quinta-feira, 28 de abril de 2011

Steal Me (2005)


(Steal Me - 2005)

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Dente Canino (2009)



Dá pra xingar o grego “Dente Canino” de tudo, menos de ser dissimulado. O trabalho de estreia do diretor Yorgos Lanthimos não esconde que faz cinema para sadomasoquistas. Na verdade, deixa isso tão claro que uma cena até envolve uma surra com fita VHS. Metáfora fina.

A trama é uma provocação contra quem acha que games, cinema, TV - o mundo, enfim - ajudam a corromper as pessoas. Três filhos adultos, um rapaz e duas mulheres, são mantidos em casa por seus pais como se fossem detentos. A ideia é lhes preservar a inocência. Na TV, só assistem aos filmes caseiros que a família faz. Na vitrola, o pai apresenta Sinatra como sendo o avô dos meninos, e traduz para o grego a letra de "Fly me to the Moon" como bem entende.

E é isso, em resumo. Lanthimos passa o filme subindo ou diminuindo, com intentos de chocar ou fazer rir, o nível de absurdo dessas situações. Os filhos matam um gato porque nunca tinham visto um bicho daqueles, desejam que aviões caiam no jardim para colecioná-los, brincam com água como crianças de fato. E evidentemente a curiosidade inata dos filhos uma hora dá em merda...

“Dente Canino” é uma versão acrítica de “A Vila”. Melhor dizendo, é uma versão escrachada de “Dogville” - a proximidade do cinema de Lanthimos com o de Lars von Trier é maior, e não está só na semelhança dos títulos. Os dentes caninos têm uma certa importância para a trama, mas sua imagem é inicialmente simbólica - dentes caninos são triangulares, pontudos, afiados, porque foram projetados há gerações para rasgar carne. O que o pai da família de “Dente Canino” está tentando fazer, de novo metaforicamente, é transformar sua gente carnívora em bebedores de leite.

De novo, um simbolismo que só reafirma uma proposta inicial. Esse é o grande problema do filme: sua provocação, além de reiterativa, tem alcance curto (e passa por clichês do Estado repressor, como as roupas todas brancas). Como na cena em que o treinador de cachorros explica que eles são amestrados "como queremos que eles se comportem". Ora, o filme já está batendo nessa tecla desde o começo... Não há uma evolução de ideias, mas uma reafirmação de premissa e uma graduação de tolerâncias. Sadismo puro e simples.

No fim, o cinema, representado pelo citado VHS, interpreta um papel de catalisador da anarquia. É curioso que Lanthimos o enxergue assim, e é o tipo que cinema que ele almeja. Em “Dente Canino”, filmes são tratados como dados pré-existentes, objetos fechados, que desde sempre foram uma marca de rebeldia. O erro do diretor é não entender que o cinema, para se tornar rebeldia, primeiro precisa passar por um processo de reflexão.

Indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (Grécia).

(Kynodontas - 2009)

O Aprendiz de Feiticeiro (2010)



Dave é apenas um estudante comum, ou assim parece, até que Balthazar Blake, um feiticeiro experiente, o recruta como seu relutante protegido e dá a ele um curso rápido nas artes e na ciência da magia. Enquanto Blake se prepara para a batalha contra as forças ocultas em Manhattan dos dias de hoje, Dave logo entende que terá que reunir toda a sua coragem para sobreviver ao treinamento, salvar a cidade e ficar com a garota.

(The Sorcerer's Apprentice - 2010)

Laços de Ternura (1983)


O romance de Larry McMurtry - também autor de "A Última Sessão de Cinema", "Pra lá do Fim do Mundo" e "Horseman", "Pass By" (no qual foi baseado o clássico filme de Martin Ritt, "O Indomado", de 1963) - sobre uma relação emotiva difícil e desgastada entre mãe e filha foi traduzido em um bem-sucedido e premiado filme pelo roteirista e diretor James L. Brooks. Até hoje continua sendo um exemplo de como fazer um dramalhão hollywoodiano de sucesso comercial.

