quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
A Última Ceia (2001)
Um naturalismo extremo, despojado até os ossos, orienta o clima deste drama, em que uma história de amor inusitada invade um campo antes propício apenas ao racismo e à morte. Não é, portanto, um detalhe acidental deste roteiro que se chame Grotowski - nome do mestre do teatro polonês defensor da interpretação descarnada e minimalista - a família que coloca em movimento a máquina de execuções de uma certa prisão na Louisiana, sul dos EUA.
São três gerações de Grotowski na carreira de agentes penitenciários que comandam o funcionamento da cadeira elétrica local. O patriarca, Buck (Peter Boyle), está aposentado, morrendo de enfisema, mas não cede um milímetro no seu racismo feroz - em que a mínima intrusão em seu quintal por meninos negros é tida como ofensa passível de ser recebida a bala. O filho, Hank (Billy Bob Thornton), segue sua cartilha e tenta endurecer seu próprio filho, Sonny (Heath Ledger), que já vestiu o uniforme, mas não parece talhado nem para perseguir negros nem para apertar botões de execução.
Neste sombrio ritual de passagem de um sinistro bastão profissional, a morte de mais um condenado (Sean Combs) parece mero detalhe - exceto pelo fato de que foi Sonny e não o preso quem vomitou na ante-sala da cadeira elétrica. O incidente deflagra uma crise entre pai e filho que levará a uma perda irremediável - que, ironicamente, Hank poderá compartilhar com a garçonete Leticia (Halle Berry), a viúva do preso executado.
Quando se encontram, nem Hank nem Leticia têm qualquer ideia das coincidências fatais que costuram seu passado. A descoberta, primeiro por um, depois pelo outro, será distribuída ao longo da história, alimentando um suspense que terá um bom efeito no final, carregado de silêncio e possibilidades.
O filme é todo construído na carne destes personagens sofridos, banhados numa luz suja, de modo a desglamourizar totalmente seus atores. O recurso permite-lhes entrar consistentemente em cenas de uma crueza exemplar - caso da surra de Leticia no filho obeso (o ótimo estreante Coronji Calhoun) e de uma ousada cena de sexo que recebeu cortes na versão exibida nos EUA.
Dirigido pelo alemão radicado na América, Marc Forster, o filme fornece um inesperado contraponto a “Entre Quatro Paredes”. Enquanto aquele drama insere o tema do direito à vingança, este abre um leque de oportunidades de conciliação, criado pura e simplesmente pela aproximação dos opostos na escala racial e social. Pela extrema rudeza de seus personagens, que se comunicam por poucas palavras, nunca esta redenção corre o risco de tornar-se excessiva nem bom-mocista - e aproxima os dilemas de Hank e Leticia de uma humanidade plausível.
Vencedor do Oscar de Melhor Atriz (Halle Barry) e Indicado ao Oscar de Roteiro Original.
(Monster's Ball - 2001)
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terça-feira, 28 de dezembro de 2010
Ed Wood (1994)
Ed Wood é um produtor e diretor de filmes trash e ficção científica, que usa da inventividade para fazer frente aos parcos recursos técnicos e orçamentários dos quais dispõe. A história passa-se na década de 1950, quando Ed se envolve com um grupo de atores desajustados, entre os quais estava Bela Lugosi, já em final de carreira.
Vencedor do Oscar de Ator Coadjuvante (Martin Landau) e Maquiagem.
(Ed Wood - 1994)
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segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
domingo, 26 de dezembro de 2010
The Rocky Horror Picture Show (1975)
O singular musical de teatro de Richard O’Brien, adaptado para o cinema em 1975, foi um fiasco ao ser lançado. No entanto, quando um cinema de Nova York começou a exibi-lo em sessões à meia-noite, rumores logo se espalharam sobre a bizarra paródia de ficção científica e horror. O filme se tornou cult e até hoje detém o recorde de maior tempo em cartaz, tendo sido exibido no mesmo cinema em Munique, na Alemanha, durante todas as semanas por mais de 27 anos.
