quinta-feira, 29 de julho de 2010

A Enseada (2009)



"A Enseada" mostra um grupo de ativistas ambientais que, munidos de equipamentos de filmagem com alta tecnologia e liderados pelo treinador de golfinhos Ric O’Barry, vão até uma enseada próxima de Taijii, no Japão, para registrar a chocante caça aos golfinhos e o cruel abuso desses animais.

Vencedor do Oscar de Melhor Documentário.

(The Cove - 2009)

Star Trek (2009)



Sempre que é anunciada uma nova série de TV ou longa-metragem da franquia Jornada nas Estrelas, invariavelmente, ela é vista pelos fãs e pela crítica com certa reticência. Isso porque além de contentar a quem acompanha a história desde os anos 1960, é preciso que a produção seja atrativa ao espectador casual.

Embora seja difícil conseguir essa proeza, como visto no decepcionante Nemesis (2002), "Star Trek" vem provar que isso é possível. Ao contar a história da tripulação original (ícone inconteste de toda a série), criada por Gene Roddenberry, em 1966, o filme torna as aventuras na nave Enterprise atraentes para as novas gerações, sem desrespeitar os fãs de antigamente.

Pela trama, conhecemos a infância do Capitão Kirk (Chris Pine, de Sorte no Amor) e do Sr. Spock (Zachary Quinto, da série Heroes). Enquanto o primeiro cresce farreando em Iowa (EUA), o segundo passa a infância em uma sociedade que preza o conhecimento, a despeito de qualquer emoção: os volcanos.

Os motivos que os levam a mudar de vida e embarcar na Frota Estelar, o exército de paz da Federação, se definem nesse período. O jovem Kirk pretende seguir os passos de seu finado pai e Spock sofre perseguições por ser filho de um volcano com uma terráquea (uma participação especial da atriz Winona Rider).

Eles acabam embarcando juntos na viagem inaugural da Enterprise, onde acabarão conhecendo os personagens símbolo da franquia, como o Dr. McCoy (Karl Urban, de Desbravadores), Nyota Uhura (Zoe Saldana, de Ponto de Vista), Hikaru Sulu (John Cho, da série de TV Ugly Betty) e Pavel Chekov (Anton Yelchin, de Alpha Dog).

Em sua primeira missão, eles deverão enfrentar o vilão Nero (Eric Bana, de Munique), cujos planos envolvem Spock e a destruição de seu planeta natal. Como era de se esperar, antes de enfrentar Nero, os jovens Spock e Kirk devem encerrar seus conflitos pessoais, que geram uma série de piadas para o filme.

O diretor J.J. Abrams (Missão Impossível III) consegue um feito e tanto ao deixar o saudosismo de lado, sem perder a essência da série. Destaque também para Roberto Orci e Alex Kurtzman, que criaram um roteiro simples, apesar das múltimplas referências da franquia.

Para os mais “Trekkies” (nome dado aos fãs), uma boa surpresa: a participação especial do ator Leonard Nimoy, o eterno Spock. Além de ser uma homenagem, seu personagem é vital para a compreensão da história. Além disso, sua participação faz com que Kirk conheça o humorado e engenhoso Scotty (Simon Pegg, de Chumbo Grosso), que não podia faltar na tripulação.

Vencedor do Oscar de Maquiagem. Indicado aos Oscar de Som, Edição de Som e Efeitos Visuais.

(Star Trek - 2009)

quarta-feira, 28 de julho de 2010

A Última Estação (2009)


Após quase 50 anos de casamento, a Condessa Sofia, esposa, companheira, musa e colaboradora de Leo Tolstoi, vê seu mundo virar de pernas para o ar. Em nome da nova religião que criou, o grande romancista russo renunciou ao seu título de nobreza, às suas propriedades e à sua família, em favor da pobreza, do vegetarianismo e do celibato.

Sofia sente-se justificadamente ultrajada quando ela descobre que o pupilo de Tolstoi, Vladimir Chertkov, a quem ela detesta, pode ter, secretamente, convencido o marido a mudar o seu testamento. Segundo o documento modificado, os direitos autorais das obras do romancista passariam para o povo russo. Usando o seu poder de sedução, Sofia luta com todas as forças para recuperar aquilo que ela considera seu de direito. Quanto mais radical se torna o comportamento de Sofia, mais fácil se torna para Chertkov convencer Tolstoi que o seu glorioso legado não pode ficar com ela.

O conflito torna-se tão intenso que Tolstoi, aos 82 anos, a maior celebridade do mundo na época, foge de casa no meio da noite. Sua mulher aluga um trem e vai atrás dele, procurando-o por toda a Rússia.

No meio deste campo minado está o ingênuo Valentin Bulgakov, o novo assistente de Tolstoi. Ele se torna um peão, primeiro de Chertkov e, depois, da vingativa e sofrida Sofia, enquanto ambos conspiram um contra o outro.

Para complicar a vida de Valentin, ele sente uma paixão avassaladora por Masha, mulher livre e independente, cujas atitudes pouco convencionais com relação ao amor e ao sexo o atraem e confundem ao mesmo tempo. Obcecado com as noções do amor ideal de Tolstoi e, ao mesmo tempo, impressionado com o seu casamento turbulento, Valentin sente-se despreparado para lidar com as complicações do amor no mundo real.

Indicado ao Oscar de Melhor Atriz (Helen Mirren) e Melhor Ator Coadjuvante (Christopher Plummer)

(The Last Station - 2009)

terça-feira, 27 de julho de 2010

A Melhor Juventude (2003)


São quase seis horas de filme. Mas são quase 40 anos os cobertos por "A Melhor Juventude", do italiano Marco Tullio Giordana. A extensão se explica na origem: o projeto foi encomendado como minissérie pela televisão estatal italiana, a RAI -que queria contar um pedaço da história do país de um "ponto de vista original", como diz Giordana, 53. Para isso, a rede encarregou os roteiristas Sandro Petraglia e Stefano Rulli, que convidaram o diretor com quem trabalharam em "Pasolini, um Delito Italiano" (1995).

