sábado, 24 de setembro de 2011

Luzes da Cidade (1931)


O Telecine Cult está exibindo alguns filmes do Charles Chaplin este mês e este foi o segundo filme que assisti deste grande cineasta. O primeiro foi "O Garoto", em que Chaplin interpreta de maneira terna o "Vagabundo" de bom coração.

Neste "Luzes da Cidade" o personagem é o mesmo e o coração do personagem é ainda maior. É incrível como Chaplin conseguiu transformar histórias simples em filmes maravilhosos. Vale muito a pena assistir a seus filmes, mesmo eles sendo mudos e preto e branco. Aqui segue a crítica do 1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer:

"Convencido de que a fala destruiria a beleza do cinema, o maior dos mímicos, Charles Chaplin, sofreu com a introdução da tecnologia sonora e decidiu ignorá-la, apesar de todos os conselhos contrários. Apresentado como 'uma comédia romântica em forma de pantomima', 'Luzes da Cidade', seu filme desafiadoramente mudo de 1931, é em todos os aspectos um triunfo, superando com seu melodrama comovente e sua graça o desejo das plateias por filmes falados - ainda que mais tarde, depois do término das filmagens, Chaplin tenha incorporado efeitos sonoros e composto e conduzido a trilha sonora, conforme continuaria fazendo nos seus filmes posteriores.

O pequeno Vagabundo encanta-se com uma vendedora de flores cega (a graciosa Virginia Cherrill) e salva um milionário excêntrico do suicídio. Sua galante corte à menina e sua determinação em recuperar sua visão o levam a uma série de trabalhos que não dão certo - como a memorável luta de boxe 'arranjada' - enquanto sua relação intermitente com o magnata bêbado e imprevisível oferece situações cômicas paralelas. Como de hábito nos filmes de Chaplin, temos a habilmente coreografada piada com comida - aqui, uma serpentina no meio do espaguete do desavisado Carlitos - e uma desventura em ritmo de pastelão com a lei. Com suas belas atuações e equilíbrio perfeito entre comédia e um eloquente pathos, o filme culmina com um desfecho profundamente tocante. Um dos verdadeiros marcos do cinema".

(City Lights - 1931)

Win Win (2011)

Quando vi o pôster deste filme logo pensei: “cara de filminho alternativo, tenho certeza que vou gostar!”. E realmente gostei!

O filme é centrado na vida de Mike, advogado, pai de duas meninas e casado com Jackie. Sua função como advogado é a de auxiliar idosos que se encontram incapazes de tomar decisões por si próprios e carecem de um responsável, e por esta razão terão suas guardas deixadas nas mãos do Estado. É através de seu emprego que Mike conhece Leo, um idoso com recursos financeiros, mas que fora abandonado pela única filha, Cindy.

Como Leo é um homem com dinheiro, mas não pode tomar conta de si mesmo, Mike decide ter sua guarda para que em troca recebesse 1500 dólares mensais, com a garantia de que o mantivesse em sua casa, com todos os cuidados necessários. No entanto, Mike encaminha Leo a um asilo.

Certa vez, Mike vai até a casa vazia de Leo e lá encontra um garoto, Kyle, neto de Leo. Como ele tem a guarda do avô do garoto, Mike decide levar Kyle para casa. É neste ponto que se inicia a questão central do filme, como agregar um garoto com costumes diferentes aos seus à sua família? O mote do filme é o Wrestling, um tipo de luta, em que Mike é treinador nas horas vagas e que curiosamente Kyle é campeão (na vida real, o ator que interpreta este personagem foi campeão também).

O ponto alto do filme é a forma com que a família de Mike vai se envolvendo com Kyle, agregando o garoto como se ele fosse o filho mais velho deles. Sempre sonhei em ter filhos, mesmo que adotados ou agregados, acho que por isto “Win Win” chamou tanto a minha atenção.

(Win Win - 2011)

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Minha Vida de Cão (1994)

Quanta sensibilidade há neste seriado e como Claire Danes nos transmite, com uma doce delicadeza, os sentimentos de sua personagem Ângela Chase. Interpretação esta que fora reconhecida e merecidamente premiada com um Globo de Ouro.

Lembro-me que quando adolescente, o canal aberto SBT transmitiu “Minha Vida de Cão” nas tardes de sábado e eu até cheguei a assistir alguns episódios, mas não acompanhei o seriado todo. Como sou nostálgico, ou vivo de nostalgia (o que não considero um ponto positivo), decidi acompanhar esta série por completo. E agora, que terminei de assistí-la, eu digo uma coisa, é uma pena que este seriado tenha durado apenas 1 temporada com 19 episódios, tendo o seu final sido deixado completamente em aberto. Cheguei a ler em alguns meios de comunicação que a série fora cancelada devido à sua baixa audiência, outros meios, no entanto, citam que foi exatamente a boa qualidade do seriado que o tirou do ar.

