segunda-feira, 27 de junho de 2011

Desencanto (1945)


Os épicos imponentes da maturidade de David Lean às vezes ameaçam ofuscar os relativamente modestos primeiros trabalhos do diretor. Porém, concentrar-se demais no puro espetáculo de “Lawrence da Arábia” e “Doutor Jivago” significa ignorar algumas das maiores façanhas de Lean. Afinal, apenas um cineasta de primeira grandeza poderia dirigir “Lawrence da Arábia”, e este mesmo domínio da forma está patente nos seus filmes anteriores, embora em escala muito menor.

Lean já havia dirigido três adaptações da obra de Noel Coward quando iniciou “Desencanto”, baseado na peça de um ato do autor chama Still Life. Contudo, a brevidade da peça o forçou a expandir o material e, durante o processo, ele ampliou também seu próprio vocabulário cinematográfico. Contado em flashback, “Desencanto” acompanha o caso amoroso platônico entre a dona-de-casa Laura (Célia Johnson) e o médico Alec (Trevor Howard), que se conhecem por acaso em uma estação de trem. Há obviamente uma conexão entre os dois, porém ambos sabem que o romance não pode ir além de alguns almoços furtivos.

Ao elaborar um dos mais eficazes arranca-lágrimas da história do cinema, Lean realizou uma série de avanços formais que lhe deram rapidamente a reputação de mais do que um mero seguidor de Noel Coward. Para começar, ele retirou a história da estação de trem, acrescentando mais detalhes ao romance malfadado. Explorou também todo aparato cinematográfico à sua disposição; a iluminação, por exemplo, se aproxima do visual grave de suas adaptações posteriores de Dickens, tornando o mais simbólica possível a estação escura e esfumaçada. Os efeitos sonoros também são bem utilizados (especialmente o de um trem acelerando), assim como a música, que incorpora o “Concerto para piano nº 2” de Rachmaninoff como tema do filme.

No entanto, o mais importante é a utilização por parte de Lean de closes frequentes nos olhos de Johnson, que contam melhor uma história do que muitos roteiros. Ela e Howard estão excepcionais nesta que é a mais triste das histórias, cada movimento dos dois prenhe de significado e os diálogos impecáveis repletos de emoções profundas. Um olhar furtivo, um dedo acariciando a mão do outro e um riso compartilhado são praticamente tudo que é permitido a esses amantes desventurados, e Johnson e Howard transmitem belamente essa triste certeza.

Nomeado ao Oscar de Melhor Atriz (Celia Johnson), Diretor (David Lean) e Roteiro.

(Brief Encounter - 1945)

sexta-feira, 24 de junho de 2011

A Bíblia (1966)



As maiores histórias do antigo testamento são trazidas para as telas com um domínio e força impressionantes neste filme internacional, que exibe os 22 primeiros capítulos do Gênesis. Esta é a história espetacular do homem, de sua queda, sua sobrevivência e sua fé indomável no futuro.

Dando brilho à grandiosidade épica, temos as interpretações de George C. Scott como Abrão, Ava Garner como Sara e Peter O'Toole como a presença evocativa do anjo de Deus. O lendário John Huston dirige esta obra e também apresenta uma interpretação digna de nota como Noé.

Da abertura do filme em meio ao caos cósmico até sua mensagem de esperança e salvação, “A Bíblia” mantém a todo momento sua característica de uma conquista monumental do cinema

Nomeado ao Oscar de Trilha Sonora.

(The Bible: In the Beginning... - 1966)

Trabalho Interno (2010)


Se alguém procura um mapa da crise econômica mundial que, em 2008, sacudiu mercados, sugou trilhões de dólares em riqueza, causou a falência de grandes instituições financeiras, o desemprego de milhões de pessoas e uma instabilidade sem precedentes em vários países, ele está no documentário “Trabalho Interno”, de Charles Ferguson.

Premiado com o troféu de melhor roteiro de documentário pelo Sindicato dos Roteiristas dos EUA e também com o Oscar de documentário, “Trabalho Interno” chama a atenção, desde o início, pela solidez de sua pesquisa. Lidando com um tema complexo, diversas entrevistas e materiais de arquivo, consegue ser claro e incisivo ao mesmo tempo.

Autor de outro documentário igualmente contundente, “No end in sight” (2007), que dissecou as falsas razões do governo George W. Bush para a guerra do Iraque, o intelectual, ex-palestrante de universidades como Berkeley e o MIT (Instituto de Tecnologia de Massachussets), e milionário da indústria do software desde os anos 1990, Ferguson mostra-se um entrevistador altamente preparado – e não raro corrosivo para desavisados, como o ex-assessor do presidente George W. Bush, Glenn Hubbard.