No filme, a história italiana circula em torno dos lares de uma mesma família, espalhados entre a capital, Roma, a industrial Turim, e a mítica e pobre Sicília. Os protagonistas são os irmãos Nicola (Luigi Lo Cascio) e Matteo (Alessio Boni). Muito próximos, ainda que em tudo diferentes, têm suas vidas mudadas, no verão de 1966, pelo encontro com Giorgia (Jasmine Trinca), paciente de uma clínica psiquiátrica, e a tentativa frustrada de livrá-la da rotina dos eletrochoques.

Matteo entra para a caserna em busca de colocar ordem no caos. A partir daí, um lado sombrio se desenvolve no rapaz antes inclinado às artes. Como policial, presenciará vários fatos históricos que se seguem à sua decisão.

Nicola, estudante de medicina, passa o resto das férias (e uns meses mais) numa viagem de mochilão até a Noruega. Na volta provocada pela notícia da grande enchente de Florença - quando jovens de toda a Itália se empenharam em salvar obras de arte - decide dedicar-se à psiquiatria e à luta antimanicomial, iniciada por Franco Basaglia (1924-1980).

E assim seguem os irmãos Carati e seus circunstantes, conduzindo a segunda metade do século 20 na Itália. O artifício não é novo, nem mesmo para Giordana que defende vivamente que a história "grande" se faz de pequenas histórias humanas - e poderia ter resultado caricatural, se julgarmos improvável que um pequeno núcleo de pessoas pudesse concentrar tantos símbolos da época.

O que permite que os personagens (encarnados com mestria) pareçam pessoas, e não emblemas é sua densidade psicológica, que, somada a um "leitmotiv" subjacente e o contraste entre a liberdade e sua privação, salva o filme de se tornar um "novelão".

(La Meglio Gioventù - 2003)

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Gran Torino (2008)


Republicano histórico, Clint Eastwood nunca representou tanto o espírito autocrítico da América que elegeu o democrata Barack Obama quanto em seus últimos filmes, em particular neste grave, belo e polifônico “Gran Torino”.

Seu personagem aqui, Walt Kowalski, é a própria encarnação da velha América, nostálgica de seu papel de heroína do mundo, que teve seu auge na II Guerra Mundial e entrou em declínio logo depois, na Guerra da Coréia. Uma guerra que tem, aliás, tudo a ver com a amargura deste personagem.

Os pesadelos de Walt são povoados dos rostos dos soldados orientais que ele matou naquela guerra, em que brotaram as primeiras sementes da Guerra Fria, lançadas também na II Guerra Mundial. Aposentado, viúvo e irascível, ele vê sua vizinhança em Detroit encher-se paulatinamente de outros rostos orientais, agora Hmongs.

Povo espalhado entre a China, Tailândia e o Laos, os Hmongs apoiaram os norte-americanos em outra guerra, a do Vietnã. Pagaram caro por isso. Com a vitória dos vietnamitas comunistas, os sobreviventes tiveram de refugiar-se nos EUA.

A densa história de Gran Torino, roteiro rico em nuances do novato Nick Schenk, registra também um comentário econômico. Walt sente falta de um tempo em que a América era a economia mais pujante do mundo e Detroit, sede da indústria automobilística, o seu umbigo. Ele mesmo foi funcionário da Ford e guarda na garagem uma pérola da coroa daqueles dias – um Gran Torino 1972 impecável, cuja pintura ele pole cuidadosamente todos os dias. Ao lado da cachorra Daisy, o carro é seu mais sólido afeto, já que com os filhos e netos ele não consegue encontrar qualquer denominador comum. E vice-versa.

Este ferrenho conservador contém um pouco de cada um daqueles personagens a que Eastwood, em sua longa carreira, soube dar sua cor única. Walt Kowalski é uma espécie de síntese e também de atualização de “Dirty Harry”, do treinador Frankie Dunn de “Menina de Ouro”, do Bill Munny de “Os Imperdoáveis” e de tantos outros “Homens sem Nome” de seus faroestes, capazes de transigir com as boas maneiras e até a higiene, com a ética, nunca.

Kowalski não faz nenhum esforço para ser simpático. Empunha permanentemente uma cara feia, grunhe ao invés de falar e dispara uma impressionante coleção de epítetos politicamente incorretos toda vez que cruza com seus vizinhos orientais e também os eventuais negros. Isso não impede que ele mergulhe aos poucos na família que mora ao seu lado, aproximando-se dos adolescentes da casa, Thao (Bee Vang) e Sue (Ahney Her).

O relacionamento entre eles começou errado, quando Thao, pressionado por um primo gângster, tentou roubar o Gran Torino da garagem. Como punição, sua mãe e avó, seguindo os preceitos de sua cultura, obrigam-no a prestar serviços para Walt – que a princípio rejeita, mas não lhe é permitido recusar.

O filme progride na direção de um confronto urbano bem realista, em que pessoas de bem são cercadas pelo crime organizado. Se a ética é o último reduto dos fortes, Clint Eastwood é o herói para todas as épocas, todas as estações. Bendita energia do veterano ator de mais de 60 filmes, diretor de outros 33 e, aos quase 79 anos, está cheio de energia para lançar dois filmes ao ano – como ele fez em 2008, com “Gran Torino” e “A Troca” e, em 2007, com “A Conquista da Honra” e “Cartas de Iwo Jima”. Longa vida, mr. Eastwood.

Quanto à ausência deste filme primoroso até nas indicações ao Oscar 2008, melhor o silêncio.

(Gran Torino - 2008)

sábado, 24 de julho de 2010

Boy A (2007)


Jack passou a maior parte de sua vida na prisão por um crime que cometeu quando criança. Agora livre, com um novo nome, ele tenta uma nova vida. Mas isso pode não ser tão fácil quanto parece. É possível começar do zero, esquecer o passado, ser uma nova pessoa? Um novo nome é o suficiente? Conseguirá ele fazer novos amigos e conviver com eles, enquanto esconde seu passado sombrio?

