terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Lua de Papel (1973)

Esta é uma brilhante, terna e divertida comédia de época. Ryan O'Neal é o vigarista Moses Pray, que viaja pelo Kansas, na época da depressão, com um carro cheio de bíblias de luxo, tem um dente de ouro em seu convincente sorriso, e uma lista de pretendentes que ficaram viúvas recentemente. Addie (Tatum O’Neal) é uma órfã, que já fuma aos nove anos de idade, e se junta a Moses, ensinando ao mestre alguns truquezinhos. Madeline Kahn é Trixie Delight, neurótica e engraçada, que vai no embalo dos dois, até que Addie percebe que ela pode atrapalhar a dupla, o que obviamente não pode acontecer.

Vencedor do Oscar de Atriz Coadjuvante (Tatum O'Neal). Indicado nas categorias: Atriz Coadjuvante (Madeline Kahn), Som e Roteiro Adaptado.

(Paper Moon - 1973)

A Saga Crepúsculo: Amanhecer - Parte 1 (2011)

Desta vez, o que dá o tom da trama é a perigosa gravidez de Bella. Uma gestação de risco porque, afinal,o feto é um vampiro e a mãe pode não suportar as mordidas dentro de sua barriga. Simples assim.

A situação, inédita para todos os envolvidos, cria um segundo problema: o clã de lobos, com quem os vampiros têm um acordo de não-agressão, vê na morte da jovem uma quebra de contrato e no nascimento do bebê, uma aberração. Sobra para Jacob se impor a sua tribo, mesmo sendo contra o casamento e ainda mais sobre a possibilidade de tornar Bella uma vampira.

Dirigido por Bill Condon (Dreamgirls), “Amanhecer” tem um apelo a mais aos brasileiros, por ter sido o país escolhido para as filmagens da lua-de-mel do casal. Basta ouvir os gritinhos das fãs na sala de cinema ao verem o ator Robert Pattinson se esmerar no português para chegar à mesma conclusão.

Como era de se esperar, a melhor cena é, sem dúvida, a do casamento. Há uma decisão acertada de manter o humor em praticamente toda a cerimônia. Mas, para rir, o espectador deve obrigatoriamente ter passado a mão nos livros anteriores para entender as referências.

Um exemplo é o brinde de Emmett Cullen (Kellan Lutz), ao dizer que é melhor Bella ter dormido bem nos últimos 18 anos, pois não irá mais dormir. Enquanto Charlie (Billy Burke), o pai da noiva, vê no comentário uma gracinha de fundo sexual, o público ri ao lembrar que vampiros, pelo menos os de Stephenie Meyer, não dormem.

Chamam a atenção, no entanto, as atuações medianas do trio de protagonistas, que estão longe de demonstrar uma veia dramática mais robusta. O público parece não ligar muito para isso, seja por falta de referências, seja porque a história está toda ali mesmo, da carga emocional açucarada aos diálogos um tanto cafonas e à beleza dos interpretes.

(The Twilight Saga: Breaking Dawn - Part 1 - 2011)

Nascido Para Matar (1987)

Em “Barry Lyndon”, outro filme de Stanley Kubrick, a principal cena de batalha mostra uma luta que nunca chegou aos livros de História, conforme relata o narrador, “apesar de ter sido memorável para aqueles que dela participaram”. Quando Kubrick decidiu fazer um filme sobre o Vietnã, baseou-se nessa abordagem, logo após as diversas tomadas fantásticas e ansiosas de Francis Ford Coppola (Apocalipse Now) e Oliver Stone (Platoon) terem estabelecido um vocabulário cinematográfico amargo para aquela guerra, em meio a névoa de ácido e napalm. “Nascido Para Matar” revela outra faceta do mundo dos soldados de infantaria do Exército norte-americano, no qual todos os oficiais, comandantes de batalhão ou não, são seres alienígenas ridículos mas mortíferos (até as prostitutas, dizem eles, “são oficiais a serviço da guerra”). Os heroicos marines, que caminharam longa e penosamente em tantos filmes como “Dá-me tua mão”, são garotos com apelidos engraçados, sem a menor noção de onde estão ou o que estão fazendo.

Baseado no romance autobiográfico “The Short-Timers”, de Gustav Hasford, com contribuições do roteirista Michael Herr (autor de Dispatches e da narrativa de “Apocalipse Now”) “Nascido Para Matar” é brutal, espirituoso, assustador e comovente em iguais proporções, representando situações de guerra raramente vislumbradas no cinema. Uma longa ação de abertura se passa na Ilha Parris, o centro de exame e treinamento de novos recrutas. Após uma montagem na qual jovens de cabelos compridos são tosados para se tornarem robôs carecas tão indistintos quanto os personagens futurísticos do longa “THX 1138”, de George Lucas, o filme é comandado pelo impressionante R. Lee Erney, como o sargento instrutor Hartman, cujos obscenos, originais e cruéis maus tratos contra os recrutas são destinados a subjulgar totalmente os “vermes”, antes que possam ser reconstruídos como máquinas de matar. Durante um sermão, Hartman orgulha-se do fato de que Lee Harvey Oswald e Charles Whitman aprenderam a atirar com os marines. A terrível ironia dessa sequência, similar ao regime de treinamento de “Spartacus”, é que o resultado lógico da transformação de um gorducho atrapalhado em um dos grotescos homens-macacos de Kubrick, com um penetrante olhar primal, lembra tanto o bando de vândalos de “Laranja Mecânica” quanto Jack Torrance em “O Iluminado”. A primeira providência do recém-criado marine é assassinar seu torturador/criador e depois se suicidar.

Após esse evento, as sequencias do Vietnã são quase um alívio. Enquanto o soldado raso Joker, um jornalista, relaxa um pouco e encontra outros indivíduos ainda mais insanos, o metralhador de um helicóptero dá uma resposta técnica à pergunta sobre como é capaz de matar mulheres e crianças (“É fácil, faça mira não muito a frente delas”) e um coronel faz a seguinte observação: “Filho, tudo o que peço a meus fuzileiros é que eles obedeçam às minhas ordens como obedeceriam às palavras de Deus.” O apogeu é um conflito durante a batalha nos escombros da cidade de Hue, onde o pelotão de Joker encontra uma franco-atiradora vietnamita. Ninguém vence essa batalha, e a tropa de fuzileiros marcha noite adentro cantando a canção do Clube do Mickey Mouse. Somente Kubrick ousaria provocar Disney assim.

Indicado ao Oscar de Roteiro Adaptado.

(Full Metal Jacket - 1987)

Candy (2006)

Este drama australiano conta uma história de amor na qual os amantes devem ficar separados para sobreviver, pois juntos se destroem.

Heath Ledger é Dan, um jovem poeta que se apaixona por Candy. A primeira parte do filme, chamada de ‘Paraíso’, acompanha o envolvimento do casal, quando o amor e a heroína bastam para fazê-los felizes. O mundo à sua volta parece não existir mais. Os dois só têm olhos um para o outro e para as emoções artificiais proporcionadas pela droga.

Como não têm muitos meios de se sustentar, eles dependem da ajuda do bioquímico Casper, que em seu laboratório sintetiza e experimenta algumas drogas e não hesita em compartilhá-las com o jovem casal.

Logo Candy e Dan caem na realidade e começam a ver a vida de outra forma. A heroína se torna mais forte do que o amor e a moça é obrigada a se prostituir para manter o vício. O ‘Inferno’ não tarda a chegar e a vida do casal chega ao limite da destruição.

Candy conta com duas performances inspiradas de Abbie Cornish e Ledger como o casal de viciados. A jornada dela é mais árdua, passando de boa moça a drogada irrecuperável. A decadência física que a atriz imprime ao personagem dá mais consistência ao filme. Já Dan tem uma evolução mais sutil – uma vez que ele já era viciado antes do início da história.

Se “Candy” acerta ao investir a fundo no romance entre os protagonistas, a narrativa nunca explora com profundidade o conflito entre a moça e sua mãe, que muitas vezes explode, sem muitas explicações. Algumas cenas parecem criadas apenas para chocar, sem muita força dramática. Ainda assim, os dois protagonistas conseguem criar personagens humanos, desesperados e altamente verossímeis , o que não é pouco.

(Candy - 2006)

Videodrome - A Síndrome do Vídeo (1983)

Um filme revolucionário originário do movimento comercial/independente dos anos 80 em Hollywood, a história de David Cronenberg sobre as horríveis transformações geradas pela exposição à violência televisionada aborda habilmente os problemas que o próprio diretor havia tido com censores, distribuidores de Hollywood e grupos feministas por conta da exploração de imagens de violência sexual em suas produções anteriores. Max Renn (James Woods) é um operador de estação de TV a cabo cujo marketing cínico de sexo e violência se volta contra ele quando seu abdome subitamente desenvolve uma abertura em forma de vagina na qual, entre outros objetos, videocassetes podem ser inseridos. O filme, no qual tais fantasias sadomasoquistas e de troca de gêneros desempenham papéis centrais, termina de forma trágica, com a autodestruição de Max.

Sendo, em vários sentidos, a manifestação formal mais audaciosa dos temas característicos de Cronenberg, “Videodrome” começa como um thriller comercial bastante comum para se transformar em uma fantasia subjetiva do tipo mais chocante e pouco usual. Visualmente elaborado, o filme é também provocante em sua ponderação surpreendente tanto sobre a perversidade polimorfa quanto sobre a enterpenetração entre os domínios público e subjetivo da experiência. Cronenberg foi ao mesmo tempo elogiado e condenado por seu tratamento fluido dos sexos (uma sequência final, que mostrava dois personagens femininos desenvolvendo pênis em uma espécie de contraponto à “vaginação” de Max, foi cortada por ser muito perturbadora). Mesmo em sua forma editada, “Videodrome” continua sendo um dos filmes menos comuns de Hollywood, chocante e idiossincrático demais para ser algo além de um fracasso comercial.

(Videodrome - 1983)

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Victor ou Victória (1982)


Julie Andrews interpreta Victória, uma soprano desempregada que para conquistar um papel em um musical se veste de homem, transformando-se assim em Victor.

Victor na verdade não seria um homem másculo, ele é um homossexual que em suas apresentações musicais interpreta mulheres. Sendo assim, Victória é um homem que se faz de mulher.

Para mim o ponto alto deste filme são as apresentações musicais, no mais, não me agradou muito não...

