terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
Il Divo: La Spettacolare Vita di Giulio Andreotti (2009)
Quando se trata de poder na Itália, a primeira imagem que vêm à cabeça é dos mafiosos. Normal. Afinal, eles foram os que mais renderam filmes, mas a situação está prestes a mudar. Paolo Sorrentino volta suas câmeras não para o poder dos mafiosos, mas de um político italiano em "Il Divo" , moderna cinebiografia sobre Giulio Andreotti (interpretado pelo excelente Toni Servillo, que também está em Gomorra).
Com carreira política iniciada em meados dos anos 60, foi primeiro-ministro nos períodos de 1972 a 1973, 1976 a 1979 e 1989 a 1992. Em 1993, a Justiça acusou Andreotti de delitos com ligação à Máfia e a esquemas de financiamento ilegal de partidos políticos. O seu julgamento teve inicio em 1995, mas Andreotti acabou por ser absolvido em 1999. É um dos senadores vitalícios da República de Itália. Com muitas licenças cinematográficas, “Il Divo” reproduz a carreira política de Andreotti, ao mesmo tempo em que tece todas as relações de influências que o político construiu ao longo de sua vida.
O filme tem algumas cenas memoráveis, além de enquadramentos criativos e o inteligente uso da trilha sonora. Desta forma, resulta numa cinebiografia moderna. No entanto, o roteiro não resolve muito bem tantos personagens que passam pela vida do protagonista. Alguns ficam soltos na trama, fazendo com que o espectador se perca da metade para o final. Ou seja, a narrativa não consegue se sustentar. Parece um velocista que vai muito bem até a metade de uma maratona, mas é passado para trás por seus competidores na medida em que chega na linha de largada. Mesmo assim, “Il Divo” ainda vale a pena ser visto, nem que seja somente pela excelente atuação de Servillo como o protagonista
Indicado ao Oscar de Maquiagem.
(Il Divo: La Spettacolare Vita di Giulio Andreotti - 2009)
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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
A Fita Branca (2009)
A história, de “A Fita Branca” ambienta-se numa pequena aldeia alemã, no princípio do século 20, pouco antes do estouro da Primeira Guerra Mundial. A placidez do lugar na verdade, não passa de aparência. Este pequeno mundo isolado, que parece viver segundo uma série de regras morais e religiosas, está corrompido nos seus sentimentos e valores mais profundos.
Os primeiros sinais são claros. O médico local (Rainer Bock) sofre uma grave queda do cavalo depois que alguém esticou um fino fio metálico entre duas árvores, no seu caminho para casa. Gravemente ferido, ele corre risco de morte, ficando seus filhos aos cuidados da parteira local (Susanne Lothar).
O incidente, que parece isolado, multiplica-se em outros - como a morte aparentemente acidental de uma lavradora a serviço do barão (Ulrich Tukur, de "Amém"), o mais poderoso proprietário rural da região, de quem praticamente todos os camponeses dependem para trabalhar.
O filho da lavradora reage, acreditando que o barão é culpado pela morte da mãe, destruindo sua larga plantação de repolhos. Logo mais, mesmo crianças, como Sigi (Fion Mutert), filho do barão, e Karli (Eddie Grahl), o filho da parteira, que sofre de síndrome de Down, são vítimas de violência.
O único a destoar do padrão de comportamento local é o jovem professor primário (Christian Friedel), que veio de uma aldeia perto dali. Espécie de voz sutil da razão, ele é também o único a estranhar a liderança exercida por Klara (Maria-Victoria Dragus), filha mais velha do pastor, sobre as demais crianças do lugar.
Não é difícil perceber o quanto essas crianças são oprimidas por uma educação severa e cruel, que as submete a dolorosos castigos físicos, obrigando-as a um respeito absoluto pela hierarquia, que não lhes permite qualquer opinião ou comentário sobre coisa alguma. O machismo dominante exerce um peso ainda maior sobre meninas e mulheres.
