quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Drácula (1931)


Embora o livro do vampiro de Bram Stoker tivesse sido filmado por F.W. Murnau em 1922 como Nosferatu e o diretor Tod Browning tivesse escalado Lon Chaney como falso vampiro no mudo London After Midnight, este filme precocemente sonoro - filmado no final de 1930 e lançado no dia dos namorados de 1931 - foi o que inaugurou de fato o terror como gênero e as histórias de vampiro como seu mais popular subgênero.

O fotógrafo Karl Freund tinha uma grande experiência com o jogo de sombras do expressionismo alemão, enquanto Browning era o rei do grotesco americano, de modo que o filme representa uma síntese das duas principais correntes do horror mudo. Como "O Gato e o Canário", "A Mansão do Morcego" e outras marcas registradas do terror americano, este "Drácula" chega às telas não através das páginas da literatura gótica clássica, e sim vindo diretamente dos palcos: o roteiro tem como base principal duas adaptações teatrais do romance de Stoker, uma de Hamilton Deane e outra de John L. Balderson. O primeiro astro do novo gênero é Bela Lugosi, que havia interpretado Drácula na Broadway e foi finalmente escalado para o filme depois da morte prematura de Chaney, o ator favorito do diretor. É possível que a perda de Chaney tenha tirado um pouco o brilho da direção de Browning, que é menos inspirada do que o trabalho de George Melford na versão espanhola, filmada simultaneamente (e, ainda por cima, nos mesmos cenários) - no entanto, o segundo sofre com a falta de um Drácula icônico e com o fato de seguir à risca o roteiro, enquanto o Drácula falado em inglês foi consideravelmente reduzido por uma edição que cortou 20 minnutos de excessos.

Pré-histórico em suas técnicas cinematográficas e preso a um roteiro limitado, o filme de Browning ainda consegue conservar boa parte de sua atmosfera decadente e sinistra ao jogar luz (literalmente, através de pequenos feixes luminosos que apontam para seus olhos malévolos) sobre a atuação de Lugosi como o vampiro, que transforma cada sílaba em uma ameaça com seu sotaque húngaro em frases como: "Crianças da noite, consegue ouví-las?" ou "Eu nunca bebo vinho!". O filme começa de forma magnífica, com um trecho de "O lago dos cisnes" e uma carruagem caindo aos pedaços que leva o agente imobiliário Renfield (Dwight Frye) para o castelo infestado de teias de aranhas e animais (como um tatu dentro de uma cripta). Drácula passa por uma cortina de teias, contorcendo-se de desejo por sangue quando seu convidado abre um talho no dedo ao cortar um pão, e três vampiras sem alma atacam o desprevenido visitante.

Depois que o roteiro resolve de forma decepcionante uma perigosa viagem marítima (trechos de imagens de arquivo) e o conde fixa residência em Londres, Lugosi se acalma. Porém Edward Van Sloan convence como o professor Abraham Van Helsing, o matador de vampiros, Helen Chandler está graciosa como Mina, a heroína que tem seu sangue sugado e é quase vampirizada, e Frye rouba absolutamente todas as cenas quando Reinfield se transforma em um gargalhante maníaco comedor de moscas. O castelo de Drácula - com seus cinco andares de janelas góticas - é o destaque da direção de arte, porém as cenas de Londres oferecem uma impressionante escadaria e catacumbas para o covil inglês do conde. Browning, no entanto, desaponta no último minuto, com um clímax fraco em que o vampiro é derrotado com muita facilidade, sua morte representada por um grunhido em off depois de ele ser empalado.

(Dracula - 1931)

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