quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

The Square: A Arte da Discórdia (2017)


"The Square: A Arte da Discórdia" é protagonizado por Christian (Claes Bang), um poderoso curador de um grande museu em Estocolmo, cuja vida gravita num ambiente privilegiado. Christian tem poder e gosta de usá-lo neste universo dominado por tendências abstratas e grandes patrocinadores. A partir de um incidente comum, este controle começa a ruir. O curador é assaltado de maneira engenhosa, mediante um golpe na rua. Rastreando a localização de seu celular num prédio num bairro distante, ele segue um plano mirabolante de um jovem subordinado, Michael (Christopher Laesse), para recuperar os itens roubados, inclusive sua carteira e abotoaduras.

Esta sua incursão fora do figurino do bom senso e do politicamente correto que o envolvem, serve para que se comece a expor as rachaduras de um mundo insensível e comprometido apenas com sua própria lógica excludente – e não serão por acaso os diversos encontros do curador com mendigos pelas ruas elegantes de Estocolmo.

O título – The Square (O quadrado) – refere-se a uma obra, cujo conceito guiará a nova exposição pretendida pelo museu, para a qual se planeja uma campanha midiática capaz de viralizar na internet. A confluência dos efeitos desta campanha com a atitude temerária de Christian para recuperar seus objetos sustenta um roteiro hábil em extrair as contradições de alguns dos setores mais influentes do mundo moderno, como os colecionadores de arte e os ricos patrocinadores dos museus, mas não só. Melhor ainda é que a história encontra, cada vez mais, o humano por trás destas grandes aparências e de rituais engomados.

Para quem acompanhou a obra anterior do diretor, "Força Maior" (2014), The Square pode parecer mais fragmentado e disperso. Esta sensação se instala especialmente porque este novo filme se distribui em diversos focos de atenção e multiplica detalhes de uma forma mais multifacetada, enquanto "Força Maior" extraía sua potência de um cenário único e do foco fechado numa família. Aqui, não. A todo momento, o filme parece querer capturar seu espectador desprevenido, arrastando-o por caminhos obscuros, sem que ele possa captar imediatamente onde vai. É o caso da participação de Elisabeth Moss como uma jornalista que entra na vida de Christian e proporciona um outro episódio desagregador. Mais ainda é o episódio do jantar de gala no museu em que um homem forte (Terry Notary) realiza uma performance que sai dos trilhos e é absolutamente inquietante.

Nenhum dos detalhes, por menor que seja, é gratuito. As partes do todo dialogam, constroem um sentido que é ambicioso, certamente, conectando-se para produzir uma reflexão bastante aguda sobre a contemporaneidade. E que tem a vantagem de valer-se de doses precisas de um humor absolutamente corrosivo.

Nomeado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (Suécia).

(The Square - 2017)

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