quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018
The Square: A Arte da Discórdia (2017)
"The Square: A Arte da Discórdia" é protagonizado por Christian (Claes Bang), um poderoso curador de um grande museu em Estocolmo, cuja vida gravita num ambiente privilegiado. Christian tem poder e gosta de usá-lo neste universo dominado por tendências abstratas e grandes patrocinadores. A partir de um incidente comum, este controle começa a ruir. O curador é assaltado de maneira engenhosa, mediante um golpe na rua. Rastreando a localização de seu celular num prédio num bairro distante, ele segue um plano mirabolante de um jovem subordinado, Michael (Christopher Laesse), para recuperar os itens roubados, inclusive sua carteira e abotoaduras.
Esta sua incursão fora do figurino do bom senso e do politicamente correto que o envolvem, serve para que se comece a expor as rachaduras de um mundo insensível e comprometido apenas com sua própria lógica excludente – e não serão por acaso os diversos encontros do curador com mendigos pelas ruas elegantes de Estocolmo.
O título – The Square (O quadrado) – refere-se a uma obra, cujo conceito guiará a nova exposição pretendida pelo museu, para a qual se planeja uma campanha midiática capaz de viralizar na internet. A confluência dos efeitos desta campanha com a atitude temerária de Christian para recuperar seus objetos sustenta um roteiro hábil em extrair as contradições de alguns dos setores mais influentes do mundo moderno, como os colecionadores de arte e os ricos patrocinadores dos museus, mas não só. Melhor ainda é que a história encontra, cada vez mais, o humano por trás destas grandes aparências e de rituais engomados.
Para quem acompanhou a obra anterior do diretor, "Força Maior" (2014), The Square pode parecer mais fragmentado e disperso. Esta sensação se instala especialmente porque este novo filme se distribui em diversos focos de atenção e multiplica detalhes de uma forma mais multifacetada, enquanto "Força Maior" extraía sua potência de um cenário único e do foco fechado numa família. Aqui, não. A todo momento, o filme parece querer capturar seu espectador desprevenido, arrastando-o por caminhos obscuros, sem que ele possa captar imediatamente onde vai. É o caso da participação de Elisabeth Moss como uma jornalista que entra na vida de Christian e proporciona um outro episódio desagregador. Mais ainda é o episódio do jantar de gala no museu em que um homem forte (Terry Notary) realiza uma performance que sai dos trilhos e é absolutamente inquietante.
Nenhum dos detalhes, por menor que seja, é gratuito. As partes do todo dialogam, constroem um sentido que é ambicioso, certamente, conectando-se para produzir uma reflexão bastante aguda sobre a contemporaneidade. E que tem a vantagem de valer-se de doses precisas de um humor absolutamente corrosivo.
Nomeado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (Suécia).
(The Square - 2017)
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terça-feira, 20 de fevereiro de 2018
domingo, 18 de fevereiro de 2018
Sem Amor (2017)
"Sem Amor" conta com pais e um filho ao centro. Boris e Zhenya (Alexey Rozin e Maryana Spivak) formam um casal que se odeia de uma maneira doentiamente explosiva. Estão em vias de se divorciar, mas antes disso, seu filho de 12 anos, Alyosha (Matvey Novikov), presencia, sem que eles saibam, uma discussão violenta. No dia seguinte, o garoto desaparece. Teria sido raptado? Teria fugido para nunca mais voltar? Ou apenas fugido por algumas horas, algo grave aconteceu, impedindo-o de voltar para casa?
Aos poucos, "Sem Amor" constrói essas duas figuras. Quando Zhenya liga para Boris e diz que há dois dias o filho não aparece na escola e que irá chamar a polícia, ele responde: “Você está exagerando”. Mas nenhum dos dois são planos, só bons ou apenas maus – existem nuances nessas caracterizações.
Boris e Zhenya são incapazes de se unir, nem na dor, nem no esforço comum de encontrar o pequeno desaparecido. O ódio mútuo é intoxicante – tal qual o filme, que com esses personagens representa alguns dos fracassos da Rússia de Putin: o vazio emocional que tenta ser aplacado pelo consumismo, a moral dúbia, a apatia burocrática. Enquanto isso, ao fundo, quase que casualmente – mas nada é casual aqui –, telejornais dão conta do estado das coisas.
Nomeado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (Rússia).