Susan Sarandon e Barry Bostwick, muito jovens, estrelam como Janet e Brad, um casal inocente cujo carro enguiça em uma noite de tempestade, forçando-os a procurar abrigo em um castelo nas redondezas, sem saber que o mesmo pertence ao travesti de meia-calça e suspensórios Frank-N-Furter e seus amigos da Transilvânia, incluindo o sinistro Riff Raff e Magenta. Na mansão também moram o motociclista Eddie, uma criação malsucedida de Frank-N-Furter, e Rocky, seu substituto/melhoria de bronzeado perfeito.
Narrado pelo Dr. Everett Scott, embalado por glam rock, o filme é uma celebração da sexualidade: Frank-N-Furter e sua trupe tentam seduzir os virginais Brad e Janet ao som de músicas memoráveis como “touch-a touch-a touch me”, “sweet transvestite” e, é claro, “time warp”. A mistura de sexualidade descarada, tiradas irônicas, figurinos alucinantes e frases de duplo sentido é diferente de tudo o que já foi feito no cinema. É fácil entender por que as canções fáceis de decorar e os diálogos altamente citáveis se tornaram um sucesso tão grande entre os fãs, sendo que os mais entusiasmados se vestem como os personagens, encenam partes do filme – por exemplo, jogam arroz na cena do casamento. “The Rocky Horror Picture Show” pode não ser um filme para se assistir com toda a família, mas ainda assim é uma fantástica diversão kitsch.
(The Rocky Horror Picture Show - 1975)
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Atraídos Pelo Destino (1994)
Não há nada melhor do que uma boa comédia romântica para fazer com que nos sintamos de bem com a vida. É realmente gostoso acompanhar uma história leve, divertida, cheia de boas intenções. É agradável assistir “Atraídos pelo Destino”.
Charlie Lang (Cage) é um honesto policial de Nova York. Ele é casado com a ambiciosa Muriel (Perez), que anseia urgentemente por uma vida mais confortável. Certa manhã, Muriel diz ter sonhado com o falecido pai e manda o marido comprar um bilhete da loteria estadual. Depois de cumprir com sua `obrigação`, Charlie (e seu parceiro de ronda) para em uma lanchonete a fim de tomar café. Na hora de pagar, uma surpresa desagradável: ele não tem dinheiro para deixar uma gorjeta para a garçonete que o atendeu, a bela Yvonne Biasi (Fonda).
Para remediar a situação, Charlie faz um acordo com a moça: se ganhar na loteria, metade do prêmio fica para ela. Se não ganhar, ele volta no outro dia e deixa uma gorjeta de todo o jeito. Para sua surpresa, no entanto, ele ganha 4 milhões de dólares e se vê em uma encruzilhada: deve cumprir ou não com o trato que fez na véspera? Sua esposa Muriel, é claro, fica irritada quando descobre a promessa do marido e diz que ele não deve dar 2 milhões de dólares de gorjeta para uma total desconhecida.
Mas é claro que Charlie, sendo o herói, resolve honrar sua palavra: `Promessa é promessa.`, diz ele. A imprensa, quando descobre o que aconteceu, faz uma festa: todos os jornais passam a contar a história sobre o policial que deu 2 milhões de dólares de gorjeta. Charlie e Yvonne passam a se encontrar regularmente e, é claro, acabam se apaixonando. Porém, nem tudo são flores para o casal: Muriel resolve pedir o divórcio e, o que é pior, quer ficar com todo o dinheiro para ela - mesmo a parte da garçonete.
O trio principal está muito bem: Cage realmente convence como o policial íntegro e de bom coração que fica cansado das futilidades da esposa. Fonda, sempre uma gracinha, faz de sua Yvonne uma moça meiga, carente e despojada. Mas a grande atuação é de Rosie Perez, que faz uma vilã deliciosa. Sua fala rápida, seu sorriso forçado e sua ambição desmedida nos fazem realmente odiar aquela mulher. Chega a dar vontade de entrar no filme e dar uns bons cascudos na antipática Muriel.
