quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Em Busca do Ouro (1925)


"Em Busca do Ouro" vem corroborar a crença de Charles Chaplin de que tragédia e comédia nunca estão muito distantes uma da outra. Essa improvável inspiração dupla lhe veio depois de ver alguns slides sobre as privações sofridas pelos garimpeiros na corrida do ouro no Klondike entre 1896-1989 e ler um livro sobre a tragédia da expedição de Donner, de 1946, em que um grupo de imigrantes preso pela neve na Sierra Nevada é obrigado a comer seus próprios sapatos e os cadáveres dos companheiros mortos. A partir desse tema sinistro e árido, Chaplin criou alta comédia. O conhecido vagabundo se torna um garimpeiro, juntando-se à massa de homens corajosos e otimistas para enfrentar os perigos do frio, da fome, da solidão e dos ursos que, vez por outra, podiam aparecer.

O filme foi, em todos os aspectos, o projeto mais elaborado da carreira de Chaplin. A equipe passou semanas filmando em locação nas geleiras de Truckee, na região castigada pela neve de Sierra Nevada. Lá, Chaplin recriou a imagem histórica dos garimpeiros lutando para atravessar a passagem de Chilkoot. Cerca de 600 figurantes, muitos deles andarilhos e vagabundos de Sacramento, foram levados de trem para escalar a passagem de 700m através da neve da montanha. Para a tomada principal, a equipe voltou para o estúdio em Hollywood, onde uma cordilheira em miniatura muito convincente foi feita com madeira, tela de arame, estopa, argamassa, sal e farinha. Além disso, os técnicos do estúdio criaram maquetes primorosas para produzir os efeitos especiais exigidos por Chaplin, como a cabana dos garimpeiros, que é levada por uma tempestade até a beira de um precipício, em uma das mais longas sequências de suspense cômico do cinema. Muitas vezes, é impossível perceber as passagens de maquete para cenário em tamanho real.

"Em Busca do Ouro" é repleto de cenas cômicas que se tornaram clássicas. O horror histórico da fome dos pioneiros do século XIX inspirou a sequência em que Carlitos e seu parceiro Big Jim (Mack Swain) ficam presos na neve e famintos. Aos olhos do delirante Big Jim, o amigo se transforma intermitentemente em um frango assado - um triunfo tanto do cinegrafista, que teve que fazer o complexo truque funcionar apenas com a câmera, quanto de Chaplin, que assume, como num passe de mágica, as características de um pássaro.

O sonho do garimpeiro solitário de oferecer um jantar de Ano Novo para a bela garota do salão de dança (Georgia Hale, que substituiu Lita Grey, de 16 anos, quando esta ficou grávida e se casou com Chaplin) dá a oportunidade para outro famoso número de Chaplin: a dança dos pãezinhos. A brincadeira não era inédita no cinema, porém Chaplin confere uma personalidade única às pernas dançantes feitas de garfos e pães.

Hoje, "Em Busca do Ouro" é considerado uma das mais perfeitas realizações de Chaplin. Embora seu gosto pelo próprio trabalho tenha mudado com o tempo, no fim da vida ele declararia diversas vezes que este era o filme pelo qual gostaria de ser lembrado.

Indicado ao Oscar de Trilha Sonora e Som.

(The Gold Rush - 1925)

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