Nessa pequena comunidade, chama a atenção também a aparente distância de uma Justiça organizada. O poder político é exercido pelo mesmo barão que domina a região economicamente e mantém em suas terras as mesmas relações medievais de trabalho existentes há séculos. Mesmo a polícia fica de fora, a não ser quando os eventos criminosos tornam-se frequentes demais para continuarem a ser abafados.
Não é difícil enxergar aqui uma fábula sobre as raízes do nazismo, que em poucas décadas tomaria conta da Alemanha, seguindo os mesmos monstruosos princípios da justiça com as próprias mãos contra os alvos tidos como "culpados" por algum tipo de ruptura da ordem social tida como ideal - bem como a busca da eliminação dos mais fracos e dos deficientes.
De qualquer modo, "A Fita Branca" pode ser visto como uma crítica profunda a vários tipos de autoritarismo. Por isso, é o tipo de filme para o qual espectadores atentos poderão encontrar diversas interpretações.
Indicado ao Oscar de Filme Estrangeiro e Fotografia.
(Das weisse Band - Eine deutsche Kindergeschichte - 2009)
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A Teta Assustada (2009)
“La Teta Asustada” é um reflexo direto do terrorismo que assolou o Peru nos anos 80, quando dois grupos terroristas - Sendero Luminoso e o Movimento Revolucionário Túpac Amaru (MRTA) - semearam medo e insegurança em todas as regiões do país por meio de ações extremamente violentas.
Desse período, Fausta, a protagonista de “A Teta Assustada”, herdou uma doença que no seu povoado se chama “a teta assustada” - daí vem o nome incomum do filme. O mito relaciona-se ao fato de que as mulheres estupradas durante a violência política no Peru traumatizavam seus filhos ao alimentar-lhes com o leite materno. Fausta também é traumatizada: tem medo sobretudo do estupro, ato violento sofrido por sua mãe quando estava grávida.
A primeira cena de A Teta Assustada é de uma delicadeza extremamente triste, ao mesmo tempo brutal: a mãe de Fausta canta uma música descrevendo como ela observou o marido sendo morto enquanto era estuprada pelos terroristas enquanto carregava a filha no ventre. Por meio das músicas, os personagens falam sobre sentimentos e principalmente seus medos, comunicando-se de uma forma que não existe no dia-a-dia.
Fausta vive com a mãe em Lima, mas não abandona os costumes de seu povoado, bem como toda a sua família. Mas ela precisa trabalhar, encarar outras pessoas que não seus familiares; ela é subitamente obrigada a encarar o mundo “de fora”. A Teta Assustada é sobre essa nação traumatizada que é o Peru hoje, ao mesmo tempo em que evidencia os contrastes culturais que saltam aos olhos num momento em que a população dos povoados escolheram mudar-se para Lima numa tentativa de escapar da ação dos terroristas.
O filme acompanha os próprios pânicos da protagonista, traçando um painel delicado e real também da situação de uma mulher numa sociedade machista, crescendo sob o medo do abuso sexual. Claudia usa a câmera parada o tempo inteiro, enquanto a ação se desenvolve no enquadramento, mais ou menos como Fausta se comporta frente ao mundo, que acontece no seu horizonte enquanto ela observa de longe, passiva.
Indicado ao Oscar de Filme Estrangeiro.
(La Teta Asustada - 2009)
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O Brilho de Uma Paixão (2009)
O filme narra os amores do poeta John Keats com Fanny Brawne, sua jovem vizinha, com quem se comprometeu, mas não chegou a se casar, porque a doença o obrigou a se mudar para a Itália, onde morreu em 1821.
Seu título "Bright Star" é o de um dos poemas de Keats e o romantismo impregna o longa metragem, ritmado pelos versos e pelos textos das cartas enviadas por John Keats à amada. A narrativa, considerada totalmente clássica, transcorre com absoluta fluidez. A contextualização também é vista como perfeita: a vida familiar, os preconceitos, o papel das mulheres, relegadas às atividades domésticas e as relações sociais estreitamente marcadas por uma rígida moral puritana.