(It Could Happen to You - 1994)
Arizona Nunca Mais (1987)
O segundo filme excepcionalmente criativo dos irmãos Coen deixa para trás o lado noir de "Gosto de Sangue". Temos, em vez disso, esta comédia exagerada (e com um enredo igualmente intricado), em estilo caricato, quase como um desenho animado. Nicholas Cage é um ladrão de lojas de conveniência, sempre entrando e saindo da prisão até se apaixonar e casar com a policial Holly Hunter. Seu casamento feliz um tanto improvável, com os dois morando em um trailer, é arrasado quando ela descobre que é estéril. Para fazê-la feliz, ele sequestra um dos quíntuplos de um magnata da indústria de móveis do lugar. Como se não fosse ruim o bastante que o pai dos bebês tenha contratado um motociclista infernal para trazer de volta a criança e se vingar dos sequestradores, o destino de Cage fica ainda pior. Sua mulher fica muito zangada quando ele recebe a visita de dois fugitivos, os ex-companheiros de cela John Goodman e William Forsythe, que têm planos próprios para o famoso bobê desaparecido.
As probabilidades farsescas de "Arizona Nunca Mais" desaparecem diante da absurda e superpoética narrativa em off que os Coen conceberam, com maestria, para seus azarados, e das variações de frases pretensiosas e não muito brilhantes usadas pelo herói. O filme é tão intenso e inteligentemente apaixonado por excessos cafonas como qualquer coisa que Preston Sturges pudesse imaginar. Na verdade, parte da pirotecnia da câmera pode distrair a atenção do diálogo vivo e delicioso, mas a aura geral de frenética histeria é sustentada com habilidade, em especial nas persuasivas atuações.
(Raising Arizona - 1987)
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Feitiço da Lua (1987)
Um tributo delicioso do diretor Norman Jewison à família ítalo-americana, "Feitiço da Lua" é estrelado por Cher, a cantora que virou atriz, como a viúva Loretta Castorini, que está para se casar com o seguro e confiável (leia-se chato e sem graça) Johnny Cammareri (Danny Aiello). Enquanto ele está longe cuidando de sua mãe moribunda, Loretta se encarrega de entrar em contato com Ronny (Nicholas Cage), o irmão com quem Johnny está brigado, e convidá-lo para o casamento, mas, quando eles se conhecem, apaixonam-se.
A história de amor no centro desta comédia romântica é divertida e espirituosa graças às excelentes atuações principais de Cage e, sobretudo, de Cher. Ela tem a oportunidade de ser uma Cinderela moderna, transformando-se de patinha feia em rainha glamourosa após uma ida ao cabelereiro. Mas o elenco de apoio acrescenta ainda mais graça à empreitada - especialmente Vincent Gardenia como Cosmo, o pai mulherengo de Loretta, e Olympia Dukakis como Rose, mãe dela - dando um charme especial às palavras do roteirista John Patrick Shanley. Uma pequena joia.
Vencedor do Oscar de Melhor Atriz (Cher), Atriz Coadjuvante (Olympia Dukakis) e Roteiro Original. Indicado a mais 3 Oscar: Ator Coadjuvante (Vincent Gardenia), Diretor (Norman Jewison) e Melhor Filme.
(Moonstruck - 1987)
Interiores (1978)
Quando Arthur (E.G. Marshall) decide abandonar sua esposa Eve (Geraldine Page), ele revira sua família de cabeça para baixo, agravando ainda mais os problemas de relacionamento que suas três filhas tinham entre si e o resto da família.
Indicado a 5 Oscar: Atriz (Geraldine Page), Atriz Coadjuvante (Maureen Stapleton), Direção (Woody Allen), Direção de Arte e Roteiro Original.
(Interiors - 1978)
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terça-feira, 21 de dezembro de 2010
Anjo de Vidro (2004)
Então é Natal... A aproximação de uma data que deveria despertar o melhor nas pessoas não raro dá origem a diversos filmes bem duvidosos. É o caso deste. Sob a capa de história sentimental, revela-se um roteiro mal-estrututurado, preguiçoso, de imaginação pobre, com personagens que fariam mais sentido na ante-sala de um psicanalista. Só piora as coisas a direção dura e sem nenhuma inspiração do ator Chazz Palminteri (que faz uma ponta como um sem-teto violento e maluco).