"Victor ou Victoria" venceu o Oscar de Trilha Sonora. Foi indicado nas categorias: Melhor Atriz (Julie Andrews), Ator Coadjuvante (Robert Preston), Atriz Coadjuvante (Lesley Ann Warren), Direção de Arte, Figurino e Roteiro Adaptado.

(Victor Victoria - 1982)

sábado, 19 de novembro de 2011

El Cuarto de Leo (2009)


Já fazia um bom tempo que não assistia a um bom filme, que não postava neste blog, e que não me retirava da realidade que me cerca. Sinceramente eu estava precisando me dispersar um pouco e nada melhor que assistir a um filme com uma das minhas temáticas preferidas: a GLS.

“El Cuarto de Leo” foi o primeiro filme uruguaio que assisti, acho que até então nem me dava conta de que o Uruguai produzia filmes (sem ser preconceituoso ou nacionalista). Aliás, este é um bom filme e seu tema central é pautado na aceitação. Não na aceitação dos outros para o que nós somos, mas em nossa aceitação para o que nós somos.

Leo é um jovem que namora, estuda e trabalha, no entanto, não está feliz com sua realidade. Seu namoro é frustrante, principalmente quando se trata de suas relações sexuais com sua namorada, pois todas as vezes ele se mostra impotente. E assim seu namoro termina. É então que Leo começa a se descobrir, procura relacionamentos pela internet, mas encontra ajuda mesmo quando começa a consultar a um psicólogo.

A trilha do filme é muito boa, pena que não encontrei uma lista com o nome de todas as canções do filme, somente consegui fazer o download de sua trilha instrumental. Caso alguém saiba de um site que forneça ao menos os nomes das canções, será muito bem-vindo.

(El Cuarto de Leo - 2009)

sábado, 8 de outubro de 2011

Quebrando Todas as Regras (2002)

Fim de semana na casa dos meus pais, sem nada para fazer e sem dinheiro para viajar, a única coisa que me restou a fazer, além de estudar, é claro, foi assistir a alguns filmes. “Quebrando Todas as Regras” foi um deles.

Bem, o filme não é muito bom e eu só tive curiosidade em assistí-lo por causa da Alicia Silverstone, afinal gosto dela desde que assisti pela primeira vez “As Patricinhas de Beverly Hills”, em que Silverstone perpetuou a personagem Cher.

Aqui a personagem não é nada interessante e é praticamente coadjuvante, apesar dela estar na capa do filme. A história gira em torno de um casal de velhos ingleses, aristocratas falidos, que vivem em uma mansão em uma pequena região da Inglaterra. Como este casal está falido e precisando de dinheiro, resolvem alugar a casa em que vivem. No entanto, o casal de empregados que permaneceria na casa enquanto esta está alugada, não pode permanecer na mansão. Resta assim, ao casal de aristocratas, servir de empregados aos novos inquilinos.

O que o casal não sabe é que estes inquilinos são membros de uma banda de rock, que curtem ouvir um som pesado, fumar maconha, se drogar e viver de uma maneira totalmente contrária da prezada por estes velhos ingleses. Alicia Silverstone é simplesmente uma dos integrantes do grupo, nada mais.

(Rock My World - 2002)

O Circo (1928)

“O Circo” foi mais um dos filmes que o Telecine Cult exibiu no mês de setembro para homenagear Charles Chaplin. Tudo bem que já estamos no mês de outubro, mas como não tive tempo de assistir todos os filmes exibidos no mês passado, vou assistindo aos poucos.

O personagem de Chaplin é o mesmo vagabundo dos outros filmes que até agora assisti. Cheio de mímicas, engraçado, mudo e em preto-e-branco, um sucesso. E desta vez a história é ambientada no ambiente mambembe de um circo, onde uma bela garota malabarista sobre devido a exigência de seu pai e onde o Vagabundo interpretado por Chaplin consegue ser mais engraçado do que os próprios palhaços do circo.

Estou gostando desta maratona Chaplin. Espero que em breve consiga assistir todos os filmes que foram exibidos pelo Telecine Cult.

Charles Chaplin foi homenageado com um Oscar honorário por sua versatilidade em atuar, escrever, dirigir e produzir este filme.

(The Circus - 1928)

Kramer vs. Kramer (1979)

Quando li uma crítica sobre “Kramer vs. Kramer” pela primeira vez, soube que o filme era sobre a disputa de um casal pela guarda de seu filho. A primeira impressão que tive foi que este filme se passaria totalmente em um tribunal, no estilo do filme “O Homem que Fazia Chover”, mas quando o assisti, vi que não era bem isso.

O filme é bem mais do que eu imaginava, é tão tocante, tão envolvente, tão emocionante, que tenho que confessar que cheguei a derramar algumas lágrimas ao ver o Dustin Hoffman fazendo rabanadas para seu filho no fim do filme.

A história começa com a personagem de Meryl Streep se despedindo de seu filho e logo mais discutindo com seu marido (Dustin Hoffman) e o abandonando. Assim, este pai e marido se vê totalmente desamparado ao ser abandonado por sua esposa, tendo que cuidar sozinho de seu filho de 6 anos de idade. As cenas de conflito entre pai e filho são maravilhosas, bem reais, e o pequeno Justin Henry (com apenas 8 anos de idade) dá um show de interpretação, e recebeu até uma indicação ao Oscar.

A história não é sobre uma disputa judicial. A história é sobre uma relação de abandono. A história é sobre um pai que ama seu filho acima de qualquer coisa e deseja o melhor para ele. A história é sobre uma mulher que deseja algo mais do que ser dona de casa e mãe. A história é sobre um garoto que sente falta de sua mãe, mas que descobriu em seu pai o seu porto seguro. É uma bela história. Isso eu posso garantir.

Vencedor de 5 Oscar: Melhor Filme, Melhor Ator (Dustin Hoffman), Atriz Coadjuvante (Meryl Streep), Direção (Robert Benton) e Roteiro Adaptado. Indicado em mais 4 categorias: Ator Coadjuvante (Justin Henry), Atriz Coadjuvante (Jane Alexander), Fotografia e Edição.

(Kramer vs. Kramer - 1979)

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Amizade Colorida (2011)

Sinceramente, minha vida está corrida e eu a estou vivendo em câmera lenta. Quando olho para o calendário não acredito que já estamos no mês de outubro, que faltam 2 meses para terminar minha faculdade e que eu ainda não escrevi nenhuma página do meu TCC. A vida está corrida e hoje meu dia foi cheio, aula na faculdade, curso de francês, compras no mercado, contas a pagar. Além disso, tenho um trabalho para apresentar amanhã para o Congresso de Iniciação Cientifica da minha faculdade e ainda nem comecei a prepará-lo. E ao invés de prepará-lo, fui ao cinema e assisti “Amizade Colorida”.

Tenho que confessar que não me arrependi de dar este escape à minha realidade, o filme garantiu-me boas risadas em um momento de solidão. É, solidão. Eu estava literalmente só no cine. Fui sozinho, como muitas vezes já fui ao cinema.

O filme é simplesmente o mais do mesmo, uma comédia romântica com uma boa pitada de sexo, ou melhor, uma boa pitada de dois corpos bonitos na tela do cinema. Para os mais puritanos, constrangimento na certa. Para os mais assanhados, boas risadas! Sem contar a cidade de Nova York como pano de fundo, vida agitada, badalada, além de juramentos sobre uma bíblia armazenada em um kindle. Boa tirada.

Gostei da trilha sonora, em que faz parte a bela canção do Semisonic “Closing Time”, que me fez recordar a meus 15 anos, quando esta música tocava nas rádios. E eu achava que aos 28 teria uma vida totalmente diferente da que levo agora. Aí que saudade daquele tempo! “I know who I want to take me home...” Infelizmente eu ainda não tenho quem me leve para casa… Segue a cena do filme com a música em flash mob:



(Friends with Benefits - 2011)

sábado, 24 de setembro de 2011

Luzes da Cidade (1931)


O Telecine Cult está exibindo alguns filmes do Charles Chaplin este mês e este foi o segundo filme que assisti deste grande cineasta. O primeiro foi "O Garoto", em que Chaplin interpreta de maneira terna o "Vagabundo" de bom coração.

Neste "Luzes da Cidade" o personagem é o mesmo e o coração do personagem é ainda maior. É incrível como Chaplin conseguiu transformar histórias simples em filmes maravilhosos. Vale muito a pena assistir a seus filmes, mesmo eles sendo mudos e preto e branco. Aqui segue a crítica do 1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer:

"Convencido de que a fala destruiria a beleza do cinema, o maior dos mímicos, Charles Chaplin, sofreu com a introdução da tecnologia sonora e decidiu ignorá-la, apesar de todos os conselhos contrários. Apresentado como 'uma comédia romântica em forma de pantomima', 'Luzes da Cidade', seu filme desafiadoramente mudo de 1931, é em todos os aspectos um triunfo, superando com seu melodrama comovente e sua graça o desejo das plateias por filmes falados - ainda que mais tarde, depois do término das filmagens, Chaplin tenha incorporado efeitos sonoros e composto e conduzido a trilha sonora, conforme continuaria fazendo nos seus filmes posteriores.

O pequeno Vagabundo encanta-se com uma vendedora de flores cega (a graciosa Virginia Cherrill) e salva um milionário excêntrico do suicídio. Sua galante corte à menina e sua determinação em recuperar sua visão o levam a uma série de trabalhos que não dão certo - como a memorável luta de boxe 'arranjada' - enquanto sua relação intermitente com o magnata bêbado e imprevisível oferece situações cômicas paralelas. Como de hábito nos filmes de Chaplin, temos a habilmente coreografada piada com comida - aqui, uma serpentina no meio do espaguete do desavisado Carlitos - e uma desventura em ritmo de pastelão com a lei. Com suas belas atuações e equilíbrio perfeito entre comédia e um eloquente pathos, o filme culmina com um desfecho profundamente tocante. Um dos verdadeiros marcos do cinema".

(City Lights - 1931)

Win Win (2011)

Quando vi o pôster deste filme logo pensei: “cara de filminho alternativo, tenho certeza que vou gostar!”. E realmente gostei!

O filme é centrado na vida de Mike, advogado, pai de duas meninas e casado com Jackie. Sua função como advogado é a de auxiliar idosos que se encontram incapazes de tomar decisões por si próprios e carecem de um responsável, e por esta razão terão suas guardas deixadas nas mãos do Estado. É através de seu emprego que Mike conhece Leo, um idoso com recursos financeiros, mas que fora abandonado pela única filha, Cindy.

