segunda-feira, 25 de julho de 2011

As Confissões de Schmidt (2002)



É um tipo raro de comédia a produção americana “As Confissões de Schmidt”, do diretor independente Alexander Payne. Até porque não é uma comédia em sentido estrito. Mas a verdade é que, independente da discussão sobre o gênero do filme, os veteranos Jack Nicholson e Kathy Bates fazem um dueto em ótima forma, numa história que conta a guinada de 180 graus na vida de um viúvo, Warren Schmidt (Nicholson). Metódico até a medula, o sessentão acaba de se aposentar como agente de seguros. Passou toda a sua vida entre as quadro paredes de uma sala asséptica, da empresa Woodmen, repetindo funções monótonas, dia após dia, mas mantendo o papel de pai de família que todos esperam que ele seja. Mal tem tempo de fazer reflexões amargas sobre como detesta as manias e mesmo o cheiro de sua mulher, Helen (June Squibb), com quem está casado há 42 anos, quando ela morre de ataque cardíaco, pouco tempo antes do casamento da única filha dos dois, Jeannie (Hope Davis).

O futuro reserva ao viúvo algumas aventuras na estrada a bordo de um ônibus-trailer e o contato com a excêntrica família do futuro genro, Randall (Dermot Mulroney), onde se destaca a figura da desinibida mãe dele, Roberta (Kathy Bates). Coisa raríssima, Kathy mostra-se nua (algo só visto antes em Brincando nos Campos do Senhor, de Hector Babenco, numa situação intensamente dramática). Aqui, a assanhada Kathy está tentando seduzir o hesitante futuro sogro de seu filho, que está numa banheira - uma sequência hilariante, verdadeiro show de bola de dois veteranos completamente à vontade.

Nem tudo no filme é tão engraçado. Há diversos momentos em que Schmidt olha de frente a sua devastadora solidão. Tanto neles, quanto nas situações cômicas, sobressai a enorme qualidade da atuação de Jack Nicholson. Ele transpira em cada detalhe a total entrega ao personagem, com um entusiasmo que nem sempre devota aos seus trabalhos, apesar do seu indiscutível talento. Aqui, é visível que o ator abraçou por inteiro seu papel, entregando ao espectador um pungente retrato de um homem comum. Um detalhe curioso na história está nas cartas que o protagonista escreve para um garoto de 6 anos na Tanzânia, Ngudu, que ele ajuda com US$ 22 por mês, dentro de um programa humanitário da organização Childreach. Essa organização realmente existe e o menino, cuja foto até aparece nas imagens do filme, chama-se Abdallah Mtulu na vida real.

Indicado ao Oscar de Melhor Ator (Jack Nicholson) e Atriz Coadjuvante (Kathy Bates)

(About Schmidt - 2002)

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