Conciso, didático e detalhado, o filme historia como bancos norte-americanos promoveram agressivamente o financiamento e refinanciamento de hipotecas, mesmo para aqueles que claramente não podiam pagá-las, ao mesmo tempo em que especulavam em cima desse não-pagamento, com lucros astronômicos – caso do grupo Magnetar, de Chicago.

Enquanto crescia a bolha da ciranda financeira, lobistas se empenhavam junto a políticos para que não se aprovasse legislação dificultando seus movimentos - mantendo a desregulamentação iniciada nos anos 1980, com o presidente republicano Ronald Reagan, mantida pelo democrata Bill Clinton, na década de 90.

Não por acaso, negaram entrevistas ao cineasta alguns dos arquitetos e defensores do modelo especulativo, que finalmente quebrou bancos como Goldman Sachs e Lehman Brothers – caso dos ex-secretários do tesouro Larry Summers, Robert E. Rubin, Henry M. Paulson e Timothy F. Geitner, vistos apenas em imagens de arquivo.

É ouvido também um dos poucos a ter enfrentado os mega-especuladores, o ex-procurador geral e depois governador de Nova York, Eliot Spitzer.

Por muitas razões, “Trabalho Interno” é um filme realisticamente sombrio. Primeiro, porque denuncia que os mentores da alucinada ciranda especulativa fizeram-no deliberadamente – o que constitui crime, ainda não punido. Segundo, porque vários desses arquitetos da bancarrota alheia continuam assessorando o governo atual de Barack Obama. Terceiro, porque a universidade, que deveria oferecer um contraponto crítico, foi cooptada, com vários de seus eméritos professores aceitando cargos em conselhos diretores das empresas especuladoras, como consultores do governo (caso de Glenn Hubbard) ou palestrantes pagos regiamente com milhares e milhares de dólares (como John Y. Campbell, de Harvard).

Vencedor do Oscar de Melhor Documentário.

(Inside Job - 2010)

X-Men: Primeira Classe (2011)


Aqueles que acompanham a saga dos protagonistas de X-Men nos quadrinhos podem estranhar as soluções encontradas para explicar a origem dos personagens em “X–Men - Primeira Classe”. A versão dos fatos no cinema está bem longe da criada por Stan Lee e Jack Kirby (“X-Men #1”, 1963), ou de Jeff Parker (“X–Men - Primeira Classe”, 2006), fontes nas quais o roteiro escrito por Sheldon Turner (de “Amor sem Escalas”) e Bryan Singer (“X-Men” e “X-Men 2”) deveria beber.

Descontado esse fato, a adaptação dirigida por Matthew Vaughn (de “Kick-Ass- Quebrando Tudo”) traz às telas um vigoroso reinício para a franquia, reunindo acertadamente humor, drama, ação e efeitos especiais. Muito pela dedicação de Singer em criar uma boa história e as referências pop que o diretor espalha nas cenas.

Depois de uma apresentação inicial sobre a juventude de Charles Xavier e Erik Lensherr, futuramente o Professor X e Magneto, a trama avança para a década de 1960. Já adulto, Charles (James Mcavoy, de “O Procurado”) é um emérito pesquisador de genética, ao lado de sua irmã adotada, Raven (Jennifer Lawrence, de “Inverno da Alma”), a Mística.

Enquanto isso, Erik (Michael Fassbender, de “Bastardos Inglórios”) busca vingança contra Dr. Schmidt (Kevin Bacon), seu algoz durante a adolescência em um campo de concentração. Pelo que se vê na tela, foi o alemão que desenvolveu os poderes de Magneto.

As vidas dos personagens convergem quando a agente da CIA Moira MacTaggert (Rose Byrne) busca Xavier para ajudá-la a enfrentar um grupo de mutantes comandados por Sebastian Shaw. Em meio à Guerra Fria, o vilão pretende provocar um holocausto nuclear entre os Estados Unidos e a União Soviética, deixando o planeta arrasado para os mutantes. Como Sebastian Shaw é, no fim, o Dr. Schmidt, Erik se une à missão da CIA com o pretexto de matá-lo.