Como Leo é um homem com dinheiro, mas não pode tomar conta de si mesmo, Mike decide ter sua guarda para que em troca recebesse 1500 dólares mensais, com a garantia de que o mantivesse em sua casa, com todos os cuidados necessários. No entanto, Mike encaminha Leo a um asilo.

Certa vez, Mike vai até a casa vazia de Leo e lá encontra um garoto, Kyle, neto de Leo. Como ele tem a guarda do avô do garoto, Mike decide levar Kyle para casa. É neste ponto que se inicia a questão central do filme, como agregar um garoto com costumes diferentes aos seus à sua família? O mote do filme é o Wrestling, um tipo de luta, em que Mike é treinador nas horas vagas e que curiosamente Kyle é campeão (na vida real, o ator que interpreta este personagem foi campeão também).

O ponto alto do filme é a forma com que a família de Mike vai se envolvendo com Kyle, agregando o garoto como se ele fosse o filho mais velho deles. Sempre sonhei em ter filhos, mesmo que adotados ou agregados, acho que por isto “Win Win” chamou tanto a minha atenção.

(Win Win - 2011)

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Minha Vida de Cão (1994)

Quanta sensibilidade há neste seriado e como Claire Danes nos transmite, com uma doce delicadeza, os sentimentos de sua personagem Ângela Chase. Interpretação esta que fora reconhecida e merecidamente premiada com um Globo de Ouro.

Lembro-me que quando adolescente, o canal aberto SBT transmitiu “Minha Vida de Cão” nas tardes de sábado e eu até cheguei a assistir alguns episódios, mas não acompanhei o seriado todo. Como sou nostálgico, ou vivo de nostalgia (o que não considero um ponto positivo), decidi acompanhar esta série por completo. E agora, que terminei de assistí-la, eu digo uma coisa, é uma pena que este seriado tenha durado apenas 1 temporada com 19 episódios, tendo o seu final sido deixado completamente em aberto. Cheguei a ler em alguns meios de comunicação que a série fora cancelada devido à sua baixa audiência, outros meios, no entanto, citam que foi exatamente a boa qualidade do seriado que o tirou do ar.

E é exatamente sobre esta boa qualidade que me interessa falar. A narrativa gira em torno da adolescente Ângela, que passa por uma crise de identidade aos 15 anos de idade. Sua melhor amiga do passado, Sharon, já não ocupa mais o lugar de antes, lugar este que é preenchido pela companhia de Rayanne e Rickie, respectivamente uma garota rebelde e um jovem homossexual, aspecto este, que remete a atual situação da protagonista, que está passando por uma fase de transformação. Além disso, Ângela está se apaixonando por um jovem revoltoso – estilo James Dean em “Juventude Transviada” – chamado Jordan Catalano, aqui interpretado pelo jovem e belo ator Jaret Leto.

Um ponto interessante do seriado, é que inicialmente ele é narrado pela personagem principal, mas, em certos episódios o narrador muda e outros personagens passam a contar esta mesma história a partir de seu próprio ponto de vista. Isto chegou a acontecer com o personagem Brian, vizinho de Ângela que é platonicamente apaixonado pela garota, e assim toma a narrativa por este viés, e também por sua irmã Danielle, que muitas vezes se sente rejeitada em sua casa e a partir desta visão de mundo narra os fatos como os vê.

Outra questão abordada nesta série foi a da relação entre pais e filhos na adolescência. Patty e Graham Chase são os pais de Ângela e Danielle. Ao mesmo tempo Ângela os ama e os odeia, necessita deles, mas os quer afastados dela.

Histórias sobre adolescentes, assim falando, podem parecer banais, mas esta aqui é tocante. Afinal, quem nunca passou por esta fase tão complicada e adorada da vida? Eu, com toda a minha nostalgia, daria tudo para voltar no tempo.

(My So-Called Life - 1994)

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Ghost World - Aprendendo a Viver (2001)

Depois de terminarem o segundo grau, as adolescentes Enid (Thora Birch) e Rebecca (Scarlett Johansson) debruçam-se sobre o que vão fazer da vida, considerando arranjar empregos e alugar um apartamento, mas a realidade da vida adulta parece querer afastá-las. “Ghost World – Aprendendo a Viver” é a adaptação do “comic book” underground de Daniel Clowes. Já o filme mostra um olhar incomum sobre os nerds e os perdedores que, apesar do seu potencial, acabam por serem sempre ignorados ou desprezados e, por isso, são quase invisíveis, como fantasmas. Com uma vida social praticamente nula, tornam-se gradualmente incapazes de estabelecer laços e relações com as pessoas "normais" que as rodeiam, passando a habitar áridas esferas de solidão.

A visão do mundo que nos apresenta, tem lá os seus momentos de humor, mas é extremamente irônica, pessimista e consistentemente sombria. Entre trabalhar, entrar na universidade ou tentar arrumar um namorado, Enid opta por… nenhum dos três! Aliás, não só ela, mas também Rebecca. O cotidiano das duas se resume a fazer planos para sair das casas dos respectivos pais e soltar, uma atrás da outra, tiradas e trotes ácidos sobre quem estiver por perto, conhecido ou não. Enid é uma pessoa solitária e irascível demais para manter relacionamentos de qualquer natureza.

O comportamento de Enid, ao longo do tempo, transforma a garota em alguém que o pai (Bob Balaban) e os amigos não compreendem. Ela não é preguiçosa e nem tem medo de trabalhar, como Rebecca imagina. Tampouco é chata, como a maioria das pessoas que convivem com ela pensa, apesar do senso de humor volátil. Lésbica, como alguns acreditam? De jeito nenhum. Enid é apaixonada por Josh (Brad Renfro), rapaz que trabalha numa loja de conveniência, mas sua maneira de demonstrar amor é passar pelo posto onde ele trabalha, todo dia, e deixá-lo enfezado com brincadeiras irritantes. Seu jeito bruto, birrento e desleixado engana todo mundo. Ninguém a entende.

Com a exceção de Rebecca, a única alma no mundo com quem Enid simpatiza é Seymour (Steve Buscemi), um colecionador de discos raros de blues que passa os dias num emprego burocrático e gasta as horas livres imaginando o que fazer para conquistar uma mulher, qualquer mulher. Como ela, Seymour é um paria que sofre de completa inadaptação social, com o agravante de que é menos inteligente, e portanto possui menos facilidade para lidar com o problema – e é exatamente essa característica dele que mais atrai a garota. Em um filme normal de Hollywood, dois personagens assim estariam fadados a se apaixonar, apesar da diferença de idade. Não em “Ghost World”, cujo enredo segue por um caminho impossível de antecipar.

Usando de humor adulto, o diretor aborda a dura realidade das pessoas com dificuldade de adaptação social, de uma maneira que jamais soa arrogante, professoral ou amarga. Sim, há um clima evidente de melancolia que perpassa todo o longa-metragem, mas esse é exatamente o estado de espírito de Enid – alguém que sabe rir dos percalços que enfrenta, mesmo quando algo inesperado piora um instante que parecia não poder piorar. Como se não fosse suficiente, o diretor criou ainda um dos figurantes mais interessantes dos últimos tempos, na figura do velhinho que espera diariamente um ônibus vermelho cuja linha foi alterada – o que significa que o ônibus jamais passa. E o final do filme é imprevisível, alegórico e maravilhoso.

Indicado ao Oscar de Roteiro Adaptado.

(Ghost World - 2001)

sábado, 10 de setembro de 2011

A Última Sessão de Cinema (1971)

"Um formalista ardente numa época em que seus colegas dos anos 70 estavam dedicados a quebrar regras, Peter Bogdanovich obstinadamente se ateve a ideias e ideais antiquados dirigindo "A Última Sessão de Cinema". Nesse sentido, a sua adaptação do livro de Larry McMurtry deve ser vista como um elogio à geração anterior de grandes diretores (como Howard Hawks ou John Ford) no momento em que uma nova geração de jovens pioneiros direcionava a produção de filmes para um rumo mais solto e mais visceral.

Uma história de transição para a maturidade passada em uma pequena cidade empoeirada do Texas. "A Última Sessão de Cinema" é uma despedida dos anos 50, captando as mudanças nas tradições e nos interesses da América. Um elenco fantástico de novos atores (incluindo Jeff Bridges, Cybill Shepherd, Randy Quaid e Timothy Bottoms) atua ao lado de veteranos como Cloris Leachman e Ben Johnson enquanto tentam encontrar o seu lugar num mundo em mudanças. A visão de Bogdanovich é sombria mas honesta e ele capta (em um duro porém belo preto e branco) os momentos desajeitados em que a inocência se transforma em experiência, sem emitir juízos e sem espaço para a nostalgia. O filme representa o final de toda uma era, pleno com o sentimento de tragédia e deixando transparecer uma pesada e inconfundível tristeza.

Vencedor dos Oscar de Ator e Atriz Coadjvantes (Ben Johnson e Cloris Leachman). Indicado nas categorias: Melhor Filme, Direção (Peter Bogdanovich), Ator Coadjuvante (Jeff Bridges), Atriz Coadjuvante (Ellen Burstyn), Fotografia e Roteiro Adaptado.

(The Last Picture Show - 1971)

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Simplesmente Alice (1990)


Este é mais um filme de Woody Allen, mais um em que este diretor/roteirista/ator fora indicado ao Oscar de roteiro original. O filme não é tão bom assim, mas vale pela diversão e reflexão, que após terminar de vê-lo, temos em relação a nossa humilde vida. Apesar do contexto inicial fantasioso, o que chama a atenção no primeiro tempo, o filme logo perde a graça, pois, talvez a direção tenha sido o ponto fraco, já que o roteiro fora reconhecido.

Alice é uma mulher casada com um homem muito rico, mãe de dois filhos e sua vida se resume as compras, comandar os empregados de seu lar e organizar a vida privada de seu marido, além disso, Alice cuida de sua saúde, principalmente de suas dores nas costas que sente constantemente, freqüentando massagistas e recebendo visitas de seu personal trainer.

Certa vez, quando está em um salão de beleza (consumindo e ouvindo fofocas), Alice reclama com uma amiga as dores que tem sentindo, é aí que esta amiga lhe indica um massagista chinês que costuma utilizar ervas em seus tratamentos. Nesta mesma conversa, Alice declara que se sente culpada por se sentir atraída por um homem com o qual jamais trocou uma palavra, mas que o encontra às vezes, quando busca seus filhos no colégio.

