segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977)



O filme mais esperado de 1977 foi originalmente concebido como uma visão moderna das comédias sofisticadas de Spencer Tracy e Katharine Hepburn dos anos 30. Porém Woody Allen e seu co-roteirista Marshall Brickman resolveram, em vez disso, produzir uma comédia que se passa na mente de Allen, com retrospectos dos casamentos anteriores do principal personagem masculino, assim como seus amores de infância aos quais é acrescido um mistério de assassinato. Modificado pelo editor Ralph Rosenbaum, o filme sofreu cortes no monólogo inicial e a retirada de cenas protagonizadas por Brooke Shields, aos 13 anos. Foi esta versão centrada no romance entre Alvy, um comediante neurótico, obstinado por sexo (interpretado, naturalmente, por Allen), e Annie Hall (Diane Keaton, ex-companheira de Allen) que captou a intenção original do diretor - fazer uma comédia escrachada moderna recheada de dúvidas e boas doses de psicologia pop.

Com cinco indicações ao Oscar, o filme ganhou quatro, inclusive melhor filme, e foi um sucesso de crítica e de público. De fato, a popularidade de "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" foi tão grande que partes do diálogo do filme passaram a surgir em conversar cotidianas: alguns anos se passaram até que aranhas deixassem de ser descritas como tendo "o tamanho de um Buick", por exemplo. "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" marca o amadurecimento de Woody Allen, uma virada em sua carreira. Até então, o seu trabalho compreendia apenas comédias "pastelão" como "Bananas" e "O Dorminhoco". Ainda que estes dois filmes continuem sendo extremamente engraçados, nenhum tem a ressonância emocional ou a relevância de "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa", que capturou o espírito de sua época.

Depois de um monólogo surreal na abertura, a história começa numa rua de Nova York, com Alvy e seu amigo Rob (Tony Roberts) falando sobre a natureza da vida. Rob apresentou Annie e Alvy durante um jogo de tênis em que a principal preocupação de Alvy era saber se o deixariam entrar no clube, sendo judeu. (Embora Woody Allen insista que seu personagem não é autobiográfico, há semelhanças demais entre Alvy e Allen para que sejam apenas coincidências; além disso, sabe-se que Keaton essencialmente é Annie Hall, tendo nascido Diane Hall e depois sendo apelidada de Annie.) O filme então se torna a história de Annie e o caso que Alvy está tendo, com elementos de comédia, falas dirigidas à câmera, humor judaico, observações irônicas sobre sexo, amor e as diferenças entre Nova York e Los Angeles. Possivelmente o filme mais honesto de Allen, é também (irônicamente, considerado que o seu tema é a imaturidade emocional) o mais maduro.

Originalmente intitulado "Anhedonia" (a incapacidade de ter prazer), o título Annie Hall surgiu apenas três semanas antes de sua estreia em 1977. Embora não haja continuação, os principais aspectos do enredo deste filme e a parceria de Keaton e Allen se repetem em um filme posterior de Allen, "Um Misterioso Assassinato em Manhattan". "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" é também notável por alguns dos primeiros papéis de atores como Jeff Goldblum, Christofer Walken, Beverly D'Angelo e (em um papel sem falas no final do filme) Sigourney Weaver. Mais peculiar ainda, tanto Truman Capote como Marshall MacLuhan aparecem no filme: Capote interpreta "um sósia de Truman Capote" e MacLuhan foi uma substituição de última hora (feita com relutância) no lugar de Federico Felini.

Vencedor do Oscar de Melhor Filme, Melhor Atriz (Diane Keaton), Melhor Diretor (Woody Allen), e Roteiro Original. Indicado ao Oscar de Melhor Ator (Woody Allen)

(Annie Hall - 1977)

Maria Cheia de Graça (2004)


Mais do que o sensacionalismo globalizado que persiste em filmes sobre tráfico de drogas, “Maria Cheia de Graça”, de Joshua Marston, centra-se no lado humano daqueles que são conhecidos como “mulas”, pessoas que aceitam transportar drogas para um outro país. Desde “Traffic” (2000), de Steven Soderbergh, não se via um filme abordar o tráfico de drogas de forma tão honesta. Além disso, foi uma das produções independentes mais premiadas no ano passado.


No caso deste longa, a mula é Maria (Catalina Sandino Moreno), uma jovem colombiana de 17 anos que vive na periferia de Bogotá e trabalha cortando galhos e espinhos de rosas. Cansada de ser humilhada em seu emprego, decide abandoná-lo, para desespero de sua mãe, que suplica que ela volte ao trabalho, pois é com este dinheiro que sustenta a família. Para piorar, a moça descobre que está grávida de seu namorado. Ironicamente, essa gravidez vai lhe ser muito útil mais tarde. É nesse momento que ela conhece Franklin, um rapaz que sabe persuadir as pessoas. Usando o argumento de que ela receberá um bom dinheiro pelo trabalho, ele acaba convencendo a Maria a entrar nos EUA com mais de 60 papelotes de heroína em seu estômago.

Mas engolir os papelotes não é tão simples quanto se possa imaginar – afinal eles são bem maiores do que pílulas de remédio. São especialmente assustadoras as cenas em que Maria treina utilizando uvas, e posteriormente ingere os papelotes de heroína. Além dos problemas, desconforto e riscos físicos – se um dos papelotes se abrir, ela morre de overdose-, há a pressão psicológica de conseguir entrar nos EUA sem ser pega. Dessa forma, o roteiro, também de Marston, cresce numa tensão angustiante, que consome não só Maria, mas também a plateia. Uma das escolhas mais acertadas do diretor foi evitar julgamentos morais sobre as decisões da personagem. Dessa forma, o longa assume um ar quase documental.