(Boy A - 2007)

Kick-Ass - Quebrando Tudo (2010)



Quem acreditar que “Kick-Ass – Quebrando Tudo” é apenas uma comédia besteirol para adolescentes terá subestimado um dos filmes mais vigorosos para esse público. Longe de trazer personagens nerds, tão em voga nos últimos tempos, a produção consegue ser inovadora e audaz na forma com que mistura ação, drama, humor e super-heróis.

Baseado em um HQ homônimo (criado por Mark Millar), o filme do diretor inglês Matthew Vaughn, consegue comover, ao mesmo tempo em que choca a plateia pela violência injetada a cada cena. Com seu roteiro, ele subverte a ideia de justiceiros, mostrando que, sim, os meios também justificam os fins.

Kick-Ass é o alter-ego de Dave Lizewski (Aaron Johnson), um jovem convencional, sem brilho ou problemas. Sentindo-se impotente frente aos crimes que ocorrem ao seu redor, passa a acreditar que, para ser um super-herói, basta ter força de vontade e indignação.

Sem poderes especiais ou acessórios excêntricos, Dave compra pela internet uma roupa vibrante e se sente capaz de lutar contra o banditismo. Com um treinamento frente ao espelho, já no primeiro confronto ele é surrado, esfaqueado e atropelado, em cenas recheadas de humor negro.

Quando volta à ativa, sente-se ainda mais confiante para enfrentar os desajustados, já que sua temporada no hospital lhe rendeu um esqueleto quase todo de pinos de aço e nenhuma sensibilidade à dor. Logo, em um enfrentamento solitário contra uma gangue, em que leva pontapés como uma bola de futebol, consegue permanecer de pé e virar hit na internet.

Ao mesmo tempo em que Dave torna-se Kick-Ass, Damon (Nicolas Cage) ensina a sua filha Mindy (Chloe Moretz) a não ter medo ou sentir dor frente ao perigo imediato. E, quando menos se espera, leva um tiro à queima-roupa no peito. Um teste para se tornar a Hit-Girl (com 10 anos), ao lado de seu pai, Big Daddy, outro vigilante que combate o chefão do tráfico Frank D'Amico (Mark Strong, de Sherlock Holmes).

Os mundos colidem quando o vilão passa a perseguir o trio, já que a interferência deles está arruinando seus negócios. Com excelentes atuações, em especial a da jovem Chloe Moretz (que chacina e apanha de maneira perturbadora), a produção é mordaz sobre o mundo dos super-heróis dos quadrinhos. É também incômoda pela falta de escrúpulos.

Mas é a completa falta de censura que torna Kick-Ass tão pungente. Por ser diretor, roteirista e produtor, Matthew Vaughn teve autonomia para fazer o que bem quis e já anunciou uma sequência ainda mais pesada. Considerado ultra-violento, ultra-pop e ultra-divertido, o filme pode dirigir-se para adolescentes, mas não deve ser visto como um trabalho menor.

(Kick-Ass - 2010)

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Super Size Me - A Dieta do Palhaço (2004)


Parece fácil, mas só depois que alguém já fez - como a famosa história do ovo de Colombo. Muita gente, especialmente médicos, não se cansa de dizer que comer fast food faz mal à saúde. O cineasta americano Morgan Spurlock foi além e provou. Impôs-se uma dieta exclusivamente à base dos pratos servidos na rede McDonald´s por 30 dias e cercou-se de médicos para verificar os resultados - todos eles, assustadores.

Numa época de verdadeira obsessão pela alimentação saudável e conveniência da boa forma, este documentário registra momentos de puro filme de terror. Afinal, para alguém como Spurlock, que sempre seguiu uma dieta à base de comida caseira e tem uma namorada que é chef vegetariana, não parece ser menos do que tortura alimentar-se exclusivamente do cardápio McDonald´s. Mesmo para um consumidor ocasional dos populares Big Macs, não seria uma jornada fácil - como o diretor deste documentário comprova passo a passo.

Cineasta de primeira viagem, Spurlock demonstra um extraordinário ímpeto investigativo, que contribui para dar a este filme a credibilidade de que ele precisa logo de saída. Se ele se limitasse a filmar suas 90 refeições, seria insuportável. Mas o diretor transforma sua experiência em algo mais. Em primeiro lugar, procura amparo científico, fazendo-se examinar por três médicos antes, durante e depois dos 30 dias. Consulta 100 nutricionistas de todos os cantos dos Estados Unidos sobre a conveniência do consumo da comida do McDonald´s, ainda que poucas vezes num mês. Também pega a poderosa rede em flagrante descumprindo sua própria propaganda, ao não colocar a tabela de calorias em lugar bem visível em várias das lojas visitadas por Spurlock - não raro, sem que os funcionários tenham a menor idéia do que ele está falando.

Spurlock mostra-se, também, um bom entrevistador. Procura e encontra na rua os personagens capazes de sustentar sua tese - que não é combater individualmente a rede McDonald´s, mas demonstrar como e porque os EUA estão se tornando uma nação de obesos, o que é muito mais grave.

Ainda assim, o cineasta comprova que o McDonald´s é, com certeza, parte do problema, ao manter altos índices de gordura e açúcar na maioria esmagadora de seus pratos - mesmo no molho que vem junto com as saladas que também constam de seu cardápio. As entrevistas na rua provam o quanto o McDonald´s é popular entre os americanos. Praticamente não existe uma única pessoa de qualquer idade ou classe social que nunca entre nas suas lojas.

Mas a rede de lanchonetes está longe de ser o único endereço de hábitos duvidosos de alimentação. Por incrível que pareça, o mal começa nos refeitórios de inúmeras escolas, que oferecem apenas alimentos prontos repletos de carboidratos, gordura e açúcar e nada de alimentos frescos, como verduras, legumes e frutas. Spurlock comprova, com rigor científico e com o peso de sua própria experiência, os efeitos nocivos da adesão ao fast food. Seu calvário, que no final lhe acarretou altos índices de colesterol e ácido úrico (depois revertidos), porém, tem tudo para ter efeito pedagógico. Fica difícil acreditar que alguém vá querer repetir a mesma experiência depois do que viu na tela. Seja nos EUA ou qualquer outro país.