Debra Winger, no ápice da sua carreira nos anos 80, faz o papel de Emma, protagonista e filha teimosa da possessiva e por vezes sufocante Aurora (Shirley MacLaine). "Laços de Ternura" acompanha a relação delas durante vários anos, desde a tentativa de Emma de se libertar de sua mãe casando com o folgado (e infiel) Flap Horton (Jeff Daniels) até uma espécie de acordo de paz entre mãe e filha quando Emma está morrendo de câncer. Embora o filme seja claramente feito para extrair lágrimas, Brooks consegue manter sob controle o sentimentalismo e, ao fazê-lo, permite que seu elenco encene uma das mais comoventes cenas de leito de morte na história recente do cinema.

Um lado mais leve - um alívio para as lágrimas e para as palavras pesadas de mãe e filha - surge nas cenas com Shirley MacLaine e Jack Nicholson como o astronauta Garrett Breedlove, em atuações premiadas com o Oscar. É durante os momentos entre esses dois atores experientes que o filme realmente ferve, sobretudo quando Garrett, exibindo sua atitude não-estou-nem-aí, dirige com Aurora pela praia bem na beira das ondas.

Ao lado das atuações sutis de Winger, Daniels, John Lithgow (como o homem com quem Emma tem um caso depois da infidelidade de Flap) e Danny DeVito (como outro pretendente de Aurora), os desempenhos de Nicholson e MacLaine em "Laços de Ternura" roubam a cena e ameaçam tomar o filme inteiro. No entanto, o ex-diretor de televisão Brooks (que faria outro filme com Nicholson - "Melhor é Impossível", vencedor do Oscar em 1997) dá um ritmo tão ágil ao filme, misturando astutamente humos e tragédia, que suas estrelas apenas reforçam esse olhar melancólico sobre as relações familiares modernas.

Vencedor de 5 Oscar, incluindo Melhor Filme, Atriz (Shirley MacLaine), Ator Coadjuvante (Jack Nicholson), Diretor (James L. Brooks) e Roteiro Adaptado. Indicado nas categorias: Atriz (Debra Winger), Ator Coadjuvante (John Lithgow), Direção de Arte, Edição, Música e Som.

(Terms of Endearment - 1983)

terça-feira, 26 de abril de 2011

Sempre ao seu Lado (2009)


Há um cão, seu dono e a família dele. Há também muito amor, risos e lágrimas. Não, não se trata, novamente, de “Marley e Eu”, mas de “Sempre ao Seu Lado”, que chega aos cinemas um ano depois do primeiro filme e com o objetivo de repetir o mesmo sucesso. Agora não se trata de uma comédia, mas de um drama lacrimoso sobre homens, cães e amores incondicionais.

Dirigido por Lasse Hallström, que em 1985 fez um filme sobre pessoas e cães muito melhor – chamado “Minha vida de cachorro” – e protagonizado e produzido por Richard Gere (Uma linda mulher, Chicago), Sempre ao seu lado arranca lágrimas sofridas e sofríveis, colocando um cachorro solitário na porta de uma estação de trem à espera de seu dono... que nunca mais irá voltar.

Gere é Parker, um professor universitário que, diariamente, segue para a estação ferroviária, onde embarca num trem para o trabalho. Um dia, ao voltar para casa, encontra um pequeno filhote da raça Akita. Ele pensa em adotar o animal, mas sua mulher, Cate (Joan Allen, da trilogia Bourne), vota contra.

No final, a família sucumbe ao charme do cãozinho, que passa a acompanhar seu novo dono todo dia até a porta da estação. Paparicado por todo mundo, do açougueiro ao vendedor de cachorro-quente, o filhote se torna mascote da cidadezinha.

