sábado, 4 de janeiro de 2014

O Tesouro da Sierra Madre (1948)


Jornadas fracassadas, alimentadas pela ambição e frustradas pela ganância e desavenças internas, eram o enredo favorito do John Huston, pois agradavam a mistura de romantismo e cinismo que compunha sua própria personalidade. De "O Falcão Maltês" (1941) até "O Homem que Queria Ser Rei" (1975), ele realizou uma série de variações sobre o tema - porém "O Tesouro de Sierra Madre" o apresenta dentro de algo próximo da sua forma arquetípica. No México, três andarilhos americanos incompatíveis juntam forças para garimpar ouro, o encontram e - inevitavelmente -, no fim, retiram a derrota das garras da vitória e fracassam novamente. Huston, responsável por grandes adaptações da literatura para as telas, retirou essa história do misterioso e recluso escritor B. Traven e, como sempre, tratou o material original com respeito e carinho, preservando boa parte dos diálogos lacônicos e do sarcasmo do autor.

Apesar da oposição do estúdio - pois filmagens em locação, pelo menos para produções hollywoodianas classe A, eram raras naquela época -, Huston insistiu em filmar quase inteiramente em locações no México, próximo a um vilarejo isolado a mais de 200 quilômetros da capital. Sua intransigência rendeu bons frutos. A textura do filme transpira a aridez poeirenta da paisagem mexicana, de modo que, ao assisti-lo, você quase consegue sentir a areia entre os dentes; e os atores - exilados do ambiente confortável do estúdio e tendo que enfrentar as intempéries - são obrigados a oferecer interpretações tensas e irascíveis. Isso combinava com o tema de "O Tesouro de Sierra Madre": como as pessoas reagem sob pressão. Enquanto o velho garimpeiro (interpretado por Walter Huston, pai do diretor) e o jovem ingênuo (o ator de filmes de caubói Tim Holt) se agarram a seus princípios diante das adversidades e da tentação do ouro, o paranoico Fred C. Dobbs (Humphrey Bogard em um de seus papéis mais memoravelmente aflitivos) desmorona e sucumbe.

A determinação de Huston em filmar "O Tesouro de Sierra Madre" como queria também rendeu bons frutos ao estúdio. A princípio, Jack Warner detestou o filme, mas ele rendeu à Warner Brothers não só um sucesso de bilheteria como um desempenho triunfante no Oscar. Huston ganhou duas estatuetas - Melhor Direção e Melhor Roteiro -, enquanto seu pai conquistou o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante. Foi a primeira e - até o momento - única vez que uma equipe de pai e filho foi premiada na cerimônia.

Indicado ao Oscar de Melhor Filme. Vencedor de 3 estatuetas: Melhor Direção (John Huston), Ator Coadjuvante (Walter Huston) e Roteiro.

(The Treasure of the Sierra Madre 1948)

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