Quando resolve se consultar com o curandeiro chinês, este a recomenda que tome um chá de ervas e não deixe de lado a sua programação diária, e como resultado, Alice se solta e acaba tendo uma conversa um tanto quanto sensual com o homem que atrai sua atenção. Em outra visita ao chinês, é recomendado que ela tome uma outra erva, desta vez uma erva rara, que como efeito tem o poder de causar a invisibilidade, assim Alice pode conhecer qualquer pessoa em seu íntimo.

Entre visitas ao médico chinês, encontros com o homem que a atrai e o convívio com o seu marido, Alice percebe que não está satisfeita com sua vida de riqueza e luxo, o que na verdade a torna uma pessoa vazia e a faz transformar radicalmente sua forma de encarar as coisas.

Indicado ao Oscar de Roteiro Original

(Alice - 1990)

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Un Amour à Taire (2005)


Diversos filmes retratam os horrores do nazismo durante a Segunda Guerra Mundial, principalmente no que tange o antisemitismo e os horrores do holocausto. No entanto, todos nós sabemos que não foram apenas os judeus as vítimas desta barbárie, ciganos, homossexuais e deficientes físicos e mentais também sofreram abusos.

“Un Amour à Taire” nos mostra a questão homossexual deste período. Jean e Phillipe são amantes e abrigam a jovem Sara, fugitiva do governo nazista. Sara se passa por uma jovem alemã e começa a trabalhar na lavanderia da família de Jean, que aliás, desconhecem a sua homossexualidade. É então que Jacques, irmão de Jean, descobre o romance entre os dois rapazes e através de um plano mal calculado o entrega à Gestapo.

Jean é levado a um campo de trabalho onde sofre torturas e até mesmo lobotomia, simplesmente ele é vítima de experiências que visam à cura da homossexualidade. O filme é de uma imensa sensibilidade e causará fortes sentimentos naqueles que o assistirem.

(Un Amour à Taire - 2005)

O Garoto (1921)


O Vagabundo (Charles Chaplin) acaba encontrando um bebê em uma lata de lixo deixado por uma mãe desesperada e decide levá-lo para sua pobre casa, adotando-o. Cinco anos depois descobre que a mãe virou alguém famosa, e tentará devolver a criança a ela, não sem antes muitos encontros e desencontros se realizarem.

(The Kid - 1921)

Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2 (2011)


A primeira parte do confronto entre Harry Potter (Daniel Radcliffe) e Lorde Voldemort (Ralph Fiennes) deixou uma série de perguntas a serem respondidas nesta produção. Como se viu ao final do filme anterior, o vilão consegue roubar a poderosa “varinha das varinhas”, uma das tais relíquias da morte, ao lado da Capa da Invisibilidade e da Pedra da Ressurreição.

Enquanto isso, Potter, ajudado por seus inseparáveis amigos Hermione (Emma Watson) e Rony (Rupert Grint), tenta destruir as Horcruxes, objetos que contêm partes da alma de Voldemort. Sem encontrá-los, como é contado em “Harry Potter e o Enigma do Príncipe”, o jovem mago não conseguirá sobreviver à profecia: “Nenhum dos dois poderá viver enquanto o outro estiver vivo” (A Ordem da Fênix).

Embora as competentes cenas de ação devam ser devidamente registradas, o roteiro ampara-se na conduta dos personagens. Caráter, lealdade, fraternidade e questionamentos causados pela escolha entre o bem e o mal são as pedras fundamentais desta derradeira sequência. Mais do que matar Voldemort, a missão do protagonista tenta imprimir a solidez moral dos envolvidos.

No decorrer de uma década, os atores Radcliffe, Grint e Emma Watson mostraram uma evolução em suas habilidades dramáticas – ela, em especial – que dão vigor ao conflito que se assiste na tela. No entanto, o que realmente convence a audiência é a colaboração especial de atores consagrados do cinema e teatro inglês em toda a trajetória do herói. Helena Bonham Carter, Ralph Fiennes, Michael Gambon, John Hurt, Gary Oldman, Kenneth Branagh, John Cleese, Imelda Staunton, Emma Thompson, Fiona Shaw, Alan Rickman, Maggie Smith, David Thewlis e Julie Walters são exemplos de quem levou credibilidade à trama.

Uma manobra muito bem-pensada pelo produtor David Heyman, que já imaginou levar aos cinemas a obra de J.K. Rowling em 1997, antes mesmo de ser publicada. Em entrevistas, ele chegou a confessar que não imaginava que a franquia faria tanto sucesso. Quem vê crianças e adultos falando um pseudolatim, como o “expelliarmus!”, nas filas de cinema também não imaginaria.

Deixando de lado os efeitos visuais e as boas interpretações, a adaptação dos livros sempre suscitou certas críticas, muitas delas feitas pelos próprios fãs da publicação. Embora captassem a essência, os filmes suprimiam detalhes importantes da história. O maior exemplo disso é Harry Potter e a Pedra Filosofal, cuja narrativa mostrou-se fragmentada para o espectador.

Os acertos vieram depois, como no competente O Prisioneiro de Azkaban, conduzido de forma sombria pelo diretor mexicano Alfonso Cuarón (de E sua mãe também). David Yates, que assumiu a franquia desde A Ordem da Fênix (o quinto livro), também deve ter reconhecidos seus méritos pelo O Enigma do Príncipe, embora peque nesta última parte. Harry Potter e as Relíquias da Morte, como um todo, é vigoroso e responde às perguntas centrais da trama, porém mantém arestas sem aparar.

Deixando de lado os subterfúgios simplórios utilizados pela autora para finalizar sua obra, há questões que permanecem neste desfecho. Uma delas é a aparição destemida do personagem Neville Longbottom (Matthew Lewis), entendida no livro, mas pouco razoável aqui. Outra é a pouca importância que se dá à Pedra da Ressurreição – uma das relíquias – , que simplesmente desaparece durante as cenas.

Pode-se entender que, devido à complexidade e volume do livro, a adaptação não deva se ater a preciosismos literários. E isso é razoável. Porém, privar o espectador de contextos convincentes é, no mínimo, perverso.

Isso sem contar certas dúvidas que o próprio livro traz à tona, como, por exemplo, o fato de Dumbledore não conseguir subjugar (não matá-lo, claro, por causa da Horcruxes) Voldemort no enfrentamento final de A Ordem da Fênix. Afinal, ele já possui a mais poderosa das varinhas que, por si só, já aniquilaria qualquer inimigo. E o que dizer sobre a questionável passagem de Belatriz Lestrang (aqui, Helena Bonham Carter) e os Comensais da Morte na casa dos Wealeys, quando Harry e Gina (Bonnie Wright) estavam sós (O Enigma do Príncipe)? Por que não os levaram?

Não se pode negar que a história do bruxo desperte emoções tanto nos atores que cresceram à sombra dele ou no público, ávido pelos conflitos. Daniel Radcliffe chegou a afirmar à imprensa que o sucesso trazido pelo personagem, no fim, conduziu-o, numa época, até ao alcoolismo. Hoje, aos 21 anos, ele já prefere uma vida caseira, longe dos vícios.

Harry Potter é um fenômeno. Pessoas vestidas como estudantes da escola fictícia de Hogwarts são comuns em filas de cinema. Nenhuma franquia conseguiu tão longo sucesso. O cronista e dramaturgo Nelson Rodrigues afirmava que pessoas podiam “fugir de seu odiento claustro doméstico para um mergulho escapista na fantasia”. Os livros e filmes de Rowling proporcionam isso. Daí o choro insuspeito no escuro do cinema.

Indicado a 3 Oscar: Direção de Arte, Maquiagem e Efeitos Visuais.

(Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 2 - 2011)

Assalto ao Banco Central (2011)


O roteiro baseia-se no famoso roubo ao Banco Central em Fortaleza (CE), em agosto de 2005. Mas isso é apenas o ponto de partida, pois, como deixam claro diretor e produtores, essa é uma obra de ficção inspirada num fato real.

A história, por si só, já era cinematográfica, necessitando apenas de alguns ajustes ao criar uma narrativa, pois, até hoje, alguns detalhes são desconhecidos. Um túnel foi cavado de uma casa até o cofre do Banco Central, de onde foram levados quase R$ 165 milhões. O filme se propõe a contar quem são os ladrões, como roubaram e o que fizeram com o dinheiro.

Um grupo heterogêneo é formado por Barão (Milhem Cortaz), Mineiro (Eriberto Leão), Carla (Hermila Guedes), Doutor (Tonico Pereira) e Tatu (Gero Camilo), entre outros. Barão planeja e comanda a ação. Ele é um líder que pouco põe a mão na massa, deixando a escavação para os outros.

A trama de “Assalto ao Banco Central” acontece em dois tempos, que se alternam sem qualquer aviso, tornando-se confusa desde o começo. Quem é quem? Quem está trapaceando quem? Quem está infiltrado onde? E por que a delegada (Giulia Gam) tem uma namorada? São alguns dos mistérios que rondam o filme. Lima Duarte faz um delegado da Polícia Federal. O personagem é tão solitário que, para compensar, tem uma foto dele próprio na sua mesa. Mas o detalhe mais intrigante é a foto de Freud na parede de seu escritório. Giulia Gam é sua parceira – jovem e corajosa, ela é o novo em vias de substituir o que há de velho na PF.

O problema em “Assalto ao Banco Central” não é bem sua cara de televisão ou a trilha sonora chata. Seus personagens superficiais seriam perdoáveis se o filme tivesse ritmo, boa montagem e diálogos bem escritos. Se é para fazer televisão, Marcos Paulo e sua equipe poderiam ter chamado, por exemplo, Gilberto Braga que daria agilidade à trama e criaria vilões memoráveis e não um bando de ladrões confusos que, enquanto personagens, não dizem a que vieram.

(Assalto ao Banco Central - 2011)

Mais ou Menos (2010)


O curta apresenta o drama vivido por um adolescente na escola, onde é constantemente discriminado por seus colegas. O líder do grupo chega a levar suspensão, mas persiste em sua violência declarada contra o colega de classe. Certa noite, depois de uma escapada desesperada, o inesperado acontece.

“O cinema pode ser considerado como uma espécie de ‘espelho da realidade’, pois mostra os mais variados aspectos da vida, não somente com o intuito de entreter o espectador, mas também tem o poder de fazê-lo refletir sobre o mundo à sua volta. A sétima arte funciona como uma formadora de conceitos. E como tal, muitas vezes acaba por ajudar a formar ideias erradas a respeito dos homossexuais, aumentando o preconceito por parte das outras pessoas. E o preconceito é um dos principais causadores da violência contra os gays, não só física, mas também moral”, diz o diretor de “Mais ou Menos”.