Um amigo japonês de Parker, Ken (Cary-Hiroyuki Tagawa, de Memórias de uma gueixa), explica que os cães dessa raça são extremamente fieis. Essa explicação justifica a segunda metade do filme, quando Parker nunca mais voltará para casa e, mesmo assim, o cachorro continuará a esperá-lo na estação, obviamente sem compreender o que aconteceu.

Baseado numa história real que aconteceu na década de 1920, no Japão, e num filme japonês dos anos de 1980, “Sempre ao seu lado” usa a doçura do cachorro para partir até os mais duros corações.

Gere, que já teve personagens muito mais marcantes, é apenas um coadjuvante para a história do Akita, que tem o nome de Hachi, que significa o número oito em japonês, conforme explica o amigo oriental de Parker. O cão rouba a cena. Não por suas estripulias, como fazia Marley, mas por seu charme e beleza, adjetivos que estavam associados a Gere há até bem pouco tempo.

(Hachiko: A Dog's Story - 2009)

Um Caminho para Dois (1967)



As idas e vindas de um casal durante cerca de 12 anos de relacionamento, contados em flashback e narrativa não linear que servem para ambos analisarem se devem ou não ficar juntos.

Indicado ao Oscar de Roteiro Original.

(Two for the Road - 1967)

Enfim, Juntos (2007)



Um filme que tem como foco central a solidão – diz a sinopse. Enfim Juntos, para mim, tem como tema a arte do encontro ou das relações. Uma obra executada com primor e sensibilidade, em que as vidas de quatro personagens – aparentemente sem nada em comum além da solidão – se cruzam provocando inusitadas transformações em seus caminhos.

Baseado no romance original de Anna Gavalda, o longa tem direção e adaptação do experiente Claude Berri, sendo um dos seus últimos trabalhos antes de falecer, em 2009. A direção é segura e eficiente, trazendo lágrimas e sorrisos na exata medida de uma boa produção européia.

O elenco trabalha em sintonia, trazendo Audrey Tautou (O Fabuloso Destino de Amélie Poulain) no papel de uma jovem e talentosa desenhista que trabalha como auxiliar de limpeza durante o dia para pagar as contas; Laurent Stocker, interpretando belamente o sensível aristocrata Philibert, historiador que mora em uma propriedade da rica família; Guillaume Canet como Franck, um esforçado e arredio cozinheiro que dedica suas folgas a visitar sua avó Paulette, uma doce senhora vivida por Françoise Bertin, que prefere conviver com suas plantas e gatos a relacionar-se com as pessoas.

(Ensemble, C'est Tout - 2007)

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Satyricon de Fellini (1969)


A popularidade dos filmes de arte europeus junto ao público americano começou com os filmes neo-realistas italianos da década de 40 e se ampliou com as obras engajadas e visionárias do sucessor mais influente daquele movimento, Federico Felini. Mais famoso, talvez, por suas produções que investigaram os hábitos e dificuldades da sociedade contemporânea - assim como outros na indústria cinematográfica italiana -, o diretor demonstrou interesse por reconstruções históricas. "Satyricon" é uma reinvenção épica de um texto de Petrônio sobre a vida no tempo de Nero. O filme "espaçoso" de Felini (a ação se desdobra em diversas partes do mundo romano) foi um êxito imediato de público nos cinemas de arte. As cenas chocantes de decadência, atos grotescos e humor negro mereceram uma classificação R no sistema de avaliação que havia sido recentemente implantado nos Estados Unidos, aproveitando-se da nova liberdade de expressão propiciada pelo fim do Código de Produção, o sistema de classificação anterior.

