domingo, 30 de novembro de 2014

Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1 (2014)


Ao chegar à primeira parte de seu último segmento, "Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1", a franquia “Jogos Vorazes” é um paradoxo na cultura pop contemporânea. É, claro, fruto de Hollywood, da indústria do entretenimento e produzido com o objetivo primordial de gerar lucros. Por outro lado, é também o retrato de uma sociedade opressiva, na qual a riqueza e o poder estão sob o controle de poucos, que exploram e subjugam milhares que, por sua vez, vão finalmente vão rebelar-se numa revolução socialista visando redistribuição desse patrimônio.

Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) é a inocente útil para tal revolução. Bem, nem tão inocente, mas bastante útil com seu poder de mobilização das massas desde quando assumiu o lugar de sua irmã Prim (Willow Shields), escolhida para os Jogos Vorazes (no primeiro filme, de 2012), nos quais jovens dos vários distritos de um lugar chamado Panem (que é o que sobrou dos EUA) competiam num reality show de selvageria e morte. Ao tomar o lugar da caçula e subverter as regras da competição, a protagonista mostra que existem fissuras no sistema – essas se materializam finalmente na conclusão do segundo filme da série, lançado no ano passado.

Agora que Jogos Vorazes entra em sua reta final – o terceiro livro de Suzanne Collins é dividido em duas partes, assim, o próximo e último filme será lançado daqui a um ano – não há mais tempo para os jogos propriamente ditos, na distopia pós-apocalíptica desse futuro obscuro até então orquestrada pelo presidente Snow (Donald Sutherland). A suposta destruição do Distrito 13 visou servir de exemplo a todos os rebeldes. Era o que se supunha, pois quando este é encontrado como foco de resistência, oculto no subsolo daquilo que o lugar foi um dia, ressurge a esperança. E Katniss é a heroína certa para mobilizar os outros 12 distritos a continuar a rebelião.

Como já ficou claro nos outros filmes, Katniss é uma protagonista feminina peculiar. Encontrar o grande amor de sua vida, casar e ter filhos estão longe de ser seu objetivo de vida – embora tenha dois pretendentes, o valente e prestativo Gale (Liam Hemsworth), seu amigo de infância; e Peeta (Josh Hutcherson), garoto que conheceu quando participou pela primeira vez dos Jogos Vorazes e por quem nutre sentimentos dúbios de ternura e gratidão, já que acredita que lhe deve sua vida. Não, coisas de amor não têm vez para a garota, para quem sobreviver num mundo inóspito é sua meta primordial. Só por essa atitude numa sociedade patriarcal, Katniss já se destaca.

Se a garota é a cara da revolução – liderando os rebeldes e despertando o sentimento de rebeldia em todos os distritos –, a mente por trás desta é a Presidente do Distrito 13, Alma Coin (Julianne Moore), cujos longos cabelos grisalhos parecem guardar mais do que anos de sabedoria. Ao lado de Plutarch Heavensbee (Philip Seymour Hoffman), que também já foi um dos organizadores dos Jogos na Capital, ela trama a derrocada e derrubada da elite. Este filme, o 3.1, apresenta, então, a construção da transformação, que deverá eclodir no segmento final.

Agora, o que realmente importa: o quanto de nosso presente “Jogos Vorazes” é capaz de perceber? Na verdade, muito, e de formas variadas. Seu cenário distópico serve a interesses de ambos os lados do espectro político – e disso surge o apelo quase universal dos filmes e dos livros: eles podem agradar a qualquer ideologia. Eles podem ser um retrato do mundo do capital financeiro – cada competidor é um investimento precioso de seu distrito – como também do mercado do trabalho – cada competidor luta por uma vaga numa sociedade em crise financeira eterna.

Se a ideia da transformação, da revolução, é plantada desde o primeiro filme, e alimentada em cada um deles, é preciso também lembrar que esta é uma série produzida por Hollywood, uma das indústrias mais lucrativas dos EUA – ao lado da bélica, outra que também está no centro do filme. Afinal, os Jogos Vorazes são todas as guerras em que o país se envolveu e ainda se envolve: é preciso dar alguma ocupação a milhares de jovens que não encontram emprego na pátria-mãe. Voltando a Hollywood: cinema é indústria e precisa gerar lucro, não instigar revoluções (ao menos não os grandes blockbusters). E, ao culpar a televisão (os Jogos Vorazes são televisionados), o cinema transfere a culpa da alienação para outro meio – quando ele mesmo é tão ou mais culpado por isso. Sem contar que transformar a trilogia de livros em quatro filmes é mais uma evidência do quanto este tipo de cinema é focado no business.

Enfim, como algo feito para gerar lucros e mais lucros pode ser uma crítica à alienação ou à concentração de riquezas? É nessa contenção, nessa incapacidade de transpor os seus limites, de pensar além do que lhe é dado que reside o grande paradoxo da série. E também a sua beleza.

