terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Lua de Papel (1973)

Esta é uma brilhante, terna e divertida comédia de época. Ryan O'Neal é o vigarista Moses Pray, que viaja pelo Kansas, na época da depressão, com um carro cheio de bíblias de luxo, tem um dente de ouro em seu convincente sorriso, e uma lista de pretendentes que ficaram viúvas recentemente. Addie (Tatum O’Neal) é uma órfã, que já fuma aos nove anos de idade, e se junta a Moses, ensinando ao mestre alguns truquezinhos. Madeline Kahn é Trixie Delight, neurótica e engraçada, que vai no embalo dos dois, até que Addie percebe que ela pode atrapalhar a dupla, o que obviamente não pode acontecer.

Vencedor do Oscar de Atriz Coadjuvante (Tatum O'Neal). Indicado nas categorias: Atriz Coadjuvante (Madeline Kahn), Som e Roteiro Adaptado.

(Paper Moon - 1973)

A Saga Crepúsculo: Amanhecer - Parte 1 (2011)

Desta vez, o que dá o tom da trama é a perigosa gravidez de Bella. Uma gestação de risco porque, afinal,o feto é um vampiro e a mãe pode não suportar as mordidas dentro de sua barriga. Simples assim.

A situação, inédita para todos os envolvidos, cria um segundo problema: o clã de lobos, com quem os vampiros têm um acordo de não-agressão, vê na morte da jovem uma quebra de contrato e no nascimento do bebê, uma aberração. Sobra para Jacob se impor a sua tribo, mesmo sendo contra o casamento e ainda mais sobre a possibilidade de tornar Bella uma vampira.

Dirigido por Bill Condon (Dreamgirls), “Amanhecer” tem um apelo a mais aos brasileiros, por ter sido o país escolhido para as filmagens da lua-de-mel do casal. Basta ouvir os gritinhos das fãs na sala de cinema ao verem o ator Robert Pattinson se esmerar no português para chegar à mesma conclusão.

Como era de se esperar, a melhor cena é, sem dúvida, a do casamento. Há uma decisão acertada de manter o humor em praticamente toda a cerimônia. Mas, para rir, o espectador deve obrigatoriamente ter passado a mão nos livros anteriores para entender as referências.

Um exemplo é o brinde de Emmett Cullen (Kellan Lutz), ao dizer que é melhor Bella ter dormido bem nos últimos 18 anos, pois não irá mais dormir. Enquanto Charlie (Billy Burke), o pai da noiva, vê no comentário uma gracinha de fundo sexual, o público ri ao lembrar que vampiros, pelo menos os de Stephenie Meyer, não dormem.

Chamam a atenção, no entanto, as atuações medianas do trio de protagonistas, que estão longe de demonstrar uma veia dramática mais robusta. O público parece não ligar muito para isso, seja por falta de referências, seja porque a história está toda ali mesmo, da carga emocional açucarada aos diálogos um tanto cafonas e à beleza dos interpretes.

(The Twilight Saga: Breaking Dawn - Part 1 - 2011)

Nascido Para Matar (1987)

Em “Barry Lyndon”, outro filme de Stanley Kubrick, a principal cena de batalha mostra uma luta que nunca chegou aos livros de História, conforme relata o narrador, “apesar de ter sido memorável para aqueles que dela participaram”. Quando Kubrick decidiu fazer um filme sobre o Vietnã, baseou-se nessa abordagem, logo após as diversas tomadas fantásticas e ansiosas de Francis Ford Coppola (Apocalipse Now) e Oliver Stone (Platoon) terem estabelecido um vocabulário cinematográfico amargo para aquela guerra, em meio a névoa de ácido e napalm. “Nascido Para Matar” revela outra faceta do mundo dos soldados de infantaria do Exército norte-americano, no qual todos os oficiais, comandantes de batalhão ou não, são seres alienígenas ridículos mas mortíferos (até as prostitutas, dizem eles, “são oficiais a serviço da guerra”). Os heroicos marines, que caminharam longa e penosamente em tantos filmes como “Dá-me tua mão”, são garotos com apelidos engraçados, sem a menor noção de onde estão ou o que estão fazendo.

Baseado no romance autobiográfico “The Short-Timers”, de Gustav Hasford, com contribuições do roteirista Michael Herr (autor de Dispatches e da narrativa de “Apocalipse Now”) “Nascido Para Matar” é brutal, espirituoso, assustador e comovente em iguais proporções, representando situações de guerra raramente vislumbradas no cinema. Uma longa ação de abertura se passa na Ilha Parris, o centro de exame e treinamento de novos recrutas. Após uma montagem na qual jovens de cabelos compridos são tosados para se tornarem robôs carecas tão indistintos quanto os personagens futurísticos do longa “THX 1138”, de George Lucas, o filme é comandado pelo impressionante R. Lee Erney, como o sargento instrutor Hartman, cujos obscenos, originais e cruéis maus tratos contra os recrutas são destinados a subjulgar totalmente os “vermes”, antes que possam ser reconstruídos como máquinas de matar. Durante um sermão, Hartman orgulha-se do fato de que Lee Harvey Oswald e Charles Whitman aprenderam a atirar com os marines. A terrível ironia dessa sequência, similar ao regime de treinamento de “Spartacus”, é que o resultado lógico da transformação de um gorducho atrapalhado em um dos grotescos homens-macacos de Kubrick, com um penetrante olhar primal, lembra tanto o bando de vândalos de “Laranja Mecânica” quanto Jack Torrance em “O Iluminado”. A primeira providência do recém-criado marine é assassinar seu torturador/criador e depois se suicidar.