No entanto, o filme peca pelo distanciamento excessivo. A paixão não chega ao espectador, que contempla a história de longe, sem entrar nela. Aquele que se emocionou lendo versos de Keats se surpreende quando o filme não arranca dele uma só lágrima pela morte do grande poeta nem pela dor desesperada de sua amante.
Indicado ao Oscar de Figurino.
(Bright Star - 2009)
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Nine (2009)
“Nine” é de tirar o fôlego, da fotografia à trilha sonora, passando pelo figurino e pela vibe alto astral e de extremo bom gosto - quase como tudo que tem "design" italiano. O roteiro mais fraco e não tão ambicioso acaba, em certos momentos, não tendo tanta importância diante de tanta exuberância visual e dramática.
O filme é também uma homenagem à mulher e à Itália - tanto que a legendária Sophia Loren brilha, ao lado de musas como Nicole Kidman e Marion Cotillard. A história parte da "página 1, página 1, página zero..." de Guido Contini, maestro e cineasta italiano em uma crise de criatividade, moral e bons costumes.
Em referência a “8 ½” o filme de Fellini de 1963, onde o cineasta é interpretado por Marcello Mastroianni, Nine explora (ou pelo menos tenta) os pensamentos do genial, porém abalado, Guido Contini, cujos últimos filmes foram um total fracassos de crítica e público, aumentando ainda mais a pressão e a expectativa a respeito de sua próxima produção, Itália (cujo roteiro é inexistente).
Numa fuga involuntária da realidade, pelo desespero ao ver sua carreira e vida pessoal desmoronarem por completo, a imaginação de Guido Contini traz, de forma brilhante, os números musicais da produção. Comparando aos seus antecessores de peso (“Moulin Rouge”, de Baz Luhrmann, em 2001, e “Chicago”, do próprio Marshall, em 2002), “Nine” é uma experiência quase obrigatória por causa de seus números tão audaciosos quanto inovadores.
Indicado ao Oscar de Atriz Coadjuvante (Penélope Cruz), Direção de Arte, Figurino e Canção.
(Nine - 2009)
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domingo, 14 de fevereiro de 2010
O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus (2009)
O filme é um conto moral fantástico, ambientado nos dias atuais. Ele conta a história de Dr. Parnassus (Christopher Plummer) e sua extraordinária Imaginarium, um show itinerante onde os espectadores têm a irresistível oportunidade de escolher entre a luz e alegria ou entre as trevas e a melancolia.
Abençoado com o extraordinário dom de guiar a imaginação dos outros, Dr Parnassus é amaldiçoado por um segredo sombrio, que envolve um trato com o Diabo, Mr. Nick (Tom Waits), e sua filha, Valentina (Lily Cole).
Jude Law, Colin Farrell e Johnny Depp substituíram Ledger no longa.
Indicado ao Oscar de Direção de Arte e Figurino.
(The Imaginarium of Doctor Parnassus - 2009)
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O Segredo de Kells (2009)
O filme não é necessariamente para crianças. É uma mistura de história e mitologia, que tem uma linha narrativa muito fraca e realmente difícil de acompanhar.
Num convento medieval, o Abade Cellach (voz de Brendan Gleeson), mandou construir um enorme paredão para proteger o local dos possíveis ataques dos vikings. Brendan (com voz de Evan McGuire, por vezes difícil de entender) é um garoto que está crescendo ali (ele é ruivo, de olhos claros e também usa roupa de frade), curioso pela floresta perto do lugar. Quem chega à abadia é Irmão Aiden (Mick Lally), que está trabalhando na obra O Livro de Iona, com uma série de iluminuras (ilustrações).
Achando que o menino poderia ser seu auxiliar, pede que vá ao bosque em busca de frutas nativas que poderão servir de tinta. E na floresta, o garoto fará amizade com uma fadinha solitária, chamada Aisling. Perto de um ataque do inimigo (um momento forte visualmente, todo em preto e vermelho de sangue, com telas múltiplas), fala-se da importância de preservar esse livro, do qual nunca ficamos sabendo direito o conteúdo, mas que tudo indica que seja a Bíblia (como em The Book of Eli), e a animação ganha contornos religiosos.