Ao mesmo tempo um retrato bastante fiel da Roma antiga, na tradição dos filmes históricos italianos, e uma remissão à revolução sexual da década de 60, "Satyricon" tem muito em comum com os primeiros filmes do diretor, em particular "A Doce Vida" (1960). Contudo, vários críticos acharam que ele não possuía a abordagem intelectualizada e as estilizações significativas dos filmes anteriores de Fellini. Certamente a ênfase em nudez e sexo foi um atrativo para determinados segmentos do público de "cinema de arte" do período. Seguindo de perto as características fragmentárias da narrativa original, Fellini criou 25 episódios distintos, unidos muito superficialmente pela presença do jovem e cínico Encolpio (Martin Potter). Como Odisseu, Encolpio se vê levado por uma série contínua de aventuras que beiram a morte e o desastre, mas das quais sempre consegue escapar.

A amizade de Encolpio e Ascilto (Hiram Keller) e a atração mútua por um belo e jovem escravo (Max Born) são colocadas no centro do filme, cujas guinadas e reviravoltas são muitas vezes difíceis de seguir. Uma coisa é certa, contudo: Encolpio, assim como o espectador, tem grande dificuldade em entender a moral e o comportamento de muitas das personagens estranhas que encontra. O filme é cheio de sequências memoráveis: um bordel cheio de clientes e prostitutas obesos, sacrifícios de animais com rios de sangue, um terremoto que derruba o edifício onde Encolpio estava hospedado, uma ninfomaníaca encontrada no deserto a quem Encolpio deve satisfazer, um encontro com um minotauro - como na famosa aventura de Teseu - e a riqueza impressionante da festa de Trimalquião (Mario Romagnoli), cujos hóspedes, dentro do espírito dos "novos-ricos", exibem uma vulgaridade assombrosa.

Na tradição picaresca, "Satyricon" não termina com o restabelecimento da ordem social, mas com a partida do herói para novas aventuras. Um comentário, talvez (como encontramos em outras obras de Fellini), sobre o hedonismo e o materialismo irrefreáveis da sociedade moderna, o filme é mais memorável como um festim de imagens surpreendentes, ou até mesmo chocantes, com rimas visuais e temas repetidos que impõem uma espécie de unidade ao fluxo contínuo. Lançado em 1972, "Roma de Fellini" é uma espécie de continuação, mas foi incapaz de recapturar a magia estranha e cativante do original.

Indicado ao Oscar de Melhor Direção (Federico Fellini)

(Satyricon - 1969)

American Dreams - Terceira Temporada (2004)


(American Dreams - Season Three - 2004)

Agora Seremos Felizes (1944)


Uma garotinha chamada Tootie (Margareth O'Brien), chorando e furiosa, sai de dentro de casa e corre para a neve. Uma vez lá, começa a destruir seus adorados homens de neve - um símbolo de tudo o que é estável e reconfortante na sua existência familiar - com uma energia e virulência extremamente pertubadoras. Quem imaginaria que Judy Garland cantando "Have Yourself a Merry Little Christmas" teria um efeito tão devastador na frágil psique de uma criança, ou na nossa?

"Agora Seremos Felizes", de Vincent Minnelli, é um dos musicais mais incomuns e emotivos da história de Hollywood. Ele mistura os dois gêneros dos quais Minnelli era mais adepto - o musical e o melodrama -, chegando até, em seus momentos mais sombrios (como a sequência dedicada aos horrores do Halloween), a quase se tornar um filme de terror. Ele é também um filme que, tanto na época quanto agora, se permite ser interpretado de formas totalmente contrastantes: ou como uma celebração perfeitamente inocente e ingênua dos valores familiares, ou como uma reflexão sobre tudo que destrói a unidade familiar por dentro. Em outras palavras: seria ele um entretenimento reconfortante e escapista que admite ser problemático para poder desobstruir e reforçar o status quo ou - quase à sua própria revelia - um gesto subversivo no coração do sistema hollywoodiano, um grito de raiva incontida como o massacre de Tootie da sua tribo imaginária de homens de neve?