Rose (Susan Sarandon, talento desperdiçado como nunca) é uma editora de livros ultra-solitária. Divorciada e sem filhos, ela se divide entre o trabalho e o hospital, onde sua mãe vive totalmente ausente da realidade, por conta do mal de Alzheimer. No quarto ao lado, um outro paciente nunca recebe visitas, chamando a atenção de Rose. Um dia, ela acaba vendo um visitante, que vem a ser um ex-padre que perdeu a fé, Charlie (Robin Williams).
O que promete ser o casal feliz do filme, Nina (Penelope Cruz) e Mike (Paul Walker), passa o tempo todo discutindo o ciúme incontrolável do rapaz, que é policial - outro chavão. Falando neles, por que é que Hollywood insiste em assinalar a origem étnica de algumas pessoas, como a latinidade de Penelope Cruz? Não tem a menor importância para a história e ainda parece politicamente incorreto.
O segundo personagem mais bizarro do filme é Jules (Marcus Thomas), rapaz obcecado pelo único Natal feliz de sua vida: quando ele tinha 14 anos e o passou num pronto-socorro. Como alguém pode entrar na vida adulta com uma fixação destas? O pior é o que ele faz para tentar passar o próximo Natal num outro pronto-socorro... O campeão no quesito esquisitice, porém, é Artie (Alan Arkin) - um velho viúvo que cisma que o policial Mike é a reencarnação de sua mulher morta, o que dá ensejo a toda uma seqüência de piadinhas sobre homossexualismo totalmente insípidas. Não, não é mesmo fácil fazer um bom filme sobre o Natal.
(Noel - 2004)
Como Treinar Seu Dragão (2010)
Esqueça lagartos ou iguanas. Cães e gatos, então, não terão a menor chance. A moda agora será ter o seu próprio dragão de estimação – ao menos se você for uma criança viking. Esses seres mitológicos, gigantescos e perigosos ganham ares de criaturas fofinhas na animação “Como Treinar o Seu Dragão”.
Baseada numa série de livros de Cressida Cowell, a animação dirigida por Dean DeBlois e Chris Sanders (a mesma dupla de “Lilo & Stitch”) parece o primeiro longa de uma franquia que tem tudo para uma vida longa se agradar ao seu público-alvo: meninos ávidos por aventuras. Embora existam algumas personagens femininas, o universo aqui é dos vikings do sexo masculino, grandalhões, barbudos e com chifres pontiagudos em seus elmos.
Os vikings-mirins são educados para substituir seus pais na batalha contra os grandes dragões que assolam a Ilha de Berk, onde o grupo mora – um lugar antigo, mas com casas novas que são reconstruídas após sucessivos ataques. É impossível exterminar os animais, pois, para isso, seria necessário saber onde fica o seu ninho.
Soluço é o filho do chefe da tribo Stoico, O Imenso (Gerard Butler, de Gamer), mas não leva o menor jeito para ser um grande viking. Pequeno e desajeitado, o garoto não tem o porte físico para enfrentar dragões, como seu pai.
Como toda boa animação voltada para o público infanto-juvenil, “Como Treinar o Seu Dragão” mostra que as aparências enganam e que se Soluço olhar bem para dentro de si mesmo irá descobrir tudo de que é capaz. Se, por um lado, a história do longa não inova e é possível prever o final sem esforço, por outro, o visual e a forma como a narrativa se desenrola dão conta de espantar o tédio.
É bom saber que, embora para leigos dragões sejam todos iguais, existem vários tipos diferentes. Um deles é capaz de lançar água fervendo em seus inimigos, ao invés da tradicional chama. Outros, por sua vez, possuem duas cabeças, e cada uma com uma função diferente. O que o Manual dos Dragões não ensina, e Soluço irá descobrir sozinho, é que essas criaturas assustadoras podem ser dóceis, amigáveis e companheiras.
A jornada de Soluço começa quando ele captura um temido dragão do tipo Fúria da Noite. Como o garoto não tem coragem de matar o animal, laços de amizade nascem entre os dois – mas isso ainda é um segredo, que o menino guarda muito bem, pois sabe que a descoberta do dragão colocará em risco a vida do animal, a quem dá o nome de Banguela.
Aos poucos, Soluço descobre como domar um dragão sem feri-lo, ou muito menos matá-lo. Torna-se uma celebridade na aula de Treino com Dragões e, posteriormente, um ídolo em sua ilha. Quando seu pai volta de viagem, espanta-se com a novidade, mas só tem a comemorar.