E é exatamente sobre esta boa qualidade que me interessa falar. A narrativa gira em torno da adolescente Ângela, que passa por uma crise de identidade aos 15 anos de idade. Sua melhor amiga do passado, Sharon, já não ocupa mais o lugar de antes, lugar este que é preenchido pela companhia de Rayanne e Rickie, respectivamente uma garota rebelde e um jovem homossexual, aspecto este, que remete a atual situação da protagonista, que está passando por uma fase de transformação. Além disso, Ângela está se apaixonando por um jovem revoltoso – estilo James Dean em “Juventude Transviada” – chamado Jordan Catalano, aqui interpretado pelo jovem e belo ator Jaret Leto.

Um ponto interessante do seriado, é que inicialmente ele é narrado pela personagem principal, mas, em certos episódios o narrador muda e outros personagens passam a contar esta mesma história a partir de seu próprio ponto de vista. Isto chegou a acontecer com o personagem Brian, vizinho de Ângela que é platonicamente apaixonado pela garota, e assim toma a narrativa por este viés, e também por sua irmã Danielle, que muitas vezes se sente rejeitada em sua casa e a partir desta visão de mundo narra os fatos como os vê.

Outra questão abordada nesta série foi a da relação entre pais e filhos na adolescência. Patty e Graham Chase são os pais de Ângela e Danielle. Ao mesmo tempo Ângela os ama e os odeia, necessita deles, mas os quer afastados dela.

Histórias sobre adolescentes, assim falando, podem parecer banais, mas esta aqui é tocante. Afinal, quem nunca passou por esta fase tão complicada e adorada da vida? Eu, com toda a minha nostalgia, daria tudo para voltar no tempo.

(My So-Called Life - 1994)

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Ghost World - Aprendendo a Viver (2001)

Depois de terminarem o segundo grau, as adolescentes Enid (Thora Birch) e Rebecca (Scarlett Johansson) debruçam-se sobre o que vão fazer da vida, considerando arranjar empregos e alugar um apartamento, mas a realidade da vida adulta parece querer afastá-las. “Ghost World – Aprendendo a Viver” é a adaptação do “comic book” underground de Daniel Clowes. Já o filme mostra um olhar incomum sobre os nerds e os perdedores que, apesar do seu potencial, acabam por serem sempre ignorados ou desprezados e, por isso, são quase invisíveis, como fantasmas. Com uma vida social praticamente nula, tornam-se gradualmente incapazes de estabelecer laços e relações com as pessoas "normais" que as rodeiam, passando a habitar áridas esferas de solidão.

A visão do mundo que nos apresenta, tem lá os seus momentos de humor, mas é extremamente irônica, pessimista e consistentemente sombria. Entre trabalhar, entrar na universidade ou tentar arrumar um namorado, Enid opta por… nenhum dos três! Aliás, não só ela, mas também Rebecca. O cotidiano das duas se resume a fazer planos para sair das casas dos respectivos pais e soltar, uma atrás da outra, tiradas e trotes ácidos sobre quem estiver por perto, conhecido ou não. Enid é uma pessoa solitária e irascível demais para manter relacionamentos de qualquer natureza.

O comportamento de Enid, ao longo do tempo, transforma a garota em alguém que o pai (Bob Balaban) e os amigos não compreendem. Ela não é preguiçosa e nem tem medo de trabalhar, como Rebecca imagina. Tampouco é chata, como a maioria das pessoas que convivem com ela pensa, apesar do senso de humor volátil. Lésbica, como alguns acreditam? De jeito nenhum. Enid é apaixonada por Josh (Brad Renfro), rapaz que trabalha numa loja de conveniência, mas sua maneira de demonstrar amor é passar pelo posto onde ele trabalha, todo dia, e deixá-lo enfezado com brincadeiras irritantes. Seu jeito bruto, birrento e desleixado engana todo mundo. Ninguém a entende.

