domingo, 11 de julho de 2010
Divã (2009)
Mercedes (Lília Cabral) é uma mulher madura. Casada, mãe de dois filhos, dá aulas particulares de matemática, mas sua vocação é mesmo ser pintora – ao menos é o que pensa. A vida vai bem, por isso, diz a seu analista, na primeira sessão, que nem sabe o que está fazendo naquele consultório. Sua insistência em ser analisada resulta no longa “Divã”, baseado na peça teatral homônima.
Muito ajuda o fato de Mercedes, tanto no teatro, quando no cinema, ser vivida por Lília Cabral – mais conhecida por seus trabalhos na TV, como na recente novela “A Favorita”, no qual interpretou Catharina, uma mulher que apanhava do marido. Logo nas primeiras cenas, a atriz ganha a simpatia e confiança do público com seu sorriso fácil e sincero. Ainda assim, o filme parece não estar à altura da intérprete.
Divã é dirigido por José Alvarenga Jr (da série e do filme “Os Normais”) a partir do roteiro de Marcelo Saback, que também assina a peça, baseada num livro de Martha Medeiros. Porém, há pouco de cinema na tela. O filme mais parece um episódio alongado de uma sitcom – em que toda cena precisa terminar com uma piadinha, muitas delas sem qualquer graça ou real necessidade.
Divã parte do princípio que todas as pessoas têm uma vida interior interessante. Assim, por mais comum que Mercedes possa parecer, há algo dentro dela que vale a pena ser compartilhado com o público. Ela é uma daquelas mulheres que sempre se colocou em segundo plano em favor do marido (José Mayer) e dos filhos, e só agora percebe que desperdiçou sua vida.
Planejando não perder mais tempo, acaba arrumando um amante mais jovem (Reynaldo Gianecchini, de Entre Lençóis), e vive seus melhores momentos, descobrindo prazeres novos, como sexo sem compromisso e até ilícitos, como a maconha. Curiosamente, ao longo do filme, o processo de autodescoberta sempre envolve um homem mais novo – além de Gianecchini, ela também tem um caso com o personagem de Cauã Reymond (de Falsa Loura). O entusiasmo das novidades, porém, dura pouco. Custa à personagem perceber que só estará bem com o mundo quando estiver bem consigo mesma.
Há também a melhor amiga Mônica (Alexandra Richter), sempre insegura em relação ao marido e excessivamente ciumenta, cujo destino irá afetar profundamente a forma como Mercedes encara a vida.
Tudo isso é contado ao seu analista, que nunca aparece em cena. É como se o público fosse essa pessoa que ouve as aventuras e desventuras de Mercedes. A origem teatral e sua trama fazem lembrar o filme “Shirley Valentine” (1989), que contava também uma história feminista de autodescoberta – mas neste a protagonista (Pauline Collins) falava diretamente ao público.
(Divã - 2009)
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