Sim, estou falando sobre o mesmo filme em que Garland observa apaixonada seu vizinho e canta "The Boy Next Door" e - em um ponto alto espetacular - rodopia com um monte de passageiros coloridos enquanto canta "The Trolley Song" ("Zing, zing, zing went my heartstrings..."). O projeto de Minnelli é discretamente ambicioso: ele não pretendia apenas contar a história de uma adorável família "comum" - e dos desafios que ela enfrenta com estoicismo -, mas também esboçar a história de uma audaciosa sociedade do século XX, definida por acontecimentos como a Feira Mundial.

A sensibilidade artística de Minnelli - a sexualidade dele pode ser tanto uma questão em aberto quanto um segredo escancarado, dependendo de qual história de Hollywood você consulta - estava em sintonia com os anseios femininos e com a ansiedade masculina, e um excesso de ambos torna este musical inexoravelmente dramático. O patriarcado surge na forma estúpida e rabugenta de Leon Ames, que tenta afirmar bravamente sua autoridade em face de uma família esmagadoramente feminina. A série de namorados das garotas também precisa ser instigada, manipulada e informada de seu verdadeiro destino conjugal.

Quanto aos desafios estéticos de um musical, Minnelli e seus colaboradores conseguiram praticamente integrar canções e dança a um fluxo de incidentes extravagantes, dignos de um conto de fadas. Canções começam como frases jogadas, faladas ou cantaroladas na rua ou diante de uma porta e somem de repente quando uma intriga surge na trama.

Sob a elegante demonstração de estilo cinematográfico e o verniz civilizado das boas maneiras, apenas Tootie é capaz de expressar emoções selvagens e indomadas - como "Under the Bamboo Tree", seu exótico dueto com Judy, indica com jovialidade.


Indicado ao Oscar de Fotografia, Música, Trilha Sonora e Roteiro.

(Meet Me in St. Louis - 1944)

O Equilibrista (2008)


Ao contrário das aparências, “O Equilibrista” não retrata apenas a história de uma façanha – um homem que andou sobre um fio metálico entre as Torres Gêmeas do World Trade Center, em Nova York, em 7 de agosto de 1974 –, indo além ao radiografar a personalidade que mantém essa estranha paixão de quase voar tão longe do chão, que é a própria razão de viver de Philippe Petit.

Impávido e infalível como Bruce Lee, como na canção de Caetano Veloso, o miúdo equilibrista francês sente-se melhor no mundo quando pode flutuar sobre um estreito cabo de aço a centenas de metros do chão, sem rede de proteção, contando apenas com sua incrível concentração, sapatilhas, cabelo ao vento e a vara de contrapeso nas mãos – uma situação que aterrorizaria a maioria dos mortais. Petit, no entanto, parece que não é deste mundo cotidiano, da procura das pequenas seguranças e amenidades que confortam a maioria das pessoas. O negócio dele é esse circo ao ar livre, de preferência em lugares não autorizados.

A façanha do WTC, de longe a mais ousada de sua vida, exigiu, aliás, uma logística impecável, mistura de operação militar e empreitada criminosa. Foi necessário que ele e seus comparsas driblassem a segurança dos megaprédios, ainda em construção, introduzindo ali as várias dezenas de metros de cabo de aço e ferramentas nada discretas que permitiriam a caminhada de Petit.

O filme reconstitui a aventura, contando com depoimentos do próprio Petit e seus amigos, bem como imagens filmadas em Super 8 ou fotografadas pela irrequieta trupe à época, que chegaram a passar-se por jornalistas para estudar melhor sua estratégia no topo dos prédios.

Contando com uma eficiente reencenação com atores, tendo ao fundo o áudio da narrativa empolgante de Petit e seus asseclas – entre os quais, cooptou-se alguns norte-americanos -, o documentário de James Marsh leva seus espectadores a poderem sentir quase o mesmo frio na barriga daqueles aventureiros em todas as etapas do processo. Como quando dia após dia, um a um, introduziam seus equipamentos nas torres, muitas vezes sendo forçados a esconderem-se debaixo de lonas e ali permaneceram imóveis por várias horas, para evitar serem pegos pelos seguranças do local.