Segundo Alexander, o curta tenta mostrar alguns exemplos de discriminação que não são novidade para ninguém. “Todos nós já presenciamos ou ouvimos falar de situações parecidas com as do filme. Mas nessa história, um motivo real do preconceito é revelado, com o objetivo de tentar fazer as pessoas refletirem a respeito de suas próprias crenças e opiniões”, enfatiza.

“Mais ou Menos” já foi exibido no Brasil e exterior (Inglaterra, Itália, Canadá, Estados Unidos e Alemanha), sendo premiado em festival sem relação com a diversidade sexual.

(Mais ou Menos - 2010)

Sob o Sol da Toscana (2003)


Das paisagens magníficas à fantástica culinária, passando pelos saborosos vinhos, tudo que aguça os sentidos pode ser encontrado na Itália. E uma de suas pérolas é a Toscana. A ensolarada região, no coração do país, é o palco da históra contada pela autora norte-americana Frances Mayers em seu romance Sob o Sol da Toscana - Em casa na Itália. O livro descreve os prazeres e as surpresas de restaurar uma antiga casa, numa combinação de diário, guia culinário e turístico.

“Sob o Sol da Toscana”, o filme, é uma adaptação livre deste bestseller, já que apanha a essência do livro mas altera fatos e personagens. Dirigido por Audrey Wells, também responsável pelo roteiro, o longa fala sobre a esperança da segunda chance na vida de uma mulher, Frances Mayers, interpretada por Diane Lane. Frances é uma bem sucedida escritora que após o divórcio perde a motivação pela vida e pelo seu trabalho. Para lhe ajudar a sair da depressão, Patti (Sandra Oh), sua melhor amiga, a presenteia com uma excursão de 10 dias pela Toscana, com a esperança de afastá-la daquela vida inerte.

Envolvida pelo encanto e romantismo do lugar, Frances, num gesto impetuoso, acaba comprando uma casa abandonada há mais de 30 anos. Em péssimo estado de conservação, o lugar é conhecido como Bramasole, que significa "algo que anseia pelo Sol". Em meio ao processo de restauração da casa, ela experimenta a adaptação na nova morada, sua busca por si mesma, pela felicidade e, é claro, por um novo amor. Entre paixões e desilusões, questionamentos, novas amizades e novos costumes, ela vai se encontrando, voltando a sorrir, a amar e a viver.

Belas locações, elenco italiano e diversas referências ao cinema de Federico Fellini remetem à ideia de que o filme presta uma homenagem à Itália. Num lugar onde as pessoas preservam suas tradições e a vida segue um ritmo tranquilo, Frances vai deixando transparecer sua descoberta de que a felicidade está nas coisas simples e nas sinceras relações de amizade. “Sob o Sol da Toscana” é um filme equilibradamente romântico em que a simplicidade da história nos dá a chance de degustar a magia do lugar e o charme de seus personagens. Uma prazerosa viagem pela Itália que vai fazer você sentir vontade de estar lá.

(Under the Tuscan Sun - 2003)

O Primeiro Ano do Resto das Nossas Vidas (1985)


Sete amigos recém-formados se deparam com a amarga realidade do mundo real, tendo que conviver com a insegurança profissional e emocional nesta nova fase da vida. Este novo momento pode pôr em risco a amizade existente entre eles, a qual acreditavam que seria eterna.

(St. Elmo's Fire - 1985)

Se Meu Apartamento Falasse (1960)


Billy Wilder costumava coçar a sociedade americana justamente onde ela sentia mais cócegas. Inspirado por "Desencanto" (1945), de David Lean, precisou esperar 10 anos para que a censura relaxasse antes de poder contar a história do "terceiro" homem, o sujeito que empresta o apartamento para o casal adúltero. Surpreendentemente, apesar do tema delicado, "Se Meu Apartamento Falasse" ganhou nada menos que cinco prêmios da Academia e agora é considerado por muitos como o último filme verdadeiramente "realista" do diretor.

Alguns criticaram a amoralidade do personagem de Jack Lemmon, C. C. Baxter, que ganha promoções rapidamente apenas por ajudar alguns dos executivos da grande empresa de seguros onde trabalha a enganarem suas mulheres. Mas Lemmon, que costumava interpretar o homem comum em obras de Wilder, dá ao papel um sólido toque de humanidade e Baxter acaba parecendo nada além de um funcionário escravizado contra a vontade, preso a uma situação que já existia no início do filme e que foge a seu controle. Apesar do humor, "Se Meu Apartamento Falasse" é, em realidade, uma severa crítica social, bem como um exame da vida na América contemporânea e seus comportamentos sexuais. É também um ataque vigoroso contra a corrupção básica do sistema capitalista, no qual quem tem um pouco de influência pode se dar bem em detrimento dos outros.

"Se Meu Apartamento Falasse" combina com habilidade vários gêneros, mas em resumo começa como uma comédia satírica, transforma-se em um poderoso drama e termina como comédia romântica. Construído meticulosamente, o desiludido roteiro de Wilder e I. A. L. Diamond pode ser considerado, de certa forma, uma continuação amargurada de "O Pecado Mora ao Lado" (1955) - uma continuação magnificamente filmada em um cinemascope preto-e-branco um tanto sombrio. Depois das férias de verão, quando os homens tiveram casos na ausência das mulheres, eles logo abandonam suas amantes,. Fran Kubelik (Shirley MacLaine) é uma dessas moças desafortunadas e acredita que romances não são um bem de consumo como outro qualquer. No final, o burocrata finalmente se redime por amor a outro coração solitário, embora o filme evite com sucesso qualquer toque açucarado. Apesar de Wilder aparentemente não considerar a combinação de Lemmon e MacLaine muito eficiente, os espectadores têm todo o direito de manter uma opinião bem diferente.

Vencedor de 5 Oscar: Melhor Filme, Direção de Arte, Direção (Billy Wilder), Edição e Roteiro Original. Indicado nas categorias: Melhor Ator (Jack Lemmon), Ator Coadjuvante (Jack Kruschen), Melhor Atriz (Shirley MacLaine), Fotografia e Som.

(The Apartment - 1960)

Oliver! (1968)


Desde seu início sofrido, o jovem Oliver Twist (Mark Lester) percebeu que a sua missão de achar uma família e uma casa não era uma das tarefas mais fáceis. Em sua trajetória consta participação em um grupo de trombadinhas, liderados pelo sacana Fagin (Ron Moody) e o terrível vilão Bill Sikes (Oliver Reed). Mas com a ajuda do talentoso Dodger (Jack Wild) e a linda Nancy (Shani Wallis) Oliver logo encontra o caminho certo a seguir.

Vencedor do Oscar de Melhor Filme, Direção de Arte, Direção (Carol Reed), Trilha Sonora e Som. "Oliver!" levou ainda um Oscar honorário para Onna White pela elaboração das coreografias executadas durante as canções. O filme também foi indicado em mais 6 categorias, sendo elas: Melhor Ator (Ron Moody), Ator Coadjuvante (Jack Wild), Fotografia, Figurino, Edição e Roteiro Adaptado.

(Oliver! - 1968)

Conduzindo Miss Daisy (1989)


Uma rica judia de 72 anos de idade (Jessica Tandy) acidentalmente joga seu carro novo no jardim do vizinho. Seu filho Boolie (Dan Aykroyd) tenta convencê-la de que ela precisa de um motorista, mas ela resiste à ideia. Mesmo assim, seu filho contrata o motorista Hoke (Morgan Freeman), provocando a imediata recusa de sua mãe. Mas gradativamente ela quebra a barreira da diferença cultural e racial existente entre eles, aceita suas próprias limitações e permite nascer e crescer um sentimento puro e sincero de amizade que durará décadas.

Sem fugir do clichê “eles se odeiam e depois viram grandes amigos” (que neste caso é muito bem utilizado, pois o desentendimento inicial é perfeitamente aceitável, assim como o nascimento da relação de respeito e carinho entre eles), o bom roteiro de Alfred Uhry estuda minuciosamente os efeitos do envelhecimento no ser humano, normalmente resistente às mudanças provocadas pela passagem do tempo. Esta resistência provoca uma enorme dificuldade em aceitar que não podemos mais fazer as mesmas coisas de antes, como quando Miss Daisy resiste em aceitar que não pode mais dirigir. Além disso, o roteiro acertadamente aborda temas complicados, como o racismo (os negros são empregados e motoristas), tão forte naquele período da história dos EUA, e a discriminação religiosa, escancarados na frase preconceituosa do policial que pára os dois idosos na estrada. Finalmente, o roteiro de Uhry conta ainda com diálogos dinâmicos, inteligentes e repletos de ironia, principalmente entre a dupla principal e entre Miss Daisy e seu filho.

A velhice é tratada com respeito neste sensível “Conduzindo Miss Daisy”, extremamente bem atuado e com um roteiro bastante inteligente, que nos deixa algumas reflexões. A vida passa, o corpo enfraquece, os filhos crescem, os amigos e familiares se vão, mas as lembranças ficam. E afinal de contas, o que levamos desta vida? Levamos o amor, as verdadeiras amizades e as histórias que vivemos para contar. Melhor ainda é quando chegamos ao final desta trajetória podendo contar com alguém, seja este um companheiro ou um verdadeiro amigo. É isto que vale a pena na vida.

"Conduzindo Miss Daisy" venceu os Oscar de Melhor Filme, Melhor Atriz (Jessica Tandy), Maquiagem e Roteiro Adaptado. Foi também indicado nas categorias de Melhor Ator (Morgan Freeman), Ator Coadjuvante (Dan Aykroyd), Direção de Arte, Figurino e Edição.

(Driving Miss Daisy - 1989)

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Desenrola (2011)


No enredo de “Desenrola” é apresentado Priscila (Olívia Torres) que, aos 16 anos, tem um milhão de dúvidas sobre a vida, os rapazes, o futuro e o presente. Quando sua mãe (Claudia Ohana) sai em viagem, ela vê a possibilidade de investir seriamente em Rafa (Kayky Brito), mais velho do que ela e por quem se sente atraída.

Essa é a linha central da narrativa de “Desenrola” que aos poucos procura ganhar densidade com novos personagens, dilemas e conflitos da adolescência, como a gravidez precoce. É verdade que nem sempre consegue a profundidade que aspira. A própria gravidez de uma personagem secundária é uma questão resolvida muito facilmente.