Além disso, o diretor consegue driblar o baixo orçamento, extraindo excelentes performances de todo o seu elenco. Especialmente de Catalina, que, embora não convença como uma moça de 17 anos, consegue passar todas as aflições e angústias de seu personagem.

Nomeado ao Oscar de Melhor Atriz (Catalina Sandino Moreno)

(Maria Full of Grace - 2004)

sábado, 29 de janeiro de 2011

Morte em Veneza (1971)


“Morte em Veneza” é, sem dúvida, um filme de ponto de vista. Encenado pelo olhar de Aschenbach e medido por aproximações e afastamentos de acordo com sua percepção do que o cerca, ele constrói de início uma atmosfera descritiva, que vai dando lugar ao recorte privilegiado de Aschenbach das particularidades do local. Se sua panorâmica de turista recém-chegado captava muito do ambiente do Hotel de Bains e da praia do Lido, logo sua atenção está fixada em seu objeto de adoração apaixonada, o Belo, o rapaz Tadzio e tudo o que o rodeia. Em cada gesto medido de Aschenbach é possível ver o detalhismo de Visconti e sua adesão ao original de Thomas Mann. O que era extensa descrição psicológica e sentimental naquele, ele transforma em devotada expressão pictórica, compondo quadros e movimentos de câmera ensaiados à perfeição. E como prova da contaminação do filme por seu objeto, podemos ver a contenção de Aschenbach, por um lado, e sua fixação apaixonada, por outro, pautarem “Morte em Veneza” do início ao fim. Visconti afirma ter transformado o personagem de Mann de escritor em músico para ser mais fiel ao intencionado pelo próprio autor, que era se aproximar, de alguma forma, da figura do compositor Mahler. Não à toa, Mahler musica veementemente todo o filme. Se Mann manifestava sua profunda compreensão dos dilemas intelectuais-artísticos de seu personagem através da sua própria escrita, Visconti a manifesta através da trilha sonora e da transposição de um personagem extremamente psicologizado para um personagem eminentemente visual. Não acessamos Aschenbach por uma detalhada descrição do seu interior, mas pela observação dos gestos e expressões precisos de Dirk Bogarde e pelo acompanhamento intensivo da música de Mahler.

Dessa forma, vamos acompanhando, em progresso imperceptível, a morte de Aschenbach, embebido da paisagem de Veneza e consumido pela obsessão de perfeição e beleza. Tudo aquilo que ele mais prezava ali, presente demais para um homem já tão fragilizado e debilitado pelo avanço do tempo em seu corpo e seu espírito, tornou inviável o restante do percurso. Ele havia atingido o ponto crítico. Seu modo de vida havia saturado sua própria vida. E o que poderia tê-lo feito recarregar suas energias, seus valores e suas crenças, para caminhar rumo aos seus últimos anos, o fez entrar em colapso e determinou uma impossibilidade de progredir.

Aschenbach morre. Contaminado por sua cidade amada, impregnada de peste asiática, e por seu adorado objeto de veneração, envolto por uma distância intransponível em que apenas massacrantes joguinhos sedutores têm espaço. Mergulhado em delírios e febres próprias de quem é atingido por grave infecção do corpo ou da alma, ele abraça o declínio, transformando-se no patético velho vestido de manequim pasteurizado de homem jovial, que ele mesmo repugnava. Desfalece por fim na praia deserta de turistas evadidos pela peste, no palco que assistiu sua lenta decadência, frente à imagem de seu ídolo venerado, que na mais bela pose de Deus, aponta o infinito, coberto por centelhas de luz emitidas pelo mar que reflete a cegueira emitida pelo sol. Permanecemos nós, com a estupefação de ter presenciado um amor muito intenso sem nenhuma troca efetiva, uma vida tão bem estruturada e tão altiva se esfacelando ante o mais banal, um filme tão belo sobre algo tão horrível...

Indicado ao Oscar de Filme Estrangeiro.

(Morte a Venezia - 1971)

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Charada (1963)


Em Paris, Regina Lambert (Audrey Hepburn) está prestes a se divorciar de seu marido quando descobre, que ele foi misteriosamente assassinado durante uma viagem de trem, logo após ter sacado todo o dinheiro (250 mil dólares) do casal, dinheiro este que agora está desaparecido.

Regina é ajudada Peter Joshua (Cary Grant), que pode ou não ter interesses financeiros em relação a ela.

Indicado ao Oscar de Melhor Canção.

(Charade - 1963)

Amor na Tarde (1957)


Em Paris, Ariane Chavasse (Audrey Hepburn), a filha de Claude Chavasse (Maurice Chevalier), um detetive particular, descobre que um caso de infelidade no casamento resolvido por Claude vai terminar em morte, pois o marido ofendido vai matar o amante da sua mulher, Frank Flannagan (Gary Cooper), um milionário americano. Mas quando vai avisá-lo ela sente-se atraída, mas ele logo viaja. No entanto, a paixão que Ariane sente continua e quando Frank retorna à cidade eles acabam se reencontrando. Como ele é conhecido por seus diversos casos amorosos, ela se inspira nas várias investigações feitas por seu pai para "fabricar" uma série de relacionamentos e, assim, se sentir em igualdade para poder competir com ele e lhe provocar um certo ciúme. Ele decide averiguar a verdade das afirmações dela e, sem saber, contrata o pai de Ariane para investigá-la.

(Love in the Afternoon - 1957)

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Meu Pênis e o dos Outros (2007)



Este documentário conta a história de um homem que se considera dono de um pênis pequeno e que procura diversos tipos de intervenções para contornar esta situação. A partir disto, ele passa a nos contar como um pênis com grandes proporções é valorizado em nossa sociedade, devido à mídia e principalmente à indústria pornográfica.