(Super Size Me - 2004)

De Porta em Porta (2002)


Portland, Oregon, 1955. Apesar de ter nascido com uma paralisia cerebral, que cria limitações na sua fala e movimentos, Bill Porter (William H. Macy) tem todo o apoio da sua mãe para obter um emprego como vendedor na Watkins Company. Bill consegue o emprego, apesar de certa relutância devido às suas limitações, pois teria que ir de porta em porta oferecendo os produtos da companhia. Bill só conseguiu o emprego quando disse para lhe darem a pior rota. Primeiramente Bill é rejeitado pela pessoas "normais", mas ao fazer sua 1ª venda para uma alcóolatra reclusa, Gladys Sullivan (Kathy Baker), ele literalmente não parou mais. Por mais de 40 anos Bill caminhou 16 quilômetros por dia e, para ajudá-lo nesta trajetória, além da sua mãe e Gladys, surgiu Shelly Soomky Brady (Kyra Sedgwick).

(Door to Door - 2002)

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Ela Dança, Eu Danço (2006)



“Ela Dança, Eu Danço” é um romance água-com-açúcar e números de dança sem graça, dirigido pela coreógrafa Anne Fletcher, o grande problema desse filme é nunca chegar a lugar nenhum, com sua alta carga de previsibilidade e ausência de charme e ousadia.

Aqui, o roteiro conta o óbvio sem a menor ousadia – nem mesmo um romance interracial é ensaiado. Os caucasianos amam e ficam com os caucasianos e os afro-americanos com os afro-americanos, para não gerar nenhuma polêmica. Os intérpretes desses personagens são um caso à parte. Quando se faz um filme como esse, surge a dúvida: chamar atores que saibam dançar ou dançarinos que atuem? A diretora tenta contornar a situação, e, no fim, ninguém atua e dança-se bem mal.

A história acompanha uma menina bem de vida que se apaixona por um rapaz meio delinquente, que foi condenado por vandalismo a prestar serviços sociais na escola de arte onde ela estuda. Depois de desencontros iniciais, ela percebe que ele é o único que pode ajudá-la numa apresentação de dança. Um pra lá, dois pra cá, e, voilà, a dupla descobre que não pode viver um sem o outro. O que vem depois é meramente protocolar.

O grande problema de “Ela Dança, Eu Danço” nem é sua dose cavalar de previsibilidade, nem sua falta de originalidade com a câmera ou a montagem. O que mata de vez qualquer qualidade que o filme poderia ter é tratar o seu público como seres incapazes de pensar ou questionar. Ou alguém vai acreditar que aquele bando de jovens com os hormônios à flor da pele vai se contentar apenas com beijinhos no rosto?

(Step Up - 2006)

domingo, 11 de julho de 2010

Madagascar 2 - A Grande Escapada (2008)



Os animais de Nova York que se perderam na ilha de Madagascar, no filme de 2005, estão desesperados para voltar ao zoológico. Por mais que tenham se divertido com seus novos amigos, eles sabem que não há lugar como o lar, mesmo que seja um lugar barulhento, repleto de crianças e flashs fotográficos.

“Madagascar 2” começa onde termina o primeiro filme. O grupo, formado pelo leão Alex (voz de Ben Stiller/Alexandre Moreno), a zebra Marty (Chris Rock/Felipe Grinnan), a girafa hipocondríaca Melman (David Schwimmer/Ricardo Juarez) e a hipopótamo fogosa Gloria (Jada Pinkett Smith/Heloisa Périssé), embarca num avião reformado, que será comandado por um grupo de pingüins rumo a Nova York. Na primeira classe, estão o rei lêmur Julien (Sacha Baron Cohen/Guilherme Briggs) e seu escudeiro, Maurice (Cedric the Entertainer/Ricardo Schnetzer).

Com o avião recauchutado, eles mal conseguem chegar ao Oceano Atlântico, caindo nas savanas da própria África – onde descobrem um mundo feito para os animais selvagens. O problema é que a trupe deixou de ser selvagem há muito tempo – eles são metropolitanos demais e precisam passar por uma adaptação.

A maior surpresa está reservada para Alex, que reencontra seus pais. O pai é o rei do bando, mas bastante invejado por Makunga (Alec Baldwin/Marcio Simões), que arma um plano para tirá-lo do comando, envolvendo Alex, que não tem as habilidades de um leão de verdade, mas é capaz de dançar e posar para fotos.

Os outros animais também encontrarão seus pares. A girafa neurótica se torna curandeira do grupo, tentando esquecer o amor que tem reprimido pela hipopótamo que, por sua vez, está seduzindo o galã da turma – um hipopótamo marombado. Já a zebra encontra outras centenas iguais a ela – logo Martin que achava ser único no mundo.

Contando com a ajuda de um grupo de macacos, os pingüins tentam consertar o avião. Para conseguir peças, armam um plano para enganar humanos que participam de um passeio pela África e roubar seus jipes. Porém, aquela mesma velhinha que espancou Alex no metrô no primeiro filme está no passeio e não deixará barato ser enganada por nenhum animal.

Com esses elementos, “Madagascar 2” tira diversão de estereótipos bem intencionados e apregoa aquela velha máxima de todos os filmes destinados ao público infantil: seja você mesmo que, no fim, tudo dá certo. Porém, faz tudo isso com tanta cor, com tanta energia e música que é impossível não se divertir com Alex e seus amigos.

(Madagascar: Escape 2 Africa - 2008)

Inimigos Públicos (2009)



“Inimigos Públicos”, de Michael Mann, revisita o clima da Grande Depressão dos anos 30, quando gângsters assombravam as ruas de várias cidades dos EUA e espalhavam ao mesmo tempo um rastro de medo e uma lenda particular. Um dos mais carismáticos, o ladrão de bancos John Dillinger (Johnny Depp), está no centro da história.

