quinta-feira, 28 de novembro de 2013

No (2012)


“No”, de Pablo Larraín, encerra uma trilogia de exorcismo político da herança maldita da ditadura de Augusto Pinochet. O diretor havia abordado o tema em Tony Manero (2008) e Post Mortem (2010). Em “No”, Larraín escalou o mexicano Gael García Bernal para estrelar uma ficção que reconstitui o histórico plebiscito de 1988, convocado por pressão internacional e em que Pinochet pretendia conseguir um aval popular para sua continuidade no poder depois de 15 anos do golpe. Mas acabou derrotado, abrindo caminho à redemocratização.

Gael interpreta René Saavedra, um publicitário, filho de um exilado, que cresceu longe do país e foi convidado pela esquerda para orientar a campanha do “não” ao regime. Habilmente, o roteiro de Pedro Peirano desenvolve as diversas posições em jogo, dentro de uma esquerda extremamente dividida, mas que acaba cedendo aos apelos de René no sentido de dar uma roupagem mais moderna e otimista à campanha. Ou seja, criando jingles mais leves e deixando em segundo plano os slogans políticos clássicos e a cobrança pelos mortos e desaparecidos, o que obviamente gera polêmica. Mas esse tom é decisivo para a conquista dos indecisos e a derrota de Pinochet.

Encabeçar a campanha do “não” à ditadura é uma decisão arriscada para René. Não só porque os mecanismos repressivos do regime estão todos em vigor, como pelo fato de que seu patrão, Lucho Guzmán (Alfredo Castro), orienta a campanha oposta. Habilmente, o filme mostra como o plebiscito foi abrindo caminho à queda de Pinochet – que não acreditava na possibilidade de ser derrotado. Quando o governo acordou para o sucesso da campanha oposicionista e o risco real de uma derrota, recorreu a golpes baixos, intimidações, perseguições. Sem sucesso.

Larraín permite ao espectador contemporâneo mergulhar naquele período usando, por exemplo, muitos trechos da campanha televisiva real. Ao mesmo tempo, mantém a uniformidade de cores e textura na fotografia total do filme mesmo nas cenas realizadas recentemente, recorrendo ao antiquado formato U-Matic. Utilizando uma velha câmera da época, arrematada no site Ebay, o diretor garante uma reprodução convincente da estética dos anos 80 que fortalece a impressão de autenticidade da história – instaurando um clima de urgência, como se os fatos realmente estivessem ocorrendo aqui e agora, o que contribui muito para o envolvimento do público.

O roteiro partiu de uma peça inédita de Antonio Skármeta, El Plebiscito, mas dependeu muito de pesquisas adicionais e entrevistas com as pessoas que viveram aqueles dias. Embora fosse menino na época (tinha 12 anos por ocasião do plebiscito), o próprio cineasta Pablo Larraín tem um envolvimento familiar com a questão: é filho de um senador de direita, Hernán Larraín, que apoiou a campanha do “sim” a Pinochet. Sua mãe, Magdalena Matte, é ex-ministra do atual presidente direitista do Chile, Sebastián Piñera. Apesar desta origem familiar, os filmes de Pablo Larraín nunca deixam dúvida de seu inequívoco engajamento contra o passado pinochetista.

Nomeado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (Chile).

(No - 2012)

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