(Nelyubov - 2017)
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Corpo e Alma (2017)
O húngaro "Corpo e Alma" é um filme que parte de uma premissa metafísica para tentar encontrar um caminho materialista em sua investigação dos personagens. Mária (Alexandra Borbély) e Endre (Géza Morcsányi) trabalham num matadouro – um cenário que não deixará de ser explorado – e partilham do mesmo sonho quando dormem, envolvendo neve e cervos. Eles não sabem disso, até que um roubo ocorre no local, e todos os funcionários passam por uma avaliação psicológica, e uma das perguntas envolve os sonhos da noite anterior. Quando os dois personagens, que mal se conhecem, relatam a mesma coisa à psicóloga (Réka Tenki) em suas entrevistas, ela acredita que lhe estão pregando uma peça. Os dois, naturalmente, espantam-se com a descoberta.
O sonho em comum é uma maneira de cada personagem entrar na vida do outro. Mária é calada, retraída, repleta de silêncios e solidões. Começou a trabalhar na inspeção santiária do matadouro há pouco, e não faz questão de ficar amiga de ninguém. Ainda assim, Endre, que é diretor financeiro e tem um dos braços paralisado, aproxima-se dela, puxa conversa, tenta enturmá-la, mas sem sucesso. Até que descobrem sobre o tal sonho que partilham. Essa é a desculpa perfeita para se tornarem mais próximos – até porque ficam suficientemente curiosos para saber o que está acontecendo.
Nomeado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (Hungria).
(Teströl és lélekröl - 2017)
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Uma Mulher Fantástica (2017)
O drama chileno "Uma Mulher Fantástica", de Sebastián Lelio, sustenta uma história capaz de situar com emoção e propriedade a trajetória de uma transexual. Daniela Vega interpreta com força e credibilidade a protagonista, Marina, uma garçonete que sonha tornar-se cantora e mantém uma relação estável com um homem mais velho, Orlando (Francisco Reyes). O passado deste envolvimento vem à tona quando Orlando tem um mal súbito e se descobre o grande escândalo causado pela entrada de Marina em sua vida familiar.
O roteiro centra-se nos dilemas de Marina para enfrentar um conjunto de pressões, vindas da família de Orlando e até da polícia, colocando a nu um formidável arsenal de preconceitos dirigidos contra ela, especialmente por sua condição transexual.
Marina é uma personagem de grande densidade humana, uma personagem feminina de carne e osso, nem heroína nem marginal, de posse de todos os seus desejos e contradições. Impossível não simpatizar com ela em sua luta de seguir em frente no meio de uma grande dor, que a despoja de sua maior proteção, mas não de seu ímpeto de afirmar sua normalidade. A questão transexual é inserida no contexto e tratada como o que é, uma questão humana.
Vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (Chile).
(Una Mujer Fantástica - 2017)
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Festa da Salsicha (2016)
Dentro de um supermercado, os alimentos pensam que as pessoas são deuses. Eles sonham em serem escolhidos por elas e serem levados para suas casas, onde pensam que viverão felizes. Mas eles nem suspeitam que serão cortados, ralados, cozidos e devorados! Quando Frank, uma salsicha, descobre a terrível verdade, ele precisa convencer os outros alimentos do supermercado e fazer com que eles lutem contra os humanos.
(Sausage Party - 2016)
sábado, 17 de fevereiro de 2018
The Post: A Guerra Secreta (2017)
"The Post: A Guerra Secreta" é uma crônica substancial dos dilemas dos anos 1970, quando os EUA viviam a interminável Guerra do Vietnâ, que consumia orçamentos, armas e muitas, muitas vidas. O foco da história se desenha quando um analista militar, Daniel Ellsberg (Matthew Rhys), depois de uma visita ao Vietnã, decide vazar para a imprensa o que ficou conhecido como os Papeis do Pentágono – cerca de 7.000 páginas de documentos ultrassecretos que, em última análise, mostravam que diversos presidentes norte-americanos, incluindo John Kennedy, Lyndon Johnson e o próprio Richard Nixon, vinham mentindo há anos ao seu povo sobre aquela guerra.
Em 1971, o The Washington Post vivia dias cruciais. Oito anos depois do suicídio de seu marido, Phil Graham, a dona do jornal, Katharine Graham (Meryl Streep), tomava a decisão de abrir o capital do jornal, lançando ações na Bolsa. Era uma forma de capitalizar a empresa que, apesar de importante, era uma publicação regional, ao contrário do The New York Times, cuja influência atingia os quatro cantos do país.