Como se pode esperar de um diretor com a folha corrida de Mann – a quem se creditam “Miami Vice”, “Colateral” e “O Informante”, entre outros – sabe-se que não se trata de um mero confronto entre mocinhos e bandidos. Aliás, nem há mocinhos. Os agentes do FBI que caçam Dillinger não são exatamente modelos de virtude - a começar pelo diretor do órgão, J. E. Hoover (Billy Crudup), que passou à História por cultivar métodos nada ortodoxos de investigação, com escutas ilegais e brutalidade correndo à solta contra os suspeitos e suas famílias.

Há várias camadas na trama, baseada em livro-reportagem de Bryan Burrough, mas que ganha tintas ficcionais no roteiro, assinado por Mann, Ronan Bennett e Ann Biderman. Assim, se a sucessão de fatos da vida de Dillinger corresponde à verdade, em linhas gerais, não faltam momentos em que a lenda predomina, para corresponder a uma certa licença poética que permite ao filme decolar, inclusive visualmente, mantendo a marca registrada do diretor.

Depp é uma escolha perfeita para a visão que se pretende mostrar de Dillinger – personagem que já foi objeto de outro filme, em 1973, de John Milius (Dillinger – Inimigo Público no. 1). Apoiando-se no carisma e no humor peculiar do ator, este Dillinger passa longe de um vilão de caricatura. Com um charme ambíguo, Depp carrega o peso do personagem, movido por sua fome de adrenalina e dólares roubados espetacularmente de bancos, à luz do dia, deixando não raro uma trilha de cadáveres. Um bandido, sem dúvida, mas que não se esquecia de deixar para trás ilesos tanto os reféns que arrastava nas fugas como o dinheiro do bolso dos clientes que haviam entrado no banco na hora errada. Dillinger só queria mesmo o conteúdo dos cofres dos banqueiros, criando para si uma certa aura Robin Hood que lhe valia não poucos admiradores – como demonstra uma cena em que ele é preso e vai sendo aplaudido por uma multidão à sua passagem.

Parte dessa admiração popular vem de suas respostas espirituosas à imprensa e também de seus hábitos audaciosos – como circular pelas ruas e lugares públicos no intervalo entre suas ações. O filme captura essa ousadia em alguns momentos, sendo o mais cínico e divertido aquele que mostra o ladrão, caçado em todo o país, passeando disfarçado nas dependências de uma delegacia de Chicago, no setor dedicado à sua captura. É também um momento em que o ladrão revisita seu passado, as fotos de seus companheiros já mortos, a própria instabilidade de sua vida acelerada.

Esta rotina entre assaltos e fugas de prisões – o filme retrata diversas delas, como a eletrizante sequência inicial – é rompida, finalmente, pelo interesse romântico por Billie (Marion Cotillard, em seu primeiro papel depois do Oscar por Piaf – Um Hino ao Amor). Por causa da moça, Dillinger corre alguns riscos, porque o braço direito de Hoover no FBI, o agente Melvin Purvis (Christian Bale, o Batman), não tarda a perceber e usar a moça como isca.

Se não chega a formar com o bandido uma dupla à la Bonnie e Clyde (casal de ladrões que apavorou os EUA mais ou menos na mesma época e foi tema de filme em 1967), Billie tem presença magnética na tela, confirmando o talento da atriz francesa, dando-se bem em papel falado em inglês. Christian Bale, por sua vez, mantém firme sua rota na maturidade. Há momentos neste filme em que lembra muito Robert Duvall.

(Public Enemies - 2009)

Paranoia (2007)



À primeira vista, este suspense juvenil pode parecer até uma releitura adolescente de “Janela Indiscreta”. Mas não passa de ilusão. Eis uma coisa que Alfred Hitchcock conhecia muito bem, e D. J. Caruso desconhece: sutileza.

Shia LaBeouf é o nome do momento em Hollywood. Protagonizou “Transformers”, é o queridinho de Steven Spielberg e está no elenco do quarto “Indiana Jones”. É um ator competente, e seu talento é o que tenta em vão salvar “Paranóia” de cair na vala comum. Aqui, ele faz as vezes do personagem de James Stewart. Depois de perder o pai num acidente de carro e de bater no professor, Kale é condenado a três meses de prisão domiciliar.

Para não infringir a pena, ele é obrigado a usar uma tornozeleira com um bip que aciona a polícia se cruzar o limite estabelecido. Com isso, está confinado dentro da própria casa. Para piorar a punição, sua mãe (Carrie-Anne Moss, da série Matrix) corta algumas regalias. Assim, sua única diversão passa a ser espionar os vizinhos, em especial a bela Ashley (Sarah Roemer, de O Grito 2), que acaba de se mudar para a casa ao lado.

No fundo Kale é um bom rapaz, são só as circunstâncias que estão deixando-o meio fora de si. O rapaz começa até a desconfiar de um outro vizinho, Turner (David Morse), que pode ser um assassino em série que fugiu do Texas há alguns anos. Sem poder sair de casa, Kale começa a investigar com a ajuda de Ashley e de seu amigo Ronnie (Aaron Yoo).

O que o diretor Caruso (Roubando Vidas) e os roteiristas Christopher B. Landon (Sangue e Chocolate) e Carl Ellsworth (Vôo Noturno) não inventam são reviravoltas e surpresas. Este suspense é, no final das contas, exatamente aquilo que aparenta ser: todas as peças estão lá, nenhuma surpreende. E também não faz muita questão de levar seu público a usar a cabeça.

(Disturbia - 2007)

Divã (2009)


Mercedes (Lília Cabral) é uma mulher madura. Casada, mãe de dois filhos, dá aulas particulares de matemática, mas sua vocação é mesmo ser pintora – ao menos é o que pensa. A vida vai bem, por isso, diz a seu analista, na primeira sessão, que nem sabe o que está fazendo naquele consultório. Sua insistência em ser analisada resulta no longa “Divã”, baseado na peça teatral homônima.