Embora o visual seja interessante e criativo, sem lembrar outros filmes, o longa chama atenção para a importância da preservação do desenho a mão, artesanal, mas está longe de ser um filme comercial, de sucesso certo.
Indicado ao Oscar de Animação
(The Secret of Kells - 2009)
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Paris 36 (2009)
Primavera 1936, Norte de Paris, na periferia a que todos chamam simplesmente de Faubourg, a vida dos habitantes locais sofre algumas mudanças. Com o partido Frente Popular prestes a ganhar as eleições e prometer aprovar a lei das férias pagas, o entusiasmo toma conta de todos os trabalhadores… Mas essa alegria não é partilhada por três amigos do show business de Faubourg, porque Chansonia, o music hall onde trabalham, chega ao fim, deixando-os desempregados. Cada um tem motivos diferentes, partilham o mesmo sonho: encontrar um caminho para as suas vidas, nem que seja fazer com que Chansonia renasça das cinzas…
Indicado ao Oscar de Canção.
(Faubourg 36)
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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
Sem Novidades no Front (1930)
Baseado no romance de Erich Maria Remarque ( Nada de Novo no Front ). Grupo de soldados adolescentes alemãos convocados para a Primeira Guerra Mundial passa o dia 25 de dezembro em pleno campo de batalha, em uma trincheira gelada e cheia de ratos. A história foca os dramas pessoais experimentados por cada um do grupo durante o conflito.
Vencedor do Oscar de Melhor Filme e Direção (Lewis Milestone). Indicado ao Oscar de Fotografia e Roteiro.
(All Quiet on the Western Front - 1930)
A Ponte do Rio Kwai (1957)
O filme narra a saga de um grupo de soldados britânicos capturados pelo exército japonês que os obriga a construir uma ponte sobre o rio Kwai. Como a localização da ponte é estratégica, os aliados enviam uma força tarefa para destrui-la. Está instituído o dilema: como fazê-lo sem sacrificar ou separar os britânicos capturados?
O filme recebeu 7 Oscar; Melhor Filme, Ator (Alec Guinness), Fotografia, Diretor (David Lean), Edição, Música e Roteiro Adaptado. Foi nomeado ao Oscar de Ator Coadjuvante (Sessue Hayakawa).
(The Bridge on the River Kwai - 1957)
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
Terra Fria (2005)
"Terra Fria" é a primeira produção norte-americana da diretora neozelandesa Niki Caro, que ficou mundialmente conhecida após dirigir o drama A Encantadora de Baleias (2002). Em ambos, Niki aborda a situação de uma mulher em um ambiente estritamente masculino, algo que a diretora mostra compreender como poucos. A produção é adaptação do livro escrito por Clara Bingham no qual ela descreve o primeiro caso de assédio sexual na Justiça norte-americana.
O centro da ação é Josey (Charlize Theron). Mãe de dois filhos, ela acaba de se separar do marido violento. De volta à casa dos pais, ela deve trabalhar para sustentar sozinha os filhos. O trabalho como cabeleireira não lhe paga muito. Por meio de sua amiga Glory (Frances McDormand), ela fica sabendo que a empresa mineradora da cidade está contratando mulheres para trabalhar lá após uma decisão da Suprema Corte – que obriga a empresa a contratar funcionárias. O trabalho é pesado, mas o salário compensa. É o que Josey precisava para conseguir a independência na criação dos filhos. Mas, além do trabalho duro, a protagonista e suas colegas de trabalho devem aprender a lidar com o ambiente extremamente machista onde se encontram.