A partir de então, o filme facilmente estabelece seus temas e aprofunda o perfil de seus personagens, como Astrid, uma menina corajosa, melhor aluna do Treino com Dragões, e os gêmeos Cabeçaquente e Cabeçadura.
Indicado ao Oscar de Trilha Sonora e Animação.
(How to Train Your Dragon - 2010)
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sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
Baby Love (2008)
A julgar pela comédia dramática “Baby Love”, a França é um país de paradoxos. Aborto é legalizado e acessível, mas um casal de homossexuais, mesmo que dentro de uma união estável e financeiramente bem não pode adotar uma criança. Como diz uma personagem, a Espanha, que é um país muito mais beato, já resolveu essa questão.
Escrito e dirigido por Vincent Garenq, o filme não pretende levantar nenhuma bandeira, mas fazer uma crônica em torno da causa - o que acaba sendo muito mais eficiente. A questão é que o pediatra Manu (Lambert Wilson, de Missão Babilônia) sente uma urgência em ser pai, mas seu companheiro Phillippe (Pascal Elbé) nem pensa no assunto. Para poder adotar uma criança, o médico terá de se passar por heterossexual durante a visita de uma assistente social que pode aprovar o seu processo.
Se por um lado isso incita a comédia, o gay se passando por hétero para enganar uma pessoa, “Baby Love” nunca descamba para uma baixaria ou a falta de respeito. O teatro armado por Manu é por uma boa causa, mas não dura muito. A verdade vem à tona e a assistente social recusa a aprovar o processo de adoção. Nesse meio tempo, o médico perdeu de vez seu namorado, que não concorda com a forma como as coisas aconteceram e continua não querendo adotar nenhuma criança.
A solução para os problemas pode ser a argentina Fina (Pilar López de Ayala), uma imigrante ilegal que precisa obter cidadania francesa, para estudar e trabalhar no país. Ou seja, Fina pode ser a mãe de aluguel do bebê de Manu, e ele, o marido de fachada de que ela precisa.
Mas o diretor e roteirista resolve colocar uma série de obstáculos na vida de seus personagens - não basta casar e engravidar, é um longo caminho até o nascimento da criança, cheio de meandros e reviravoltas.
“Baby Love” trata de um tema complexo e delicado de forma honesta sem cair na caricatura - o que poderia acontecer facilmente. O universo dos personagens do filme situa-se longe dos problemas sociais que afetam a França atualmente - em especial, as tensões entre nativos e imigrantes. Mas o paradoxo que expõe não deixa de fazer sentido, afinal, esse país tão avançado culturalmente elegeu um conservador como Sarkozy para presidente.
(Comme les autres - 2008)
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quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
Tudo o Que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo E Tinha Medo de Perguntar (1972)
Woody Allen ultrapassa as fronteiras da comédia consolidando sua sensibilidade tresloucada e sua irreverência maliciosa e divertida com a crescente predisposição para o humor visualmente cativante. Allen revela-se um cineasta "inteligente, sofisticado e com visão cômica".
Allen arrasa com diversas vinhetas hilárias que satirizam as questões mais complicadas da sexualidade! Os afrodisíacos mostram-se eficazes para um bobo da corte (Allen) que consegue a chave do coração da Rainha (Lynn Redgrave), mas que descobre que a chave do seu cinto de castidade poderia ser mais útil.
Atos não naturais tornam-se selvagens e felpudos quando um bom doutor (Gene Wilder) apaixona-se por uma caprichosa ovelha. Jack Barry trabalha com o fetichismo em 20 perguntas num show de TV maluco chamado "Qual Minha Perversão?" A pesquisa sobre a sexualidade é vista à luz do microscópio quando um cientista louco (John Carridine) libera um seio monstruoso e predador. E o absurdo atinge seu clímax com Tony Randall, Burt Reynolds e Allen como espermatozóides... refletindo sobre a ejaculação!
