sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
Baby Love (2008)
A julgar pela comédia dramática “Baby Love”, a França é um país de paradoxos. Aborto é legalizado e acessível, mas um casal de homossexuais, mesmo que dentro de uma união estável e financeiramente bem não pode adotar uma criança. Como diz uma personagem, a Espanha, que é um país muito mais beato, já resolveu essa questão.
Escrito e dirigido por Vincent Garenq, o filme não pretende levantar nenhuma bandeira, mas fazer uma crônica em torno da causa - o que acaba sendo muito mais eficiente. A questão é que o pediatra Manu (Lambert Wilson, de Missão Babilônia) sente uma urgência em ser pai, mas seu companheiro Phillippe (Pascal Elbé) nem pensa no assunto. Para poder adotar uma criança, o médico terá de se passar por heterossexual durante a visita de uma assistente social que pode aprovar o seu processo.
Se por um lado isso incita a comédia, o gay se passando por hétero para enganar uma pessoa, “Baby Love” nunca descamba para uma baixaria ou a falta de respeito. O teatro armado por Manu é por uma boa causa, mas não dura muito. A verdade vem à tona e a assistente social recusa a aprovar o processo de adoção. Nesse meio tempo, o médico perdeu de vez seu namorado, que não concorda com a forma como as coisas aconteceram e continua não querendo adotar nenhuma criança.
A solução para os problemas pode ser a argentina Fina (Pilar López de Ayala), uma imigrante ilegal que precisa obter cidadania francesa, para estudar e trabalhar no país. Ou seja, Fina pode ser a mãe de aluguel do bebê de Manu, e ele, o marido de fachada de que ela precisa.
Mas o diretor e roteirista resolve colocar uma série de obstáculos na vida de seus personagens - não basta casar e engravidar, é um longo caminho até o nascimento da criança, cheio de meandros e reviravoltas.
“Baby Love” trata de um tema complexo e delicado de forma honesta sem cair na caricatura - o que poderia acontecer facilmente. O universo dos personagens do filme situa-se longe dos problemas sociais que afetam a França atualmente - em especial, as tensões entre nativos e imigrantes. Mas o paradoxo que expõe não deixa de fazer sentido, afinal, esse país tão avançado culturalmente elegeu um conservador como Sarkozy para presidente.
(Comme les autres - 2008)
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