(My Penis and Everyone Else's - 2007)

Scott Pilgrim Contra o Mundo (2010)


Um dos grandes acertos do diretor e roteirista Edgar Wright (Chumbo Grosso) foi achar o tom certo entre o visual estilizado do videogame e o jorro de influências pop para compor “Scott Pilgrim Contra o Mundo”, uma esperta adaptação da graphic novel de Bryan Lee O’Malley, grande sucesso entre adolescentes.

Então, a história se situa claramente dentro de um cenário de videogame – com direito a lutas em que adversários são pulverizados e o herói pode ganhar uma vida extra. Nem por isso o roteiro (de Wright e Michael Bacall) descuida da composição dos personagens, que são um pouco mais consistentes do que a média das adaptações do gênero. Assim, dá para simpatizar bastante com as emoções do protagonista Scott Pilgrim (Michael Cera, de Juno).

Músico, 22 anos, integrante da banda Sex Bob-Ombs, em busca do sucesso, Scott se interessa por uma garota de 17, Knives Chau (Ellen Wong). Por se envolver com uma menininha mais nova, vira alvo de piadas dos colegas da banda, Kim (Alison Pill) e Stephen (Mark Webber), e mais ainda do colega de quarto, Wallace (Kieran Culkin).

Logo a situação se complica, com a chegada da bela Ramona Flowers (Mary Elizabeth Winstead). Moderna e descolada, mudando a cor do cabelo a cada semana e mais adulta e sensual do que Knives, ela logo se torna a fixação de Scott – que não tem coragem de romper com Knives.

O que Scott não espera é que, além de ser dificílima de conquistar, Ramona traz uma fila de ex-namorados rancorosos e maus na sua cola e que ele terá que derrotar um a um. O magrinho Scott multiplica suas forças para dar conta de um obsessivo Matthew Patel (Satya Bhabha); do ator metido e valentão Lucas Lee (Chris Evans); e do fortão Todd Ingram (Brandon Routh) que, para piorar, está envolvido com sua ex, Envy Adams (Brie Larson), outra vingativa.

Contando com uma série de lutas coreografadas em ambiente de videogame, o filme aposta num humor que deve algo aos seriados de TV, criando situações genuinamente divertidas entre os integrantes da banda de Scott, dele mesmo com seu colega de quarto gay, e de toda a legião de ex-namorados e namoradas.

(Scott Pilgrim vs. the World - 2010)

As Bruxas de Eastwick (1987)



Em uma pequena e conservadora cidade da Nova Inglaterra, Alexandra Medford (Cher), Jane Spofford (Susan Sarandon) e Sukie Ridgemont (Michelle Pfeiffer), entediadas com a vida que levam, se reúnem todas as quintas-feiras para tomarem drinques e conversarem sobre vários assuntos. O principal deles é um homem ideal e, sem querer, invocam Daryl Van Horne (Jack Nicholson), um ricaço misterioso e carismático que se muda para a localidade e se envolve com as três, satisfazendo os desejos delas mas criando uma guerra dos sexos com conseqüências inesperadas.

Indicado aos Oscar de Trilha Sonora e Som.

(The Witches of Eastwick - 1987)

domingo, 23 de janeiro de 2011

O Retrato de Dorian Gray (1945)



Dorian Gray (Hurd Hartfield) é um jovem ingênuo, que é apresentado ao mundo hedonista de Londres pelo lorde Henry Wotton (George Sanders). Um dia Basil Hallward (Lowell Gilmore), um amigo que é artista, resolve fazer uma pintura para retratar a beleza jovial de Dorian. Ele gosta tanto do retrato que declara que, se pudesse, daria até mesmo a alma para permanecer com aquele visual para sempre. A partir de então todos os pecados e a idade de Dorian são transferidos para o retrato, que fica cada vez mais horrível. Em compensação, Dorian permanece sempre com o visual jovem e belo.

Vencedor do Oscar de Fotografia. Indicados nas categorias: Atriz Coadjuvante (Angela Lansbury) e Direção de Arte.

(The Picture of Dorian Gray - 1945)

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Farrapo Humano (1945)



Antes de “Farrapo Humano”, bêbados em Hollywood eram em sua maioria figuras cômicas; na verdade, caricatas: bufões adoráveis cambaleando, fazendo piadas com a voz arrastada e passando cantadas em garotas bonitas. Billy Wilder e Charles Brackett, seu co-roteirista habitual, ousaram fazer algo diferente, criando a primeira abordagem adulta, inteligente e impiedosa do cinema americano da terrível degradação do alcoolismo. Mesmo hoje em dia, algumas cenas são quase dolorosas demais de assistir.

Ray Milland, em um papel que definiu sua carreira e lhe rendeu seu primeiro Oscar, interpreta Don Birnam, um escritor nova-iorquino lutando contra seu vício e finalmente sucumbindo a ele no espaço de um longo e calorento fim de semana de verão na cidade. Assim como fizera com Fred MacMurray em “Pacto de Sangue”, Wilder deslinda e explora avidamente a insegurança por trás da persona cinematográfica afável de Milland. Em vez de deixar que nos distanciemos e julguemos Birnam com uma compaixão imparcial, Wilder nos empurra junto com ele para o abismo. Somos obrigados a acompanha-lo à medida que ele abdica de todos os seus escrúpulos, mostrando-se disposto a mentir, trair e roubar para arrancar dinheiro para beber, até que, de forma terrívelmente inevitável, acaba no inferno de uma ala de alcoólatras de um hospital público gritando de horror diante das alucinações do delirium tremens.