Muito ajuda o fato de Mercedes, tanto no teatro, quando no cinema, ser vivida por Lília Cabral – mais conhecida por seus trabalhos na TV, como na recente novela “A Favorita”, no qual interpretou Catharina, uma mulher que apanhava do marido. Logo nas primeiras cenas, a atriz ganha a simpatia e confiança do público com seu sorriso fácil e sincero. Ainda assim, o filme parece não estar à altura da intérprete.

Divã é dirigido por José Alvarenga Jr (da série e do filme “Os Normais”) a partir do roteiro de Marcelo Saback, que também assina a peça, baseada num livro de Martha Medeiros. Porém, há pouco de cinema na tela. O filme mais parece um episódio alongado de uma sitcom – em que toda cena precisa terminar com uma piadinha, muitas delas sem qualquer graça ou real necessidade.

Divã parte do princípio que todas as pessoas têm uma vida interior interessante. Assim, por mais comum que Mercedes possa parecer, há algo dentro dela que vale a pena ser compartilhado com o público. Ela é uma daquelas mulheres que sempre se colocou em segundo plano em favor do marido (José Mayer) e dos filhos, e só agora percebe que desperdiçou sua vida.

Planejando não perder mais tempo, acaba arrumando um amante mais jovem (Reynaldo Gianecchini, de Entre Lençóis), e vive seus melhores momentos, descobrindo prazeres novos, como sexo sem compromisso e até ilícitos, como a maconha. Curiosamente, ao longo do filme, o processo de autodescoberta sempre envolve um homem mais novo – além de Gianecchini, ela também tem um caso com o personagem de Cauã Reymond (de Falsa Loura). O entusiasmo das novidades, porém, dura pouco. Custa à personagem perceber que só estará bem com o mundo quando estiver bem consigo mesma.

Há também a melhor amiga Mônica (Alexandra Richter), sempre insegura em relação ao marido e excessivamente ciumenta, cujo destino irá afetar profundamente a forma como Mercedes encara a vida.

Tudo isso é contado ao seu analista, que nunca aparece em cena. É como se o público fosse essa pessoa que ouve as aventuras e desventuras de Mercedes. A origem teatral e sua trama fazem lembrar o filme “Shirley Valentine” (1989), que contava também uma história feminista de autodescoberta – mas neste a protagonista (Pauline Collins) falava diretamente ao público.

(Divã - 2009)

Doze é Demais 2 (2005)



O casal Baker e seus doze filhos estão de volta para mais aventuras. Tom (Steve Martin) e Kate Baker (Bonnie Hunt) levam sua dúzia de crianças para passar uma temporada no Lago Winnetka. Esta será a última viagem da família junta. Porém, eles não terão o menor descanso, já que vão encontrar uma outra família quase tão grande quanto a sua, liderada por Jimmy Murtaugh (Eugene Levy) - um sujeito ultra-competitivo, desafeto de Tom.

(Cheaper by the Dozen 2 - 2005)

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Dia e Noite (2010)



Indicado ao Oscar de Curta-Metragem de Animação.

(Night and Day - 2010)

Percy Jackson e o Ladrão de Raios (2010)



Diretor por trás de sucessos infanto-juvenis como Esqueceram de Mim (90), Harry Potter e a Pedra Filosofal (2001) e Harry Potter e a Câmara Secreta (2002), Chris Columbus recorre à mitologia grega para seu novo trabalho, Percy Jackson e o Ladrão de Raios.
Logan Lerman, de 18 anos, que estreou no cinema no drama O Patriota (2000), é o protagonista da história, que parte de um livro de Rick Riordan, com roteiro de Craig Titley. Ele é Percy Jackson, adolescente de Nova York, que mora com a mãe, Sally (Catherine Keener, de Onde Vivem os Monstros) e um padrasto alcoólatra (Joe Pantoliano).

Percy não sabe ainda, mas é um semideus, filho de ninguém menos do que o deus grego Poseidon (Kevin McKidd, do seriado Grey’s Anatomy), o senhor das águas e mares. Por determinação do todo-poderoso Zeus (Sean Bean, de O Senhor dos Aneis), os deuses não podem manter qualquer contato com seus filhos com humanos. Mas está surgindo uma situação de risco, que pode provocar uma guerra capaz de abalar o mundo todo.

Alguém roubou os relâmpagos e Percy, por alguma razão, torna-se um dos suspeitos. Por isso, começa a ser perseguido por seres mitológicos e muito perigosos, primeiro uma das Fúrias e depois o Minotauro em pessoa. É quando finalmente é informado de sua condição semidivina por seu inseparável amigo, Grover (Brandon T. Jackson), que na verdade é um sátiro e seu protetor designado.

A perseguição a Percy obriga Grover e Sally a levarem o rapaz para um local seguro, uma espécie de acampamento em que os semideuses recebem treinamento especial em lutas e outras artes. No caminho, quando enfrentam o Minotauro, Sally morre.

Logo mais, Percy descobre que pode haver um jeito de resgatar sua mãe do reino dos mortos, que é governado por Hades (Steve Coogan, de Uma Noite no Museu). Essa se tornará a grande aventura do filme, em que o garoto testará suas capacidades especiais juntamente com Grover e Annabeth (Alexandra Daddario), a filha da deusa Atena (Melina Kanakaredes).

Nessa aventura, o trio encontra algumas figuras perigosas, mas também divertidas, como a Medusa (Uma Thurman) – especialmente engraçada num figurino de couro preto, turbante e óculos escuros. Outras participações especiais são do ex-007 Pierce Brosnan, como o centauro Chiron, e Rosario Dawson (Sin City), como Perséfone, a mulher de Hades que é louca para romper o tédio do mundo dos mortos, em que ela é obrigada a viver.

Estas participações dão um molho de humor ao filme, que também usa e abusa dos efeitos especiais para encenar as lutas entre os seres superpoderosos.