Alvo de piadas pesadas de seus colegas - que não admitem o fato de mulheres ocupando cargos que deveriam ser de outros homens -, cada dia é um pesadelo. Mas Josey não acha justo ter de suportar tudo isso. Bela demais para poder trabalhar em paz no meio de dezenas de caipiras, ela também não está a fim de deixar o emprego (e, principalmente, seu pagamento mensal) e tenta fazer com que o pesadelo pare. Sem conseguir sucesso ao falar com seus superiores na empresa, ela resolve mover uma ação judicial contra os que a assediam sexualmente e moralmente, tendo a ajuda do advogado Bill White (Woody Harrelson). Claro que essa ação a torna um marco nos direitos femininos.
O roteiro de "Terra Fria" não é nada genial. Muito menos inovador. Afinal, histórias feministas desse naipe já foram mostradas algumas vezes no cinema. Mas o que merece destaque em “Terra Fria” é a direção de Niki Caro e a performance de Charlize Theron. Talvez por contribuírem com seus olhares femininos sobre essa história de luta contra o machismo.
Indicado aos Oscar de Melhor Atriz (Charlize Theron) e Atriz Coadjuvante (Frances McDormand)
(North Country - 2005)
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The Corporation (2003)
Por mais que não tenha sido o primeiro a fazer esse tipo de documentários, o nome de Michael Moore não significa ao espectador somente o nome do diretor de produções como “Tiros em Columbine”, mas sim o representante de um tipo de documentário que tem feito muito sucesso entre o público. “The Corporation” não foi dirigido por Moore, mas traz em seu corpo algumas marcas em comum, desde a ironia na linguagem até a abordagem do próprio tema, que geralmente tem a ver com instituições que servem de base sócio-econômica e cultural norte-americana.
O documentário dirigido por Jennifer Abbott e Mark Achbar “ataca”, como diz o próprio título, as corporações norte-americanas. Esses conglomerados que controlam a sociedade economicamente agem de forma predatória – de acordo com os diretores –, mas são têm a punição devida.
Nos EUA, a lei aplicada nas ações dessas empresas é a mesma aplicada aos cidadãos do país. Portanto, diz “The Corporation”, as corporações são como psicopatas que não são punidos, se avaliarmos suas “atitudes”. Observando as decisões corporativas da mesma forma que a lei faz – ou seja, como se as decisões coletivas dos acionistas respondessem por uma só pessoa -, o documentário denuncia uma série de atitudes que não são nem um pouco social e não tem medo de apontar o dedo às empresas que exploram mão-de-obra de países do Terceiro Mundo para cortar os gastos, da mesma forma que faz desfilar na tela uma série de logotipos de megacorporações que, como todas as outras, agem como se não existisse lei, como se o mercado fosse uma terra sem dono. O que não deixa de ser mentira.
São mais de duas horas de documentário que passam rápido. De edição rápida e denúncias (não tão inéditas assim) contundentes, “The Corporation” é um documento que serve não somente como peça artística – afinal, ainda estamos falando de cinema por aqui -, mas também como denúncia social. Talvez o maior propósito de “The Corporation” não seja somente alertar, mas sim documentar tristemente que, uma vez inseridos no capitalismo, é impossível fugir dos domínios mercadológicos das corporações. Não que eu ou você podemos fazer algo contra as corporações que, como pode ser visto nesta produção, nos dominam, uma vez que estamos completamente afundados desse tipo de economia. O que se pode é exercer uma função vigilante em relação às suas atitudes, e é exatamente esse o despertar dado pelo documentário.
(The Corporation - 2003)
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
Adorável Júlia (2004)
Este é uma trama de erros movidos pela vingança, situada nos palcos londrinos na década de 30. O sucesso e a fama da diva Julia Lambert (Annette Bening) cresce a olhos vistos, o que incomoda muitos dos seus colegas de palco. Ela se apaixona perdidamente pelo jovem norte-americano Tom (Shaun Evans), com quem vive um tórrido e curto romance. Quando a diva descobre que o jovem só estava com ela para subir socialmente e, na verdade, seu interesse é a rival Avice Crichton (Lucy Punch), Julia planeja uma terrível vingança.
Nomeado ao Oscar de Melhor Atriz (Annette Bening).
