quarta-feira, 16 de outubro de 2013

O Pequeno Nicolau (2009)


O personagem Pequeno Nicolau está para a as crianças francesas como o Menino Maluquinho está para as brasileiras. Ou seja, foi, e ainda é, o companheiro de infância de muita gente. Por isso, é de se estranhar que tenha levado tanto tempo para chegar ao cinema – isso aconteceu porque a pessoa que detém os direitos do personagem não gostava de nenhuma das sugestões de adaptação. “O Pequeno Nicolau” é baseado nas histórias criadas no final dos anos de 1950, pelo escritor René Goscinny (um dos autores de Astérix) e ilustrado por Jean-Jacques Sempé.

Dirigido por Laurent Tirard (As aventuras de Molière) – que assina o roteiro com o comediante Alain Chabat e Grégoire Vigneron – , o filme não é bem uma adaptação de nenhum dos livros da série, mas uma história original. O que o longa mantém, além de todos os personagens, é o espírito e a personalidade do menino Nicolau e daqueles que o cercam, seus pais e amigos de escola. O fio condutor da narrativa aqui é a possível gravidez da mãe do protagonista, bem como as tramoias do menino e seus colegas para se livrar de seu irmão, que não nasceu ainda.

Na verdade, a suposta gravidez da mãe (Valérie Lemercier) é fruto dos delírios infantis de Nicolau, interpretado pelo estreante Maxime Godart. Ele é o reizinho de sua casa, fazendo e desfazendo as coisas como bem entende. Por isso, a única ameaça seria a chegada de um irmão para tirar o seu posto de filho único. Segue-se uma comédia de erros, amparada nos medos do menino diante de situações corriqueiras, como a sugestão de um piquenique – o que ele imagina que poderia ser uma desculpa para que os pais o abandonem na floresta.

O que Tirard e seus corroteiristas fizeram muito bem foi capturar a essência dos personagens de Goscinny e Sempé. “O Pequeno Nicolau” é um filme que capta a nostalgia de uma infância delicada e um tanto ingênua, mas muito divertida, com este Nicolau de imaginação fértil e amigos atrapalhados. O longa usa dessa inocência diante das atribulações do mundo como a força que o impulsiona.

Como nos livros, a visão simples – mas não simplista, nem simplória – que as crianças têm do mundo dos adultos expõe as complicações desnecessárias que pais e professores são capazes de criar para suas próprias vidas. O filme segue a mesma linha ao observar a realidade do ponto de vista de uma criança, com sua ingenuidade e sinceridade, que pode ser assustadora.

Visualmente, o filme de Tirard às vezes faz lembrar as obras do norte-americano Wes Anderson, com suas cores pasteis, cenários estilizados e figurinos que nunca mudam. Em cena, Nicolau veste seu indefectível colete vermelho, gravata azul e cabelo desgrenhado. Seus coleguinhas também assumem estereótipos físicos e de personalidade, como o gorducho comilão, o queridinho da professora que usa óculos e é fracote, ou o menino que vive com a cabeça nas nuvens.

O status de ícone pop na França garantiu a “O Pequeno Nicolau” o sucesso de bilheteria. Fora de seu país natal, no entanto, talvez o filme não tenha a mesma sorte – o que seria uma pena, pois o personagem e seus amigos merecem ser descobertos por crianças e adultos. Alguns, com uma lembrança nostálgica de sua infância, os outros, com a possibilidade de descobrir como era crescer sem computadores ou qualquer bugiganga eletrônica.

(Le Petit Nicolas - 2009)

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