segunda-feira, 5 de julho de 2010

Verônica (2008)


Nunca houve uma mulher como Glória e, pelo jeito, vai continuar não havendo. A vital personagem do filme homônimo de 1980, de John Cassavetes, interpretada pela magnífica Gena Rowlands, já foi retomada numa má versão de Sidney Lumet, em 1999, interpretada por Sharon Stone. Agora, é Andréa Beltrão quem entra na pele de uma personagem que não se chama Glória, porque não se trata de uma refilmagem, mas entra de leve numa homenagem, neste outro filme que igualmente empresta o nome da protagonista – no caso, Verônica.

Mais uma vez, trata-se de uma oportunidade perdida de homenagear o bom filme de Cassavetes, que soube, como poucos, esculpir pessoas tremendamente reais na tela. Com um pé fincado na realidade imediata e uma atriz perfeita para o papel, Andréa Beltrão, entretanto, o filme de Maurício Farias fracassa fragorosamente. Não por culpa de Andréa Beltrão. Ela está sintonizada na energia de sua personagem, de seu altruísmo às suas dúvidas, ao assumir a proteção de um menino (Matheus de Sá) cujos pais foram assassinados por traficantes.

Verônica é apenas sua professora. Na sua vida, sequer é mãe. Mas compreende a tempo que é a única chance desta criança escapar de seus algozes. Entre os quais nem todos são traficantes, alguns são policiais, ecoando o vazio ético que percorre a vida real. Com bastante razão, Verônica não confia nem no próprio ex-marido, o policial Paulo (Marco Ricca).

Compreendendo no tranco os riscos sobre a vida do menino e que ela mesma passa a compartilhar, Verônica corre pelas ruas do Rio quase como a Lola do filme alemão, “Corra, Lola, Corra”, de Tom Tykwer. Com a desvantagem de ter uma bagagem extra, o menino, um estranho, meio rebelde, por quem ela passa a fazer de tudo, num heroísmo de gente comum cavado na urgência e na necessidade de encontrar uma finalidade maior para a própria vida. Uma vidinha opaca de classe média baixa, sem dinheiro, nem afeto, nem esperança, que Verônica atira pro alto, aprendendo a fugir, a mentir e até a pegar em armas, quando preciso. Como não simpatizar com ela ?

Apesar da humanidade e da coragem impecáveis da professorinha, o filme derrapa justamente naquele que foi o ponto forte de sua premissa – a verossimilhança. Licenças poéticas à parte, o final é simplesmente impossível de engolir. Faltou imaginação, faltou verdade, faltou tudo. Até a vontade de fazer um filme policial de verdade.

(Verônica - 2008)

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