(Being Julia - 2004)
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No Calor da Noite (1967)
Virgil Tibbs (Sidney Poitier) é um detetive da Filadélfia que está em uma cidade rural dos Estados Unidos visitando sua mãe. Somente pelo fato de ser negro, Tibbs é preso quando um homem branco e rico é encontrado morto. Depois de solto, começa a investigar o caso. Mas ele é sempre boicotado pelo delegado local, Bill Gillespie (Rod Steiger) que tem preconceito com negros. Para solucionar o caso, ele terá de se livrar disso e unir-se a Bill.
Vencedor dos Oscar de Melhor Filme, Ator (Rod Steiger), Edição, Som e Roteiro Adaptado. Nomeado aos Oscar de Direção (Norman Jewison) e Efeitos Sonoros.
(In the Heat of the Night - 1967)
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
O Desinformante (2009)
Na vida real, Whitacre era vice-presidente do gigante do agronegócio Archer Daniels Midland e protagonizou um processo em meados dos anos 1990, relativo a sua denúncia contra os chefes, que tramavam um cartel internacional de controle de preços de matérias-primas, e seu próprio envolvimento com o desvio de cerca de 9 milhões de dólares. Foi um caso rumoroso, que terminou em multas milionárias para os donos da ADM e alguns anos de prisão para Whitacre.
O tom do filme é cínico, centrado no personagem do executivo, que logo se percebe ser mitômano, ao mesmo tempo dono de uma irresistível lábia. Uma qualidade que lhe permitiu não ser desmascarado pelos chefes e ser levado a sério por agentes do FBI, que o convenceram a espionar a própria empresa, usando gravadores escondidos - sem imaginar o quanto seu informante não era totalmente confiável.
A ambiguidade do protagonista, que deveria ser o atrativo principal, torna-se, em mais de um momento, motivo de confusão. Ninguém percebe ao certo o que há realmente na cabeça de Whitacre, mesmo o público do filme - ainda que, ao contrário de seus colegas, superiores e agentes do FBI, os espectadores possam ouvir o que ele diz para si mesmo.
Um grande problema é que o filme é todo um samba de uma nota só. E a performance de Damon não oferece nuances suficientes para tirar o máximo de um personagem certamente muito rico em contradições.
Rodado em apenas 30 dias, em digital, o filme expõe uma certa pressa em dar conta de mais informações do que se dispõe a esclarecer. Resultado - um assunto não muito atraente, um ator no piloto automático e a sensação de que os produtores do filme divertiram-se bem mais do que a platéia.
(The Informant! - 2009)
sábado, 6 de fevereiro de 2010
Alvin e os Esquilos 2 (2009)
Como o anterior, este filme reúne atores reais com imagens criadas por computador dos três roedores e de suas novas amiguinhas -- um trio de esquilinhas -- que combinam perfeitamente com os protagonistas. O grupo original é formado por Alvin, o líder, bagunceiro e rebelde, e seus irmãos, Simon, o inteligente, e Theo, gorducho, atrapalhado, mas de bom coração.
A história começa com um show dos esquilos, que têm uma banda pop. Um acidente obriga seu empresário, Dave (Jason Lee, de "O Balconista 2"), a ficar num hospital. A tia que iria cuidar do trio de esquilos também sofre um acidente (não por acaso, alguém grita Alviiinnnn!!' nos dois casos), e a trupe fica sob a tutela do primo Toby (Zachary Levi, da série "Chuck"), um sujeito sem qualquer perspectiva na vida e viciado em videogame.
Alvin, Simon e Theo são obrigados a frequentar uma escola -- onde estudam ao lado de jovens. Ninguém estranha um trio de esquilos assistindo às aulas e interagindo com humanos -- afinal, eles são famosos. Mas não são os únicos estudantes roedores: três esquilinhas lhes farão companhia. Elas também formam uma banda, chamada As Esquiletes, e cada uma delas é um par perfeito para os meninos: a líder, a estudiosa e a atrapalhada.