O problema é que o criminoso tem em sua companhia um poderoso time (Emma Frost, Azazel e Maré Selvagem) e Xavier precisa encontrar uma equipe para combatê-lo. Esse é o tal início dos X-Men, quando são recrutados os jovens Hank McCoy (Fera), Alex Summers (Destrutor), Angel Salvadore (Angel), Sean Cassidy (Banshee), Armando Muñoz (Darwin) e, claro, a Mística.

Quem conhece o mínimo da história original já pode ver, aí, os fatos discrepantes. Um dos exemplos é a presença de Alex Summers, irmão mais novo de Ciclope, que até então sequer nasceu. Mas não se trata de um erro. Bryan Singer assumidamente reinventa as origens do universo X-Men, à revelia dos fãs de quadrinhos, como já havia feito nas primeiras adaptações ao cinema.

O resultado, no entanto, é engenhoso e traz bons dividendos à bilionária franquia. Vaughn consegue levar bem a narrativa, ajudado pelo bom elenco, em especial James Mcavoy e Michael Fassbender, orientados a dar nuances pessoais aos seus personagens.

Patrick Stewart e Ian McKellen, que interpretaram o Professor X e Magneto anteriormente, eram presenças certas no filme (como ocorre com Hugh Jackman, o Wolverine). Mas a ideia foi rejeitada pelos produtores com a justificativa de que esta nova trilogia nada tem a ver com suas antecessoras e era melhor não misturar os canais. Enfim, tal como na natureza, em Hollywood nada se cria, tudo se transforma.

(X-Men: First Class - 2011)

Nasce Uma Estrela (1954)


O terceiro é o melhor (e o segundo dirigido por George Cukor) de quatro filmes sobre um casamento arruinado pela ascensão meteórica ao estrelato da esposa mais jovem e a autodestruição do ídolo decadente/mentor que ela ama. O filme de 1937, de William Wellman, com Fredric March e Janet Gaynor, ainda é um drama comovente; a versão rock de 1976, com Barbra Streisend e Kris Kristofferson, é memorável apenas por tê-la cantando. Porém o musical de Cukor, com Judy Garland (em um retorno triunfante) e James Mason em interpretações excelentes, inovou dentro do gênero musical ao impulsionar uma narrativa dramática com canções - especialmente na atormentada "The Man That Got Away" de Garland e no número arrebatador "Born in a Trunk". Insuperável, no Norman Maine de Mason está fascinante em sua aparição bêbado na cerimônia do Oscar.

Em parte uma sátira de Hollywood - divertida ao mostrar a transformação no estúdio da insossa Esther Blodgett na glamourosa Vicky Lester e ácida em sua representação da máquina publicitária que aprisiona Esther e Norman -, o filme é uma bela mistura de música, inteligência e tragédia romântica, realizado com uma convicção cativante. Em 1983, mais de 20 minutos de material anteriormente cortado foram restaurados, incluindo dois números escritos para Garland por Harold Allen e Ira Gershwin.

Nomeado aos Oscar de Melhor Ator (James Mason), Melhor Atriz (Judy Garland), Direção de Arte, Figurino, Música ("The Man that Got Away") e Trilha Sonora.

(A Star Is Born - 1954)

Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (2008)


Quase vinte anos se passaram desde quando Indiana Jones foi visto pela última vez, ao lado do pai, depois de encontrar o Santo Graal. Nesse meio-tempo, o diretor Steven Spielberg passou definitivamente de filmes de aventura para dramas mais sérios que lhe renderam dois Oscars como diretor, “O Resgate do Soldado Ryan” (1998) e “A Lista de Schindler” (1993). Agora, ele retoma o arqueólogo mais famoso do cinema em “Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal”.

Algumas coisas chegam intactas ao novo filme, como o ar retrô que a série sempre teve, o humor tipicamente americano, as perseguições e a trilha sonora onipresente de John William. Mas uma frase de Harrison Ford, na pele de Indiana, parece uma ironia com o que se vê na tela: “É sempre a mesma coisa”.

Os dois primeiros filmes da série “Os Caçadores da Arca Perdida” (1981) e “Indiana Jones e o Templo da Perdição” (1984) tinham um clima de matinê, uma leveza da diversão despretensiosa que Spielberg já havia perdido em “Indiana Jones e a Última Cruzada” (1989). Aqui, o diretor não tem o mesmo vigor, parece pensar que filmes de aventura são menores se comparados aos grandes dramas que fez nos últimos anos, como “Munique”. Por isso, dá a impressão de dirigir o filme no piloto automático.