Com a exceção de Rebecca, a única alma no mundo com quem Enid simpatiza é Seymour (Steve Buscemi), um colecionador de discos raros de blues que passa os dias num emprego burocrático e gasta as horas livres imaginando o que fazer para conquistar uma mulher, qualquer mulher. Como ela, Seymour é um paria que sofre de completa inadaptação social, com o agravante de que é menos inteligente, e portanto possui menos facilidade para lidar com o problema – e é exatamente essa característica dele que mais atrai a garota. Em um filme normal de Hollywood, dois personagens assim estariam fadados a se apaixonar, apesar da diferença de idade. Não em “Ghost World”, cujo enredo segue por um caminho impossível de antecipar.

Usando de humor adulto, o diretor aborda a dura realidade das pessoas com dificuldade de adaptação social, de uma maneira que jamais soa arrogante, professoral ou amarga. Sim, há um clima evidente de melancolia que perpassa todo o longa-metragem, mas esse é exatamente o estado de espírito de Enid – alguém que sabe rir dos percalços que enfrenta, mesmo quando algo inesperado piora um instante que parecia não poder piorar. Como se não fosse suficiente, o diretor criou ainda um dos figurantes mais interessantes dos últimos tempos, na figura do velhinho que espera diariamente um ônibus vermelho cuja linha foi alterada – o que significa que o ônibus jamais passa. E o final do filme é imprevisível, alegórico e maravilhoso.

Indicado ao Oscar de Roteiro Adaptado.

(Ghost World - 2001)

sábado, 10 de setembro de 2011

A Última Sessão de Cinema (1971)

"Um formalista ardente numa época em que seus colegas dos anos 70 estavam dedicados a quebrar regras, Peter Bogdanovich obstinadamente se ateve a ideias e ideais antiquados dirigindo "A Última Sessão de Cinema". Nesse sentido, a sua adaptação do livro de Larry McMurtry deve ser vista como um elogio à geração anterior de grandes diretores (como Howard Hawks ou John Ford) no momento em que uma nova geração de jovens pioneiros direcionava a produção de filmes para um rumo mais solto e mais visceral.

Uma história de transição para a maturidade passada em uma pequena cidade empoeirada do Texas. "A Última Sessão de Cinema" é uma despedida dos anos 50, captando as mudanças nas tradições e nos interesses da América. Um elenco fantástico de novos atores (incluindo Jeff Bridges, Cybill Shepherd, Randy Quaid e Timothy Bottoms) atua ao lado de veteranos como Cloris Leachman e Ben Johnson enquanto tentam encontrar o seu lugar num mundo em mudanças. A visão de Bogdanovich é sombria mas honesta e ele capta (em um duro porém belo preto e branco) os momentos desajeitados em que a inocência se transforma em experiência, sem emitir juízos e sem espaço para a nostalgia. O filme representa o final de toda uma era, pleno com o sentimento de tragédia e deixando transparecer uma pesada e inconfundível tristeza.

Vencedor dos Oscar de Ator e Atriz Coadjvantes (Ben Johnson e Cloris Leachman). Indicado nas categorias: Melhor Filme, Direção (Peter Bogdanovich), Ator Coadjuvante (Jeff Bridges), Atriz Coadjuvante (Ellen Burstyn), Fotografia e Roteiro Adaptado.

(The Last Picture Show - 1971)

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Simplesmente Alice (1990)


Este é mais um filme de Woody Allen, mais um em que este diretor/roteirista/ator fora indicado ao Oscar de roteiro original. O filme não é tão bom assim, mas vale pela diversão e reflexão, que após terminar de vê-lo, temos em relação a nossa humilde vida. Apesar do contexto inicial fantasioso, o que chama a atenção no primeiro tempo, o filme logo perde a graça, pois, talvez a direção tenha sido o ponto fraco, já que o roteiro fora reconhecido.

Alice é uma mulher casada com um homem muito rico, mãe de dois filhos e sua vida se resume as compras, comandar os empregados de seu lar e organizar a vida privada de seu marido, além disso, Alice cuida de sua saúde, principalmente de suas dores nas costas que sente constantemente, freqüentando massagistas e recebendo visitas de seu personal trainer.

Certa vez, quando está em um salão de beleza (consumindo e ouvindo fofocas), Alice reclama com uma amiga as dores que tem sentindo, é aí que esta amiga lhe indica um massagista chinês que costuma utilizar ervas em seus tratamentos. Nesta mesma conversa, Alice declara que se sente culpada por se sentir atraída por um homem com o qual jamais trocou uma palavra, mas que o encontra às vezes, quando busca seus filhos no colégio.

