quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A Canção da Vitória (1942)


Seria extremamente fácil formular uma perspectiva pós-moderna, politicamente correta e sofisticada para classificar "A Canção da Vitória" como propaganda ultranacionalista. De fato, esta cinebiografia na forma de extravagância musical, que detalha a vida do patriota showman George M. Cohan - um americano de origem irlandesa e o primeiro artista a receber a Medalha de Honra do Congresso -, é repleta de números musicais sentimentais e simplistas, caracterizados invariavelmente pelo estilo de dança sem ginga, exaltado e impetuoso que era a marca registrada de Cohan, e que defendem através de suas letras as mais rígidas instituições americanas, como, por exemplo, "Grand Old Flag", "Give My Regards to Broadway", "Over There" e a canção do título original. O filme é um flashback - contado por um modesto Cohan a Franklin Delano Roosevelt - que termina com uma propaganda descarada da intervenção dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial: "Eu não me preocuparia com este país se fosse o senhor. Vai ser moleza. Em que outro lugar do mundo um cara normal como eu pode chegar e bater um papo com o presidente?"

Contudo, uma leitura tão cínica assim cometeria a terrível falha de ignorar algo surpreendente, tocante e grandioso que atravessa "A Canção da Vitória" como um rio límpido: a magnífica sinceridade de James Cagney no papel principal. Isso fica claro no seu jeito de sorrir sem acanhamento para frisar suas ideias; no seu tom de voz tranquilo e civilizado; no extraordinário virtuosismo da sua dança - com seu estilo persuasivo e original -, que é de um atletismo incansável e ao mesmo tempo infantil, brincalhona e distanciamento alienado tomou conta das atuações de Hollywood: a total e apaixonada crença de Cagney em tudo o que faz. A direção de Michael Curtiz jamais o ofusca, a fotografia em preto e branco exuberante de James Wong Howe jamais deixa de mostrar cada nuance da sua postura e expressão com uma iluminação bem articulada. E, quando seu pai sapateador (Walter Houston) está morrendo, com Georgie ao lado do seu leito de morte, Cagney se rende a um sincero arroubo emocional que o leva às lágrimas. Na verdade, nos importamos tanto com aquele homem que esquecemos que estamos diante de uma interpretação. Cagney se torna Cohan. Mais do que nunca, ele se torna o espírito otimista na tela.

Vencedor do Oscar de Melhor Ator (James Cagney), Trilha Sonora e Som. Indicado nas categorias: Melhor Filme, Direção (Michael Curtiz), Ator Coadjuvante (Walter Huston), Edição e Roteiro Original.

(Yankee Doodle Dandy - 1942)

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