Ainda assim, a diretora do filme sabe falar diretamente ao seu público. Tendo como referência alguns retratos brasileiros da juventude da década de 1980, como Bete Balanço, Menino do Rio e Garota Dourada, “Desenrola” quer – e consegue em boa parte do tempo – ser um filme ensolarado (não por acaso estreia no verão) e descolado. Rosane cria alguns momentos bastante inspirados, como uma serenata peculiar e uma bela cena em que Priscila ganha flores oferecidas por estranhos, na rua, ao som de “Linda Rosa”, numa versão da banda Playmobil.

No elenco de “Desenrola” há três achados. A dupla Lucas Salles e Vitor Thiré garante alguns dos momentos mais engraçados do filme, como um garoto ingênuo e apaixonado por Priscila e o melhor amigo dele. Já a protagonista, Olívia Torres, combina carisma com a ingenuidade e a insegurança da juventude. Ela transforma a personagem, que nas mãos de atriz menos talentosa podia se tornar um clichê ambulante, numa garota real, que pensa, sonha e tem sentimentos.

Se para muitos adolescentes “Desenrola” funcionará como espelho, para seus pais será um alerta – ou até mesmo aplicará um susto. Essa é a chance do filme cumprir um papel social, abrindo discussões sobre as dificuldades e alegrias da passagem da infância para a vida adulta.

Segue o trailer do filme:



(Desenrola - 2011)

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Pixote: A Lei do Mais Fraco (1981)

Faz tempo que eu não escrevo aqui. No máximo tenho feito algumas postagens sobre alguns filmes, curtas e seriados que tenho assistido, mas na maioria das vezes posto alguma crítica que leio pela internet, não me apegando ao blog como fazia antigamente. Talvez seja porque penso eu que ninguém tenha interesse em ler minhas postagens. Bem, vou tentar reverter esta situação e começar a expressar-me aqui novamente, imaginando que alguém lerá o que aqui escrevo.

Há muito tempo ouvi falar em “Pixote: A Lei do Mais Fraco”, creio eu que foi minha mãe quem me falou sobre este filme, ou melhor, sobre o garoto Fernando que o interpreta, ao ressaltar o seu fim trágico na vida real, que aliás foi retratado no filme “Quem Matou Pixote?” de 1996. Foi a partir daí que surgiu meu interesse de ver esta obra. Este filme completa neste ano exatos 30 anos de existência e é triste assisti-lo e perceber que a realidade brasileira em relação ao desvirtuamento infantil não mudou, continua o mesmo, o que torna esta película atual.

Héctor Babenco, diretor argentino, que mais tarde dirigiu “O Beijo da Mulher Aranha”, nos conta a história de Pixote, um garoto de 10 anos que vive nas ruas de São Paulo. Filho de pai desconhecido e mãe ausente, ele se envolve em pequenos furtos, até ser detido e levado a um reformatório destinado a cuidar de menores de idade, neste lugar o garoto passa a vivenciar situações de tortura, violência, abuso sexual, degradação e corrupção, até que consegue fugir e retorna às ruas, onde vivenciará novas situações.

O filme é uma crítica a diversos sistemas brasileiros, como o legislativo, o político, o carcerário, o da saúde, etc. Uma dessas críticas recai sobre a corrupção envolvendo menores de idade, que por não serem punidos por crimes cometidos, passam a ser explorados por bandidos e levados ao mundo do crime. Outros temas abordados é a homossexualidade, o uso de drogas e a prostituição.

“Pixote: A Lei do Mais Fraco” consegue nos dar um soco no estômago. Ainda atual, o filme deve ser visto por quem deseja olhar o Brasil de uma maneira crítica. Não posso deixar de citar as participações de grandes atrizes, como Marília Pêra e Elke Maravilha, além da competência de Babenco ao selecionar garotos de rua para atuarem nos papéis principais, o que dá uma maior realidade ao filme.

(Pixote: A Lei do Mais Fraco - 1981)

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Dr. Fantástico ou Como Aprendi a Parar de me Preocupar e Amar a Bomba (1964)

"Cavalheiros, não podem brigar aqui! É a Sala de Guerra." "Dr. Fantástico" é uma brilhante comédia de humor negro que funciona como sátira política, suspense farsesco e história exemplar sobre os riscos da tecnologia para os Estados Unidos. Quando um fanático general americano desfecha um ataque nuclear contra a União Soviética, o presidente tem muito o que fazer. Precisa chamar de volta seus bombardeiros e acalmar os russos enquanto se digladia com seus conselheiros e um cientista pervertido. A trama de suspense veio de um livro séri, escrito por um oficial da Força Aérea Britânica, Peter George, publicado nos Estados Unidos sob o nome de Red Alert e na Inglaterra como Two Hours to Doom. Kubrick adorou a história, mas achou que as pessoas andavam tão impressionadas com a ameaça de aniquilação que, em processo de negação, ficariam apáticas a um documentário ou drama sobre a questão nuclear. Ele surpreenderia a plateia ao tornar a perspectiva concreta de exterminação global em alguma coisa engraçada e provocante, contada com tática de história em quadrinhos.

Kubrick e o co-roteirista Terry Southern criaram personagens grotescos cujas fixações absurdas e improváveis contrabalançam o realismo da situação (que também é acentuado pela notável fotografia em preto-e-branco de Gilbert Taylor). A informação sobre um mecanismo capaz de provocar o apocalipse é real, como também são as operações do Comando Aéreo Estratégico e os procedimentos adotados pelos tripulantes do B-52. Os computadores que levam a situação para fora do controle humano só se tornaram mais poderosos. Tenha medo. Tenha muito medo.

A ação transcorre em três pontos diferentes, todos experimentando dificuldades de comunicação. Na base aérea de Burpelson está o maníaco general Jack D. Ripper (Sterling Hayden), obcecado com fluidos corporais e conspirações comunistas. Ele subverte os protocolos de segurança e envia um avião para bombardear os "vermelhos" com um artefato nuclear. Ao mesmo tempo, aprisiona o atônito oficial da Força Aérea Britânica Lionel Mandrake (Peter Sellers). No B-52 de codinome "Colônia de Leprosos", o determinado major T.J. "King" Kong (Slim Pickens) e sua tripulação (que inclui James Earl Jones em sua estreia) sofrem de dificuldades com a radiocomunicação e ignoram os esforços frenéticos para que voltem à base. Na Sala de Guerra, no Pentágono - um incrível cenário de Ken Adams -, o presidente Merkin Muffley (Sellers) tenta interromper o Armagedom ao lado do descontrolado general Buck Turgidson (George C. Scott), do embaixador soviético Sadesky (Peter Bull) e do demente Dr. Fantástico (Sellers novamente, em uma homenagem de Kubrick a Rotwang, cientista maluco e fútil de "Metrópolis").

O hilariante desempenho de Sellers em papel triplo é legendário, mas todo o elenco dá uma aula em marcações exageradas e perfeitamente executadas. Duas imagens são inesquecíveis: Kong montando a bomba H, urrando enquanto despenca, e o enlouquecido Dr. Fantástico, incapaz de impedir seu braço mecânico de fazer a saudação nazista e finalmente se esganando. Rever este filme é ter a chance de constatar que ele está recheado de diálogos impagáveis. O presidente Muffley falando ao telefone com o primeiro-ministro soviético que um de seus comandantes "foi e fez uma besteira" é um clássico entre os monólogos. Kubrick retornaria ao tema da ameaça em potencial representada pela dependência para com os computadores em "2001: Uma Odisséia no Espaço", à questão da violência política e institucional em "Laranja Mecânica" e à selvageria surreal da guerra em "Full Metal Jacket". Mas nunca voltou a fazer suas plateias rirem tanto.

Indicado a 4 Oscar: Melhor Filme, Melhor Ator (Peter Sellers), Melhor Diretor (Stanley Kubrick) e Roteiro Adaptado.

(Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb - 1964)

Atividade Paranormal (2007)


A história é bastante simples. Micah (Micah Saloat) compra uma câmera para comprovar possíveis fenômenos paranormais presenciados por sua namorada Katie (Katie Featherston). Como em “A Bruxa de Blair”, ele filma as mais rotineiras ações do casal – de forma trêmula – para comprovar a existência de um suposto fantasma na casa onde moram.

Todas as noites o casal é surpreendido por uma série de situações inexplicáveis, que são captadas pela câmera. De madrugada, eles são acordados por ruídos estranhos, portas batendo, vozes, sombras e até contatos diretos, com claros indícios de manifestação demoníaca na casa.

Nesse contexto, Oren Peli tenta induzir o espectador a ver a história como algo verídico. Daí o agradecimento a famílias supostamente afetadas pelos fenômenos encenados na produção, nos créditos iniciais do filme. Mas isso não passa de uma grande jogada de marketing, embora sua mensagem assustadora seja eficiente.

Quem gosta de filmes de terror, não pode deixar de ver “Atividade Paranormal”. O diretor consegue realizar um filme sombrio, em que os detalhes da trama são fundamentais para assombrar o espectador. A julgar pela reação do público da pré-estréia desaconselha-se ver esta produção sem companhia.

Uma das curiosidades do filme está na suposta influência do diretor Steven Spielberg sobre o final da história. Ele teria feito Oren Peli mudar o desfecho de uma primeira versão, disponível na internet, tornando-o mais adaptável a continuações.

Mesmo que, a rigor, a produção não possa ser levada muito a sério como obra cinematográfica, ela é eficiente quando o espectador está sozinho em casa, acreditando que algo está levantando o lençol, enquanto tenta dormir.

(Paranormal Activity - 2007)

O Bolo (2010)


Este curta-metragem conta a história de uma empregada doméstica evangélica e recatada, que certo dia, ao chegar ao apartamento de seu patrão homossexual para fazer a limpeza diária encontra um bolo de chocolate recheado com maconha.

É aí que a comédia se inicia e faz deste curta um ótimo passa tempo para aqueles que gostam de rir ao ver uma boa moça recatada libertando seus instintos sexuais.



(O Bolo - 2010)

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Carnivale - Primeira Temporada (2003)


(Carnivale - The Complete First Season - 2003)

Greek - 1º Temporada (2007)


(Greek - Chapter One - 2007)

That's 70 Show - Oitava Temporada (2005)


(That '70s Show - Season Eight - 2005)

That's 70 Show - Sétima Temporada (2004)


(That '70s Show - Season Seven - 2004)

That's 70 Show - Sexta Temporada (2003)


(That '70s Show - Season Six - 2003)

That's 70 Show - Quinta Temporada (2002)


(That '70s Show - Season Five - 2002)

Frenesi (1972)



Alfred Hitchcock voltou à Inglaterra em 1972 para colaborar com o dramaturgo Anthony Shaffer em uma versão filmada do romance de Arthur La Bern Goodbye Peccadilly, Farewell Leicester Square, que ressuscita muitas das convenções do primeiro grande sucesso do diretor, "O Pensionista" (1926). Mais uma vez, Londres é atormentada por um serial killer similar a Jack, o Estripador, e o personagem principal só complica a sua situação agindo de forma tão estranha que se torna o principal suspeito.