(The Hunger Games: Mockingjay - Part 1

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Histórias De Amor (2012)


Já na casa dos 30 anos, Jesse Fisher (Josh Radnor) volta à universidade para participar da comemoração da aposentadoria de um de seus antigos professores. Lá ele constata que pouca coisa mudou desde sua saída e conhece Zibby (Elizabeth Olsen), uma encantadora aluna do segundo ano com quem acaba se envolvendo.

(Liberal Arts - 2012)

Odeio o Dia dos Namorados (2013)


A comédia brasileira "Odeio o Dia dos Namorados" tem mais em comum com sua homônima americana do que apenas o título. Ambas se acomodam em sua zona de conforto e lá ficam, encostadas no carisma de suas protagonistas – Heloísa Périssé e Nia Vardalos, respectivamente. Vale dizer que a brasileira se sai melhor, o que já é alguma coisa, apesar da escassa criatividade à vista.

"Odeio o Dia dos Namorados" inclui alta dose de previsibilidade na trama, além da estética e o elenco de novelas. Aqui, o roteiro, assinado por Paulo Cursino – que tem no currículo "Zorra Total" e "Sob Nova Direção" –, inspira-se em "Um Conto de Natal", do escritor inglês Charles Dickens, adaptando-o para o Dia dos Namorados.

Heloísa é Débora, uma publicitária que só pensa no trabalho e anos atrás não aceitou o pedido de casamento de seu então namorado, Heitor (Daniel Boaventura). Agora, famosa e bem-sucedida, a agência onde trabalha está para conseguir a conta de uma famosa marca de bombons – o grande merchandising do filme. Um dos diretores da empresa é Heitor, o que cria um certo constrangimento.

Quando, a caminho do escritório, Débora sofre um acidente de carro, ela recebe a visita do espírito de seu amigo Gilberto (Marcelo Saback), que morreu há pouco. Com ele, a publicitária revisita sua adolescência. Assim, ela percebe que Heitor sempre foi apaixonado por ela. Mas não pára nisso. Débora e Gilberto também vão até o futuro da moça, que curiosamente ficou com o visual muito parecido com o de Ana Maria Braga.

(Odeio o Dia dos Namorados - 2013)

sábado, 15 de novembro de 2014

Vizinhos (2014)


Há algo além do habitual humor besteirol e chapadão do ator Seth Rogen e da falta de camisas de Zac Efron na nova comédia juvenil "Vizinhos". O espectador precisa ter referências de cinema e TV americanos para entender algumas das piadas desta produção.

Não se trata de uma paródia, mas de alusões e convidados especiais que aparecem durante a projeção. Estão lá os três pirados de Workaholics (Blake Anderson, Adam DeVine e Anders Holm), Lisa Kudrow (de Friends), Andy Samberg (de Brooklyn Nine-Nine), o descerebrado Jake Johnson (de “New Girl”), entre outras figuras, que só têm graça para quem conhece os programas dos quais são protagonistas.

Excluídas essas referências, fica-se com a impressão de mais do mesmo. Unidimensional, Rogen é mais uma vez o cara engraçadão, como em "Besouro Verde", "Ligeiramente Grávidos" e "É o Fim" - em que interpreta ele mesmo, da mesma forma. Já Zac Efron ainda busca seu timing para comédia, embora sensivelmente melhor do que em "Namoro ou Liberdade".

Aqui, eles fazem os vizinhos em guerra Mac (Rogen) e Teddy (Efron). O primeiro é casado com Kelly (Rose Byrne), com quem tem uma filha recém-nascida. Já Teddy é o presidente de uma fraternidade de universitários, que chega ao bairro com seus colegas para festas, regadas a cerveja e sexo.

Apesar do início amistoso, em que o casal faz de tudo para parecer “gente boa”, o choque é inevitável. Ao chamar a polícia por causa do barulho em uma das noites de balada, Teddy e sua trupe voltam-se contra Mac e Kelly. As casas, assim, começam uma série de trotes para ver quem deixa a vizinhança mais cedo.

Alagar o porão da fraternidade, jogar papel higiênico no telhado e colocar airbags no lugar de almofadas para fazer voar quem está sentado na poltrona são algumas das brincadeiras que fazem entre si. Tudo isso, até o grande plano de Mac, durante a festa de final de ano dos universitários.

Apesar da lista de comediantes que fazem participação especial neste filme, quem surpreende é a atriz Rose Byrne, conhecida pelo papel dramático na extinta série de TV Damages e da sofredora Renai, do terror “Sobrenatural”, no cinema. Seja tentando esquentar seu casamento com o marido, seja nas festas da fraternidade, mostra uma verve cômica insuspeita.

(Neighbors - 2014)

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Teen Wolf - Terceira Temporada (2013)


Só tenho uma coisa a dizer: nem a beleza e o físico perfeito de todos os atores presentes neste seriado faz com que valha a pena assisti-lo. Cansei.