Como se poderia esperar, as liberdades tomadas com a mitologia grega vão longe. O que se observa, por exemplo, pelo detalhe de a morada dos deuses gregos, o monte Olimpo, por alguma razão estar localizado não na Grécia, mas em Nova York, no alto do lendário edifício Empire State.

(Percy Jackson & the Olympians: The Lightning Thief - 2010)

Principe da Pérsia: As Areias do Tempo (2010)


Quando a ficção entra no campo da história oficial, nada impede que toda uma cultura seja reformulada para não desmentir o roteirista. Não diminui a legitimidade do filme, nem propriamente é prejudicial ao próprio povo selecionado para os caprichos de quem cria a trama. O limite é a clareza sobre o que se vê na tela.

“Príncipe da Pérsia” pode ser percebido como um exemplo disso. Já no início, enumera os feitos do grande império persa, para situar no tempo e espaço o espectador em uma fantasia repleta de engenhosos efeitos especiais.

O rei da Pérsia em questão é Sharaman (Ronald Pickup), um líder nato que tem como conselheiro seu irmão, Nizam (Ben Kingsley, de Ilha do Medo). Fictício, como todo o filme, o rei é pai de dois filhos Garsiv (Toby Kebbell, de RocknRolla) e Tus (Richard Coyle, de Um Bom Ano), o príncipe herdeiro.

No entanto, a família apenas se completa quando o rei adota Dastan, uma criança maltrapilha, que demonstra coragem e sabedoria ao defender um colega de rua. Como diz o narrador, ele é um predestinado e será decisivo para a história dessa civilização.

Depois de 15 anos, Dastan (agora, interpretado por Jake Gyllenhaal, de “O segredo de Brokeback Mountain”) se vê em meio a seus irmãos e tio numa difícil escolha: invadir ou não uma cidade sagrada que, segundo um espião persa, vende armas para os adversários de seu povo. Vencido no voto, o protagonista entra na cidade e captura a princesa Tamina (Gemma Arterton, de Fúria de Titãs).

No entanto, ela guarda um segredo, uma adaga que tem o poder de voltar no tempo. O artefato cai nas mãos do herói que, graças a um complô, é acusado de matar o próprio pai adotivo. Dastan e Tamina fogem para iniciar a jornada que selará o destino de ambos.

Com uma história confusa e repleta de pontos de interrogação, “Príncipe da Pérsia” é uma produção cujo valor cosmético é maior do que o entendimento claro sobre o que se passa nas cenas. Com lutas bem coreografadas, imagens rápidas e com pontos de humor assertivos, o final da projeção, porém, provoca questionamentos quase risíveis.

Um exemplo prático é o de Amar (Alfred Molina, de Educação), uma espécie de comerciante ilegal que, em determinado momento do filme afirma haver terças e quintas-feiras. Outro ponto de reflexão é a própria adaga, que necessita de uma espécie de areia divina para funcionar, inacessível aos humanos, mas de que a princesa possui até um refil.

É irrelevante a identidade do príncipe, que poderia ser persa ou de Marte, já que não há referências para sustentar a história. O diretor Mike Newell (de Amor nos Tempos do Cólera e Harry Potter e o Cálice de Fogo) se esforça, mas não consegue dar jeito no que já começou errado, a partir de um mau roteiro.

(Prince of Persia: The Sand of Time - 2010)

Toy Story 3 (2010)


Quando o primeiro filme Toy Story chegou aos cinemas, em 1995, o estúdio de animação Pixar era um ilustre desconhecido. Quinze anos, alguns filmes e muitos milhões de dólares depois, o cenário é completamente outro. Pixar é um dos nomes mais poderosos de Hollywood, tem toque de Midas e parece ser incapaz de fazer um filme ruim – alguns podem ser inferiores a outros, mas nenhum é ruim de verdade. Agora chega aos cinemas “Toy Story 3”, que retoma a saga dos brinquedos falantes, vistos pela última vez no segundo segmento da série, em 1999.

A magia já não está intacta, o frescor da novidade acabou há um tempo. “Toy Story 3”, dá alguns sinais de cansaço. Não na animação que, aliás, faz uso bem satisfatório do 3D, mas no roteiro – assinado por quatro profissionais, entre eles John Lasseter e Andrew Stanton (criadores da série) e Lee Unkrich, diretor deste filme e codiretor de “Procurando Nemo”.

A premissa básica nem é promissora a ponto de segurar um filme inteiro. Andy, o dono dos brinquedos, entre eles o caubói Woody e o astronauta Buzz, tem 17 anos, vai para a faculdade e tem de se desfazer deles. Resolve guardar todos no sótão, menos Woody, que levará com ele. Mas, por um engano da mãe de Andy, todos eles são doados a uma creche.

Para segurar uma hora e meia de filme, há os desencontros, mal-entendidos e brigas típicos de uma comédia de erros. A creche parece uma comunidade hippie, onde todos são felizes e governados por um urso cor-de-rosa com cheiro de morango. Woody, que quer voltar para casa, pois sabe que Andy não queria mesmo desfazer-se de seus brinquedos, não consegue convencer seus amigos e resolve voltar sozinho.

Quando os verdadeiros interesses vêm à tona, as verdades aparecem e nem todos são o que aparentam ser. Duas linhas narrativas correm em paralelo, Woody tentando voltar para a creche e os demais brinquedos tentando fugir do urso, que na verdade é tirano e dominador.

Alguns novos personagens trazem certo humor ao filme. É uma grande sacada a presença de Barbie e Ken – ela, uma loura não muito inteligente, e ele, um metrossexual exagerado. Fora o urso e um boneco bebê que parece um autômato saído de ficção científica, os novos brinquedos não deixam uma impressão mais marcante.

Talvez a Pixar tenha demorado muito para fazer esta sequência e isso pese um pouco. Ou talvez o filme perca em comparação a diversas outras produções bem-sucedidas do estúdio nos últimos dez anos, combinando bom roteiro com uma animação fascinante – como “Procurando Nemo”, “Ratatouille” e “Wall-E”. Diante deles, “Toy Story 3” parece às vezes simples demais. Embora não chegue à redundância das continuações de Shrek, o filme nunca encontra o espírito dos dois primeiros.