Algumas partes do filme foram rodadas em locações em Manhattan, e Wilder aproveita ao máximo as ruas secas e banhadas de sol, filmadas por seu diretor de fotografia John F. Seitz para parecerem áridas e vulgares, como se estivessem sendo vistas através do olhar turvo e autodepreciativo de Birnam. Em uma sequência inesquecível, o escritor, que se rebaixa a ponto de tentar penhorar sua máquina de escrever para conseguir dinheiro para bebida, atravessa toda a poeirenta 3rd Avenue arrastando a máquina pesada – apenas para descobrir que é Yom Kippur e todas as lojas de penhores estão fechadas. Mais angustiante ainda é a cena em que uma boate em que Birman sucumbe à tentação e tenta roubar dinheiro da bolsa de uma mulher – apenas para ser pego e humilhantemente jogado para fora enquanto o pianista lidera a clientela em um coro que canta “Somebody Stole Her Purse” à melodia de “Somebody Stole my Gal”. A trilha de Miklós Rózsa faz uso magistral do teremim, o antigo instrumento eletrônico cuja sonoridade sinistra e oscilante evoca perfeitamente a visão de mundo embriagada e fora de controle de Birmam.

A censura do Código de Produção impôs um final feliz, embora Wilder e Brackett tenham conseguido evitar algo muito absurdamente animador. Mesmo assim, a Paramont estava convicta de que o filme seria um fracasso, com a alarmada indústria de bebidas oferecendo ao estúdio 5 milhões de dólares para que ele fosse enterrado de vez. Os adeptos da Lei Seca, por outro lado, estavam em polvorosa, afirmando que ele encorajaria o hábito de beber. Apesar de tudo, “Farrapo Humano” foi um grande sucesso de crítica e de público. “Foi depois dele”, afirmou Wilder, “que as pessoas começaram a me levar a sério”. Nenhum outro filme posterior sobre o alcoolismo, ou sobre qualquer outra forma de vício, conseguiu evitar uma mesura a “Farrapo Humano”.

Vencedor dos Oscars de Melhor Filme, Direção (Billy Wilder), Ator (Ray Milland) e Roteiro. Indicado nas categorias de Fotografia, Edição e Música.

(The Lost Weekend - 1945)

Igual a Tudo na Vida (2003)



O aspirante a roteirista Jerry Falk apaixona-se pela volúvel Amanda e vivem uma relação amorosa complicada e hilariante. Com os conselhos de um experiente roteirista, Jerry tenta solucionar seus problemas amorosos com Amanda. Uma bela comédia romântica com piadas leves e humor refinado.

(Anything Else - 2003)

Nosso Lar (2010)



O filme narra a trajetória do médico André Luiz (Renato Prieto), que depois de morto aprende sobre a vida em outra dimensão. Num rápido flashback, logo depois da morte do protagonista, vemos momentos de sua vida na Terra, a infância, a juventude boêmia e a vida adulta ao lado da mulher e dois filhos pequenos. Isso é apenas uma introdução para o que virá, enquanto ele está numa zona chamada de umbral, uma espécie de purgatório onde padece até pedir misericórdia divina.

As cenas no umbral são os momentos mais pesados do filme, no qual André Luiz, mergulhado em lama, é cercado por gritos e sofrimento. Mas depois ele é resgatado e levado para o Nosso Lar, uma cidade num outro plano, conforme lhe explica Lísias (Fernando Alves Pinto). Este se torna o melhor amigo do médico e o ajudará em sua jornada para compreender melhor o que está acontecendo consigo e como será sua nova vida.

É Lísias também quem leva André Luiz para conhecer a cidade Nosso Lar, numa espécie de tour onde tudo é muito bem explicado – às vezes, até demais – e conhece a organização ‘governamental’ da cidade, além de lugares importantes, e meios de transporte. A concepção visual de “Nosso Lar” lembra a de filmes futuristas, com arquitetura repleta de linhas retas e o principal meio de transporte sendo o aerobus, uma espécie de ônibus aéreo, como explica seu nome.

Nosso Lar é a jornada de um homem em busca de sua redenção. Não é necessário conhecer espiritismo ou sua filosofia, pois o filme se preocupa em verbalizar tudo aquilo que é importante, o que muitas vezes acaba tirando a força que a trama poderia ter.

Em Nosso Lar, André Luiz conhece outras pessoas que estão na mesma condição que eles, mas esses personagens não têm uma dimensão mais profunda, são apenas exemplos de diversos tipos de espíritos – cada um reagindo à nova condição. Pouco depois do protagonista, chega à cidade Eloisa (Rosane Mulholland), sobrinha de Lísias e neta de Laura (Ana Rosa), que não se conforma por ter de deixar o noivo, que não morreu.

Eloisa tem a essência da rebeldia, da juventude, do não-conformismo. Enquanto André Luiz segue as regras na esperança de um dia poder visitar sua família ou, ao menos, se comunicar com a mulher e os filhos. A jovem, por sua vez, busca voltar à Terra por seus próprios meios.

Dirigido e roteirizado por Wagner de Assis (A cartomante), “Nosso Lar” não ousa levantar voos formais ou temáticos. O objetivo do filme não é recrutar novos adeptos – tampouco questionar, uma vez que conta com o apoio da FEB (Federação Espírita Brasileira). Aqui, a intenção é levar para a tela algumas das histórias do livro homônimo, o que para seu público-alvo deve ser uma verdadeira visão do paraíso, ou melhor, de Nosso Lar.

