domingo, 26 de agosto de 2012
Veludo Azul (1986)
"É um mundo estranho, não é?" O sombrio e perturbador filme de suspense quase onírico de David Lynch gerou controvérsias por conta da violência sexual vivida e da chocante encenação que Dennis Hopper faz de um psicopata sádico, mantendo como refém a família de uma cantora enquanto ela tolera ser brutalizada. A descrição que ele faz da crueldade e do horror que se esconde sob a superfície ascética da classe média dos Estados Unidos, em suas casas tranquilas com cercas pintadas de branco, não é exatamente sutil, mas implacavelmente absorvente, ousada e repleta de estilo. "Veludo Azul" combina um certo mistério distorcido com uma sátira irônica à cultura americana. O tom é, ao mesmo tempo, excêntrico, jovial e ligeiramente estilizado. A mesma mistura vitoriosa do bizarro e do familiar, do esperto e do inocente, fez das séries de Lynch para a TV (sobretudo Twin Peaks) um fenômeno cultural dos anos 90 e uma enorme influência para vários imitadores.
Kyle MacLachian e Laura Dern estão cativantes como Jeffrey Beaumont e Sandy Williams, os inocentes jovens enredados no grotesco relacionamento entre Hopper - que interpreta o desvairado sequestrador e assassino viciado no seu tanque de oxigênio Frank Booth (Hopper, cuspindo obscenidades, está muito perturbador, tendo gerado um dos psicopatas mais notáveis das telas) - e a maltratada Dorothy Valens, interpretada pela corajosa Isabella Rossellini. Dorothy é uma atormentada cantora de cabaré que fica à mercê de Booth, enquanto ele mantém seu marido e o filhinho cativos. Lumberton, onde o filme se passa, é radiante e sombria como qualquer outra cidade norte-americana, com seus gramados bem cuidados e canteiros de flores, um centro industrial e uma lanchonete sem graça. É na lanchonete que Jeffrey e Sandy se reúnem, formando uma dupla de detetives amadores à medida que o amor floresce. Mas tudo está fora dos eixos seja de forma leve ou infame, desde a descoberta de uma orelha humana num jardim pelo curioso universitário Jeffrey e suas aventuras perigosas e angustiantes como voyeur e investigador de crimes até sua chegada estupefata à estranha cena de morte.
A cena na qual Jeffrey, escondido no armário de Dorothy, testemunha Frank estuprar a vítima em um roupão de veludo azul é a principal causa de discussões em torno desse filme, mas também é um exemplo clássico e notável da audácia de Lynch. O uso inteligente de inocentes baladas pop (sobretudo a canção-título), entremeadas à trilha sonora de suspense de Angelo Badalamenti, aumenta a tensão. Apesar de aparecer em apenas uma cena (dublando "In Dreams", de Roy Orbison), o desempenho de Dean Stockewell como Ben, o aliado de Frank, quase se equipara à impressionante e sinistra anormalidade de Hopper.
Indicado ao Osca de Direção (David Lynch)
(Blue Velvet - 1986)
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Indicado ao Oscar
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