(Everything You Always Wanted to Know About Sex * But Were Afraid to Ask - 1972)
O Pássaro Azul (1940)
O filme “O Pássaro Azul”, dirigido por Walter Lang, é um clássico em Technicolor para crianças, mas que também emociona os pais. O típico filme da Sessão da Tarde que costuma reunir a família toda em frente à Tv. O longa-metragem, que foi baseado numa peça de Maurice Maeterlinck, escrita em 1908, ainda hoje consegue êxito ao contar a história da menina Myltyl Tyl (Shirley Temple) e sua busca pelo Pássaro Azul da Felicidade.
Embora “O Pássaro Azul” não tenha alcançado um sucesso financeiro na época do seu lançamento e tenha sido citado por muitos críticos da como uma cópia barata de “O Mágico de Oz”, acredito que esta obra foi meio injustiçada ao longo dos anos e poderia ser vista como muito mais do que uma resposta da Fox ao Leão da MGM. Walter Lang consegue conservar a ingenuidade e fantasia necessárias para agradar as crianças e a fotografia e os Efeitos Visuais são um prato cheio para os adultos que gostam do gênero.
O filme narra a história da família Tyl, cujo patriarca (Russell Hicks) é convocado para combater Napoleão e precisa deixar os filhos em casa sozinhos. A garota Mytyl e seu irmão Tytyl (Robin Macdougall) passam a viver algumas aventuras depois que acordam e se empenham em capturar o conhecido "pássaro azul da felicidade" para seguir as ordens da fada Berylune (Jessie Ralph). Assim, seguindo a Luz, os meninos são enviados, juntamente com o seu gato Tyllete e cachorro Tylo, transformados em humanos, em busca do pássaro azul através do passado, do presente e do futuro.
Durante a viagem por muitos reinos com fadas, magias e personagens enigmáticos, as crianças passam pelas mais inusitadas situações, e vão sofrendo transformações — relacionadas às mudanças da infância para a juventude — e transformam os lugares por onde passam, como a emocionante cena em que Mytyl se despede dos avós, já mortos, e que voltam a dormir num banquinho porque só acordavam quando alguém lembrasse deles. A menina ainda consegue ver a irmã caçula que está para nascer em outros dos mundos. Quando voltam para casa, encontram um lugar muito diferente do início da aventura.
A cena em que as árvores se reúnem para combater as crianças, atiçadas pela traiçoeira gatinha Tylette e a fuga das crianças da casa luxuosa dos XXXx dão ao Pássaro Azul um pouco de ação.
Indicado aos Oscar de Fotografia e Efeitos Especiais.
(The Blue Bird - 1940)
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O Dorminhoco (1973)
Homem é congelado em 1973 e acorda depois de 200 anos. O mundo, agora bastante diferente e dominado por um ditador, é o motivo para uma sucessão de piadas. A trilha sonora foi composta por Allen e interpretada pela Preservation Hall Jazz Band, New Orleans Funeral e Ragtime Band.
(Sleeper - 1973)
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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Cimarron (1960)
Baseado no romance de Edna Ferber, “Cimarron” retrata a vida de um casal tentando superar todas as dificuldades para sobreviver em Oklahoma, no período entre 1890 e 1915. São 25 anos de mudanças e lutas, transformando o território selvagem do Velho Oeste americano em um lugar respeitável. O filme é um remake da obra homônima do diretor Wesley Ruggles, gravada em 1931, a qual contou com Richard Dix (Yancey Cravat) e Irene Dunne (Sabra Cravat), nos papéis agora desempenhados por Glenn Ford e Maria Schell, respectivamente.
Indicado aos Oscar de Direção de Arte e Som.
(Cimarron - 1960)
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domingo, 5 de dezembro de 2010
Bananas (1971)
O Telecine Cult está exibindo todas às quartas-feiras dois filmes do diretor, ator e roteirista Woody Allen, e semana passada foram exibidos os filmes “Bananas” e “Tudo o Que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo E Tinha Medo de Perguntar” que, aliás, eu ainda não assisti. Achei “Bananas” um filminho legal, mas não muito. É engraçado, tenta ser político, mas é um tanto insosso (bananas são mais saborosas!).