Na escola, cada esquilo conhece novos amigos e mostra novas facetas de sua personalidade. Alvin se enturma com os esportistas e pensa que pode ser ainda mais famoso tornando-se um atleta. O trio deverá participar de uma competição de bandas, mas o esquilo mais velho está tão ocupado com o esporte que poderá deixar todos na mão.
Dirigido por Betty Thomas ("Sou Espião"), "Alvin e os Esquilos 2" eleva à enésima potência o ritmo frenético e a cantoria do primeiro filme. Os adultos que conhecem os personagens da época da televisão poderão estranhar tanta correria. As crianças, especialmente aquelas que descobriram Alvin e seus irmãos no filme anterior, provavelmente acharão natural.
(Alvin and the Chipmunks: The Squeakquel - 2009)
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
Sherlock Holmes (2009)
De cenas que literalmente pararam o trânsito em Liverpool a efeitos visuais que recriam o cenário da lendária Tower Bridge em construção, "Sherlock" é prova de que a saga criada por Sir Arthur Conan Doyle está longe de acabar. Por falar em fim, Ritchie admitiu que este primeiro filme é só o começo de uma série que ele quer continuar.
Na trama, Sherlock (que ganha ares mais leves na pele de Downey Jr.) e Watson (um bigodudo Law) tentam salvar Adler (Rachel McAdams) de cair em uma armadilha mortal de Lorde Blackwood (o vilão da história, vivido por Mark Strong). Como manda o manual de bons filmes de ação, há muito fogo, fumaça, explosões e perseguições. A mocinha em questão é também 'inimiga' de Holmes e capaz de roubar o coração do detetive. Aliás, além de livrar a Inglaterra dos poderes ocultos de Blackwood, Holmes também tenta salvar sua amizade com Watson, que está cansado de ter um companheiro tão desastrado e ciumento. Watson está prestes a se casar e os dias da dupla dinâmica podem estar contados. Cenas de ação à parte, a irmandade entre Watson e Holmes garante mistérios e humor à releitura de um clássico tão britânico.
Nomeado aos Oscar de Trilha Sonora e Direção de Arte.
(Sherlock Holmes - 2009)
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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
Um Homem Sério (2009)
Em 1967, Larry Gopnik (Michael Stuhlbarg) é um professor de Física da Universidade de Midwestern, que acaba de ser informado que sua esposa Judith (Sari Lennick) o está deixando. Ela apaixonou-se por um de seus colegas, Sy Ableman (Fred Melamed), que, aos seus olhos, é alguém muito mais interessante do que seu marido. A família de Larry também não é lá essas coisas: seu irmão Arthur (Richard Kind) mora em sua casa e dorme no sofá; seu filho Danny (Aaron Wolf) é um estudante problemático e rebelde; e sua filha Sarah (Jessica McManus) pega, frequentemente, dinheiro de sua carteira, para fazer uma plástica no nariz. Uma carta anônima também ameaça sua carreira na universidade. Larry, então, decide pedir conselhos a três diferentes rabinos que poderão ou não ajudá-lo, diante de tantos problemas.
Nomeado a dois Oscar: Melhor Filme e Roteiro Original.
(A Serious Man - 2009)
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Sorte no Amor (2006)
Sorte no Amor é o tipo de filme que costuma encantar os corações mais românticos, funcionando como um conto de fadas para os mais crescidos. De uma forma descompromissada, o filme agrada ao público que não procura muito mais do que puro entretenimento numa sessão de cinema. Brincando com conceitos de sorte, azar e destino, a produção, dirigida por Donald Petrie (Como Perder Um Homem Em 10 Dias), ainda marca o primeiro papel da atriz teen Lindsay Lohan como personagem adulta.