Quando resolve se consultar com o curandeiro chinês, este a recomenda que tome um chá de ervas e não deixe de lado a sua programação diária, e como resultado, Alice se solta e acaba tendo uma conversa um tanto quanto sensual com o homem que atrai sua atenção. Em outra visita ao chinês, é recomendado que ela tome uma outra erva, desta vez uma erva rara, que como efeito tem o poder de causar a invisibilidade, assim Alice pode conhecer qualquer pessoa em seu íntimo.

Entre visitas ao médico chinês, encontros com o homem que a atrai e o convívio com o seu marido, Alice percebe que não está satisfeita com sua vida de riqueza e luxo, o que na verdade a torna uma pessoa vazia e a faz transformar radicalmente sua forma de encarar as coisas.

Indicado ao Oscar de Roteiro Original

(Alice - 1990)

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Un Amour à Taire (2005)


Diversos filmes retratam os horrores do nazismo durante a Segunda Guerra Mundial, principalmente no que tange o antisemitismo e os horrores do holocausto. No entanto, todos nós sabemos que não foram apenas os judeus as vítimas desta barbárie, ciganos, homossexuais e deficientes físicos e mentais também sofreram abusos.

“Un Amour à Taire” nos mostra a questão homossexual deste período. Jean e Phillipe são amantes e abrigam a jovem Sara, fugitiva do governo nazista. Sara se passa por uma jovem alemã e começa a trabalhar na lavanderia da família de Jean, que aliás, desconhecem a sua homossexualidade. É então que Jacques, irmão de Jean, descobre o romance entre os dois rapazes e através de um plano mal calculado o entrega à Gestapo.

Jean é levado a um campo de trabalho onde sofre torturas e até mesmo lobotomia, simplesmente ele é vítima de experiências que visam à cura da homossexualidade. O filme é de uma imensa sensibilidade e causará fortes sentimentos naqueles que o assistirem.

(Un Amour à Taire - 2005)

O Garoto (1921)


O Vagabundo (Charles Chaplin) acaba encontrando um bebê em uma lata de lixo deixado por uma mãe desesperada e decide levá-lo para sua pobre casa, adotando-o. Cinco anos depois descobre que a mãe virou alguém famosa, e tentará devolver a criança a ela, não sem antes muitos encontros e desencontros se realizarem.

(The Kid - 1921)

Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2 (2011)


A primeira parte do confronto entre Harry Potter (Daniel Radcliffe) e Lorde Voldemort (Ralph Fiennes) deixou uma série de perguntas a serem respondidas nesta produção. Como se viu ao final do filme anterior, o vilão consegue roubar a poderosa “varinha das varinhas”, uma das tais relíquias da morte, ao lado da Capa da Invisibilidade e da Pedra da Ressurreição.

Enquanto isso, Potter, ajudado por seus inseparáveis amigos Hermione (Emma Watson) e Rony (Rupert Grint), tenta destruir as Horcruxes, objetos que contêm partes da alma de Voldemort. Sem encontrá-los, como é contado em “Harry Potter e o Enigma do Príncipe”, o jovem mago não conseguirá sobreviver à profecia: “Nenhum dos dois poderá viver enquanto o outro estiver vivo” (A Ordem da Fênix).

Embora as competentes cenas de ação devam ser devidamente registradas, o roteiro ampara-se na conduta dos personagens. Caráter, lealdade, fraternidade e questionamentos causados pela escolha entre o bem e o mal são as pedras fundamentais desta derradeira sequência. Mais do que matar Voldemort, a missão do protagonista tenta imprimir a solidez moral dos envolvidos.

No decorrer de uma década, os atores Radcliffe, Grint e Emma Watson mostraram uma evolução em suas habilidades dramáticas – ela, em especial – que dão vigor ao conflito que se assiste na tela. No entanto, o que realmente convence a audiência é a colaboração especial de atores consagrados do cinema e teatro inglês em toda a trajetória do herói. Helena Bonham Carter, Ralph Fiennes, Michael Gambon, John Hurt, Gary Oldman, Kenneth Branagh, John Cleese, Imelda Staunton, Emma Thompson, Fiona Shaw, Alan Rickman, Maggie Smith, David Thewlis e Julie Walters são exemplos de quem levou credibilidade à trama.

Uma manobra muito bem-pensada pelo produtor David Heyman, que já imaginou levar aos cinemas a obra de J.K. Rowling em 1997, antes mesmo de ser publicada. Em entrevistas, ele chegou a confessar que não imaginava que a franquia faria tanto sucesso. Quem vê crianças e adultos falando um pseudolatim, como o “expelliarmus!”, nas filas de cinema também não imaginaria.