(Nosso Lar - 2010)

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Adoráveis Mulheres (1994)



Durante a Guerra Civil, uma mãe com 4 filhas passa por graves problemas finaceiros, enquanto o marido está na frente de batalha. A mais intelectualizada das irmãs, que sonha ser escritora, é cortejada por um rico vizinho, mas quando este se declara ela o rejeita e vai morar em Nova York, onde se envolve com um professor. Mas quando chega a notícia de que o estado de saúde de uma de suas irmãs piorou consideravelmente, ela retorna para casa.

Três indicações ao Oscar: Melhor Atriz (Winona Ryder); Trilha Sonora e Figurino.

(Little Women - 1994)

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Beijando Jessica Stein (2001)



Quem diria que Nova York, com seus arranha-céus e becos cinzentos e sem grandes encantos naturais, seria transformada pelo cinema em cenário de paixões? Woody Allen, Nora Ephron e Ed Burns estão aí para não deixar dúvidas, com suas comédias salpicadas com alguma dose de romance ou tendo a própria cidade como amante repleta de segredos.

Por isso esqueça Paris, como diria Billy Cristal num momento pouco inspirado, e mergulhe na Manhattan de duas garotas apaixonadas que resolvem experimentar uma aventura homossexual, depois de constantes fracassos com homens.

Não espere discurso militante, pois a intenção das atrizes Jennifer Westfeldt e Heather Juergensen, autoras também do roteiro, inspirado em peça teatral de ambas, é apenas diversão. Tendo Nova York como cenário, é difícil não imaginar alguma semelhança com filmes de Woody Allen, mesmo que o mais nova-iorquino dos cineastas nunca tenha se aventurado em brincar com as confusões na vida de um casal de lésbicas. As cenas carinhosas envolvendo a cidade, o humor e os personagens judaicos e mesmo a trilha musical tem um quê woodyalleniano.

Jessica Stein (Jennifer Westfeldt) é uma redatora judia de uma publicação nova-iorquina, colecionadora de romances fracassados. Perfeccionista ao extremo, está sempre preparada para o pior e não deixa passar despercebido qualquer defeito nos homens dos quais se aproxima. Cobrada pela colega de trabalho, Joan (Jakie Hoffman), e pela mãe superprotetora (Tovah Feldshuh), acaba aceitando encontros arranjados que sempre acabam em desastre.

Um dia, lendo um anúncio classificado na seção de encontros, fica encantada com uma proposta contendo uma citação de Rilke, poeta que adora. Mas, para sua frustração, a autora é uma mulher à procura de outra mulher.

Curiosa, ela acaba procurando a autora, Helen (Heather Juergensen), marchand de uma galeria de arte, também heterossexual, à procura de um amor sincero no outro time. A aproximação entre as duas garotas, e principalmente as descobertas de Jessica, são marcadas por um clima deliciosamente cômico, reforçado pelas confusões criadas pela moça, disposta a seguir uma espécie de roteiro passo-a-passo para sua iniciação com Helen. Os segredos de Helen passados a Jessica sobre como realçar a cor dos lábios são hilariantes e uma chave que pode explicar o fim da história.

Aos poucos a relação das duas engrena, mas Jessica não sabe como contar para os amigos e, principalmente, para a família judia tradicional sobre sua nova opção sexual. Neste desfecho, estão talvez os maiores achados desta história que consegue unir o politicamente correto ao romantismo sem derrapar num discurso militante demais.

(Kissing Jessica Stein - 2001)

Melinda e Melinda (2004)



A tragicomédia “Melinda e Melinda”, de Woody Allen, vem na mesma linha dos últimos filmes do cineasta nova-iorquino. Se ele não chega ao nível de genialidade de filmes como “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” ou “A Rosa Púrpura do Cairo”, ou mesmo “Descontruindo Harry”, Allen nunca chega a fazer um filme realmente ruim. Gostar ou não deste trabalho depende do nível de expectativa que cada um tem ao vê-lo.

Em “Melinda e Melinda”, Allen tenta mostrar o lado trágico da vida e o lado cômico das tragédias, contando duas histórias com a mesma protagonista, Melinda. Tudo começa com um grupo de quatro nova-iorquinos conversando num restaurante após uma piada sobre uma tal Melinda. Dois deles são dramaturgos. Sy (Wallace Shawn) defende que a história da moça é mesmo uma comédia. Já Max (Larry Pine) vê elementos da tragédia humana. Surge a dúvida: o que é mais nobre, a tragédia ou a comédia?

O que fazem a partir de então é contar duas histórias distintas com o mesmo ponto de partida: Melinda (Radha Mitchell) chegando a um jantar sem ter sido convidada. A Melinda-trágica chega à casa de sua amiga Laurel (Chloë Sevigny), que oferece um jantar a um diretor teatral que pode escalar para uma peça o seu marido que é ator (Jonny Lee Miller). Melinda chega e com sua triste história acaba roubando as atenções. E ela veio para ficar por uns tempos, após passar por dificuldades.

Já a Melinda-cômica invade o apartamento de seus vizinhos durante um jantar em que uma cineasta (Amanda Peet) tenta convencer um empresário a investir no seu filme. A vizinha conta que tomou mais de 20 pílulas para dormir e se sente mal. Claro que ela também rouba as atenções.

As duas narrativas seguem mais ou menos a mesma linha. Mas isso não quer dizer que tenham os mesmos acontecimentos com elencos diferentes. Elas são independentes, tendo em comum apenas Melinda tentando reconstruir sua vida após uma tragédia. Nos dois momentos, ela está fisicamente diferente também. Na história cômica, ela sempre está bem arrumada, com o penteado no lugar; nos momentos trágicos os cabelos são desgrenhados e ela fuma como uma chaminé.

