quarta-feira, 18 de janeiro de 2017
Moonlight: Sob a Luz do Luar (2016)
¨Moonlight: Sob a luz do luar¨, segundo filme do diretor Barry Jenkins, revela um primor de sutilezas na exploração do processo de amadurecimento de um garoto afro-americano de Miami a partir de uma adaptação bastante fiel à peça do dramaturgo Tarell Alvin McCraney.
Alguns elementos que se tornaram clichês em dramas, como o universo da pobreza, o convívio com o tráfico de drogas e o bullying, são aqui tratados por um prisma que foge à espetacularização. Assim, desdobra-se com a naturalidade e delicadeza possíveis a trajetória do garoto Chiron, aos 9 anos chamado de Little (Alex R. Hibbert) devido ao seu físico excepcionalmente franzino. A história começa com Little fugindo de um bando de colegas de escola e buscando esconderijo numa casa abandonada, usada por viciados.
Dali é resgatado por Juan (Mahershala Ali), o traficante dono do pedaço que, contrariando a expectativa, é suave e benigno com o menino. A casa de Juan e da namorada Teresa (Janelle Monae), aliás, torna-se o refúgio do menino contra os acessos de descontrole de sua mãe drogada, Paula (Naomie Harris).
Se Juan é essa figura paterna substituta, não deixa de ser também o fornecedor de drogas da mãe de Little, uma ambiguidade que não escapa ao menino em seu processo de compreensão dos mecanismos de funcionamento do mundo. Esse é um dos muitos aspectos que afastam o enredo de Moonlight... da mesmice superficial de tantas histórias ambientadas neste cenário, aproximando-o de um realismo repleto de nuances humanistas.
A trajetória do Chiron adolescente (Ashton Sanders) continua dramática, alternando os conflitos com a mãe e o bullying na escola, que só cresce na medida em que o rapaz revela tendência homossexual – um aspecto que ele só compartilha com o amigo Kevin (Jharrel Jerome).
Alguns dos momentos mais reveladores de descoberta do protagonista dão-se perto do mar, como numa cena em que aprende a nadar com Juan – em que a mensagem de confiança é decididamente clara – e outra em que experimenta o próprio desejo num beijo na praia.
Embora o caminho de Chiron esbarre na violência do ambiente em que vive, as vivências e soluções que ele acha são naturais dentro de sua perspectiva. De maneira geral, o enredo não responde a clichês no piloto automático, o que permite que o reencontro do Chiron jovem adulto (Trevante Rhodes) com o amigo Kevin (agora, André Holland) seja cheio de emoções genuinamente tocantes, sem qualquer pieguice.
Nomeado a 8 Oscar: Melhor Filme, Ator Coadjuvante (Mahershala Ali), Atriz Coadjuvante (Naomie Harris), Direção (Barry Jenkins), Roteiro Adaptado, Fotografia, Edição e Trilha Sonora. Levou as estatuetas de Melhor Filme, Ator Coadjuvante (Mahershala Ali) e Roteiro Adaptado.
(Moonlight - 2016)
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