A reconstituição é tão boa que, mesmo sabendo-se evidentemente que toda a operação foi um sucesso, sente-se muito palpavelmente o imenso risco envolvido em tudo aquilo. A aventura de Petit correu realmente o risco de falhar até o último momento, por problemas técnicos e até atmosféricos, como o forte vento nas alturas.

A grande façanha de “O Equilibrista” é não se esgotar na descrição desta grande ousadia e suas consequências – logo depois, Petit e amigos foram presos, sendo um deles deportado. O filme vai além, retratando a personalidade que mantém essa estranha paixão de quase voar tão longe do chão, que é a própria razão de viver de Philippe Petit, e captando, também, o clima libertário e contestador de sua época. Ninguém melhor do que ele para simbolizar esse espírito. Aos 60 anos, ele conta sem arrependimentos como sua grande façanha não o enriqueceu, apesar das tentadoras ofertas. Seus olhos só brilham mesmo pela paixão de seu esporte em extinção.

Em nenhum momento, o documentário cita os atentados do 11 de Setembro de 2001, que destruíram o cenário da aventura única do francês. Mas é inevitável que plateias informadas façam por si mesmas a associação entre os dois eventos, altamente midiáticos, embora de sinais tão opostos.

Ganhador do Oscar de Melhor Documentário.

(Man on Wire - 2008)

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Holocausto (1978)


(Holocaust - 1978)

O Picolino (1935)


Não há nenhum clássico absoluto entre os musicais da década de 30 da dupla Fred Astaire-Ginger Rogers - todos são, no geral, maravilhosos, embora tenham defeitos cruciais -, mas "O Picolino" é provavelmente o que chega mais perto disso. Sua trama segue a fórmula básica da série de filmes: Fred Astaire se apaixona à primeira vista por Ginger, mas algum tolo mal entendido (aqui, ela o confunde com seu amigo casado) a mantém hostil até os últimos instantes.

O diretor é o subestimado Mark Sandrich, cujo toque impecavelmente superficial maximiza a sofisticada malícia tão essencial à serie. O mais famoso número do filme é "Top Hat", que conta com uma fantástica coreografia com bengalas entre Fred e um coro de homens de cartola; porém o coração de "O Picolino" está em dois grandes duetos românticos: "Isn't It a Lovely Day" e "Cheek to Cheek", o primeiro passado em um coreto em Londres durante uma tempestade e o segundo, nos brilhantes canais da pueril versão art déco de Veneza dos estúdios RKO. Essas danças, com sua progressão da relutância para a entrega, são a principal arma que Fred usa para ganhar Ginger; porém seria um erro interpretar esse processo como mera conquista sexual. Conforme o divertimento que Ginger esconde deixa claro, os dois personagens lidam com seus respectivos papéis de galã apaixonado e moça que se faz de difícil com brincalhona ironia, ajudando a prolongar e intensificar um deliciosamente elegante jogo erótico.



Indicado ao Oscar de Direção de Arte, Direção de Dança, Música e Melhor Filme.

(Top Hat - 1935)

Desconstruindo Harry (1997)



Harry Block (Woody Allen) é um escritor que usa suas experiências amorosas como inspiração para livros e contos, o que não agrada nem um pouco as pessoas ligadas a ele. Convidado para uma homenagem que será feita pela faculdade de onde foi expulso quando jovem, ele se vê sem companhia. Após acompanhar um amigo, Richard (Bob Balaban), em um exame médico, ele aceita viajar com ele como retribuição. Harry convida ainda Cookie (Hazelle Goodman), uma prostituta negra com quem tem um programa na noite anterior da viagem. Prestes a partir, Harry tem a ideia de sequestrar seu filho para que ele possa ver o pai sendo homenageado, mesmo com a mãe dele, Joan (Kirstie Alley), tendo proibido sua viagem.

