade, preso a uma situação que já existia no início do filme e que foge a seu controle. Apesar do humor, "Se Meu Apartamento Falasse" é, em realidade, uma severa crítica social, bem como um exame da vida na América contemporânea e seus comportamentos sexuais. É também um ataque vigoroso contra a corrupção básica do sistema capitalista, no qual quem tem um pouco de influência pode se dar bem em detrimento dos outros.
"Se Meu Apartamento Falasse" combina com habilidade vários gêneros, mas em resumo começa como uma comédia satírica, transforma-se em um poderoso drama e termina como comédia romântica. Construído meticulosamente, o desiludido roteiro de Wilder e I. A. L. Diamond pode ser considerado, de certa forma, uma continuação amargurada de "O Pecado Mora ao Lado" (1955) - uma continuação magnificamente filmada em um cinemascope preto-e-branco um tanto sombrio. Depois das férias de verão, quando os homens tiveram casos na ausência das mulheres, eles logo abandonam suas amantes,. Fran Kubelik (Shirley MacLaine) é uma dessas moças desafortunadas e acredita que romances não são um bem de consumo como outro qualquer. No final, o burocrata finalmente se redime por amor a outro coração solitário, embora o filme evite com sucesso qualquer toque açucarado. Apesar de Wilder aparentemente não considerar a combinação de Lemmon e MacLaine muito eficiente, os espectadores têm todo o direito de manter uma opinião bem diferente.
Vencedor de 5 Oscar: Melhor Filme, Direção de Arte, Direção (Billy Wilder), Edição e Roteiro Original. Indicado nas categorias: Melhor Ator (Jack Lemmon), Ator Coadjuvante (Jack Kruschen), Melhor Atriz (Shirley MacLaine), Fotografia e Som.
(The Apartment - 1960)
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