Tal qual “O Resgate do Soldado Ryan”, os vinte primeiros minutos são muito bons. O mesmo nível nunca mais é atingido até o final. A história começa no final dos anos de 1950, com a Guerra Fria polarizando o mundo. Soldados soviéticos conseguem se infiltrar numa base nuclear americana e buscam um caixote valioso num depósito. Para encontrá-lo, precisarão da ajuda do prisioneiro Indiana Jones.

Nas primeiras cenas é introduzida a vilã – e melhor personagem do filme - Irina Spalko (Cate Blanchett), uma cientista soviética brilhante, conhecida como a ‘favorita de Stalin’. Com sua inteligência e um corte de cabelo à Louise Brooks, ela é uma vilã à altura de qualquer herói – até James Bond teria dificuldades para lidar com ela.

É claro que Indiana Jones vai conseguir fugir desses vilões e sobreviver a um teste nuclear. Depois, é levado para uma floresta da América do Sul por Mutt (Shia LaBeouf, de Transformers), para salvar a mãe do rapaz e mais um velho amigo do arqueólogo. Mais tarde, depois de muitos encontros desagradáveis com insetos e algumas perseguições, o Dr. Jones descobrirá que a mãe do garoto é Marion (Karen Allen), sua namorada de “Os Caçadores da Arca Perdida”.

Os assuntos familiares ficarão para mais tarde, uma vez que os russos estão chegando, em busca de uma caveira de cristal e um reino perdido que dão poderes a quem os encontrar. Por isso, os soviéticos estão em busca dessa lenda, para assim dominar o mundo.

Em “Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal”, Spielberg consegue combinar dois temas que lhe são caros: a questão da paternidade e alienígenas. Mas nunca os desenvolve muito bem, pois o filme conta apenas com uma correria atrás da outra – em especial na Floresta Amazônica e nas Cataratas do Iguaçu, que, na geografia confusa do filme, são bem pertinho uma da outra.

Subversões geográficas à parte, “Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal” é pura diversão – mas não no mesmo nível que Spielberg conseguiu antes. Depois de muito copiado por filmes como “A Múmia”, “Sahara”, e até o malfadado “Código Da Vinci”, Indiana Jones está de volta para retomar seu posto – mas não faria mal algum delegar o chapéu e o chicote a um herdeiro.

(Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull - 2008)

A Morta-Viva (1943)


"A Morta-Viva", segundo filme de terror da dupla Val Lewton/Jacques Tourmeur, transfere a história do livro Jane Eyre para as Índias Ocidentais, onde uma jovem enfermeira (Frances Dee) descobre que a esposa aparentemente catatônica (Christine Gordon) de seu patrão foi transformada através do vodu em um zumbi. Envolvido por uma canção que permeia a trama de fundo (Shame and Sorrow in the Family), este é um filme extraordinariamente sinistro.

A heroína Betsy Connell (Dee) sucumbe a uma atmosfera subrenatural evocada primorosamente, embora se esforce para compreender a cultura dos nativos, que outros filmes desdenhariam como supersticiosa. Aqui, no entanto, eles acabam se mostrando mais em sintonia com o que está acontecendo do que os supostamente civilizados personagens brancos. Como em muitos filmes de Lewton, a sequência mais memorável é uma caminhada noturna, em que Dee conduz a morta-viva loira através das plantações de cana, topando com uma inesquecível criatura esbugalhada da ilha (Darby Jones). "A Morta-Viva" faz uso do folclore caribenho e de estranhas imagens religiosas (um busto de São Sebastião) para apimentar um imbróglio romântico, que termina com todas as partes infelizes e com o vilão sendo atraído para as ondas no encalço de sua amada zumbi. Mais distante de Bela Lugosi em "O Cadáver Desaparecido", impossível.

(I Walked With a Zombie - 1943)

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Clapham Junction (2007)



O director Adrian Shergold utiliza várias histórias interligadas para examinar a ligação entre a homofobia e o desejo gay neste hipersexual drama filmado no sul de Londres ao longo de dois dias de Verão sufocantes.

É mais um dia típico de Londres: grupos de jovens homens estão no engate em bares Gay, um devotado casal homossexual prepara-se para unir-se civilmente numa cerimónia pública, encontros casuais ocorrem em casas de banho públicas, trocam-se histórias politicamente arrogantes em jantares sofisticados e um curioso jovem homossexual apaixona-se por um bonito homem do outro lado do pátio.