Indicado ao Oscar de Melhor Filme, Animação, Canção, Edição de Som e Roteiro Adaptado. Vencedor do Oscar de Animação e Canção.

(Toy Story 3 - 2010)

segunda-feira, 5 de julho de 2010

A Saga Crepúsculo: Eclipse (2010)


Depois de um começo morno, o triângulo amoroso formado pela apaixonada Bella (Kristen Stewart), o vampiro Edward (Robert Pattinson) e o lobisomen Jacob (Taylor Lautner) finalmente esquenta em “A Saga Crepúsculo: Eclipse”, a terceira adaptação para o cinema da tetralogia vampiresca escrita por Stephenie Meyer.

Não se trata mais apenas de uma paixão adolescente. Agora, Edward quer casar, Bella não está mais só para beijos e Jacob, no papel de “o outro”, não esconde mais a atração física que sente pela jovem – que, aliás, é mútua. Tudo muito comportado, claro, mas com explícita verve sensual, potencializada pela competência do diretor David Slade (do vigoroso MeninaMá.com).

O catalisador dessa complicada relação é, como no livro, a vulnerabilidade de Bella frente às constantes ameaças de viver cercada de vampiros e lobisomens. Em Eclipse, quando a vilã Victoria (Bryce Dallas Howard, de A Vila) cria um exército de vampiros para matar a jovem, Edward precisará da ajuda de Jacob, e de sua tribo, para salvar sua amada.

Para entender o que se vê na tela é preciso voltar aos primeiros títulos. Em Crepúsculo, o vampiro James (Cam Gigandet) enfrenta o clã dos Cullen, do qual Edward faz parte, para morder Bella. Como ele se dá mal, sua companheira Victoria forma o tal exército (durante o desenrolar de Lua Nova, em que não aparece) para promover sua desforra - que se vê nesta produção.

Como a ameaça os vence em número, os Cullen são obrigados a se aliar aos seus arqui-inimigos lobisomens, para defender a cidade e salvar os protagonistas. Essa é a chance de Jacob conquistar o amor de Bella e despistar seu concorrente.

No entanto, a guerra que prometia mais ação para a história é, na verdade, um pano de fundo para potencializar a tensão entre o trio. Em uma das cenas mais curiosas da trama, passada no alto de uma gélida montanha, Edward se vê obrigado a deixar Jacob deitar-se com Bella para esquentá-la (no livro, diga-se, o rapaz lobo está nu), já que vampiros não irradiam calor.

Não há dúvidas de que os melhores episódios de Eclipse são os enfrentamentos entre os dois rapazes, que chegam a determinado ponto da história “discutir sua relação”. Porém, quem sobressai nessa rivalidade é o ator Taylor Lautner, que conseguiu finalmente encontrar o tom de seu personagem.

Ao ver a histeria coletiva entre adolescentes que a história (e seus atores) provoca, não é difícil observar que se trata de uma produção exclusivamente para esse público.

Como o desfecho desse triângulo amoroso só será visto no capítulo final, Amanhecer, dividido em duas produções (tal como ocorreu com Harry Potter e as Relíquias da Morte), Bella, Edward, Jacob e seus fãs ainda terão muito a se aventurar nos próximos dois anos.

(Eclipse - 2010)

Verônica (2008)


Nunca houve uma mulher como Glória e, pelo jeito, vai continuar não havendo. A vital personagem do filme homônimo de 1980, de John Cassavetes, interpretada pela magnífica Gena Rowlands, já foi retomada numa má versão de Sidney Lumet, em 1999, interpretada por Sharon Stone. Agora, é Andréa Beltrão quem entra na pele de uma personagem que não se chama Glória, porque não se trata de uma refilmagem, mas entra de leve numa homenagem, neste outro filme que igualmente empresta o nome da protagonista – no caso, Verônica.

Mais uma vez, trata-se de uma oportunidade perdida de homenagear o bom filme de Cassavetes, que soube, como poucos, esculpir pessoas tremendamente reais na tela. Com um pé fincado na realidade imediata e uma atriz perfeita para o papel, Andréa Beltrão, entretanto, o filme de Maurício Farias fracassa fragorosamente. Não por culpa de Andréa Beltrão. Ela está sintonizada na energia de sua personagem, de seu altruísmo às suas dúvidas, ao assumir a proteção de um menino (Matheus de Sá) cujos pais foram assassinados por traficantes.

Verônica é apenas sua professora. Na sua vida, sequer é mãe. Mas compreende a tempo que é a única chance desta criança escapar de seus algozes. Entre os quais nem todos são traficantes, alguns são policiais, ecoando o vazio ético que percorre a vida real. Com bastante razão, Verônica não confia nem no próprio ex-marido, o policial Paulo (Marco Ricca).

Compreendendo no tranco os riscos sobre a vida do menino e que ela mesma passa a compartilhar, Verônica corre pelas ruas do Rio quase como a Lola do filme alemão, “Corra, Lola, Corra”, de Tom Tykwer. Com a desvantagem de ter uma bagagem extra, o menino, um estranho, meio rebelde, por quem ela passa a fazer de tudo, num heroísmo de gente comum cavado na urgência e na necessidade de encontrar uma finalidade maior para a própria vida. Uma vidinha opaca de classe média baixa, sem dinheiro, nem afeto, nem esperança, que Verônica atira pro alto, aprendendo a fugir, a mentir e até a pegar em armas, quando preciso. Como não simpatizar com ela ?

Apesar da humanidade e da coragem impecáveis da professorinha, o filme derrapa justamente naquele que foi o ponto forte de sua premissa – a verossimilhança. Licenças poéticas à parte, o final é simplesmente impossível de engolir. Faltou imaginação, faltou verdade, faltou tudo. Até a vontade de fazer um filme policial de verdade.

(Verônica - 2008)