quinta-feira, 8 de março de 2012

Drive (2011)


O protagonista de “Drive”, conhecido no filme apenas como Driver (motorista), é um homem de poucas palavras, que expressa no rosto neutro de seu intérprete (Ryan Gosling) sua incredulidade diante do mundo, das pessoas. Ele trabalha como dublê de filmes de ação nas cenas que envolvem carros e também como mecânico – e engorda o orçamento como piloto de fuga de assaltantes. Talvez seja o contrário, ele seja realmente piloto de fuga e ser dublê e mecânico, apenas bicos. Manter essa ambiguidade é um dos pontos fortes do enredo.

A ausência de nome para o personagem indica que é um filme sobre determinismo. O protagonista é o que e quem é por conta do trabalho que realiza e não o contrário.

Alguns diálogos dão conta de fatos importantes de seu passado, mas este não precisa ser explicitado. “Drive” é um filme sobre o presente, sobre o aqui e o agora do personagem e, exatamente por isso, não busca justificativas ou explicações para ele, o que injeta uma forte carga existencial no personagem. Sua solidão é idêntica à de alguns ícones do passado.

A ligação dele com sua vizinha, Irene (Carey Mulligan) e o pequeno filho dela são o sinal de que falta algo na vida de Driver. Uma família? Talvez nem tanto, seria mais exatamente essa necessidade de se conectar com pessoas de verdade, não apenas aos ladrões que ele conduz na fuga, ou diretores e agentes de cinema com quem trabalha. O vazio de sua vida está em cima das quatro rodas de seu carro. Mas Irene espera o marido (Oscar Isaac), que está preso. Isso, claro, irá atrapalhar os planos e futuro do protagonista – mas não da forma mais óbvia que se poderia imaginar.

A personagem feminina, Irene, é o contraponto, é a delicadeza e o sopro de ar fresco que faltam à vida do protagonista. Há também uma femme fatale (Christina Hendricks), envolvida num assalto que dá errado e que deixa atrás de si um rastro de sangue.

As performances de Gosling e Carrey trazem à tona o que há de mais humano em seus personagens, que poderiam facilmente cair em estereótipos. Mas, pela percepção dos dois atores – que expõem as fragilidades de cada um –, vemos que Driver e Irene são pessoas desiludidas que encontram força uma na outra. A inocência dela é o que o move em sua jornada para protegê-la.

Indicado ao Oscar de Edição de Som.

(Drive - 2011)

Nenhum comentário:

Postar um comentário