No entanto, não é de se esperar as palavras "tragédia" e "comédia" em sua definição shakespeariana. A Melinda-trágica não mata os filhos ou o marido, aliás, nem há sangue na história. Já o segmento cômico não traz uma gargalhada a cada fotograma. São as sutilezas de uma quase-tragédia com um humor irônico, e a ironia da semi-comédia que permeiam o filme.

O que há de mais novo no cinema de Allen em “Melinda e Melinda” é o pianista e compositor Ellis Moonsong (Chiwetel Ejiofor), que é um dos raros personagens afro-americanos a aparecer nos filmes de Allen. E, o que é melhor, longe de qualquer estereótipo. Ele se torna o interesse amoroso de uma das Melindas.

Mantendo a tradição do cineasta, há um personagem que encarna uma espécie de persona Woody Allen. Desta vez, é o comediante Will Ferrell, como um homem casado que se apaixona por uma das Melindas. Além da típica comédia verbal dos filmes de Allen, o cineasta criou um dos melhores momentos do filme para Ferrell quando seu roupão fica preso a uma porta.

Como na maioria dos filmes do diretor, os personagens moram numa Manhattan ultra-sofisticada, na verdade, cool. São intelectuais, atores, músicos, cineastas, sempre muito cultos mas sempre em dificuldades financeiras, quando perdem o emprego ou o financiamento para seus filmes. E, mesmo assim, não perdem a pose – o que seria até cômico, não fosse trágico.

(Melinda and Melinda - 2004)

domingo, 16 de janeiro de 2011

Minhas Mães e Meu Pai (2010)



A família contemporânea mudou. As dinâmicas familiares continuam as mesmas, mas os membros que as compõem são diferentes, como bem mostra “Minhas Mães e Meu Pai”, uma comédia de Lisa Cholodenko que traz Julianne Moore e Annette Bening como um casal de lésbicas, mães de dois filhos. Cada uma deu à luz um deles, concebidos com inseminação artificial do mesmo pai, Paul (Mark Ruffalo).

Escrita por Cholodenko e Stuart Blumberg “Minhas Mães e Meu Pai” tem um olhar astuto sobre a família e a forma como pais e filhos se relacionam atualmente. Joni (Mia Wasikowska) acaba de completar 18 anos, é brilhante e vai para uma faculdade de prestígio. Seu irmão mais novo, Laser (Josh Hutcherson), é do tipo esportivo. É ele quem a convence a procurar a clínica de inseminação para descobrir a identidade do doador, ou seja, o pai dos dois.

Quando Paul, dono de um restaurante, entra em cena, a harmonia da família sai pela porta dos fundos. Não que tudo estivesse indo muito bem. O melhor amigo de Laser é uma péssima influência sobre ele, e Joni tem dúvidas sobre estar apaixonada. À medida que o pai deles começa a tomar contato com os dois, as dúvidas e problemas de cada de um deles vêm à tona e mostra que as mães, Nic (Annette) e Jules (Julianne), não são tão perfeitinhas quanto julgavam.

Nic é uma médica, organizada e controladora, pés no chão, e mantém a família no prumo. Já Jules é uma espécie de hippie que já tentou vários trabalhos, mas nunca se satisfez com nenhum deles. As duas se amam, mas, como qualquer casal, enfrentam crises.

Ao contrário da maioria das comédias, tanto nacionais quanto estrangeiras, os personagens de “Minhas Mães e Meu Pai” passam longe de ser meros tipos nas mãos de roteiristas e diretores para efeito cômico. Aqui, existem seres humanos lidando com problemas, sentimentos e emoções. Jules e Nic são mães compreensivas, mas que nunca realmente entendem seus filhos. Cheias de dúvidas, creem fazer o melhor, mas nem sempre se saem bem.

Por isso, a chegada de Paul soa, num primeiro momento, como uma ameaça. O que esse estranho quer dos filhos delas? Ele que, sequer, sabia da existência de Laser e Joni, agora reivindica seus direitos de pai?

O detalhe é que ele desconhecia isso não por descaso seu, mas porque nunca foi comunicado – o que até faz parte do sigilo desse tipo de doação. Quando descobre que tem dois filhos quase adultos, ele tenta recuperar o tempo perdido, pensando em assumir o papel de pai.

Paul não é um vilão – até porque neste filme não existem rotulações. Na verdade, a sua atitude perante a vida incomoda Nic e seduz Jules, que trabalha como paisagista e está montando um jardim no fundo da casa dele. Mesmo quando a história ameaça jogar todos os demônios dos personagens para cima de Paul, a diretora e Ruffalo sabem que o pai de Laser e Jules não é culpado de tudo.

Sem cair em vícios do cinema independente norte-americano “Minhas Mães e Meu Pai” tem a narrativa conduzida pelos personagens e suas ações, ou melhor, suas escolhas e renúncias. Cholodenko dá espaço para que os atores trabalhem sem que movimentos de câmeras e efeitos de fotografia desnecessários desviem a atenção da trama. Cholodenko faz um retrato terno e engraçado de nosso tempo. Tempos em que criar os filhos parece muito mais complicado do que colocar comida na mesa e pagar as contas.

Indicado ao Oscar de Melhor Filme, Atriz (Annette Bening), Ator Coadjuvante (Mark Ruffalo) e Roteiro Original.