Indicado ao Oscar de Roteiro Original.

(Deconstructing Harry - 1997)

quarta-feira, 13 de abril de 2011

The Companionist (2008)



Ultimamente tenho assistido ao programa Manhattan Connection do canal pago Globo News e um dos apresentadores tem me chamado à atenção. O nome dele é Pedro Andrade, um cara jovem, descolado, bem informado, articulado, além de bonito e inteligente.

Como Pedro me instigou e eu não sabia nada a seu respeito, resolvi fazer uma breve pesquisa na internet e descobri que ele já foi famoso por outras razões, uma delas é que ele era o namorado do ex-integrante do grupo N’Sync, Lance Bass. Além disso, Pedro Andrade já foi modelo em Nova York, apresentador de TV local e um possível mentiroso, pois inventou uma história absurda a um colunista do jornal Folha de S. Paulo, dizendo ser o mais novo protagonista de um filme de David Lynch.

Na verdade, protagonista de uma obra de David Linch ele não foi, mas encontrei no YouTube este curta-metragem onde ele é o ator principal, ou melhor, o único ator. Clique no play para conhecer o Pedro Andrade, caso você ainda não o conheça, ou simplesmente para curtir um pouco este curta-metragem que tem o tema solidão como argumento principal.



(The Companionist - 2008)

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Lixo Extraordinário (2010)


Comovente e incrível. Comovente porque este documentário explora a vida de brasileiros desconhecidos, que trabalham duramente para sobreviver em condições degradantes e insalubres. Incrível porque este documentário confirma que a arte tem o poder de transformar vidas, reordená-las e direcioná-las a um mundo melhor.

Quando soube, através da imprensa brasileira, que este documentário fora indicado ao Oscar, eu pensei que se tratava somente de arte, criação, glamour, imaginação... mero engano. Pois é incrível a capacidade da imprensa em distorcer informações, maquiá-las e assim, conseguir esconder a crítica exposta neste documentário. Só o assistindo para perceber isto.

Não se trata de um “Lixo Extraordinário”, se trata de uma “Waste Land”, de uma terra desperdiçada. Terra de brasileiros, terra mal administrada, terra de oportunidades perdidas, terra de exploração, de um novo tipo de escravidão. Isto a imprensa brasileira não mostrou. Mas o documentário mostra. Mostra brasileiros no lixo, gente capaz e criativa.

O governo brasileiro deveria abrir os olhos para o sistema de coleta de lixo deste país, esta seria uma ótima solução para evitar o tipo degradante de trabalho mostrado neste documentário. A reciclagem deve começar em casa, deveríamos ser conscientes de nossa culpa, de nosso descaso. Acabar com o Jardim Gramacho não é acabar com a degradante realidade exposta neste documentário, esta questão deveria ser solucionada pela sua base, pela sua raiz, através da conscientização do povo brasileiro. E isto a imprensa brasileira não mostrou.

Indicado ao Oscar de Melhor Documentário.

(Waste Land - 2010)

terça-feira, 5 de abril de 2011

As Mães de Chico Xavier (2011)


“As mães de Chico Xavier” marca o encerramento do ano de centenário do nascimento do médium. Esse longa, de certa maneira, faz uma síntese dos três filmes relacionados com Chico Xavier lançados nos últimos meses: “Chico Xavier”, a biografia assinada por Daniel Filho; “Nosso Lar”, adaptação do livro homônimo; e “As cartas psicografadas por Chico Xavier”, documentário sobre comunicação entre vivos e mortos.

Ao centro de “As mães de Chico Xavier” estão três mulheres com dilemas que envolvem a vida e o além. Ruth (Via Negromonte, de Chico Xavier) é casada com Mário (Herson Capri), produtor de televisão, cujo filho, Raul (Daniel Dias) está envolvido com drogas. O casamento de Elisa (Vanessa Gerbelli, de Sem Controle) está em crise, e ela deposita toda sua esperança no filho pequeno (Gabriel Pontes). E Lara (Tainá Muller, de Cão sem dono) descobre-se grávida de seu namorado (Gustavo Falcão), que ganhou uma bolsa de estudos na Espanha. Ela cogita fazer um aborto.