Hitchcock obtém uma mistura exata de fascinação lasciva e horror genuíno ao mostrar a atitude inglesa diante dos assassinados - algo que também é uma grande parte de sua própria obsessão. Um amargurado ex-piloto da RAF, Richard Blaney (Jon Finch) é um alcólatra que trabalha como garçom em um bar de Covent Garden, reduzido a limpar a mesa de sua perspicaz ex-namorada Brenda (Barbara Leigh-Hunt), que, ironicamente, dirige uma próspera agência matrimonial. Em uma das mais horripilantes e explícitas cenas que o Mestre do Suspense já dirigiu, Brenda é visitada pelo rústico e bonachão distribuidor de frutas no mercado de Coventry Garden, Bob Rusk (Barry Foster), cujas exigências especiais não reveladas, porém perversas, ela não deseja cumprir profissionalmente. Rusk então revela ser o notório Assassino da Gravata estuprando a mulher e estrangulando-a com sua gravata estampada.

"Frenesi" prossegue entrecortando a narrativa do herói anti-social, desagradável e sem dignidade - reduzido a dormir em um abrigo para mendigos, a certa altura - e do vilão encantador, atraente e bem-sucedido, que torna a perturbar Blaney assassinando a sua namorada esporádica (Edith Massey), uma garçonete animadinha. Como em "Psicose" e "Pacto Sinistro", Hitchcock dirige uma sequência de suspense aliciando nossa cumplicidade na tentativa de um assassino de encobrir seu crime, mostrando Rusk atrapalhando com um cadáver nu em um saco de batatas no porta-malas de uma van para recuperar o seu predendor de gravata incriminatório. Hitchcock tira proveito da censura mais branda do período para ser mais explícito em relação ao sexo e à violência, embora ele também saiba quando um afastamento longo e lento, tirando a nossa atenção de um assassinato, transmitirá mais horror do que outro close de violência e estrangulamento. Há um veio de comédia estilo "Mike Leigh", sobre constrangimento social, no enredo secundário de um inspetor de polícia (Alec McCowen) cuja esposa (Vivien Merchant) está sempre lhe servindo pavorosas refeições "gourmet".

(Frenzy - 1972)

A Bela Junie (2008)



O diretor Christophe Honoré (Em Paris, Canções de Amor) continua firme no seu esforço de reciclagem do cinema francês recente. Desta vez, ao lado do experiente roteirista Gilles Taurand, ele se empenha numa revisita a um clássico da literatura do século 17 - A Princesa de Clèves, de Madame de La Fayette – para extrair livremente o argumento deste drama romântico ambientado numa escola de classe média em Paris.

A chegada de uma nova aluna, a bela Junie (Léa Seydoux), abala a rotina. Prima de Mathias (Esteban Carvajal-Alegria), ela decidiu mudar de escola para enfrentar a depressão causada pela morte recente da mãe. No novo ambiente, a garota bonita e reservada causa paixões.

Menina que parece difícil de contentar, afinal ela aceita o pedido de namoro do mais tímido de seus pretendentes, Otto (Grégoire Leprince-Ringuet). Mas eles parecem feitos de natureza muito diferente. E Junie também atrai a paixão de um de seus professores, Nemours (Louis Garrel).

Italiano e professor de música, o não menos belo Nemours também desperta paixões tanto entre professoras quanto alunas – e costuma corresponder à maioria, não raro ao mesmo tempo. Junie parece afetá-lo de outra forma, especialmente porque não se mostra disposta a ceder à atração que também sente por ele.

Como sempre nos filmes de Honoré, a presença da música é ostensiva. Aqui, é carregada pelas baladas do cantor e compositor Nick Drake – que têm muito a ver com o clima e a trama. O ambiente coletivo da escola, afinal, é tão personagem quanto cada um dos alunos, cujos afetos, invejas e disputas estouram a todo momento.

O incidente envolvendo uma carta perdida, que remete a uma intriga que até então passou despercebida, lembra a origem da história no romance do século 17 e também espalha um aroma de Eric Rohmer. Tanto quanto a fragilidade do amor remete o tempo todo a François Truffaut, assim como a câmera fluida, colocada no trajeto dos personagens nos corredores e ruas de Paris.

Honoré aposta demais no belo rosto de Lea Seydoux para traduzir seu enigma e esta é justamente a maior fraqueza da história. A musa, catalisadora das paixões, afinal, precisaria de mais estofo dramático para ter plena expressão – inclusive mais e melhores falas. É um filme voyeur, que se enamora da indiscutível beleza de seus personagens e procura captar a fluidez da adolescência. Mas se contenta com bem pouco.

(La Belle Personne - 2008)

Um Lugar ao Sol (1951)



Ao adaptar Uma Tragédia Americana, de Theodore Dreiser, para as telas, o diretor George Stevens se deparou com a dificuldade de tornar a história cruelmente naturalista de luta de classes algo interessante para uma plateia da década de 1950, mais ávida por entretenimento do que por doutrinação política. Sua solução foi de uma eficácia brilhante: dar destaque ao desejo sexual de George Eastman (Montgomery Clift) pela bela Angela Vickers (Elizabeth Taylor). Parente pobre de um industrial rico, George é enviado a ele pela mãe para vencer na vida. No entanto, dominado por sentimentos de privação e exclusão, George não demonstra disposição ou iniciativa para sair da sarjeta através do trabalho. Na verdade, ele é tão fraco que, mal começa a trabalhar na fábrica, viola uma de suas regras fundamentais. Ao sair com uma colega, acaba engravidando a pobre mulher, pela qual logo perde o interesse.

Interpretado com uma ingenuidade patética por Clift, os maiores bens de George passam a ser sua beleza e docilidade. Assim, "Um Lugar ao Sol" se tornou um dos romances mais comoventes e trágicos da Hollywood clássica, resultado da maneira cuidadosa como George Stevens dirigiu os protagonistas (que foram instruidos a enfatizar a linguagem corporal, e não o diálogo) e de sua manipulação habilidosa de dois estilos contrastantes. O encontro de conto de fadas de George com a inocente Angela é dominado por um trabalho de câmera intimista, com closes sobrepostos de forma especialmente cuidadosa em uma fotografia borrada. As cenas na fábrica, com a namorada Alice (Shelley Winters), e posteriormente no tribunal, no entanto, são fotografadas no estilo de filme noir, enfatizando a iluminação chiaroscuro e composições instáveis que expressam belamente a ameaça que as circunstâncias representam ao desejo de George por seu "lugar ao sol".

Grávida, Alice ameaça entregar George a sua família se ele não se casar com ela; ele é salvo desse destino somente porque a prefeitura está fechada por causa de um feriado quando o casal chega. George sugere um passeio no lago em um pequeno barco; sua intenção é que ocorra um "acidente" e Alice se afogue. Não consegue levar a cabo o assassinato, porém Alice, assustada, cai na água. Ela se afoga porque ele não tenta salvá-la e George para com a vida pela sua indiferença. Stevens, no entanto, o torna mais memorável como amante trágico do que como objeto de lição política.

Vencedor de 6 Oscar: Fotografia, Figurino, Direção (George Stevens), Edição, Trilha Sonora e Roteiro. Indicado aos Oscar de Melhor Filme, Melhor Ator (Montgomery Clift) e Melhor Atriz (Shelley Winters).

(A Place in the Sun - 1951)

As Confissões de Schmidt (2002)



É um tipo raro de comédia a produção americana “As Confissões de Schmidt”, do diretor independente Alexander Payne. Até porque não é uma comédia em sentido estrito. Mas a verdade é que, independente da discussão sobre o gênero do filme, os veteranos Jack Nicholson e Kathy Bates fazem um dueto em ótima forma, numa história que conta a guinada de 180 graus na vida de um viúvo, Warren Schmidt (Nicholson). Metódico até a medula, o sessentão acaba de se aposentar como agente de seguros. Passou toda a sua vida entre as quadro paredes de uma sala asséptica, da empresa Woodmen, repetindo funções monótonas, dia após dia, mas mantendo o papel de pai de família que todos esperam que ele seja. Mal tem tempo de fazer reflexões amargas sobre como detesta as manias e mesmo o cheiro de sua mulher, Helen (June Squibb), com quem está casado há 42 anos, quando ela morre de ataque cardíaco, pouco tempo antes do casamento da única filha dos dois, Jeannie (Hope Davis).

O futuro reserva ao viúvo algumas aventuras na estrada a bordo de um ônibus-trailer e o contato com a excêntrica família do futuro genro, Randall (Dermot Mulroney), onde se destaca a figura da desinibida mãe dele, Roberta (Kathy Bates). Coisa raríssima, Kathy mostra-se nua (algo só visto antes em Brincando nos Campos do Senhor, de Hector Babenco, numa situação intensamente dramática). Aqui, a assanhada Kathy está tentando seduzir o hesitante futuro sogro de seu filho, que está numa banheira - uma sequência hilariante, verdadeiro show de bola de dois veteranos completamente à vontade.

Nem tudo no filme é tão engraçado. Há diversos momentos em que Schmidt olha de frente a sua devastadora solidão. Tanto neles, quanto nas situações cômicas, sobressai a enorme qualidade da atuação de Jack Nicholson. Ele transpira em cada detalhe a total entrega ao personagem, com um entusiasmo que nem sempre devota aos seus trabalhos, apesar do seu indiscutível talento. Aqui, é visível que o ator abraçou por inteiro seu papel, entregando ao espectador um pungente retrato de um homem comum. Um detalhe curioso na história está nas cartas que o protagonista escreve para um garoto de 6 anos na Tanzânia, Ngudu, que ele ajuda com US$ 22 por mês, dentro de um programa humanitário da organização Childreach. Essa organização realmente existe e o menino, cuja foto até aparece nas imagens do filme, chama-se Abdallah Mtulu na vida real.

