sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Meu Pé Esquerdo (1989)


Apesar do forte potencial para depressão sentimentalista, “Meu Pé Esquerdo” acabou sendo uma celebração surpreendentemente divertida, natural e enriquecedora sobre o irlandês Christy Brown, que nasceu aprisionado em um corpo tornado inválido por paralisia cerebral mas acabou atingindo reconhecimento e respeito como artista e escritor. O conceito de um homem deficiente com a história ficcional de “Rain Man”, mas “Meu Pé Esquerdo” é tão bom quanto ele em todos os aspectos, a começar pelo desempenho do ator principal. Daniel Day-Lewis está arrebatador em um papel tão distante quanto possível de seu esteta afetado em “Uma Janela Para o Amor” ou do gay oportunista de “Minha Adorável Lavanderia”. Brenda está radiante como a mãe devotada e preocupada de Christy. Ray McAnally, que infelizmente morreu antes que o filme fosse lançado, fez seu último papel como o pai imprevisível e alcoólatra do rapaz. E o jovem Hugh O’Conor, fazendo o papel do jovem Christy, transmite a cruel frustração de uma criança brilhante, que todos pensam ser burra, tentando comunicar-se com sua família.

O diretor estreante Jim Sheridan e Shane Connaughton, co-roteirista, não se esquivam da tragédia e da raiva na vida de Christy, um espírito sagaz confinado à cadeira de rodas e submetido a humilhações diárias. A impressão geral desse homem, contudo, nos deixa um admirável sentido do milagre da vida e da formidável energia de Christy. Isso é ressaltado pela qualidade mágica infundida nos menores incidentes, como o fascínio demonstrado pelo personagem, ainda criança, quando é levado pelos irmãos e irmãs ás brincadeiras de Halloween pelas ruas.

O famoso pé esquerdo, a única parte do corpo que ele podia controlar, é central em diversas piadas, bem como em episódios dramátidos: Christy salva a vida de sua mãe, faz gols, pinta, derruba um adversário em uma briga de bar, tenta o suicídio, assenta tijolos e digita sua autobiografia, tudo isso com o pé esquerdo. Day-Lewis acabou sendo vencedor de um Oscar que não lhe poderia ser negado.tendo dominado as dificuldades físicas de lidar com um corpo tão tortuoso e com a fala defeituosa, ele nos dá o retrato de um homem cuja perspicácia lhe traz pouco alívio, mas cujo humor, desejo sexual e total teimosia iluminam aquilo que poderia ter sido apenas angustiante.

Vencedor do Oscar de Melhor Ator (Daniel Day-Lewis) e Atriz Coadjuvante (Brenda Fricker). Indicado ao Oscar nas categorias: Melhor Filme, Diretor (Jim Sheridan) e Roteiro Adaptado.

(My Left Foot: The Story of Christy Brown - 1989)

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