sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Tempos Modernos (1936)


“Tempos Modernos” foi o último filme em que Charles Chaplin fez o papel de Carlitos, personagem que ele criara em 1914 e que lhe trouxe fama e carinho universais. Nesse meio-tempo, o mundo havia mudado. Quando Carlitos nasceu, o século XIX ainda estava próximo. Em 1936, com o mundo ainda sob os efeitos da Depressão, ele confrontou as ansiedades que não diferem tanto daquelas do século XXI: pobreza, desemprego, greves e fura-greves, intolerância política, desigualdade econômica, a tirania das máquinas e os narcóticos.

Esses eram os problemas que passaram a preocupar de fato Charles Chaplin no decorrer de sua turnê mundial de 18 meses de duração em 1931-1932, período em que observou a automação. Em 1931, ele declarou numa entrevista a um jornal: “O desemprego é a principal questão... as máquinas devem beneficiar a humanidade, e não causar tragédias e tirar dela o trabalho.”

Explorando essas questões sob o foco da comédia, Chaplin transforma Carlitos em um dos milhões de peões de fábrica espalhados pelo mundo. Ele primeiro surge como um operário enlouquecido por seu trabalho monótono e desumano na esteira de uma linha de produção e sendo usado como cobaia de uma máquina para alimentar os trabalhadores enquanto eles exercem suas funções. Casualmente, Carlitos encontra um companheiro na sua batalha nesse novo mundo: uma jovem (Paulette Goddard) cujo pai foi morto em uma greve e que se une a Chaplin. Os dois não são rebeldes nem vítimas, escreveu Chaplin, mas “apenas duas almas vivas em um mundo de autômatos”.

Na época do lançamento de “Tempos Modernos”, os filmes falados já existiam havia quase uma década. Chaplin cogitou usar diálogos e chegou até a preparar um roteiro, mas reconheceu, no fim das contas, que Carlitos dependia da pantomima do cinema mudo. Em um momento, no entanto, sua voz é ouvida, quando, ao ser contratado como garçom cantante, ele improvisa uma canção em uma maravilhosa embromação de italiano.

Concebido em quatro “atos” – cada qual equivalente a uma de suas antigas comédias de dois rolos -, “Tempos Modernos” mostra Chaplin ainda em seu ápice, imbatível como criador de comédias visuais. O filme resiste, no mínimo, como um olhar sobre a sobrevivência humana nas circunstâncias industriais, econômicas e sociais do século XX – e, talvez, do século XXI.

(Modern Times - 1936)

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