Neste filme Woody Allen interpreta Fielding Mellish, um homem que trabalha testando novos instrumentos feitos por uma empresa bizarra e que não vive de modo intenso. Certo dia, quando está em sua casa, uma garota bate a sua porta, pedindo que ele assine um abaixo assinado para que o ditador de um país sul-americano, chamado San Marcos, seja deposto. Fielding logo se interessa pela garota, a convida para sair e a partir daí passam a namorar. No entanto, depois algum tempo, a garota decide romper o relacionamento, já que para ela algo faltava.
Para recuperar o amor da ex-namorada ele vai até San Marcos, se envolve com guerrilheiros e, após matarem o ditador, ele se torna presidente deste país, afinal era o único alfabetizado. Mas, como presidente, ele precisa de recursos para governar San Marcos, que tem como único produto de exportação bananas. A decisão tomada é visitar os Estados Unidos e pedir dinheiro para financiar os projetos de desenvolvimento do pequeno país fictício sul-americano.
(Bananas - 1971)
Como Era Verde Meu Vale (1941)
Embora John Ford seja obviamente mais famoso por seus faroestes, ele também tinha uma predileção por tudo que envolvesse a Irlanda. Não que esta adaptação do romance de Richard Llewellyn tenha sido transportada pelo Mar da Irlanda de sua ambientação nos vales mineradores do País de Gales; em vez disso, o filme é imbuído do mesmo tipo de nostalgia das necessidades excêntricas da vida em família no Velho Continente que caracterizava “Depois do Vendaval”, de 1952. O País de Gales de Ford, na verdade, é tanto um país imaginário quanto o era sua amada Irlanda (pelo menos na maneira como é representada na tela ou invocada em palavras) isso explica porque a vila mineradora belamente projetada por Richard Day, mesmo com o excruciante nível de detalhe aplicado à sua construção nos terrenos da Fox, parece mais uma representação onírica de um arquétipo daquela região do que um vilarejo de verdade.
Isso, no entanto, combina perfeitamente com o clima de nostalgia que alimenta “Como Era Verde o Meu Vale” do início ao fim. A história é narrada por um homem que reflete sobre sua infância já longínqua, na qual, como o caçula da família Morgan, ele observava o pai e seus quatro irmãos subirem a pé diariamente a colina a trabalho, a ameaça da pobreza, o frio e a fome – e das mortes trágicas como também do senso de comunidade caloroso e terno que imperava nas vidas tanto da família quanto da vila como um todo. Contudo, essa unidade feliz se perdeu para sempre quando cortes salariais acarretaram greves e conflitos entre os patriarcas amáveis, porém tradicionais, e os filhos ligeiramente mais militantes, o que resultou na partida dos filhos para a Terra Prometida da América – onde mais? –, em busca de trabalhos mais bem remunerados.
O filme todo é permeado por recordações agridoces: da morte do pai, da inocência infantil, do país de origem e de um pai rígido, porém justo. Ford, sem dúvida, idealiza o mundo que retrata, entretanto, é isso que o torna tão eficaz. Sim, o filme é feito para arrancar lágrimas, repleto de clichês (os mineradores nunca param de cantar) e os sotaques são uma estranha mistura de todas as partes do Reino Unido e da Irlanda – mas os sonhos não são sempre assim?
Indicado aos Oscar de Atriz Coadjuvante (Sara Allgood), Edição, Música, Som e Roteiro. Vencedor nas categorias de Melhor Filme, Direção de Arte, Fotografia, Direção (John Ford) e Ator Coadjuvante (Donald Crisp).
(How Green Was My Valley - 1941)
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
Were the World Mine (2008)
O filme é uma adaptação do clássico de Shakespeare: "A Midsummer Night’s Dream" (Sonhos de Uma Noite de Verão) em versão gay. Na história, um adolescente se apaixona pelo melhor jogador de rugby da escola. A chance para Thimoty (Tanner Cohen) conquistar o coração de Jonathon (Nathaniel David Becker) em uma cidade homofóbica revela-se na aula de teatro com a encenação de uma peça. O jovem escolhido para o papel de Puck descobre uma poção mágica que o leva à realização de seus sonhos noturnos. Depois da mágica, as pessoas da cidade passam a aceitar a relação dos dois e ser gay torna-se uma coisa comum no pequeno povoado como um conto de fadas gay.