Após esse evento, as sequencias do Vietnã são quase um alívio. Enquanto o soldado raso Joker, um jornalista, relaxa um pouco e encontra outros indivíduos ainda mais insanos, o metralhador de um helicóptero dá uma resposta técnica à pergunta sobre como é capaz de matar mulheres e crianças (“É fácil, faça mira não muito a frente delas”) e um coronel faz a seguinte observação: “Filho, tudo o que peço a meus fuzileiros é que eles obedeçam às minhas ordens como obedeceriam às palavras de Deus.” O apogeu é um conflito durante a batalha nos escombros da cidade de Hue, onde o pelotão de Joker encontra uma franco-atiradora vietnamita. Ninguém vence essa batalha, e a tropa de fuzileiros marcha noite adentro cantando a canção do Clube do Mickey Mouse. Somente Kubrick ousaria provocar Disney assim.

Indicado ao Oscar de Roteiro Adaptado.

(Full Metal Jacket - 1987)

Candy (2006)

Este drama australiano conta uma história de amor na qual os amantes devem ficar separados para sobreviver, pois juntos se destroem.

Heath Ledger é Dan, um jovem poeta que se apaixona por Candy. A primeira parte do filme, chamada de ‘Paraíso’, acompanha o envolvimento do casal, quando o amor e a heroína bastam para fazê-los felizes. O mundo à sua volta parece não existir mais. Os dois só têm olhos um para o outro e para as emoções artificiais proporcionadas pela droga.

Como não têm muitos meios de se sustentar, eles dependem da ajuda do bioquímico Casper, que em seu laboratório sintetiza e experimenta algumas drogas e não hesita em compartilhá-las com o jovem casal.

Logo Candy e Dan caem na realidade e começam a ver a vida de outra forma. A heroína se torna mais forte do que o amor e a moça é obrigada a se prostituir para manter o vício. O ‘Inferno’ não tarda a chegar e a vida do casal chega ao limite da destruição.

Candy conta com duas performances inspiradas de Abbie Cornish e Ledger como o casal de viciados. A jornada dela é mais árdua, passando de boa moça a drogada irrecuperável. A decadência física que a atriz imprime ao personagem dá mais consistência ao filme. Já Dan tem uma evolução mais sutil – uma vez que ele já era viciado antes do início da história.

Se “Candy” acerta ao investir a fundo no romance entre os protagonistas, a narrativa nunca explora com profundidade o conflito entre a moça e sua mãe, que muitas vezes explode, sem muitas explicações. Algumas cenas parecem criadas apenas para chocar, sem muita força dramática. Ainda assim, os dois protagonistas conseguem criar personagens humanos, desesperados e altamente verossímeis , o que não é pouco.

(Candy - 2006)

Videodrome - A Síndrome do Vídeo (1983)

Um filme revolucionário originário do movimento comercial/independente dos anos 80 em Hollywood, a história de David Cronenberg sobre as horríveis transformações geradas pela exposição à violência televisionada aborda habilmente os problemas que o próprio diretor havia tido com censores, distribuidores de Hollywood e grupos feministas por conta da exploração de imagens de violência sexual em suas produções anteriores. Max Renn (James Woods) é um operador de estação de TV a cabo cujo marketing cínico de sexo e violência se volta contra ele quando seu abdome subitamente desenvolve uma abertura em forma de vagina na qual, entre outros objetos, videocassetes podem ser inseridos. O filme, no qual tais fantasias sadomasoquistas e de troca de gêneros desempenham papéis centrais, termina de forma trágica, com a autodestruição de Max.

Sendo, em vários sentidos, a manifestação formal mais audaciosa dos temas característicos de Cronenberg, “Videodrome” começa como um thriller comercial bastante comum para se transformar em uma fantasia subjetiva do tipo mais chocante e pouco usual. Visualmente elaborado, o filme é também provocante em sua ponderação surpreendente tanto sobre a perversidade polimorfa quanto sobre a enterpenetração entre os domínios público e subjetivo da experiência. Cronenberg foi ao mesmo tempo elogiado e condenado por seu tratamento fluido dos sexos (uma sequência final, que mostrava dois personagens femininos desenvolvendo pênis em uma espécie de contraponto à “vaginação” de Max, foi cortada por ser muito perturbadora). Mesmo em sua forma editada, “Videodrome” continua sendo um dos filmes menos comuns de Hollywood, chocante e idiossincrático demais para ser algo além de um fracasso comercial.

(Videodrome - 1983)