quinta-feira, 5 de janeiro de 2012
Tropa de Elite 2 - O Inimigo Agora é Outro (2010)
A controvérsia do segundo filme segue de carona naquela causada pelo primeiro que, em 2008, levou o Urso de Ouro em Berlim - questionando o papel do governo, da miséria e do tráfico na violência no Rio de Janeiro e no Brasil. Não por acaso, numa das cenas em que os personagens vão ao cinema, todos os filmes em cartaz são de Costa-Gavras, presidente daquele júri de Berlim que consagrou Padilha.
O filme abre com um letreiro alertando o espectador que, “apesar das possíveis coincidências com a realidade, esta é uma obra de ficção”. Um toque de cinismo que parece dissolver-se ao longo das duas horas de boa e velha ultraviolência – que em momentos catárticos, com jorros de sangue e profusão de cadáveres, parece materializar um desejo latente de parte da plateia.
Nascimento (Wagner Moura) já não usa mais a farda preta do BOPE. Sua roupa de trabalho em “Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro” passa a ser o terno e a gravata, quando é promovido ao posto de sub-secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, numa manobra do governo populista.
Como no filme original, uma narração em off reitera e explica tudo aquilo que é visto, num didatismo maçante, como se o diretor José Padilha não acreditasse apenas nas imagens e precisasse verbalizar a ação para que tudo fique bem claro. Especialmente nas primeiras cenas, quando introduz o ativista Diogo Fraga (Irandhir Santos), apresentado como um intelectual de esquerda, adorado pelos consumidores de maconha.
A grande ironia é que a ex-mulher de Nascimento, vivida por Maria Ribeiro, é casada com Fraga – uma pessoa diametralmente oposta a Nascimento, que foi promovido a coronel. Mathias (André Ramiro), preparado por Nascimento para substituí-lo, traz a ideologia do BOPE nas veias. Ele ignora a hierarquia, o que acaba causando um massacre em Bangu, dando início à trama do filme.
As trajetórias de Nascimento e Fraga caminham para um encontro. Poderia ser a humanização do primeiro e o endurecimento do segundo. No entanto, o ativista, que logo é eleito deputado, sempre é tratado como um fraco diante das atitudes extremadas do coronel que, às vezes, lembra Rambo.
Nascimento tenta não se curvar ao jogo político do governador e dos deputados que o usam como marionete. Mas seus métodos, eficientes apesar de questionáveis, lhe dão notoriedade e legitimidade. “Se o eleitor estava dizendo que eu era heroi, não ia ser o governador que ia dizer o contrário”, diz. Entram em cena, também, milícias criadas e sustentadas por policiais corruptos, que operam um esquema de segurança informal, tomando o lugar dos traficantes à custa de muito medo.
Tudo isso é usado numa eleição, envolvendo governador e deputados. Parece sintomático, embora o diretor alegue que seja apenas uma coincidência a chegada do filme aos cinemas depois da reeleição de alguns governadores e às vésperas do segundo turno.
Uma nota de desesperança permeia todo o filme e se concretiza no final, quando parece não haver solução para o país. “No Brasil, eleição é negócio e o voto é a mercadoria mais valiosa da favela”, diz o ex-membro do BOPE. Nascimento descobre isso a duras penas, ao perceber que algumas instituições em que acreditava são passíveis de corrupção. A ele não resta muita opção se quiser mudar o país. Qual o próximo passo do coronel Nascimento? Tentar a Presidência?
(Tropa de Elite 2 - O Inimigo Agora é Outro - 2010)
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