Deixando de lado os efeitos visuais e as boas interpretações, a adaptação dos livros sempre suscitou certas críticas, muitas delas feitas pelos próprios fãs da publicação. Embora captassem a essência, os filmes suprimiam detalhes importantes da história. O maior exemplo disso é Harry Potter e a Pedra Filosofal, cuja narrativa mostrou-se fragmentada para o espectador.

Os acertos vieram depois, como no competente O Prisioneiro de Azkaban, conduzido de forma sombria pelo diretor mexicano Alfonso Cuarón (de E sua mãe também). David Yates, que assumiu a franquia desde A Ordem da Fênix (o quinto livro), também deve ter reconhecidos seus méritos pelo O Enigma do Príncipe, embora peque nesta última parte. Harry Potter e as Relíquias da Morte, como um todo, é vigoroso e responde às perguntas centrais da trama, porém mantém arestas sem aparar.

Deixando de lado os subterfúgios simplórios utilizados pela autora para finalizar sua obra, há questões que permanecem neste desfecho. Uma delas é a aparição destemida do personagem Neville Longbottom (Matthew Lewis), entendida no livro, mas pouco razoável aqui. Outra é a pouca importância que se dá à Pedra da Ressurreição – uma das relíquias – , que simplesmente desaparece durante as cenas.

Pode-se entender que, devido à complexidade e volume do livro, a adaptação não deva se ater a preciosismos literários. E isso é razoável. Porém, privar o espectador de contextos convincentes é, no mínimo, perverso.

Isso sem contar certas dúvidas que o próprio livro traz à tona, como, por exemplo, o fato de Dumbledore não conseguir subjugar (não matá-lo, claro, por causa da Horcruxes) Voldemort no enfrentamento final de A Ordem da Fênix. Afinal, ele já possui a mais poderosa das varinhas que, por si só, já aniquilaria qualquer inimigo. E o que dizer sobre a questionável passagem de Belatriz Lestrang (aqui, Helena Bonham Carter) e os Comensais da Morte na casa dos Wealeys, quando Harry e Gina (Bonnie Wright) estavam sós (O Enigma do Príncipe)? Por que não os levaram?

Não se pode negar que a história do bruxo desperte emoções tanto nos atores que cresceram à sombra dele ou no público, ávido pelos conflitos. Daniel Radcliffe chegou a afirmar à imprensa que o sucesso trazido pelo personagem, no fim, conduziu-o, numa época, até ao alcoolismo. Hoje, aos 21 anos, ele já prefere uma vida caseira, longe dos vícios.

Harry Potter é um fenômeno. Pessoas vestidas como estudantes da escola fictícia de Hogwarts são comuns em filas de cinema. Nenhuma franquia conseguiu tão longo sucesso. O cronista e dramaturgo Nelson Rodrigues afirmava que pessoas podiam “fugir de seu odiento claustro doméstico para um mergulho escapista na fantasia”. Os livros e filmes de Rowling proporcionam isso. Daí o choro insuspeito no escuro do cinema.

Indicado a 3 Oscar: Direção de Arte, Maquiagem e Efeitos Visuais.

(Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 2 - 2011)

Assalto ao Banco Central (2011)


O roteiro baseia-se no famoso roubo ao Banco Central em Fortaleza (CE), em agosto de 2005. Mas isso é apenas o ponto de partida, pois, como deixam claro diretor e produtores, essa é uma obra de ficção inspirada num fato real.

A história, por si só, já era cinematográfica, necessitando apenas de alguns ajustes ao criar uma narrativa, pois, até hoje, alguns detalhes são desconhecidos. Um túnel foi cavado de uma casa até o cofre do Banco Central, de onde foram levados quase R$ 165 milhões. O filme se propõe a contar quem são os ladrões, como roubaram e o que fizeram com o dinheiro.

Um grupo heterogêneo é formado por Barão (Milhem Cortaz), Mineiro (Eriberto Leão), Carla (Hermila Guedes), Doutor (Tonico Pereira) e Tatu (Gero Camilo), entre outros. Barão planeja e comanda a ação. Ele é um líder que pouco põe a mão na massa, deixando a escavação para os outros.

A trama de “Assalto ao Banco Central” acontece em dois tempos, que se alternam sem qualquer aviso, tornando-se confusa desde o começo. Quem é quem? Quem está trapaceando quem? Quem está infiltrado onde? E por que a delegada (Giulia Gam) tem uma namorada? São alguns dos mistérios que rondam o filme. Lima Duarte faz um delegado da Polícia Federal. O personagem é tão solitário que, para compensar, tem uma foto dele próprio na sua mesa. Mas o detalhe mais intrigante é a foto de Freud na parede de seu escritório. Giulia Gam é sua parceira – jovem e corajosa, ela é o novo em vias de substituir o que há de velho na PF.

