quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
A Última Ceia (2001)
Um naturalismo extremo, despojado até os ossos, orienta o clima deste drama, em que uma história de amor inusitada invade um campo antes propício apenas ao racismo e à morte. Não é, portanto, um detalhe acidental deste roteiro que se chame Grotowski - nome do mestre do teatro polonês defensor da interpretação descarnada e minimalista - a família que coloca em movimento a máquina de execuções de uma certa prisão na Louisiana, sul dos EUA.
São três gerações de Grotowski na carreira de agentes penitenciários que comandam o funcionamento da cadeira elétrica local. O patriarca, Buck (Peter Boyle), está aposentado, morrendo de enfisema, mas não cede um milímetro no seu racismo feroz - em que a mínima intrusão em seu quintal por meninos negros é tida como ofensa passível de ser recebida a bala. O filho, Hank (Billy Bob Thornton), segue sua cartilha e tenta endurecer seu próprio filho, Sonny (Heath Ledger), que já vestiu o uniforme, mas não parece talhado nem para perseguir negros nem para apertar botões de execução.
Neste sombrio ritual de passagem de um sinistro bastão profissional, a morte de mais um condenado (Sean Combs) parece mero detalhe - exceto pelo fato de que foi Sonny e não o preso quem vomitou na ante-sala da cadeira elétrica. O incidente deflagra uma crise entre pai e filho que levará a uma perda irremediável - que, ironicamente, Hank poderá compartilhar com a garçonete Leticia (Halle Berry), a viúva do preso executado.
Quando se encontram, nem Hank nem Leticia têm qualquer ideia das coincidências fatais que costuram seu passado. A descoberta, primeiro por um, depois pelo outro, será distribuída ao longo da história, alimentando um suspense que terá um bom efeito no final, carregado de silêncio e possibilidades.
O filme é todo construído na carne destes personagens sofridos, banhados numa luz suja, de modo a desglamourizar totalmente seus atores. O recurso permite-lhes entrar consistentemente em cenas de uma crueza exemplar - caso da surra de Leticia no filho obeso (o ótimo estreante Coronji Calhoun) e de uma ousada cena de sexo que recebeu cortes na versão exibida nos EUA.
Dirigido pelo alemão radicado na América, Marc Forster, o filme fornece um inesperado contraponto a “Entre Quatro Paredes”. Enquanto aquele drama insere o tema do direito à vingança, este abre um leque de oportunidades de conciliação, criado pura e simplesmente pela aproximação dos opostos na escala racial e social. Pela extrema rudeza de seus personagens, que se comunicam por poucas palavras, nunca esta redenção corre o risco de tornar-se excessiva nem bom-mocista - e aproxima os dilemas de Hank e Leticia de uma humanidade plausível.
Vencedor do Oscar de Melhor Atriz (Halle Barry) e Indicado ao Oscar de Roteiro Original.
(Monster's Ball - 2001)
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