Por isso, não foi surpresa que parte dos Papeis do Pentágono chegassem primeiro ao NY Times, que publicou o furo – indignando o editor-chefe do Post, Ben Bradlee (Tom Hanks), que, como todo jornalista que se prezasse, queria ter posto as mãos naquilo antes. Mas o assunto estava longe de encerrado, não só porque o Times publicara apenas parte dos documentos secretos, como porque o governo Nixon entrara na justiça para bloquear outras divulgações, alegando riscos à segurança do Estado.
Meryl Streep injeta em sua personagem uma mistura sutil de insegurança, delicadeza e coragem, encarnando uma mulher num momento de virada, de transformação, da herdeira nascida rica e não preparada para assumir a chefia de seu jornal (posto que pertencia a seu marido morto) para a líder que tem que afiar seus instintos para impor-se, desafiando a mistura de condescendência e desconfiança de seus diretores, advogados e de seu próprio editor.
Mas está, justamente, nos embates entre Kay e Bradlee, um homem um tanto rude, mas nada bobo nem injusto, o grande interesse de uma sequência de acontecimentos que requer o engajamento total de ambos. Esta dinâmica é um prazer de se acompanhar, em mais de um sentido. Não só pela qualidade destes afinados atores, como pelos fatos que descreve.
Nomeado ao Oscar de Melhor Filme e Melhor Atriz (Meryl Streep).
(The Post - 2017)
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sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018
Guardiões da Galáxia Vol. 2 (2017)
"Guardiões da Galáxia Vol. 2" coloca como trama principal Peter Quill (Chris Pratt) encontrando o seu pai que nunca conheceu e afastando-se de sua família postiça, formada no primeiro filme, de 2014. O filme começa com um flashback, com Kurt Russell digitalmente rejuvenescido seduzindo a mãe de Quill, na Terra, ao som de uma música cafona dos anos de 1970. Esse é só o começo de uma história que terá como uma de suas tramas a tentativa do protagonista se aproximar do pai que nunca conheceu, cujo nome, Ego, é bastante apropriado, como se verá.
O planeta de Ego foi criado por ele mesmo – ele tem superpoderes que foram, parcialmente, herdados pelo filho Peter –, e é a perfeita tradução do seu ego gigantesco. Os laços entre os dois se estreitam, mas, ainda assim, há algo que parece não estar certo. A desconfiança só aumenta com o desconforto de Mantis (Pom Klementieff), uma sensitiva e única habitante do planeta, que também é capaz de ajudar Ego a dormir.
Mantendo a tradição criada pelo original, um dos destaques em Guardiões da Galáxia Vol. 2 é a trilha sonora com clássicos dos anos 70 – que inclui Fletwood Mac, ELO, George Harrison e Cat Stevens, no momento mais emotivo do filme. É uma escolha inspirada de nostalgia e kitsch que, na maior parte do tempo, anda de mãos dadas com o visual levemente retrô.
Nomeado ao Oscar de Efeitos Visuais.
(Guardians of the Galaxy Vol. 2 - 2017)
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O Destino de uma Nação (2017)
O drama histórico "O Destino de uma Nação", de Joe Wright, explora a mística de um dos maiores líderes do século XX, Winston Churchill (1874-1965) e localiza-se temporalmente no início da Segunda Guerra Mundial, em maio de 1940, envolvendo a questão de Dunkirk.
Naqueles dias, Churchill fora convocado para ser primeiro-ministro britânico, substituindo Neville Chamberlain (Ronald Pickup) que subestimara desastrosamente Adolf Hitler, que acabara de invadir uma série de países – Polônia, Tchecoslováquia, Dinamarca e Noruega, preparando-se para ocupar também a Bélgica, a Holanda e a França. Churchill, ao contrário de Chamberlain, nunca confiara em Hitler mas essa parecia ser seu único trunfo. Estava cercado de desconfiança em seu próprio partido, o Conservador, e só ganhara o cargo porque era o único nome aceito pela oposição Trabalhista, comandada por Clement Atlee (David Schofield), para um governo de coalizão. O próprio rei, George VI (Ben Mendelsohn), não via com bons olhos seu passado manchado por derrotas militares desastrosas, caso de Galípoli, na I Guerra Mundial, quando Churchill comandara a Marinha britânica.