O problema em “Assalto ao Banco Central” não é bem sua cara de televisão ou a trilha sonora chata. Seus personagens superficiais seriam perdoáveis se o filme tivesse ritmo, boa montagem e diálogos bem escritos. Se é para fazer televisão, Marcos Paulo e sua equipe poderiam ter chamado, por exemplo, Gilberto Braga que daria agilidade à trama e criaria vilões memoráveis e não um bando de ladrões confusos que, enquanto personagens, não dizem a que vieram.

(Assalto ao Banco Central - 2011)

Mais ou Menos (2010)


O curta apresenta o drama vivido por um adolescente na escola, onde é constantemente discriminado por seus colegas. O líder do grupo chega a levar suspensão, mas persiste em sua violência declarada contra o colega de classe. Certa noite, depois de uma escapada desesperada, o inesperado acontece.

“O cinema pode ser considerado como uma espécie de ‘espelho da realidade’, pois mostra os mais variados aspectos da vida, não somente com o intuito de entreter o espectador, mas também tem o poder de fazê-lo refletir sobre o mundo à sua volta. A sétima arte funciona como uma formadora de conceitos. E como tal, muitas vezes acaba por ajudar a formar ideias erradas a respeito dos homossexuais, aumentando o preconceito por parte das outras pessoas. E o preconceito é um dos principais causadores da violência contra os gays, não só física, mas também moral”, diz o diretor de “Mais ou Menos”.

Segundo Alexander, o curta tenta mostrar alguns exemplos de discriminação que não são novidade para ninguém. “Todos nós já presenciamos ou ouvimos falar de situações parecidas com as do filme. Mas nessa história, um motivo real do preconceito é revelado, com o objetivo de tentar fazer as pessoas refletirem a respeito de suas próprias crenças e opiniões”, enfatiza.

“Mais ou Menos” já foi exibido no Brasil e exterior (Inglaterra, Itália, Canadá, Estados Unidos e Alemanha), sendo premiado em festival sem relação com a diversidade sexual.

(Mais ou Menos - 2010)

Sob o Sol da Toscana (2003)


Das paisagens magníficas à fantástica culinária, passando pelos saborosos vinhos, tudo que aguça os sentidos pode ser encontrado na Itália. E uma de suas pérolas é a Toscana. A ensolarada região, no coração do país, é o palco da históra contada pela autora norte-americana Frances Mayers em seu romance Sob o Sol da Toscana - Em casa na Itália. O livro descreve os prazeres e as surpresas de restaurar uma antiga casa, numa combinação de diário, guia culinário e turístico.

“Sob o Sol da Toscana”, o filme, é uma adaptação livre deste bestseller, já que apanha a essência do livro mas altera fatos e personagens. Dirigido por Audrey Wells, também responsável pelo roteiro, o longa fala sobre a esperança da segunda chance na vida de uma mulher, Frances Mayers, interpretada por Diane Lane. Frances é uma bem sucedida escritora que após o divórcio perde a motivação pela vida e pelo seu trabalho. Para lhe ajudar a sair da depressão, Patti (Sandra Oh), sua melhor amiga, a presenteia com uma excursão de 10 dias pela Toscana, com a esperança de afastá-la daquela vida inerte.

Envolvida pelo encanto e romantismo do lugar, Frances, num gesto impetuoso, acaba comprando uma casa abandonada há mais de 30 anos. Em péssimo estado de conservação, o lugar é conhecido como Bramasole, que significa "algo que anseia pelo Sol". Em meio ao processo de restauração da casa, ela experimenta a adaptação na nova morada, sua busca por si mesma, pela felicidade e, é claro, por um novo amor. Entre paixões e desilusões, questionamentos, novas amizades e novos costumes, ela vai se encontrando, voltando a sorrir, a amar e a viver.

Belas locações, elenco italiano e diversas referências ao cinema de Federico Fellini remetem à ideia de que o filme presta uma homenagem à Itália. Num lugar onde as pessoas preservam suas tradições e a vida segue um ritmo tranquilo, Frances vai deixando transparecer sua descoberta de que a felicidade está nas coisas simples e nas sinceras relações de amizade. “Sob o Sol da Toscana” é um filme equilibradamente romântico em que a simplicidade da história nos dá a chance de degustar a magia do lugar e o charme de seus personagens. Uma prazerosa viagem pela Itália que vai fazer você sentir vontade de estar lá.