Como na estrutura dos filmes do diretor mexicano Alejandro González Iñárritu, as três histórias correm em paralelo até convergirem na figura do médium que, novamente, é interpretado por Nelson Xavier. O roteiro, assinado por Emmanuel Nogueira e Glauber Filho, que também dirige o longa com Halder Gomes, é baseado no livro Por trás do véu de Ísis, do jornalista Marcel Souto Maior.

Caio Blat interpreta Karl, um repórter de televisão que é uma espécie de alterego de Souto Maior. Trabalhando com Mário, o rapaz é incumbido de entrevistar Chico Xavier, e comprovar a veracidade das cartas. A entrevista virá em boa hora para juntar as três histórias. Há poucas dúvidas no personagem de Blat, que aceita as mensagens como verídicas e se impressiona com o médium.

O elo entre as três tramas, mais do que o médium e a comunicação pós-morte, é a temática da maternidade. Ruth acha que falhou ao criar seu filho. Artista plástica, tenta superar suas frustrações pintando quadros. Elisa se transforma em mãe em tempo integral. Negligenciada pelo marido (Joelson Medeiros), ela encontra no filho a única razão para passar os seus dias. Já Lara tem dúvidas se nasceu para ser mãe. Esse questionamento, aliás, rende a única boa cena do filme, envolvendo as duas personagens, já perto do final.

“As mães de Chico Xavier” é um filme de mensagens, uma espécie de propaganda nada sutil de doutrinas e julgamentos morais, como demonstra um letreiro final, que avisa: “Esse filme é dedicado às vítimas do aborto provocado”.

(As Mães de Chico Xavier - 2011)

As Patricinhas - Terceira Temporada (1998)


(Clueless - Thirth Season - 1998)

As Patricinhas - Segunda Temporada (1997)


(Clueless - Second Season - 1997)

Gilda (1946)


"As estatísticas mostram que existem mais mulheres no mundo do que qualquer outra coisa", dispara o herói cínico Johnny Farrell (Glen Ford), acrescentando, com peculiar aversão, "exceto insetos!". Ainda assim, essa misoginia coexiste, no filme de Charles Vidor, com a própria - e bela - Gilda (Rita Hayworth). Uma personagem que é ao mesmo tempo completamente apática e dona de uma ironia magistral, cuja canção-assinatura "Put the Blame on Mame" - ao som da qual ela faz um strip-tease extraordinariamente sensual envolvendo a retirada apnas das suas luvas de veludo que vão até os cotovelos - é uma exposição mordaz de como as mulheres são responsabilizadas pela destruição causada por homens que ficam obcecados por elas.

Johnny, um jogador durão que parece ligeiramente desconfortável no seu smoking, torna-se o gerente de um cassino em Buenos Aires, trabalhando para Ballin Mundson (George Macready), um magnata inexpressivo que carrega uma bengala que é na verdade uma espada, espia seus clientes e sócios através de uma sala de controle na casa de jogos e é o vértice de um triângulo amoroso que impulsiona a trama. Ford e Hayworth, ambos atores limitados, porém cativantes e fotogênicos, têm atuações definitivas arrancadas deles como dentes, e Macready se diverte como o complexo vilão. Como afirmam os cartazes: "Nunca houve uma mulher como Gilda!".



(Gilda - 1946)

Capitalismo: Uma História de Amor (2009)



Michael Moore apresenta uma análise de como o capitalismo corrompeu os ideais de liberdade previstos na Constituição dos Estados Unidos, visando gerar lucros cada vez maiores para um grupo seleto da sociedade, enquanto que a maioria perde cada vez mais direitos.

(Capitalism: A Love Story - 2009)