O novo primeiro-ministro enfrentava ainda o boicote sutil do próprio antecessor, Chamberlain, e do visconde Halifax (Stephen Dillane), que esperava seu fracasso para sucedê-lo – contando ainda com a simpatia do rei, seu amigo. Lidar com essa ferina oposição interna, no entanto, foi o primeiro movimento de mestre de Churchill, que manteve os dois inimigos por perto, nomeando-os para um Gabinete de Guerra que, ao lado de líderes militares, discutia as estratégias a seguir diante da ameaça nazista.
O foco principal do filme, evidentemente, é o próprio Churchill, retratado com grande talento por Gary Oldman. Ajudado por uma maquiagem precisa, que o transforma fisicamente para assemelhar-se ao seu personagem, Oldman delicia-se com as nuances de uma personalidade complexa, que aliava uma intuição política certeira com um apego evidente pela autoridade, ao lado de vícios como a gula e a bebida – o primeiro-ministro não dispensava um uísque logo ao café da manhã, intercalando-o com champanhe no almoço e outras doses de uísque e vinho do porto ao longo de noites de trabalho, que se prolongavam até a madrugada. Fora isso, este homem de vontade férrea não raro mostrava-se colérico, como bem pode sentir sua nova secretária, Elizabeth Layton (Lily James), que assume a função crucial de datilografar sua correspondência e os famosos discursos com que ele motivou o moral de seu povo, pelo rádio, ao longo da guerra.
O que o filme evidencia é como foram árduas as escolhas do primeiro-ministro logo em seus dias iniciais no cargo. Estar cercado de inimigos internos era o de menos quando ele devia decidir-se por uma entre duas opções: continuar enfrentar militarmente os nazistas, que haviam devastado as forças britânicas que apoiavam os belgas e franceses e se encontravam encurraladas na praia francesa de Dunquerque, ou negociar um tratado de paz em condições certamente desfavoráveis com a mediação dos fascistas italianos de Mussollini, como defendia seu rival Halifax.
A solidão de Churchill neste momento é reforçada pela negativa do então presidente norte-americano, Franklin Delano Roosevelt, de mandar auxílio às tropas britânicas cercadas em Dunquerque, que necessitariam de apoio via ar ou mar. (Finalmente, como visto em Dunkirk, o resgate dos 330.000 soldados ingleses viria por meio de barcos civis, uma ideia de Churchill que foi considerada maluca por militares mas deu certo).
Ambientado em boa parte no bunker onde Churchill e o staff britânico tomavam suas decisões, o filme de Joe Wright tem um respiro quando o primeiro-ministro decide consultar os ânimos de seu povo fazendo uma inusitada viagem de metrô. É uma sequência afetiva e humorística, criada como uma licença poética, mas que permite também vislumbrar uma outra faceta do líder - um homem com suas falhas, mas certamente o estadista de que seu país e o mundo precisavam naqueles dias sombrios. Porque, se a Inglaterra tivesse se rendido, quem sabe onde teriam chegado os nazistas.
Nomeado aos Oscar de Melhor Filme, Fotografia, Figurino e Direção de Arte. Vencedor do Oscar de Melhor Ator (Gary Oldman) e Maquiagem.
(Darkest Hour - 2017)
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terça-feira, 13 de fevereiro de 2018
Please Like Me - Quarta e Última Temporada (2016)
Há tempos que estava com os episódios da última temporada de “Please Like Me” em meu computador, mas não tive ânimo de ver. Só agora decidi finalizar esta série australiana.
Posso dizer que como um todo, a série me agradou. Nestes últimos episódios o personagem principal Josh termina seu relacionamento com Arnold e passa a procurar outro companheiro nos aplicativos de celular, porém só encontra dor de cabeça. Além disso, temos o episódio sufocante em que sua mãe, que apresentava problemas psicológicos, comete suicídio. E no final, Josh e seu melhor amigo Tom, terminam juntos e solteiros, já que Tom também é abandonado pela namorada.
(Please Like Me - The Complete Fourth Season - 2016)
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Projeto Flórida (2017)
Fazia umas duas semanas que comecei a assistir “Projeto Flórida” e não consegui terminar de assisti-lo de tão irritante que o filme se mostrou. Isto porque as crianças presentes na história são tão mal educadas e desrespeitosas, que tornaram o filme inoportuno de se ver. Bem, eram crianças sendo crianças.