O argumento do filme, escrito por Kevin Elyot, baseou-se no assassinato de Jody Dobrowski, aqui representado pela personagem Alfie Cartwright, que ocorreu a 14 de Outubro de 2005 próximo a Clapham Junction. O filme foi apresentado no Channel 4, quase dois anos após o assassinato, a 22 de Julho de 2007 em celebração do 40º aniversário da luta contra a descriminação homossexual na Inglaterra e no País de Gales.

O filme está repleto de momentos brilhantes e controversos que conduzem os espetadores a explorar uma perspetiva diferente daquela que confortavelmente cada espectador defende. Algumas cenas são chocantes e algumas das histórias podem parecer que pecam pela simplicidade, no entanto no conjunto percebe-se que o objetivo do argumentista não é explorar a história, mas sim as tendências da sexualidade homossexual urbana nos dias de hoje, tentando que as personagens abordem um espectro máximo em termos de idades e estrados sociais.

O realizador conseguiu bons resultados na qualidade da imagem, do som, na forma como as cenas transitam entre as várias histórias. E mais do que pelas cenas chocantes, a abordagem fria que marca o filme, não o torna apropriado para menores de 16 anos, mas o torna, na minha opinião, ainda mais recomendável para o resto dos espetadores, tal como anunciado pelo filme, ninguém será o mesmo depois de ver este filme.

(Clapham Junction - 2007)

The Big Bang Theory - Quarta Temporada (2010)



(The Big Bang Theory - The Complete Fourth Season - 2010)

Glee - Segunda Temporada (2010)


(Glee - Season Two - 2010)

90210 - Terceira Temporada (2010)


(90210: The Complete Third Season - 2010)

Gossip Girl - 4º Temporada (2010)


(Gossip Girl - The Complete Fourth Season - 2010)

Rio (2011)


Era preciso um brasileiro para fazer um filme sobre o Rio de Janeiro. Esqueça os olhares estrangeiros, a falta de sensibilidade gringa para compreender a cor, o ritmo e o gingado. Na animação Rio, do carioca Carlos Saldanha, a Cidade Maravilhosa está lá, toda captada na tela, em suas qualidades e problemas, embora esses venham um pouco amenizados.

Ao retratar o Rio de Janeiro, a animação de Saldanha faz não só uma homenagem à cidade, mas a todo o País. No centro da história está a ararinha azul Blu (Jesse Eisenberg), uma ave que foi capturada e mandada para os Estados Unidos. Vai parar na fria Minnesota, onde mora com sua dona Linda (Leslei Mann), dona de uma livraria, que tem a ave como única companhia.

Blu, que está totalmente adaptado, tem a chance de reencontrar suas raízes quando ele e sua dona são procurados por Túlio (Rodrigo Santoro), um biólogo brasileiro que pretende levar a ave de volta para o Rio de Janeiro para que ela cruze com Jade (Anne Hathaway), a única fêmea viva da espécie em extinção.

A chegada de Linda e Blu ao Rio de Janeiro é retratada como um choque cultural. Em pleno carnaval, encontram ruas fechadas, gente em poucos trajes sambando para todo lado e muita música. Esse é o Brasil que os estrangeiros querem ver, mas também é o Brasil verdadeiro, aquele que pára uma semana para o carnaval.

Esse olhar de dentro para fora é difícil, e muita gente vai reclamar – dizendo que o filme mostra apenas carnaval, favela e paisagem. Mas será que não é exatamente isso – os contrastes, os paradoxos – que fazem do Brasil um país tão culturalmente rico e atrativo? Os problemas aparecem quase como metáforas. Pequenos saguis são batedores de carteiras; a favela onde moram alguns personagens do filme é mais pacífica do que uma de verdade, mas, ainda assim há tráfico – não de drogas, mas de animais silvestres.

Blu e Jade serão capturados por um pequeno órfão (Jake T. Austin) e entregues para um chefão da venda ilegal de animais, Marcel (Carlos Ponce). Quando a dupla consegue fugir, suas pequenas pernas estão acorrentadas. Como Blu, sempre vivendo em cativeiro, não aprendeu a voar, eles são obrigados a correr, na companhia de outras três aves, o tucano Rafael (George Lopez), Nico (Jamie Foxx) e Pedro (Will.i.am), enquanto são perseguidos por uma malvada cacatua (Jemaine Clement).

Há no mínimo meia dúzia de momentos memoráveis em “Rio”, especialmente pelo colorido e brilho que, aliados ao ritmo, tornam-se irresistíveis, como na cena de abertura em que aves tropicais sambam e cantam; no desfile no sambódromo; ou num passeio romântico de bondinho em Santa Teresa. Saldanha e sua equipe acertaram em cheio, principalmente porque atentaram para os detalhes – de cores e formas – que trazem veracidade para o filme. Estão na tela as ladeiras estreitas do Rio de Janeiro, as pequenas vielas da favela e também as praias lotadas.