(The Kids Are All Right - 2010)

Os Sapatinhos Vermelhos (1948)



A produção de 1948 de Michel Powell-Emeric Pressburger foi amada por gerações de garotas que queriam ser bailarinas quando crescessem, embora sua mensagem para elas seja decididamente de duplo sentido. Em uma fascinante releitura da velha história do nascimento de uma estrela, Victoria Page (Moira Shearer), uma jovem dançarina atraente, obstinada e talentosa, se apaixona pelo empresário Boris Lermontov (Anton Walbrook), uma mistura de Svengali com Rasputin e Diaghilev. Ela negligencia sua vida pessoal (um romance com o compositor Marius Goring) em prol de uma devoção passional e quase doentia à arte, o que antecipa um final trágico belamente encenado. Depois que Boronskaja (Ludmilla Tchérina), a bailarina principal que Lermontov abandona quando ela diz querer se casar, sai de cena, Vicky estreia em uma adaptação para o balé da história de Hans Christian Andersen sobre uma garotinha cujos sapatos a mantêm dançando até ela cair morta. Isso leva os cineastas – auxiliados pelo dançarino-coreógrafo Robert Helpmann, o co-astro Léonide Massine e o maestro Sir Thomas Beecham – a uma sequência de dança fantástica de 20 minutos que criou uma tendência (ver “Sinfonia de Paris”, “Um dia em Nova York”, “Oklahoma”) de interlúdios estilizados e sofisticados em musicais. No entanto, ela consegue ser muito melhor do que qualquer uma de suas imitações ao recontar em síntese a história do filme ao mesmo tempo em que ainda funciona bem como um número musical independente.

Obviamente, a vida de Vicky fora dos palcos segue os passos daquela da heroína de Andersen, conduzindo ao clímax em que ela salta – como em um balé – diante de um trem e ao inesquecível tributo ao qual seus colegas desolados fazem uma nova apresentação de “Sapatinhos Vermelhos” apenas com os sapatos no lugar da estrela. Shearer, pequenina e extraordinária na sua estreia nas telas, é uma presença poderosa que consegue fazer frente a toda a intensidade da atuação soberba de Walbrook. Ela consegue convencer tanto como dançarina ingênua em um salão lotado com uma companhia de terceira categoria quanto como a grande estrela adorada por todo o mundo. A heroína é cercada por telas de fundo estranhas, dignas de contos de fadas, para o exuberante balé, porém o desenhista de produção Hein Heckroth, o diretor de arte Arthur Lawson e o fotógrafo Jack Cardiff trabalham duro para tornar as cenas fora dos palcos aparentemente normais tão ricas e exóticas quanto os momentos de destaque no teatro.

Walbrook – com os olhos brilhando, quando não escondidos atrás de óculos escuros – arrulha e sibila falas diabólicas com uma satisfação da qual não conseguimos deixar de compartilhar, manipulando tudo a sua volta com facilidade, embora esteja tragicamente sozinho na sua devoção religiosa ao balé. “Os Sapatinhos Vermelhos” é um raro exemplo de musical que captura a magia dos espetáculos teatrais sem negligenciar o esforço árduo e sofrido necessário para se criar esse tipo de veículo para o encantamento. Seu clima de bastidores ajudou bastante a tornar o balé acessível para além da elite, contrastando as expectativas dos apreciadores de musicais amontoados nas poltronas mais altas (e mais baratas) com a condescendência desdenhosa dos figurões bem vestidos nos camarotes, para os quais as pérolas artísticas são jogadas. Contando com cores brilhantes maravilhosas, uma seleção de músicas clássicas que fogem ao clichê e um viés sinistro que captura perfeitamente a ambiguidade do tradicional, ao contrário dos contos de fadas da Disney, esta é uma obra-prima exuberante.

Indicado ao Oscar de Melhor Filme, Edição e Roteiro. Venceu os Oscar de Direção de Arte e Trilha Sonora.

(The Red Shoes - 1948)

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

The Big Bang Theory - Terceira Temporada (2009)


(The Big Bang Theory - The Complete Third Season - 2009)

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Mamãezinha Querida (1981)



“Mamãezinha Querida” é o título de um dos projetos mais polêmicos a serem realizados nos anos 1980. Este filme, dirigido por Frank Perry e protagonizado por Faye Dunaway, é uma adaptação do livro autobiográfico de Christina Crawford, filha de Joan Crawford – considerada uma das maiores estrelas que Hollywood já produziu. Mas a Crawford de “Mamãezinha Querida”, tanto a do livro de Christina e a do filme de Frank Perry, não é aquela que batalhou desde a adolescência até firmar um contrato de anos com a Metro Goldwyn Mayer. A Joan Crawford daqui é uma mulher amarga e desprezível.

Nos créditos inicias vemos Faye Dunaway, que através de um belo trabalho de maquiagem consegue adquirir uma aparência extremamente similar a de Crowford, protagonizando uma longa sequência onde cuida de sua própria aparência e a da sua mansão de forma rígida. Já é um sinal de que será em questão de pouco tempo para vermos um “mostro” surgir. Enquanto não apresenta nenhuma atitude assustadoramente agressiva, Joan Crawford é uma mulher que é grata pelas maravilhas que a cercam, desde a fama e fortuna que lhe são recompensas do seu trabalho como atriz até os amores, sejam dos homens (o ponto de partida do filme já revela que Joan enfrentou dois divórcios, com Douglas Fairbanks Jr. e Franchot Tone) ou dos fãs.

O que lhe falta é uma única coisa e que não pode ter: um filho. Embora o processo de adoção seja a princípio um obstáculo para ela, já que enfrentou divórcios e não poderá conciliar as tarefas maternais com as de seu trabalho, não demora para Crawford conseguir uma criança, ao qual batiza de Christina. Na infância a criança, interpretada por Mara Hobel, já é vítima de maus-tratos. A rigidez de Crawford é aplicada por castigos e até agressões. Alguns, como a punição por causa dos cabides usados por Christina para pendurar no closet os caros vestidos que ganhou, são duros de acompanhar. Nem na fase adulta, quando Christina ganha os contornos da atriz Diana Scarwid, o perverso comportamento de Joan é amenizado, mesmo depois de sua filha adotiva passar por colégios internos e religiosos. Christopher, o segundo filho adotivo da atriz, também passa por poucas e boas.