Lindsay é Ashley Albright. Ela trabalha em uma agência de publicidade e é conhecida por suas melhores amigas – Maggie (Samaire Armstrong, que já participou do seriado The O.C.) e Dana (Bree Turner) – como a garota mais sortuda do mundo. Não à toa. Afinal, enquanto anda pelas ruas de Nova York, Ashley mais parece um imã de boa sorte em situações que ultrapassam o absurdo. Quando ela pisa na calçada, uma chuva torrencial é capaz de parar; os faróis ficam verdes quando ela está com pressa; ela perde um elevador lotado para pegar, em seguida, um vazio, acompanhada somente por um belo pretendente em potencial; tem em suas mãos, por coincidência, o vestido de Sarah Jéssica Parker – ícone fashion nova-iorquino após protagonizar a série Sex And The City .
Paralelamente, acompanhamos Jake Hardin (o estreante Chris Pine), ele mesmo uma verdadeira tragédia em forma de pessoa. Ele tenta, numa sucessão de pequenos desastres, entregar um CD da banda McFly a Damon Phillips (Faizon Love), dono de uma gravadora. Mas, claro, não consegue. Mais uma vez, falha ao divulgar o trabalho da banda de rock-and-roll produzida por ele. Quando Ashley tem a oportunidade de organizar um baile de máscaras para Phillips, ela tem a grande chance em sua carreira, assim como Jake, que resolve entregar o disco nesse evento. Na pista de dança, os destinos dos dois protagonistas se cruzam e as sortes são trocadas, literalmente. Quando se beijam, automaticamente, Ashley se torna a pessoa mais azarada da cidade. Jake, claro, o mais sortudo. De repente, ela perde não somente seu emprego, mas também o belo pretendente e seus pertences após inundação em seu apartamento. Já o rapaz consegue engatar não somente a carreira do McFly, mas, principalmente, a sua como produtor musical.
“Sorte no Amor” é bobo, previsível e bastante exagerado. E mesmo assim encanta. O diretor está consciente de que se trata de mais um filme romântico. Por isso, conduz as cenas de uma forma certinha, com grandes toques de contos de fadas e elementos mágicos, que também podem ser relacionados ao jogo de sorte e azar proposto pelo roteiro. Com um figurino caprichado, pontuado por camisetas de rock e peças de estilistas famosos – o que combina bastante com a vida cosmopolita levada por seus personagens em Manhattan -, Sorte no Amor não traz nada de novo no cinema. Nem pretende. É entretenimento bobo e sem compromisso, ideal para aqueles dias quando não queremos pensar em muitas coisas.
(Just My Luck - 2006)
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
Nova York, Eu te Amo (2009)
Diferente de “Paris, Eu Te Amo”, “Nova York, Eu Te Amo” busca uma forma menos engessada de contar histórias inspiradas em uma cidade. Se o primeiro tinha cartelas entre cada filminho, este mistura personagens e histórias, resultando em um apanhado orgânico de cenas. Para auxiliar nessa composição, uma personagem "coringa", videoartista, vaga ao longo dos curtas, registrando-os.
Nova York é a capital do mundo, a cidade mais cosmopolita do planeta, o destino de gente de todos os cantos, credos, raças, origens e capacidade financeira. Para um filme captar esse espírito seria, portanto, cheio de nuances, etnias, opções, com pobres e ricos, mostrando por que os olhos do planeta se voltam para lá. "Nova York, Eu Te Amo" passa um tanto longe disso tudo e parece acontecer numa versão de universo paralelo da cidade. Como era previsto no projeto inicial, todas as histórias envolvem de alguma forma o amor, seja entre homem e mulher, pais e filhos, amigos - curiosamente, não há nenhum amor homossexual.
Cada segmento tem sua própria identidade e carrega a marca de seu realizador. Através da montagem, os filmes são perfeitamente combinados entre si, como se fossem prédios diferentes em uma vizinhança multicultural. Todos tratam do mesmo tema, afinal: o amor, algo que pessoas de qualquer raça, origem ou crença entendem. Não é por acaso que em determinado momento alguém diz que "o que mais gosto em Nova York é que todo mundo aqui veio de outro lugar". Relacionar-se - e amar - Nova York é mesmo muito fácil. Porém, amar esse filme não é tão fácil assim.
(New York, I Love You - 2009)
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