Tive que terminar de vê-lo, e o fiz. E posso afirmar que “Projeto Flórida” é um filme que vale a pena. A história é uma crítica social que se passa do lado de fora do paraíso, aqui representado pela Disney. O filme retrata a vida de três crianças que não vivem no mundo de sonhos daquelas que frequentam o parque de diversões e tem seu foco na pequena Moonee, que vive com sua mãe em um apartamento de motel próximo ao parque.
A mãe de Moonee a ama incondicionalmente e faz o possível para pagar o aluguel do quarto e sustentar a filha, mas sua situação financeira piora e a única saída que encontra é se prostituir. Quando passa a fazer isto, é denunciada ao conselho tutelar pela mãe de uma das outras crianças. A cena em que o conselho tenta tirar Moonee de sua mãe é de cortar o coração. “Projeto Flórida” é um filme repleto de crítica social.
Nomeado ao Oscar de Ator Coadjuvante (Willem Dafoe).
(The Florida Project - 2017)
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Trama Fantasma (2017)
Em seu oitavo longa, Trama Fantasma, o diretor norte-americano Paul Thomas Anderson assinala mais um marco numa trajetória que procura a originalidade e a surpresa. Retratando um estilista obcecado pela perfeição (Daniel Day-Lewis) que persegue, em cada vestido, uma espécie de superação pessoal, a história espelha o cineasta em cada um de seus instigantes filmes – entre os quais se contam Boogie Nights, Magnólia, Sangue Negro e O Mestre.
Há um romance costurado à trama, mas ele é intensamente dark, quase um duelo, a princípio desigual, entre o poderoso estilista Reynolds Woodcock (Day-Lewis) e a ex-garçonete Alma (Vicky Krieps). Um caso que começa, para ele, como todos os outros, com seu envolvimento com uma mulher que ele transforma em modelo de suas criações, musa, amante e, finalmente, descarta, como uma roupa que não serve mais.
O intricado funcionamento desta teia emocional, tanto quanto da Casa Woodcock, a preferida entre ricas e famosas na Londres de 1950, é manejado pela irmã de Reynolds, Cyril (Lesley Manville), a única mulher que o faz eventualmente abaixar o olhar. Assim, ao ocupar seu novo lugar na casa, Alma tem que enfrentar não um, mas dois Woodcocks de espírito metálico.
Nada indica que ela esteja preparada para o que vem a seguir. Afinal a bela moça, de origem modesta, viu-se capturada no que parece um conto de fadas, tornando-se modelo das sofisticadas criações do designer famoso, frequentando ambientes sofisticados que nunca estiveram ao seu alcance. Mas há todo um outro lado obscuro que demanda nada menos do que a total sujeição de sua vontade.
O roteiro, mais uma vez da autoria de Anderson, apóia-se em conceitos como o de apetite, destacando a voracidade de Reynolds numa mesa de café da manhã como a primeira característica de que a então garçonete Alma terá de desincumbir-se. A fome de Alma, no entanto, viaja em direções diferentes de Reynolds e ela não tarda a ferir-se nos múltiplos espinhos de seu temperamento egocêntrico, duro, de escasso afeto e flexibilidade.
Outro dado importante é a figura materna que, no caso de Reynolds, significa a presença fantasma de que fala o título, uma mulher que, no passado, ensinou o ofício ao filho e tornou-se objeto de uma de suas primeiras criações, um vestido de noiva que encerraria sua viuvez e passou a integrar, por sua vez, a singular mitologia que move as fantasias deste criador, inegavelmente talentoso.
A fina escrita do roteiro materializa-se numa série de olhares e situações não-verbais, como a chegada das costureiras à casa Woodcock, sua afinação nas inúmeras tarefas, como uma orquestra que obedece aos movimentos de um maestro um tanto tirânico, dado a repentes, na verdade previsíveis.
É singular, por exemplo, a cena de outro café da manhã, em que Alma, já integrada à família, torna-se alvo da raiva de Reynolds pelos sons produzidos ao passar manteiga na torrada ou derramar seu chá na xícara. Afinal, a ideia de controle do estilista começa pelo silêncio que ele impõe à sua volta para que sua mente privilegiada possa viajar sem obstáculos.