(Were the World Mine - 2008)
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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
A Rede Social (2010)
Um nerd sem habilidades sociais, mas querendo se tornar descolado. Um par de gêmeos mauricinhos com dinheiro e ideias, mas não espertos o bastante para executá-las. Um brasileiro estudando em Harvard com mau gosto para roupas e movido pelo eterno impulso de satisfazer o pai. Bem-vindo à era das relações de mentirinha de “A Rede Social”, em que as emoções e expressões estão apenas a um toque de distância.
Dirigido por David Fincher (“O Curioso Caso de Benjamin Button”, “Clube da Luta”), a partir de um roteiro de Aaron Sorkin (“Jogos de Poder”), baseado no livro “Bilionários por Acaso”, de Ben Mezrich, o filme tem como mote o nascimento do Facebook, mas seria reducionista demais dizer que trata apenas dos bastidores da criação de um site. “A Rede Social” aspira, e consegue em boa parte do tempo, ser o retrato de uma geração que nasceu com o boom da internet e, ao chegar à idade adulta, descobre que a interação humana não é necessária para haver interatividade.
O filme começa com diálogos incessantes e pouco importa o que se depreende deles. O objetivo é entender que os jovens se interessam por informação – em alta quantidade, independente de sua qualidade ou profundidade. O mesmo se aplica aos relacionamentos, sejam amorosos ou simples amizades. Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg, de Zumbilândia) difama sua namorada Erica (Rooney Mara) na internet depois de levar um fora dela. Não bastasse isso, inventa um site onde garotas “competem” por votos para serem escolhidas as mais bonitas de Harvard.
O que começa com uma brincadeira torna-se alvo de um processo milionário, envolvendo a criação de um site de relacionamentos que mais tarde viria – e é até hoje – a ser conhecido como Facebook. Ele enfrenta os gêmeos Cameron e Tyler Winklevoss (Armie Hammer) e o brasileiro Eduardo Saverin (Andrew Garfield), sempre com a mesma pose parte blasé, parte nerd.
Zuckerberg é uma figura paradoxal. Com pouco trato para laços sociais, torna-se o criador do site de relacionamentos mais usado do mundo. Apesar de manter os nomes reais dos personagens, o filme de Fincher não se preocupa em ir, no que se refere à questão de biografia, além daquilo que já se conhece da repercussão da criação do site, dos processos e tudo o que os envolvem. O diretor cria “A Rede Social” como um thriller sobre disputas intelectuais e relacionamentos reduzidos a códigos de computação.
Logo de início, é Eduardo quem ganha a simpatia do público como um personagem frágil e sempre preocupado em não decepcionar seu pai. Mark, ao contrário, é sutilmente arrogante. Com olhar soturno, parece não deixar de analisar nenhum ângulo de qualquer situação – o que parece transformá-lo numa figura fria e calculista.
Só com a entrada de Sean Parker (Justin Timberlake), Mark vai se convencer da possibilidade de ganhar dinheiro com o site. Sean, um dos criadores do Napster, que revolucionou a forma como as pessoas distribuem música, ganha a confiança de Mark com seu modo divertido e bon vivant e se tornam parceiros.
Fincher sempre foi um diretor de apuro técnico o que, muitas vezes, esfria seus filmes ou deixa as emoções enterradas bem lá no fundo. Aqui essas características são bem pertinentes. Os jovens criadores do Facebook são herdeiros – ou porque não filhos? – daqueles yuppies depressivos de “Clube da Luta”. Se distribuir socos era uma forma de interação social no filme de 1999, aqui, uma conexão com a internet pode trazer efeitos ainda mais perigosos do que uma noite de troca mútua de sopapos.
“A Rede Social” é um daqueles filmes que chegam a ser assustadores pela capacidade de captar com tanta sagacidade o momento em que vivemos. Daqui a alguns anos, quando outras obras se debruçarem novamente sobre esse período, provavelmente o retratarão com senso mais crítico – mas sem o frescor de levar para a tela a vida do lado de fora do cinema naquele momento.
8 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Direção (David Fincher), Ator (Jesse Eisenberg), Fotografia, Edição, Trilha Sonora, Edição de Som e Roteiro Adaptado. Vencedor de 3 estatuetas: Edição, Trilha Sonora e Roteiro Adaptado.
(The Social Network - 2010)
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