A animação Rio tem tudo para se tornar um clássico – para agradar adultos e crianças, com seu roteiro bem sacado e seus personagens naturalmente cativantes. Mas não é só isso que torna o filme memorável. Há um toque mágico, algo inexplicável, porque na tela, os traços pulsam com vida, ritmo e brilho – algo bem parecido com o carnaval brasileiro.

Indicado ao Oscar de Canção Original.

(Rio - 2011)

Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos (2010)


Como o título bem indica, “Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos”, novo trabalho de Woody Allen, é um filme sobre expectativas e, quase por tabela, frustrações. A frase, como qualquer um pode suspeitar, vem das previsões de uma vidente, interpretada por Pauline Collins.

Parece que para Allen, como nota uma personagem, a clarividência, nos últimos anos, substitui a terapia, com os mesmo resultados – além de ser mais barato. Ao longo do filme, os personagens parecem estar em busca de placebos que vão dar a falsa sensação de cura para seus medos, ansiedades e inseguranças – mas que, no fundo, jamais irão solucionar seus problemas.

Helena (Gemma Jones) é a cliente preferida da vidente. Suas dúvidas são banais e é bem fácil descobrir o que ela realmente quer ouvir. Seu marido, Alfie (Anthony Hopkins), a abandonou e está de namoro com uma starlet chamada Charmaine (Lucy Punch), cujo nome é motivo de piada para Sally (Naomi Watts), a filha do casal.

Os personagens se ligam por uma teia de expectativas e ansiedades – mais do que laços de família. Sally é casada com Roy (Josh Brolin) escritor de um livro só que foi sucesso, mas incapaz de emplacar o segundo. Ele aguarda a qualquer momento a ligação de seu editor parabenizando-o por sua nova obra-prima, que ele entregou há algum tempo. Enquanto isso se distrai observando a vizinha do prédio em frente, Dia (Freida Pinto), por quem desenvolve uma paixonite.

A infidelidade conjugal – tema caro ao cinema de Allen – é o que espelha os casais Sally/Roy e Helena/Alfie. Sally começa a trabalhar numa galeria de arte, comandada por Greg (Antonio Banderas). Por ele ser mais refinado, culto e rico que seu marido, ela se sente atraída por ele – ou talvez seja simplesmente porque ele seja bem sucedido. Ou nem é nada disso – pode ser puro desejo carnal mesmo. Mas isso pouco importa, o que conta é como ela vai se entregando a esse sentimento e não percebe seu casamento se esvaindo. Helena também tenta esquecer o ex-marido e procura um novo amor.

Como alguns de seus últimos trabalhos – “Match Point”, “O Sonho de Cassandra” –, Allen filma na Inglaterra, onde ele tem conseguido dinheiro para bancar seus trabalhos. E, apesar de povoada por ingleses, um americano (Roy) e um espanhol (Greg), “Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos” é universal em sua abordagem do ser humano, sempre frustrando e ambicionando mais.

Aqui, alguns personagens alcançam seus objetivos - por meios idôneos ou não. O sentimento de culpa, no entanto, cai sobre eles à medida em que suas armações podem ser desvendadas e expor a farsa que são. Se Allen não coloca na tela o crime e o castigo, ao contrário de “Match Point” (uma espécie de “crime sem castigo”), aqui parece que as infrações caminham rumo à punição, mas a história acaba antes, deixando conclusões em aberto.

Muito já se falou sobre “Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos” ser um filme menor de Allen. Mas por que esperar que ele faça algo do porte de “Hannah e Suas Irmãs” ou “Interiores”? Allen se reinventa a cada trabalho, muito embora pareça estar contando sempre a mesma história de insatisfações e frustrações. Aqui, ele recicla tudo o que já apresentou em seu cinema, e, ainda assim, consegue um resultado bem acima do satisfatório.

Logo no início do filme, um narrador cita Shakespeare e nos lembra que “A vida é uma história contada por um louco, cheia de som e fúria, significando nada”. Por mais de quatro décadas Allen é esse louco que imagens, diálogos, jazz e alguma graça nos lembra que não vale a pena buscar significados profundos na vida – o melhor é deixar que ela nos leve.

(You Will Meet a Tall Dark Stranger - 2010)

quinta-feira, 2 de junho de 2011