Indicado ao Oscar de Melhor Ator (Jack Nicholson) e Atriz Coadjuvante (Kathy Bates)

(About Schmidt - 2002)

Sonhos Eróticos de uma Noite de Verão (1982)



Três casais se reúnem em uma casa de campo para um casamento e acabam discutindo sobre sexo e seus sentimentos. Os donos da casa têm problemas de identidade sexual, um outro casal é composto por um professor que vai se casar em breve com uma mulher muito mais nova e o terceiro casal é formado por um médico que conheceu uma enfermeira há pouco tempo.Nesta pequena reunião sexo e amor são discutidos e seus sentimentos vem à tona. "Sonhos Eróticos Numa Noite de Verão" foi baseado em "Sorriso de uma Noite de Amor", lançado por Ingmar Bergman em 1955.

(A Midsummer Night's Sex Comedy - 1982)

Meia-Noite em Paris (2011)



Recorrendo mais uma vez à magia que inspirou alguns de seus melhores roteiros, como “A Rosa Púrpura do Cairo” e “Simplesmente Alice”, e sem por isso chegar à ficção científica, Woody elege o improvável Owen Wilson como o passageiro de uma viagem no tempo, rumo aos inquietos anos 20 em sua nova e deliciosa comédia, “Meia-Noite em Paris”, que abriu o último Festival de Cannes.

Transformar Wilson, ator de algumas comédias muito duvidosas, como a recente Passe Livre, no intérprete convincente desta história criativa, aliás, foi a primeira mágica do diretor. Na pele do roteirista Gil Pendler, cujo sonho é trocar Hollywood pela literatura, o ator assume seu costumeiro ar entre ingênuo e abobado, que cai bem, no entanto, a um personagem que descobre por acaso essa porta fantástica no tempo, que lhe permite trocar figurinhas com uma lista invejável de alguns dos maiores artistas da História. Entre eles, Scott e Zelda Fitzgerald (Tom Hiddleston e Alison Pill), Ernest Hemingway (Corey Stoll), Gertrude Stein (uma impagável Kathy Bates), Pablo Picasso (Marcial Di Fonzo Bo), Henri Matisse (Yves-Antoine Spoto) e Salvador Dalí (uma breve e inspirada participação de Adrien Brody).

A porta mágica fica dentro de um calhambeque Peugeot, onde Gil embarca numa noite em que se perdeu pelas ruas de Paris – depois de deixar a noiva Inez (Rachel Adams) sair com outro casal de amigos, em que um deles é Paul (Michael Sheen), um pseudo-intelectual pedante que Gil simplesmente não aguenta mais ver pela frente.

Cabe a ninguém menos do que a primeira-dama francesa, Carla Bruni, abalar a pose de Paul, bem no momento em que ele montava um discurso com algumas imprecisões sobre a vida de Auguste Rodin. Carla interpreta a guia do museu da obra do célebre escultor, um dos locais mais belos de Paris, e tem três cenas no filme, duas ali mesmo, outra num banco diante da catedral de Notre-Dame.

Para quem ama Paris, como o diretor e a maioria da humanidade, o filme é um prazer desde as primeiras sequências, que percorrem alguns dos pontos cardeais da paisagem afetiva da cidade que já foi descrita como uma festa. Esse foi o título, aliás, de um livro do próprio Hemingway, um dos expatriados americanos em Paris que participam ativamente da fantasia viva de Gil.

É numa personagem fictícia, no entanto, Adriana (Marion Cottilard), musa de Picasso, que o filme sintetiza a fantasia romântica que abala Gil mais profundamente, levando-o a reavaliar seu noivado com Inez – a quem cabe, o tempo todo, a função de desmancha-prazeres do noivo sonhador.

Nenhum elemento desta boa receita funcionaria, no entanto, sem um equilíbrio entre a beleza, a poesia, o humor e umas pitadas de discussão sobre o sentido da vida, de estarmos aqui, nesta época, sonhando sempre com outra, geralmente no passado e que idealizamos o bastante para acreditar que foi melhor. Brincando com essa ideia simples, embalada em várias músicas de Cole Porter, “Meia-Noite em Paris” soa afinado como um violino e nunca esquece de fazer sorrir. Às vezes, faz rir muito das piadas com um perfume intelectual, nada pedante, que Woody sempre soube fazer tão bem.

Desta vez, ele acertou em cheio. Se bem que, para aproveitar mesmo a série de boas piadas do roteiro – entre elas, uma em que Gil sugere uma ideia cinematográfica a Luis Buñuel (Adrien de Van) -, o espectador precisa ter um mínimo de informação sobre esta rica galeria de artistas do passado encontrados neste benvindo túnel do tempo. Nada que o público habitual de Woody Allen não possa dar conta.

Vencedor do Oscar de Roteiro Original. Indicado ao Oscar de Melhor Filme, Diretor (Woody Allen) e Direção de Arte.

(Midnight in Paris - 2011)

O Corvo (1963)



O feiticeiro Dr. Erasmus Craven está em luto e sofrendo com a morte de sua esposa, Lenore, há mais de dois anos para o descontentamento de sua filha, Estelle. Em uma noite ao receber a visita de um corvo, o qual descobre ser outro mago,o Dr. Bedlo, que havia sido transformado em um duelo injusto segundo ele, Erasmus descobre que o fantasma de Lenore havia sido visto dentro do castelo de seu maior inimigo, o bruxo Dr. Scarabus. Cada um em sua busca pessoal eles se juntam a Rexford, o filho de Bedlo, e vão ao castelo de Scarabus onde são recebidos com uma hospitalidade obviamente falsa pelo bruxo. Tanto para Bedlo como para Erasmus e Rexford, aquele seria o cenário de uma guerra épica entre dois feiticeiros infalíveis e outro nem tanto, tudo levando a uma terrível descoberta.

(The Raven - 1963)

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Hannah e Suas Irmãs (1986)


O último e mais abrangente longa-metragem de uma primorosa série de filmes de Woody Allen que começou com "Sonhos Eróticos de Uma Noite de Verão", este filme, talvez inspirado em Bergman, mas com tonalidades que lembram Renoir, revela a influência dos dois mestres sobre Allen ao traçar as mudanças em vários relacionamentos complicados durante o espaço de um ano. Centrado, como alguns de seus outros filmes, na parte artística e privilegiada de Manhattan, o filme focaliza três irmãs (Mia Farrow, Barbara Hershey e Dianne Wiest), os parceiros das duas primeiras (Michael Caine e Max von Sydow), o ex-marido da primeira (Allen) e alguns amigos e colegas que entram em cena para complicar a ciranda romântica. O próprio Allen está menos à frente do que de hábito e sua neurose hipocondríaca habitual consome menos tempo e empatia do que Caine, que deixa de lado sua fidelidade a Farrow por conta de uma paixonite pela Hershey mais nova. Na verdade, um dos prazeres do filme é a maneira como Allen lida com o escopo da narrativa, maior do que o tradicional. Os personagens são, no mínimo, mais bem acabados do que os anteriores, mesmo quando a abrangência ampliada nos dá um sentido de um mundo maior que é externo ao outro mundo, o que constitui o núcleo ficcional do filme.

Em muitos aspectos, é claro, são as mesmas velhas situações, tipos, até mesmo as piadas antigas, e apesar disso há algo de Checov no filme: a delicada tristeza de vários dos dilemas emocionais, a consciência da dor muito real subjacente às piadas, o amargo e inevitável fato de a morte pairar subentendida no ar o tempo todo, enquanto Woody, o bobo da corte ansioso, encara questões médicas. As piadas não são apenas tiradas espirituosas, mas totalmente plausiveis em termos de personagens e enredo, fazendo justiça a um dos melhores elencos que Allen já reuniu. Ao contrário de outros filmes, sente-se em "Hannah e Suas Irmãs" um sincero tributo às boas coisas que quase fazem com que a vida valha a pena, ao invés da percepção de que a sensação foi forçada (embora Allen houvesse, de fato, chegado a pensar em um final mais sombrio). Um filme "de bem com a vida", no melhor sentido da expressão.

Vencedor de 3 Oscar: Ator Coadjuvante (Michael Caine), Atriz Coadjuvante (Dianne Wiest) e Roteiro Original.

Indicado nas categorias: Melhor Filme, Direção, Edição e Direção de Arte.

(Hannah and Her Sisters - 1986)

terça-feira, 5 de julho de 2011

A Era do Rádio (1987)



No início da Segunda Guerra Mundial em Nova York, uma simples família judia tem seus sonhos inspirados nos programas de rádio da época. Em virtude de ainda não existir televisão, as famílias se reuniam ao redor do rádio e cada membro da família tinha seu programa preferido.

Indicado ao Oscar de Direção de Arte e Roteiro Original.

(Radio Days - 1987)

segunda-feira, 4 de julho de 2011

De Ilusão Também Se Vive (1947)



“De Ilusão Também se Vive” é um trabalho surpreendentemente eficaz, baseado no romance de Valentine Davies. Andando pelas luxuosas ruas de Nova York, o doce senhor Kriss Kringle (Edmund Gwenn) é visto confirmando a uma criança que é realmente o verdadeiro Papai Noel. Pode parecer reconfortante, mas o velhinho também tem um incrível orgulho medieval: ao ver o Papai Noel da loja de departamentos Macy’s bebendo uísque em um desfile de rua, tira-lhe as renas e toma seu posto no trenó, de forma tão impressionante que a executiva da loja, Doris Walker (Maureen O'Hara), o contrata.

A fila para vê-lo aumenta impressionantemente, até que ele é processado por ser um impostor e é defendido por Fred Gailey (John Payne) que acredita na identidade do bom velhinho. Esse não é seu único julgamento, pois também tem de convencer a precoce Susan Walker (Natalie Wood), uma menina de seis anos, filha de Doris, de que ele é o verdadeiro Papai Noel, tendo de entregar-lhe um pai, uma casa e um irmão de presente de natal. Kris Kringle pode ou não ser o genuíno Papai Noel, mas acaba convencendo Susan de que as coisas nem sempre são aquilo que parecem ser.

“De Ilusão Também se Vive” é um filme filosófico. Como provar que Papai Noel existe? É uma coisa meio difícil – como o filme -, baseada em crença. O filme é notadamente feito para crianças, mas tem elementos suficientes para agradar toda a família. O apelo deve estar na figura de Papai Noel, muito bem interpretada por Edmund Gwenn, como um avô de fantasia – com o bolso sem fim.

Vencedor do Oscar de Ator Coadjuvante (Edmund Gwenn), Roteiro e Roteiro Original. Indicado ao Oscar de Melhor Filme.

(Miracle on 34th Street - 1947)