(Under the Tuscan Sun - 2003)

O Primeiro Ano do Resto das Nossas Vidas (1985)


Sete amigos recém-formados se deparam com a amarga realidade do mundo real, tendo que conviver com a insegurança profissional e emocional nesta nova fase da vida. Este novo momento pode pôr em risco a amizade existente entre eles, a qual acreditavam que seria eterna.

(St. Elmo's Fire - 1985)

Se Meu Apartamento Falasse (1960)


Billy Wilder costumava coçar a sociedade americana justamente onde ela sentia mais cócegas. Inspirado por "Desencanto" (1945), de David Lean, precisou esperar 10 anos para que a censura relaxasse antes de poder contar a história do "terceiro" homem, o sujeito que empresta o apartamento para o casal adúltero. Surpreendentemente, apesar do tema delicado, "Se Meu Apartamento Falasse" ganhou nada menos que cinco prêmios da Academia e agora é considerado por muitos como o último filme verdadeiramente "realista" do diretor.

Alguns criticaram a amoralidade do personagem de Jack Lemmon, C. C. Baxter, que ganha promoções rapidamente apenas por ajudar alguns dos executivos da grande empresa de seguros onde trabalha a enganarem suas mulheres. Mas Lemmon, que costumava interpretar o homem comum em obras de Wilder, dá ao papel um sólido toque de humanidade e Baxter acaba parecendo nada além de um funcionário escravizado contra a vontade, preso a uma situação que já existia no início do filme e que foge a seu controle. Apesar do humor, "Se Meu Apartamento Falasse" é, em realidade, uma severa crítica social, bem como um exame da vida na América contemporânea e seus comportamentos sexuais. É também um ataque vigoroso contra a corrupção básica do sistema capitalista, no qual quem tem um pouco de influência pode se dar bem em detrimento dos outros.

"Se Meu Apartamento Falasse" combina com habilidade vários gêneros, mas em resumo começa como uma comédia satírica, transforma-se em um poderoso drama e termina como comédia romântica. Construído meticulosamente, o desiludido roteiro de Wilder e I. A. L. Diamond pode ser considerado, de certa forma, uma continuação amargurada de "O Pecado Mora ao Lado" (1955) - uma continuação magnificamente filmada em um cinemascope preto-e-branco um tanto sombrio. Depois das férias de verão, quando os homens tiveram casos na ausência das mulheres, eles logo abandonam suas amantes,. Fran Kubelik (Shirley MacLaine) é uma dessas moças desafortunadas e acredita que romances não são um bem de consumo como outro qualquer. No final, o burocrata finalmente se redime por amor a outro coração solitário, embora o filme evite com sucesso qualquer toque açucarado. Apesar de Wilder aparentemente não considerar a combinação de Lemmon e MacLaine muito eficiente, os espectadores têm todo o direito de manter uma opinião bem diferente.

Vencedor de 5 Oscar: Melhor Filme, Direção de Arte, Direção (Billy Wilder), Edição e Roteiro Original. Indicado nas categorias: Melhor Ator (Jack Lemmon), Ator Coadjuvante (Jack Kruschen), Melhor Atriz (Shirley MacLaine), Fotografia e Som.

(The Apartment - 1960)

Oliver! (1968)


Desde seu início sofrido, o jovem Oliver Twist (Mark Lester) percebeu que a sua missão de achar uma família e uma casa não era uma das tarefas mais fáceis. Em sua trajetória consta participação em um grupo de trombadinhas, liderados pelo sacana Fagin (Ron Moody) e o terrível vilão Bill Sikes (Oliver Reed). Mas com a ajuda do talentoso Dodger (Jack Wild) e a linda Nancy (Shani Wallis) Oliver logo encontra o caminho certo a seguir.

Vencedor do Oscar de Melhor Filme, Direção de Arte, Direção (Carol Reed), Trilha Sonora e Som. "Oliver!" levou ainda um Oscar honorário para Onna White pela elaboração das coreografias executadas durante as canções. O filme também foi indicado em mais 6 categorias, sendo elas: Melhor Ator (Ron Moody), Ator Coadjuvante (Jack Wild), Fotografia, Figurino, Edição e Roteiro Adaptado.

