sábado, 7 de janeiro de 2017
Passageiros (2016)
Se Passageiros, de Morten Tyldum (O Jogo da Imitação), tivesse a coragem de se assumir como a ficção científica que se anuncia, talvez fosse menos problemático do que o drama romântico que é. A premissa é boa – embora já explorada com mais competência em dezenas de filmes e romances do gênero –: sujeito perdido e sozinho no espaço. O que fazer? Não muito tempo atrás, Matt Damon, em Perdido em Marte, plantou batatas até chegar o resgate.
O personagem de Chris Pratt, Jim Preston, está numa situação semelhante, ainda que não precise produzir sua própria comida. Numa nave generacional (que viaja numa velocidade menor do que a da luz e vai levar mais de um século para chegar ao seu destino), ele acorda da hibernação muitos anos antes de concluída a viagem, quando a câmara onde dormia deixa de funcionar. O que fazer em uma nave que mais parece um hotel de luxo? Além de estar completamente só, ele não tem tantas opções para matar o tempo, no entanto. Há distinção de classes e a dele parece ser uma das mais baixas, não lhe dando acesso a todos os ambientes, nem a muitas opções de alimentação. E mandar um recado à base na Terra não é uma opção viável, pelo larguíssimo tempo exigido.
Jim Preston, então, passa alguns anos se entretendo como pode: saindo da nave por uma porta especial e passeando no espaço, e conversando com um robô-barman (Michael Sheen), enquanto se embebeda. Ele também tem acesso a todos os arquivos com informações dos 4.999 passageiros que ainda hibernarão por cerca dos 130 anos que a viagem ainda durará. É aí que ele descobre Aurora (Jennifer Lawrence), uma escritora a caminho de nova colônia apenas pela experiência, para ficar um ano e depois voltar à Terra (onde todo mundo que conheceu estará morto há anos) e escrever um livro.
Sem muita crise de consciência, ele a desperta. E junto com ela chegam também os maiores problemas do filme que sai do prumo exatamente nesse momento. Escrito por Jon Spaihts, Passageiros é a materialização de um fetiche masculino potencializado: a mulher dependente e presa a um homem. Aurora – sem saber o que ou quem a acordou – não tem muita opção a não ser se apaixonar por Jim.
E é claro que isso acontece. O dilema ético e moral que surge daí é substituído por joguinhos de sedução em torno da beleza do casal e do espaço sideral. A partir do momento que Jim acorda Aurora, ele a condenou a uma vida ao seu lado (mesmo que ela o ignore). As justificativas, obviamente, para tal ato partem apenas das necessidades dele. Não é difícil simpatizar com Jim, um sujeito legal preso sozinho no espaço. Mas ele tinha direito sobre a vida de Aurora? Qualquer crise de consciência que ele pudesse ter logo se dissipa, pois a cada cena o filme parece querer justificar a atitude do personagem.
Há um ou outro momento com um bom visual – uma piscina num ambiente sem gravidade é o melhor deles – mas Passageiros não se sustenta. Nota-se uma certa falta de química entre os atores – as tão faladas cenas de sexo são de uma sensualidade tão mecânica quanto o robô-barman – e nem até agora infalível carisma de Jennifer Lawrence encontra sua melhor expressão aqui.
Nomeado aos Oscar de Direção de Arte e Trilha Sonora.
(Passengers - 2016)
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Oscar 2017
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