Se é previsível a rebelião de Alma a tornar-se mais um fantoche nas mãos deste manipulador de vontades, não o são os caminhos pelos quais ela é capaz de expressá-la – e aí está um dos maiores prazeres deste roteiro, que estende suas ambições com um rigor que procura a elegância de um Luchino Visconti ao mesmo tempo que é capaz de tocar um mundo de pulsões subterrâneas com o qual Alfred Hitchcock foi capaz de alcançar suas maiores profundezas. Não por acaso, estas duas vertentes são entrelaçadas pela sofisticação do trabalho do figurinista Mark Bridges (vencedor do Bafta), do montador Dylan Tichenor e do compositor Jonny Greenwood, que assina a trilha que, embora quase onipresente, ajusta-se de maneira orgânica às emoções da narrativa.
Trama Fantasma recebeu seis indicações ao Oscar: melhor filme, direção, ator (a sexta para Day-Lewis, detentor de três estatuetas e que anuncia que este é seu último filme), atriz coadjuvante (a magnífica e versátil Lesley Manville), trilha original (Jonny Greenwood) e figurino (Mark Bridges), vencendo apenas na última. Não teria caído mal uma indicação à surpreendente atriz luxemburguesa Vicky Krieps, que brilha em sua primeira grande oportunidade no cinema e foi lembrada apenas em premiações de associações de críticos, como Boston e Chicago.
Nomeado ao Oscar de Melhor Filme, Direção (Paul Thomas Anderson), Ator (Daniel Day-Lewis), Atriz Coadjuvante (Lesley Manville) e Trilha Sonora. Vencedor do Oscar de Figurino.
(Phantom Thread - 2017)
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sábado, 10 de fevereiro de 2018
O Reino de Deus (2017)
Primavera em Yorkshire, no Reino Unido: um jovem fazendeiro de ovelhas prefere se isolar e entorpecer suas frustrações diárias com bebedeiras e sexo casual. Porém, a chegada de um trabalhador migrante romeno, empregado para a estação de parto, acende uma relação intensa que coloca o rapaz em um novo caminho.
(God's Own Country - 2017)
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terça-feira, 6 de fevereiro de 2018
Todo o Dinheiro do Mundo (2017)
O filme resgata o drama do jovem John Paul Getty III (Charlie Plummer), de 16 anos, que é sequestrado nas ruas de Roma, em 1973. Seus sequestradores esperam receber milhões de seu avô (Christopher Plummer), mas ele, desde o início, recusa-se publicamente a qualquer negociação – exibindo, não se sabe se frieza ou um sangue-frio cínico, quando declara que tem 14 netos e não gostaria de estimular esse tipo de chantagem.
De sua parte, a mãe do rapaz, Gail Harris (Michelle Williams), não tem como manter a mesma calma. Separada do filho de Getty e arrancando da família penosamente a guarda de seus três filhos – abrindo mão de bens e pensão para si mesma -, ela se empenha em tentar dobrar o bilionário ex-sogro para salvar a vida do filho, que passaria longos meses nas mãos de seus captores.
A trama centra-se na batalha da mãe para arrancar o dinheiro do ex-sogro, que ela mesma não tem como levantar, enquanto ele, por sua vez, se esforça por todas as maneiras para escapar das pressões. Quando o sequestro se arrasta e fica claro que não se trata de nenhuma brincadeira do garoto – como em determinado momento se chega a suspeitar -, entra no jogo Fletcher Chase (Mark Wahlberg), um ex-funcionário da CIA que realiza trabalhos de segurança para o velho Getty e pode ser útil por sua experiência em negociações difíceis em ambientes turbulentos, como o Oriente Médio.
No cativeiro, o jovem tem como uma de suas poucas vantagens um pouco de solidariedade de um de seus captores, Cinquanta (interpretado com personalidade pelo francês Romain Duris). Ainda que se conheça o desfecho real da história, o andamento do filme guarda componentes eletrizantes, já que reproduz em detalhes a situação de vulnerabilidade vivida pelo refém.
De todo modo, a história serve também para criar uma reflexão sobre a peculiaridade do mundo dos muito ricos, como Getty, que parecem não pertencer à mesma esfera que os mortais comuns. De certo modo, não mesmo, mas a interpretação de Plummer garante que este personagem não se torne caricato, mesmo nos momentos em que parece mais implacável.
Nomeado ao Oscar de Ator Coadjuvante (Christopher Plummer).
(All the Money in the World - 2017)
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