(Oliver! - 1968)

Conduzindo Miss Daisy (1989)


Uma rica judia de 72 anos de idade (Jessica Tandy) acidentalmente joga seu carro novo no jardim do vizinho. Seu filho Boolie (Dan Aykroyd) tenta convencê-la de que ela precisa de um motorista, mas ela resiste à ideia. Mesmo assim, seu filho contrata o motorista Hoke (Morgan Freeman), provocando a imediata recusa de sua mãe. Mas gradativamente ela quebra a barreira da diferença cultural e racial existente entre eles, aceita suas próprias limitações e permite nascer e crescer um sentimento puro e sincero de amizade que durará décadas.

Sem fugir do clichê “eles se odeiam e depois viram grandes amigos” (que neste caso é muito bem utilizado, pois o desentendimento inicial é perfeitamente aceitável, assim como o nascimento da relação de respeito e carinho entre eles), o bom roteiro de Alfred Uhry estuda minuciosamente os efeitos do envelhecimento no ser humano, normalmente resistente às mudanças provocadas pela passagem do tempo. Esta resistência provoca uma enorme dificuldade em aceitar que não podemos mais fazer as mesmas coisas de antes, como quando Miss Daisy resiste em aceitar que não pode mais dirigir. Além disso, o roteiro acertadamente aborda temas complicados, como o racismo (os negros são empregados e motoristas), tão forte naquele período da história dos EUA, e a discriminação religiosa, escancarados na frase preconceituosa do policial que pára os dois idosos na estrada. Finalmente, o roteiro de Uhry conta ainda com diálogos dinâmicos, inteligentes e repletos de ironia, principalmente entre a dupla principal e entre Miss Daisy e seu filho.

A velhice é tratada com respeito neste sensível “Conduzindo Miss Daisy”, extremamente bem atuado e com um roteiro bastante inteligente, que nos deixa algumas reflexões. A vida passa, o corpo enfraquece, os filhos crescem, os amigos e familiares se vão, mas as lembranças ficam. E afinal de contas, o que levamos desta vida? Levamos o amor, as verdadeiras amizades e as histórias que vivemos para contar. Melhor ainda é quando chegamos ao final desta trajetória podendo contar com alguém, seja este um companheiro ou um verdadeiro amigo. É isto que vale a pena na vida.

"Conduzindo Miss Daisy" venceu os Oscar de Melhor Filme, Melhor Atriz (Jessica Tandy), Maquiagem e Roteiro Adaptado. Foi também indicado nas categorias de Melhor Ator (Morgan Freeman), Ator Coadjuvante (Dan Aykroyd), Direção de Arte, Figurino e Edição.

(Driving Miss Daisy - 1989)

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Desenrola (2011)


No enredo de “Desenrola” é apresentado Priscila (Olívia Torres) que, aos 16 anos, tem um milhão de dúvidas sobre a vida, os rapazes, o futuro e o presente. Quando sua mãe (Claudia Ohana) sai em viagem, ela vê a possibilidade de investir seriamente em Rafa (Kayky Brito), mais velho do que ela e por quem se sente atraída.

Essa é a linha central da narrativa de “Desenrola” que aos poucos procura ganhar densidade com novos personagens, dilemas e conflitos da adolescência, como a gravidez precoce. É verdade que nem sempre consegue a profundidade que aspira. A própria gravidez de uma personagem secundária é uma questão resolvida muito facilmente.

Ainda assim, a diretora do filme sabe falar diretamente ao seu público. Tendo como referência alguns retratos brasileiros da juventude da década de 1980, como Bete Balanço, Menino do Rio e Garota Dourada, “Desenrola” quer – e consegue em boa parte do tempo – ser um filme ensolarado (não por acaso estreia no verão) e descolado. Rosane cria alguns momentos bastante inspirados, como uma serenata peculiar e uma bela cena em que Priscila ganha flores oferecidas por estranhos, na rua, ao som de “Linda Rosa”, numa versão da banda Playmobil.

No elenco de “Desenrola” há três achados. A dupla Lucas Salles e Vitor Thiré garante alguns dos momentos mais engraçados do filme, como um garoto ingênuo e apaixonado por Priscila e o melhor amigo dele. Já a protagonista, Olívia Torres, combina carisma com a ingenuidade e a insegurança da juventude. Ela transforma a personagem, que nas mãos de atriz menos talentosa podia se tornar um clichê ambulante, numa garota real, que pensa, sonha e tem sentimentos.

Se para muitos adolescentes “Desenrola” funcionará como espelho, para seus pais será um alerta – ou até mesmo aplicará um susto. Essa é a chance do filme cumprir um papel social, abrindo discussões sobre as dificuldades e alegrias da passagem da infância para a vida adulta.

Segue o trailer do filme:



(Desenrola - 2011)