(Teen Wolf - The Complete Third Season - 2013)

Ao Sul da Fronteira (2009)


Em "Ao Sul da Fronteira" o diretor Oliver Stone entrevista líderes políticos sul-americanos como Hugo Chávez, Rafael Correa, Cristina Kirchner, Fernando Lugo, Evo Morales e Lula, com o fim de explicar a ascensão de governos de esquerda no continente.

Por meio destas entrevistas, Stone faz cair por terra a falsa compreensão de que a América do Sul tem sido tomada por ditadores. Devemos levar em conta a participação maciça da mídia norte-americana e a culpa desta pela distorção dos fatos aqui ocorridos.



"Ao Sul da Fronteira" é um documentário ideal para quem deseja compreender o porquê de nossa presidente Dilma Roussef ter sido reeleita. Além disso, colabora na compreensão de como a participação dos governos de esquerda tem contribuído para uma América do Sul mais independente e soberana, livre de intromissões econômicas como as causadas pelo FMI e a exploração do imperialismo norte-americano.

(South of the Border - 2009)

sábado, 8 de novembro de 2014

Test (2013)


Em 1985, o jovem introvertido Frankie (Scott Marlowe) trabalha como dançarino substituto numa famosa companhia de dança moderna, em São Francisco. Quando um dos dançarinos adoece, Frankie é chamado para substituí-lo, e Todd (Matthew Risch) é quem irá ajudá-lo a se preparar.

Será a AIDS a doença que está atacando o outro dançarino? Ignorância, repressão, preconceito e homofobia são frequentes. Os dois amigos vão aprender o significado de solidariedade ao se depararem com testes na vida pessoal e profissional.

(Test - 2013)

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Boyhood: Da Infância à Juventude (2014)


Sem ser um documentário, "Boyhood: Da Infância à Juventude" se apropria das mudanças físicas e até emocionais de seu protagonista, Mason (Ellar Coltrane) – que cresce e se transforma completamente, dos 5 aos 18 anos, nos doze anos em que foi filmada a original produção, que rendeu um prêmio de melhor direção ao norte-americano Richard Linklater no Festival de Berlim.

Uma reunião anual para debater o roteiro, seguida da filmagem de pequenos segmentos, foi o método usado por Linklater para realizar a obra, certamente única numa filmografia que já reunia notáveis reflexões sobre a passagem do tempo, como a trilogia romântica "Antes do Amanhecer" (1995), "Antes do Pôr-do-Sol" (2004) e "Antes da Meia-Noite" (2013).

Como naquela trilogia, "Boyhood: Da Infância à Juventude" se vale até das transformações físicas de seus atores para tornar-se crível – o que é mais vívido ainda em se tratando de um menino que passa da infância à vida adulta diante das câmeras, como ressalta o redundante subtítulo nacional. Mas só esse detalhe não sustentaria uma narrativa que aspira a ser uma espécie de paralelo naturalista, mas também emotivo, da própria vida, sem acontecimentos grandiloquentes, nem grandes heroísmos, apenas as pequenas batalhas da existência de todos nós.

Assim, Mason será acompanhado desde a infância, ao lado da irmã Samantha (Lorelei Linklater, filha do diretor), e da mãe, Olivia (Patricia Arquette), divorciada do pai, também chamado Mason (Ethan Hawke). Fazem parte do universo do garoto as interações e conflitos com os pais e a irmã, as sucessivas mudanças de estado, casa e escola, os relacionamentos mais ou menos turbulentos com os novos namorados da mãe, além da convivência com os amigos, a descoberta do sexo, os sonhos e decepções, até a entrada na universidade.

Todos estes pequenos acontecimentos essenciais são pontuados por incidentes perfeitamente corriqueiros, que permitem a identificação de públicos de diversas latitudes. O que o filme lembra é que, por mais que alguns detalhes sejam distintos, o processo de crescimento é a grande aventura individual da espécie. É disso, deste fluxo da vida, que Linklater quer falar, sem discurso, sem filosofia, sem conclusão final, apenas pelo preço da aventura em si.

Nomeado a 6 Oscar: Melhor Filme, Direção (Richard Linklater), Ator Coadjuvante (Ethan Hawke), Atriz Coadjuvante (Patricia Arquette), Roteiro Original e Edição. Prêmio de Atriz Coadjuvante para Patricia Arquette.

(Boyhood - 2014)

domingo, 2 de novembro de 2014

Lilting (2014)


Em Londres, a morte súbita do jovem Kai deixa Richard, seu namorado, em um estado de profunda tristeza e luto. Sentindo um forte senso de responsabilidade, Richard tenta se aproximar da mãe de Kai, a cambojana Junn.

Embora Junn fale pouco inglês, sua antipatia pelo genro é evidente, mas Richard contrata um tradutor para facilitar a comunicação, e os dois improváveis parentes tentam atravessar um abismo de incompreensão por meio de suas lembranças de Kai. Uma meditação sobre tudo o que nos separa e também pode nos unir.

(Lilting - 2014)