Embora já se tenham passados 27 anos desde o tempo de produção de “Mamãezinha Querida”, a sua má reputação permanece até hoje. Embora não tenha sido um fracasso como confirmam em termos de bilheteria, já que seu custo de produção foi recuperado no seu primeiro final de semana em exibição nas telas de cinema americano, a crítica não foi nada piedosa com o retrato negativo de Joan Crawford em “Mamãezinha Querida”. Inclusive, este foi o filme que iniciou o declínio que assombra até hoje na carreira de Faye Dunaway, antes prestigiada por filmes como “Bonnie & Clyde – Uma Rajada de Balas”, “Chinatown” e “Rede de Intrigas”. A atriz foi dada como culpada pelo resultado final do filme, como a afirmação de se submeter a este tipo de visão de Joan Crawford através dos relatos de sua filha Christine. Foi concebido até pelo Razzie Awards o prêmio de pior filme feito na década de 1980.

Mas pode-se confirmar que a mesma fúria com a qual Joan Crawford é apresentada em “Mamãezinha Querida” também foi repetida pela imprensa. O filme de Frank Perry é ótimo e mesmo que sejam ignoradas outras coisas, como o fato de Crawford ter adotado mais crianças, muitas coisas estão registradas, desde a sua reação ao ouvir o seu nome anunciado como a vencedora do Oscar por “Almas em Suplício” até a sua união com Alfred Steele, que tinha forte cargo dentro da Pepsi Cola. Mesmo assim, não se pode comprovar nada da balança sobre a personalidade de Crawford, se pesava mais pelo lado de uma mulher perversa ou bondosa. Vale lembrar que até a grande Bette Davis, que contracenou com Crawford em “O Que Terá Acontecido a Baby Jane?”, defendeu a atriz dos relatos de Christina em seu livro, mesmo que Bette já tenha assumido que não gostava de Joan. No fim das contas, independente de qual conceito adotar sobre Crawford, “Mamãezinha Querida” trás algo que todos sabem e concordam: a imagem que a atriz sempre carregou de grande mito da história do cinema.

(Mommie Dearest - 1981)

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A Rosa Púrpura do Cairo (1985)



Esta comédia nostálgica escapa à fórmula usual de Woody Allen sobre “nova-iorquinos apatetados tendo problemas de relacionamento”. Tanto o diretor quando os seus famosos monólogos neuróticos estão ausentes dessa vez, mas os fãs não precisam se preocupar, porque as frases hilárias e os personagens esquisitos continuam presentes. Acima de tudo, o filme fala sobre o amor, talvez o maior de todos os amores de Allen: o amor pelo cinema.

Um tributo aos poderes mágicos da tela, “A Rosa Púrpura” conta a história de Cecília (Mia Farrow), uma garçonete pobre que, durante a Depressão, passa um bom tempo no cinema. “Eu esqueço de minhas tristezas”, confessa a jovem, que é aterrorizada pelo marido grosseiro e desempregado. Somente assistindo aos herois corajosos e invencíveis da tela é que ela pode resistir ao pesadelo diário que é a sua vida.

Pelo filme clássico de Preston Sturge, “Sullivan’s Travel”, sabemos um pouco sobre o quanto os americanos precisavam do otimismo trazido pelo cinema durante os anos da Depressão. Enquanto Cecília assiste, pela oitava vez, a um filme chamado “A Rosa Púrpura do Cairo”, o chamado heroi (Jeff Daniels) sai da tela ao seu encontro, sob os protestos do resto da plateia, que pede seu dinheiro de volta. Em um esforço para evitar um fiasco financeiro, os produtores de Hollywood enviam o ator que faz o heroi para seduzi-la. Embora o personagem fictício seja gentil e romântico, o astro que o representa é cínico e arrogante. Assumindo ambos os papéis, Daniels sugere com ironia a diferença entre o homem ideal e o real. Encantada com ambos, Cecília vivencia uma metamorfose impressionante de Cinderela em uma bela princesa, e o desempenho excelente de Farrow nos faz acreditar na transformação miraculosa.

O filme é uma meditação sobre a ilusão e seu final não é cínico, como o de outro filme mais recente de Allen, “Desconstruindo Harry”. A ficção pode salvar nossas vidas, afirma Allen convincentemente com “A Rosa Púrpura”. Dentre as falas há o comentário inesquecível de Cecília: “Eu encontrei um homem maravilhoso. Ele é fruto da minha imaginação, mas... e daí? Não se pode ter tudo”, nos lembrando a famosa fala final de “Quanto Mais Quente Melhor” – “Ninguém é perfeito” – e intensificando qualquer crença que possamos ter nos poderes mágicos do cinema.

Indicado ao Oscar de Roteiro Original.

(The Purple Rose of Cairo - 1985)

sábado, 8 de janeiro de 2011

The Big Bang Theory - Segunda Temporada (2008)


(The Big Bang Theory - The Complete Second Season - 2008)

domingo, 2 de janeiro de 2011

A Última Noite de Bóris Grushenko (1975)



Quando Napoleão Bonaparte ameaça invadir o Império Russo, o covarde Boris Grushenko (Woody Allen) é forçado a se alistar e lutar pelo seu país. Mesmo capturando um grupo inimigo, Boris vê as tropas napoleônicas chegar a Moscou. É a justificativa que sua esposa Sonia (Diane Keaton) encontra para arquitetar um plano para matar o marechal francês.

(Love and Death - 1975)